Uma afirmação acerca de Brahms é exatamente correta: “o verdadeiro classicismo é aquele que nasce da subjugação de emoções românicas pela disciplina severa”. Essa é uma das afirmações mais plausíveis sobre a arte do compositor. Brahms foi um homem severo, amante da arte severa. Sua solidão era um dos principais elementos de sua inspiração. É preciso aprender a apreciar a Brahms. Quem se recusa a ouvi-lo, certamente deixa desaparecer um patrimônio espiritual não-morredouro. O opus 120, encontrado aqui neste registro é música plena, absoluta. É música para ouvirmos em dias frios e nublados. Feito isso, alcançamos a possibilidade de reflexões duras, severas e exatas. Aparecem ainda dois lieds (canções) tristes, eivados por um espírito de melancolia solitária. Acredito que a música de Brahms, a exemplo da que aqui está posta neste registro, não é bem aceita pelo coração do homem moderno – dos nossos dias. Vivemos a época dos contatos epidêrmicos, das algazarras barulhentas; da ostentação banal, dos aglomerados heterôgeneos; da sede pela matéria; da fuga das reflexões capazes de transformar os homens em seres humanos. Este é um aspecto impensado em nossos dias, portanto, indesejado. A música de Brahms é um portal dimensional que nos conduz a possibilidades existenciais; capazes de “aquietar” o coração. Não deixe de ouvir esse excelente registro com um pouco da arte extraordinária de Johannes Brahms, um alemão fundamental. Boa apreciação!
Johannes Brahms (1833-1897) – Sonatas para Clarinete & Piano Nos. 1 e 2, Op. 120, Scherzo e Lieder, Op.91
Sonata para clarinete e piano, Op. 120, No. 1
01. Allegro appassionato
02. Andante, un poco adagio
03. Allegretto grazioso
04. Vivace
Sonata em E flat major para Clarinete e Piano, Op.120, No.2
05. Allegro amabile
06. Allegro, molto appassionato
07. Andante con moto – Allegro
Sonatensatz- Scherzo
08 – Sonatensatz- Scherzo
Lieder, Op.91- No.1
09. Gestillte Sehnsucht
Lieder, Op.91- No.2
10. Geistliches Wiegenlied
Kálman Berkes, clarinete
Jenó Jandó, piano
Carlinus
Não conheço essas sonatas!
estou curioso pra escuta-las!
obrigado pelo post!
Por favor, revalidem as variações goldberg com hantay – não sei se é assim que escreve.
Estou louco pra baixá-las!!!
Esse Brahms já está indo!!!
É grande, grandíssima música.
Carlinus:
Ao ler o texto deste post achei que Victor Hugo tinha baixado em você ou então que você estava com “Os Trabalhadores do Mar” aberto do lado do micro.
Enquanto escrevo já estou ouvindo o alemão. Como convidado aqui na casa de Bach, posso apenas concordar com a opinião do anfitrião acima exposta.
Sem mais, apenas as costumeiras saudações.
do caralio seu texto, muito bem escrito mesmo. conheço a peça mas fiquei com mais vontade ainda de ouví-la, após ler seu primoroso texto
Prezado Carlinus:
Já disse aqui algumas vezes que Brahms é meu compositor favorito. Para mim, Brahms é o maior. Não há em sua obra um só trecho que eu não ame profundamente. Devo, assim, parabenizá-lo pela sua postagem. Concordo com quase tudo o que disseste aqui. E foi muito bem dito. Porém, eu vejo um aparente paradoxo na música de Brahms, apenas aparente. Por ele ser um romântico-classicista, sua música deveria soar, teoricamente, menos emotiva que a de outros românticos, como Lizst, Chopin, Bruckner, Schubert, enfim. No entanto, devo dizer que entre todos os românticos, se considerarmos que Beethoven não é musicalmente um romântico propriamente dito (aliás, é inclassificável), Brahms é para mim o mais emotivo. Eu não consigo encontrar tanta emoção na música de outros românticos como encontro na de Brahms. Ele me parece sempre mais intenso. E se em algumas vezes “aquieta” o coração, como disseste, em outras, o dilacera impiedosamente. Essa é a minha impressão particular da obra de Brahms. E é esse “parodoxo”, entre outras coisas, que me fascina tanto no mestre alemão.
Que beleza, Carlinus… de texto e de postagem… e com certeza estas sonatas para clarineta são obras primas. O que temos aqui é música que enleva o espírito, como tão bem descreveu o colega Reiffer, ai em cima. Mas com certeza existe esta dualidade, ou paradoxo. E sempre bato nesta tecla, quando se tratam de obras de Brahms: o que temos aqui é o eterno embate da dualidade razão-emoção. E nestas belíssimas sonatas elas estão mais do que aparentes. Amo Brahms, que também é o meu compositor favorito. Ninguém me inspira mais do que ele. E curiosamente, sem combinarmos nada, tem sido o compositor mais postado aqui no PQP.
Que maravilha! Este blog sempre foi um oásis de boa música neste deserto cultural de nossos tempos e agora começa a se tornar um recanto de boas letras também. Excelente texto, Carlinus!
P.S. Correndo pra baixar e ouvir.
O emocionalismo na música sempre pareceu característica de música ruim. Brahms e Chopin são a exceção: ninguém como eles, mais Brahms que Chopin, conseguiu mesclar música de verdade com o romantismo emo. Meus compositores preferidos acabam sempre sendo Bach (über alles), Beethoven, Bartók e Brahms, além do Shosta, naturalmente.
Os meus 4 B`s, Regina! Mais Shosta e Mahler.
Na verdade, conheço estas Sonatas para Clarinete como poucas músicas, além disso há o notável Quinteto para Clarinete, obra inspiradora do livro de memórias de Erico Verissimo, cujo nome é claro: Solo de Clarineta.
E o trio, PQP? E o Trio para Clarineta, Cello e Piano? A que alturas chega aquela música… Eu só não sei se babo mais com ele, ou com o Trio para Violino Trompa e Piano. Confesso aqui uma heresia terrível: meu ouvido cansou do volume e peso da orquestra de Brahms; já gostei muito e não consigo ouvir mais. Mas a música de câmara salva galhardamente o meu amor por esse camarada!!
Recomendo aos ouvintes a gravação destas belíssimas sonatas na versão para viola, particularmente com Veronika Hagen e Paul Gulda cujo registro é apaixonante. Infelizmente está fora do catálogo da Deutsche Grammophon. Há uma opção interessante com Kim Kashkashian e outra com Pinchas Zukerman.
Acho as versões para viola bem legais e as escuto com frequência. Mas nada se compara aos originais para clarinete! Que música! A primeira sonata, particularmente, é daquelas obras que nunca “saem do ouvido” – é um verdadeiro amigo musical, digamos assim. E Brahms é a concretização de meu ideal musical.
Após o comentário do José Eduardo fiquei com a certeza de que Brahms desperta idealismos e utopias naqueles que escutam a sua música.
Abraços musicais a todos!
PQP (interjeição, não o nome do dono do blog)!!!! É muito som isso!!!!!!!!!
Obrigado pelo cd, Carlinus!!!