Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Cello Concertos, Fantasia for cello

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Qual foi o mais importante legado deixado pelo Brasil na música? Bossa Nova? Não creio. Segundo Gilberto Freire: “só existiram três gênios no Brasil, um foi Machado de Assis, o segundo foi Villa-Lobos e o terceiro… a modéstia me impede de dizer”. Villa-Lobos foi mesmo um gênio. Um gênio que pode ter escrito passagens pouco inspiradas, mas o homem parece ter sido mais prolífico que Haydn, escreveu tanto que acabou escorregando aqui e ali. Mas ouvindo recentemente todos seus quartetos de cordas, suas bachianas, choros, concertos para piano, seus poemas sinfônicos, algumas de suas sinfonias, sua magistral obra para piano solo (Rudepoema está entre as cinco melhores obras para piano do século XX), não resta dúvida sobre sua importância. E é uma pena que um país tão pobre de grandes mestres desconheça logo o Villa. Já ouvi da boca de muito catedrático brasileiro: “Villa-Lobos não é aquele do trenzinho caipira?” Mas essa bizarrice só acontece aqui mesmo. Na Europa e Estados Unidos sua música já é razoavelmente gravada e interpretada. Até bem pouco tempo, o compositor que mais ganhava em direitos autorais no Brasil era Villa-Lobos (quer dizer, sua família).

Como o site do PQP já está recheado de pérolas do mestre, gostaria de trazer algo pouco conhecido de Villa-Lobos: os dois concertos para violoncelo e a fantasia para violoncelo. Aqui interpretados com muita dedicação pelo grande músico brasileiro Antônio Meneses. Há uma diferença bem razoável entre os dois concertos. O primeiro escrito em 1915, é menos empolgante e com orquestração inferior ao segundo, mas melodicamente muito bonito. O mestre aqui ainda era um garoto impetuoso, um discípulo da escola francesa. Já o segundo concerto de 1953, o velho compositor já tinha absoluto poder de sua criatividade e sua orquestração é magistral. Não posso deixar de comentar também minha obra favorita no disco – a fantasia para cello e orquestra. A obra é cativante e misteriosa desde o início. Sempre coloco essa peça no meu velho toca-discos.

Enfim, não são obras chaves na história do mestre, mas quem vai ignorá-las?

CDF

Faixas:

1. Cello Concerto n.1: Allegro Con Brio
2. Assai Moderato
3. Allegro Moderato
4. Cello Concerto n.2: Allegro Non Troppo
5. Molto Andante Cantabile
6. Scherzo
7. Allegro Energico
8. Fantasia for cello:adagio
9. Molto Vivace
10. Allegro Espressivo

Performed by Antonio Meneses (Cello),
Galicia Symphony Orchestra
Victor Pablo Pérez (Conductor)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

19 comments / Add your comment below

    1. Vaidoso como era, e alfinetador de boa lavra, Gilberto Freyre certa vez disse – segundo me contou Cussy de Almeida, maestro da antiga Orquestra Armorial e outro orgulhoso intelectual assumido – que perguntou ao seu espelho: “Espelho, espelho meu, há alguém no mundo mais vaidoso do que eu? E o dito cujo respondeu: ‘Sim, existe: Ariano Suassuna'”.

        1. Já eu tenho a impressão que é uma marca mais ou menos generalizada dos pernambucanos (pelo menos dos que têm estudo) – estarei enganado?

        2. Não, não está, Ranulfus. A falta de concorrentes locais faz com que eles fiquem assim – mas não são más pessoas, apenas vaidosos. Eu acrescentaria outros aí nessa lista…

  1. Esse CD já tava separado para eu postar daqui a algumas semanas (só não fui mais rápido no gatilho porque consegui disciplinar meu tempo estabelecendo cronogramas pessoais de postagem), mas vou compensar oferecendo em breve os dois concertos para cello de Shosta, com Natalia Gutman. O que posso atestar dessa interpretação do Meneses é que é uma das melhores dele – o violoncelo soa bonito e impecável do início ao fim.

  2. O Concerto No 2 é o “culpado” por eu estar aqui neste site hoje. Em outubro de 2006 eu assisti à sua execução pela OSESP com Antonio Meneses. Foi o estopim.

    1. Diego
      E ai ? tudo bem ?
      com foi a noite do concero de Villa-lovos com a Osesp e o menezes ? me conta …gosto tanto do um como do outro..
      Abraço

    2. Diego
      E ai ? tudo bem ?
      com foi a noite do concerto de Villa-lovos com a Osesp e o menezes ? me conta …gosto tanto do um como do outro..
      Abraço

  3. Oi Pessoal.
    Oi CDF!
    Valeram as postagens e os comentários.
    São obras que valem a pena ter-se armazenadas e serem ouvidas sempre.
    Grande Villa-Lobos (mesmo com o Nº 1 ainda bem mais juvenil, porém, mostrando claramente a que veio).
    O Regente e a Orquestra, de um nível muito bom, mantêm este nível com intepretações excelentes.
    Realmente, a Fantasia é muito boa.
    Abração e obrigado.
    Edson

  4. Só agora dei por falta de uma obra extraordinária. A Fantasia para Saxofone e Orquestra. Se não me engano, ele até a dedicou a um cearense boêmio, chamado Donizete, tido como um bom saxofonista, que o acompanhou nas suas aventuras pela Amazônia. Alguém conhece essa obra? Eu a tenho em 2 cds, mas não estou lembrando em quais. Vou procurar e logo postarei.

    1. Tenho uma Fantasia para Sax Soprano, Três Trompas e Cordas, lindíssima, mas está é em vinil…

      Um disco excelente, onde todas as outras peças são para sax alto, só a do Villa é para soprano. Abre com um concerto de Pierre Max Dubois que começa com um recitativo absolutamente arrepiante, breath-taking… (Parece que o Dubois foi aluno de Messiaen mas é uma personalidade em si).

      Segue com o Villa, Ibert e Glazunov – russo compositor de obras belas, melódicas e DIGNAS – e não um romãntico melequento como parece já ter sido imputado por alguém aqui no blog 😀 .

      Orquestra de Câmara Paul Kuentz (acho que isso), Deutsche Grammophon, anos 70. Um dos meus discos mais queridos! Mas acho que só em janeiro vou ter tempo de aprender a copiar decentemente do vinil.

        1. Obra belíssima e importante para o instrumento. Só ouvi a gravação com o Harle, mas faz muito tempo.

          Fui ver no livro Revisão das obras orquestrais de Villa-Lobos vol. 1, do maestro Roberto Duarte, a questão da dedicatória.

          Ela foi oferecida para Marcel Mule, professor do Conservatório de Paris, e estreada por Waldemar Szpilman, saxofonista polonês emigrado pro Brasil em 1925 (e primo do pianista que inspirou o filme O pianista).

          Não tinha de modo algum como a obra ser dedicada ao tal Donizete porque as aventuras do Villa pelo Brasil como boêmio e músico errante foram na década de 1900 e a Fantasia é de 1948 (composta em Nova Iorque) – com première a 17 de novembro de 1951, no Rio, com a Orquestra de Câmara do MEC.

      1. Achei!!!!! Bem que eu sabia que possuia essa gravação com a Orquestra de Câmara Paul Kuentz!

        Pois é, eu achava que tinha lido a história da dedicatória da Fantasia para Sax ao tal Donizete em algum lugar, pode ter sido fantasia da minha cabeça. Alguém aqui, alguma vez, já colocou alguma coisa na cabeça e tomou como verdade? Villa-Lobos era perito nisso.

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