Igor Stravinsky (1882-1971) – A Sagração da Primavera, Sinfonia em 3 movimentos

Pois então no acervo de FDP Bach não existem apenas românticos e barrocos. E confesso que tenho uma queda especial por Stravinsky, Bártok e Prokofiev. Mas não costumo me aventurar muito no século XX. Digamos que meu limite seja o próprio Stravinsky, que aprendi a admirar ouvindo Yes. Sim, para os fãs da banda inglesa de rock progressivo é uma constante ouvir a Introdução desta mesma Sagração da Primavera na abertura de seus shows.Mas antes de postar esta excelente versão da mesma, permitam-me contar um pouco a história de como este cd me chegou às mãos.

Estava eu certa vez passeando pelas ruas do centro do Recife (fui até lá resolver uma questão de “amor” mal resolvida, que na verdade, não se resolveu) . Rato de sebos e lojas de discos que sempre fui, resolvi entrar na na filial da antiga e falida Mesbla e, claro, me dirigi diretamente ao setor que me interessava, que com certeza não era o setor de moda masculina. Como em todas as lojas de departamento, a divisão básica separava os Cds e LPs (sim, ainda se comercializavam LPs nesta época) era de sempre: Mais vendidos, Pop, Rock, e num cantinho, o tradicional clássicos e jazz. Nada me chamou a atenção ali, mas vi num canto um balaio de ofertas. Num primeiro momento pensei em deixar de lado e ir afogar as mágoas da confusão em que minha vida se encontrava em um boteco à beira-mar. Já tinha chegado à conclusão de que minha viagem havia sido em vão, e que o tal do amor não resolvido não se resolveria. Mas fui fuçar o tal do balaio. E eis que no meio de um monte de porcarias, cujo nome nem perderei tempo em relacionar aqui, lá no meio, eis que encontro “A Sagração da Primavera”, em uma gravação da Sony, com o jovem Esa-Pekka Salonen à frente da Philarmonia Orchestra. A caixinha do cd estava quebrada, talvez por isso mesmo tenha ido parar no balaio. Aquilo me deixou animado. Ao confirmar o preço, fiquei mais animado ainda: nos valores de hoje, talvez nem 5 reais. Puxa, pensei, então minha vinda ao Recife não foi à toa, consegui uma pechincha. Continuei cavocando no balaio, mas não tinha mais nada que prestasse. Voltei então ao hotel em que estava hospedado para degustar a minha aquisição… como já sabia que a viagem não renderia mais nada, a dita cuja nem atendia mais os meus telefonemas, remarquei o retorno para São Paulo para aquela mesma noite. Não preciso dizer que durante a viagem inteira de volta não ouvi outra coisa no meu discman. Em outras palavras, a viagem não foi tão em vão assim.

Outros Stravinskys vieram, em situações não tão especiais, mas este continua no topo da lista dos preferidos. O jovem Salonen, pouco mais velho que eu à época da gravação, tem uma leitura muito interessante da obra, ou obras, já que também tem a Sinfonia em 3 movimentos, mas é na Sagração em que ele se destaca.

” An Amazing Documentation of a Conductor’s Progress “, “A fast, jagged Le Sacre–Slalonen takes a stand”, estes são alguns dos títulos dos comentários sobre esse cd no site da amazon. E não há como não concordar com eles. Um regente recém entrando nos 30, diante de uma obra tão complexa mostrou um excepcional trabalho. E suas gravações a partir de então tornaram-se sempre referência. Ao menos para mim.

Igor Stravinsky (1882-1971) – A Sagração da Primavera, Sinfonia em 3 movimentos

1. Le Sacre du printemps: Introduction
2. Le Sacre du printemps: The Augurs of Spring (Dances of the Young Girls)
3. Le Sacre du printemps: Ritual of Abduction
4. Le Sacre du printemps: Spring Khorovod (Round Dance)
5. Le Sacre du printemps: Ritual of the Rival Tribes
6. Le Sacre du printemps: Procession of the Sage
7. Le Sacre du printemps: Adoration of the Earth (The Sage)
8. Le Sacre du printemps: Dance of the Earth
9. Le Sacre du printemps: Introduction
10. Le Sacre du printemps: Mystic Circles of the Young Girls
11. Le Sacre du printemps: Glorification of the Chosen One
12. Le Sacre du printemps: Evocation of the Ancestors
13. Le Sacre du printemps: Ritual Action of the Ancestors
14. Le Sacre du printemps: Sacrificial Dance (The Chosen One)
15. Symphony in Three Movements: I – tempo equals 160, tempo equals 80
16. Symphony in Three Movements: II – Andante – tempo equals 76
17. Interlude – tempo equals 76
18. III – Con moto – tempo equals 108

Philarmonia Orchestra
Esa-Pekka Salonen

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

18 comments / Add your comment below

  1. Tive um delírio. Quando li “A Sagração da Primavera, Sinfonia em 3 movimentos”, pensei: uau, uma nova abordagem interpretativa da “Sagração”!

    Depois, claro, percebi que a Sinfonia em três movimentos citada era outra, a sinfonia mesmo – que aliás, gosto muito, como tudo de Stravinsky.

    Mas até que é possível pensar a “Sagração” como uma sinfonia em três movimentos, não? Hm, faz sentido 🙂

  2. Bela postagem para embelezar uma manhã de segunda-feira, FDP.
    Nunca ouvi essa versão, mas diante dos seus elogios, vou fazê-lo.
    Abraço.

  3. Estou acostumado a ouvir a versão do Karajan; esta me soa bastante estranha; muito curiosa e interessante. Nada como novos ventos, para remover velhas camadas de pó…

  4. Belíssimas obras! Tenho grande apreço pela Sagração da Primavera.
    Aguardo ainda, anciosa, que você atenda meu pedido e poste O Pássaro de Fogo, já que tens lembrado de Stravinsky.

    Abraço.

  5. Fico muito satisfeito em finalmente ver a Sagração neste blog. Fantástico.

    A propósito: caro FDP, sei que o SAC do blog não é muito receptivo, mas quando você pensa em continuar com Wagner? Comecei a ouvi-lo com o Tannhäuser do blog e gostei muito. Perguntar pro P.Q.P. sobre Wagner é que eu não vou huahuahua

  6. Ah, que maravilha! Muito obrigada FDP, venho procurando essa obra a muito tempo para download, mas é difícil encontrá-la (ao menos com boa qualidade)…
    Grande abraço!

  7. Exigente, recebi seu email. Fico muito agradecido com sua gentileza.

    Rafael, o Wagner está sendo pensado há algum tempo. Minha idéia original era a versão popular do Solti, mas depois que ouvi outras versões, como Sinopoli, Knnapterbusch, e até mesmo a do Karajan, fiquei em dúvida sobre qual versão do anel postar. mas devo optar pela do Solti mesmo.
    Se tiveres acesso, a comunidade Richard Wagner Brasil, do Orkut, moderada pelo Velius, recém disponibilizou mais algumas pérolas de seu acervo wagneriano, com direito a alguns Karajans que jamais imaginei que existissem.

  8. Apenas lembrando a versão de Boulez a frente da LSO, em DVD ; outra do Claudio Abbado, também a frente da LSO, e aqui ainda com o L’Oiseau de Feu” .
    Boulez, para mim, aqui é o máximo!
    O Anel [ Wagner ] com Solti é histórico,apenas sentir que não exista em DVD , apenas o Making off da obra. Aqui lembrar também de Boulez e Barenboim em Bayreuth, já em DVD ! Boulez produzido por Chéreau , e Barenboim com direção artística de ninguém menos do que Wolfgang Wagner , ou seja o neto ou bisneto do ”homem” !
    Engraçado, por quê será que Solti nunca regeu em Bayreuth?

  9. Obrigado, FDP, fico no aguardo. Quando postar, estaremos aqui para baixar. É como o PQP falou no “podcast”, mais que a música em si, que é até fácil de se encontrar, os textos explicativos e de preferência mais um trecho do livro sobre as óperas são muito importantes (bem como a seleção das gravações).

    P.S.: já que eu falei no “podcast”, ficamos aguardando o próximo, hein, PQP?

  10. Uma pequena correção desculpem pela confusão… na verdade, na abertura dos shows do Yes o que toca é “O Pássaro de Fogo”.

  11. Indiquei seu blog numa última postagem (minha), sobre o livro de Rueb.
    Espero que não haja problemas quanto a isso.
    Caso haja, é só dizer que eu tiro.

    abraço.

  12. Nossa que ótimo ver a Sagração da Primavera disponível para download!
    Passei aqui no blog dias atras procurando essa obra, e quando acesso hj, lá está ela!!!

    Parabéns pelo Blog, muito bom gosto nas escolhas e nos comentários dos CD’s!

  13. Adoro essa mistura – Stravinsky e Salonen. Pra mim essa é a melhor interpretação de todos os tempos, tanto da Sagração quanto da Sinfonia. Tive a oportunidade de ouvir essa versão pela primeira vez em 1991, quando os aparelhos de cd ainda eram caríssimos e eu só podia alugar os cds e gravar em fita cassete. Até hoje ainda conservo essa fita. No início do ano passado criei vergonha e encomendei uma box com obras do Stravinsky regidas pelo Salonen. Simplesmente fantástica!

  14. Caro FDP,
    Gostei muito de conhecer este teu espaço aqui. Desde já, confesso-me, igualmente, admirador de Stravinski, especialmente, deste “A Sagração da Primavera”. Coincidentemente, também passei a me interessar por Stravinski na década de 1970, por influência das “Overtures” do Yes. Entretanto, creio que houve um pequeno lapso de memória de sua parte, neste caso. O Yes usava a abertura da Suíte “O Pássaro de Fogo” e não da mencionada “Sagração da Primavera”. É apenas uma observação, não “influi nem contribui”. I´m just saying. Falando nisso, tenho ambas em vinil. Nada se compara ao som do vinil. Como se perdem entretons, a textura da música original não consegue ser reproduzida em CD. Que fazer? São os tempos digitais. Minha versão da Sagração é aquela (1974) regida por Pierre Boulez, com a “Cleveland Orchestra”. Meu disco da suíte “Pássaro de Fogo” é da “Orquestra Filarmônica de Londres” regida por Hermann Scherchen. O disco inclui o “Chant de Joie”, de Honegger. Nenhuma data é fornecida no álbum da Westminster Records. Enfim, esses foram os comentários que suas considerações sobre Stravinski e “A Sagração da Primavera” suscitaram em minha mente e resolvi externá-los. Procuro, além de manter meu acervo em vinil, ter, igualmente, uma versão em CD, por questão de preservação temporal. Por isso, cheguei aqui via Google em busca de uma versão qualquer de “O Pássaro de Fogo”. Saio com “A Sagração da Primavera”. Nada mal! E ainda, Bach, Mahler, Debussy, Bartók, Rachmaninov, Prokofiev, Villa-Lobos, Gesualdo e Palestrina! Parece que estou sonhando. Daqui não saio mais, daqui ninguém me tira…

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