.: interlúdio :. Hermeto Pascoal: A música livre de Hermeto Pascoal / Cérebro magnético / Só não toca quem não quer | Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal: Hermetismos Pascoais – ao Vivo em SP (2002)

.: interlúdio :. Hermeto Pascoal: A música livre de Hermeto Pascoal / Cérebro magnético / Só não toca quem não quer | Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal: Hermetismos Pascoais – ao Vivo em SP (2002)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

O que dizer? Que eu amo Hermeto? Sim, direi isto. Que não perdi nenhum show dele que passou perto de mim? Sim, direi. Que uma vez faltei ao trabalho porque estava trabalhando em Pelotas, tinha que voltar naquela manhã, mas vi no jornal que ele estava na cidade e iria se apresentar naquela noite? Fiquei lá, óbvio. Voltei um dia depois e disse com sinceridade pro meu chefe o motivo da minha falta. E ele ficou tão apalermado que disse meio puto para eu ir trabalhar.  Não falou comigo por uma semana, mas não me demitiu.

Hermeto Pascoal (1936) é um compositor, arranjador e super e multi-instrumentista brasileiro. Toca acordeão, flauta, piano, saxofone, flauta, violão, baixo e diversos outros instrumentos. Hermeto é uma figura significativa na história da música brasileira, reconhecido principalmente por suas habilidades em orquestração e improvisação, além de ser produtor musical e colaborador de diversos álbuns nacionais e internacionais. Conhecido como “O Bruxo” ou “O Campeão”, ele frequentemente faz música com objetos não convencionais, como bules, brinquedos infantis e animais, bem como teclados, acordeão de botões, melódica, saxofone, violão, flauta, voz, vários metais e instrumentos folclóricos. Talvez por ter crescido no campo, usa a natureza como base para suas composições, como em sua Música da Lagoa, em que os músicos borbulham água e tocam flautas imersos em uma lagoa: uma emissora de televisão brasileira de 1999 o mostrou solando a certa altura, cantando em um copo com a boca parcialmente submersa na água. Há muita controvérsia em relação ao local onde ele nasceu, com várias fontes dizendo que ele nasceu em Olho d’Água Grande ou Lagoa da Canoa, ambas cidades de Alagoas. Hermeto nasceu com estrabismo e é portador de albinismo, o que fez com que ele não tivesse que trabalhar na roça desde a infância por ele não poder se expor muito ao sol.

Quando saiu da roça, vocês sabem o que aconteceu. Pesquisem, né?

Ah, aqui vocês têm o também genial Slaves Mass.

Quem quiser piratear os meus discos, pode ficar à vontade. Desde que seja para ouvir uma boa música. (…) Mesmo o meu trabalho em gravadoras, o povo tem mais é que piratear tudo. Isso não é revolução. O que queremos é mostrar essa música universal. Porque isso não toca em rádio nem aparece na capa do jornal. Sabe o que Deus falou? Muita gente pensa que é só para transar. Mas, não. “Crescei e multiplicai-vos”. Isso é em todos os sentidos. Vamos crescer na maneira de ser e multiplicar o que tem de bom. Sem barreiras. A música é universal. Eu toco no mundo inteiro e é sempre lotado. Eu só cheguei a isso porque os meus discos são pirateados, estão à vontade na Internet.

Hermeto Paschoal: A Música Livre De Hermeto Paschoal

Bebê 4:21
Carinhoso 6:34
Plin 2:34
Sereiarei 4:38
Asa Branca 4:17
Gaio Da Roseira 14:37

 

Hermeto Pascoal: Cérebro Magnético

A1 Voz E Vento
A2 Música Das Nuvens E Do Chão
A3 Dança Da Selva Na Cidade Grande
A4 Amor, Paz E Esperança
A5 Diálogo
B1 Correu Tanto Que Sumiu
B2 Festa Na Lua
B3 Eita Mundo Bom!
B4 Religiosidade
B5 Arrasta Pé Alagoano
B6 Vou Esperar
B7 Auriana
B8 Banda Encarnação

Hermeto Pascoal & Grupo – Só Não Toca Quem Não Quer

De Sábado Prá Dominguinhos 4:35
Meu Barco 0:50
Viagem 4:25
Zurich 9:30
O Correio 0:49
Intocável 3:00
Suíte Mundo Grande 4:03
Cancão Da Tarde 2:35
Mente Clara 2:13
Ilha Das Gaivotas 4:49
Rebuliço 2:36
Quiabo 5:14

Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal: Hermetismos Pascoais – ao Vivo em SP (2002)

1. Apresentação

2. Preto Velho
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal

3. Suíte do Parque Infantil / Suíte do Realejo
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família

4. Na Carioca
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal

5. Passando o Ano a Limpo
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família

6. Agalopada
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal

7. Pedra Vermelha
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família

8. Esse Mambo É Nosso
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal

9. Feitinha pra Nóis
(Hermeto Pascoal) – Itiberê Orquestra Família

10. No Varal
(Itiberê Zwarg) – Itiberê Orquestra Família e Hermeto Pascoal

11 Improviso 1
(Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal

12. Improviso 2
(Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal

13. Improviso 3
(Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal

14. Improviso 4
(Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal

15. Menina Ilza
(Hermeto Pascoal) – Hermeto Pascoal

Itiberê Orquestra Família:
Mariana Bernardes – voz e percussão
Mariana – flauta
Carolina – flauta e viola
Letícia – flauta
Aline – flauta, flautim, flauta baixo e clarinete
Joana – clarinete e clarone
Pedro – trompete e melofone
Flávio – trompete
Sidney – sax alto, sax tenor, sax soprano e flauta
Thiago – sax alto, sax tenor
Janjão – trombone
Bernardo Ramos – guitarra
Luciano – guitarra e violão
Miguel – guitarra e violão
Cristiano – bandolim e violão
Vitor Gonçalves – piano e sax alto
João – piano, sanfona e percussão
Renata – violino
Isadora – violino
Maria Clara – violoncelo
Pedro – violoncelo
Bruno – baixo acústico e baixo elétrico
Mayo – baixo acústico e baixo elétrico
Pedro Albuquerque – baixo acústico
Pedro Christiano – tuba e baixo elétrico
Ajurinã – bateria, percussão e gaita
Georgia – percussão e bateria
Mingo – percussão e bateria

Itiberê Zwarg: arranjos e regência

Show realizado no Sesc Consolação em 10 de abril de 2002, no projeto “Hermetismos Pascoais”.

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Hermeto “Bruxo e Gênio” Pascoal

PQP

.: interlúdio :. Hamilton de Holanda: 01 byte 10 cordas

.: interlúdio :. Hamilton de Holanda: 01 byte 10 cordas

Um absurdo de bom este Hamilton de Holanda. Tudo é bom neste CD ao vivo. As interpretações, as composições — das 8 faixas, 4 são de Hamilton — e, vocês sabem, quando é Milton é bom. Hamilton tem uma longa discografia seja suas próprias composições ou homenagens a alguns de seus ídolos. Ele lançou suas gravações em sua própria gravadora independente, Brasilianos, ou em parceiros mundiais como Universal, ECM, MPS, Adventure Music. Ele entende que a indústria musical precisa de definições de categorias para a música que toca, como por exemplo Jazz, Brazilian Jazz, Brazilian Popular Music; mas para ele a inspiração transcende os rótulos, é algo que cresce livremente sem a necessidade de ser definido. Gosta de se explicar como um explorador musical em busca de beleza e espontaneidade. Dividiu o palco ou gravou com Wynton Marsalis, Chick Corea, The Dave Mathews Band, Paulinho da Costa, Chucho Valdes, Egberto Gismonti, Ivan Lins, Milton Nascimento, Joshua Redman, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil, Richard Galliano, John Paul Jones, Bela Fleck, Stefano Bollani entre muitos outros.

.: interlúdio :. Hamilton de Holanda: 01 byte 10 cordas

1 . No Rancho Fundo — Ary Barroso , Lamartine Babo
2 . Ainda Me Recordo — Pixinguinha , Benedito Lacerda
3 . O Sonho — Hamilton de Holanda
4 . 01 Byte 10 Cordas — Hamilton de Holanda
5 . Pedra Sabão — Hamilton de Holanda
6 . Flor Da Vida — Hamilton de Holanda
7 . Disparada — Théo de Barros , Geraldo Vandré
8 . Adiós Nonino — Astor Piazzolla

Hamilton de Holanda, bandolim solo (gravado ao vivo no Rio Design Leblon, Rio de Janeiro (RJ), nos dias 16/12/2004 e 13/01/2005).

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Hamilton de Holanda, gênio

PQP

.: interlúdio :. Pogréssio: All your gardening needs encontra Adoniran Barbosa

Não sei de onde saiu este CD. Não sei de quem ganhei. Não conheço o All your gardening needs, não sei é uma pessoa ou um grupo. É algo super pirata, bastante bom e divertido, que veio num CD vagabundo da MultiLaser. Mas o conteúdo não é nada vagabundo. (Vagabundo é Bolsonaro). São trabalhos bastante ousados sobre canções e falas de Adoniran Barbosa (1910-1982). Um Adoniran elétrico, computadorizado, um pogréssio, enfim. Creio que eu não precise dizer quem foi Adoniran. O brasileiro que veio aqui e desconhece este gênio está convidado a sair deste blog. Imediatamente! O brasileiro que não conhece “Trem das Onze”, “Tiro Ao Álvaro”, “Saudosa Maloca”, “Prova de Carinho” e “Samba do Arnesto” não merece o ar que respira.

Pogréssio: All your gardening needs encontra Adoniran Barbosa

1. Milonga de pampa a sampa
2. Ponte aérea 2099
3. Animado baile jovem no conjunto habitacional Vila Ibiza
4. Por aí
5. `ceridade
6. Apara o casamento
7. Vagabundos / Roubando bolinhas
8. Alfred Hitchcock`s Av. Paulista
9. Carnaval é disco
10. As Chaves

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PQP

.: interlúdio :. Sivuca: Cabelo de Milho

.: interlúdio :. Sivuca: Cabelo de Milho

Homenageamos com essa postagem o maior acordeonista brasileiro, Severino Dias de Oliveira, o Sivuca. Ficou mundialmente conhecido por seus arranjos e por seu dom ao tocar a sanfona, foi cultuado por fãs e instrumentistas, entretanto, nesse disco, felizmente, Sivuca deixou também sua voz gravada em algumas faixas. Participação de Fagner na faixa “No tempo dos quintais”, de Glorinha Gadelha na faixa “Macho e fêmea”, ambas composições de autoria do Sivuca em parceria com Paulinho Tapajós e participação especial de Clara Nunes na faixa “Estrela guia”, de Sivuca e Paulo César Pinheiro. Arranjos e regência de Sivuca, produção de Sivuca, Glórinha Gadelha e Talmo Scaranari, entre sambas e músicas instrumentais, uma obra prima, destaque para “Te pego na mentira” de Sivuca e Glorinha Gadelha.

.: interlúdio :. Sivuca: Cabelo de Milho

* 01. Energia (Sivuca – Glorinha Gadelha)
* 02. No tempo dos quintais (Sivuca – Paulinho Tapajós)
* 03. Te pego na mentira (Sivuca – Glorinha Gadelha)
* 04. Músicos e poetas (Sivuca)
* 05. Macho e fêmea (Sivuca – Paulinho Tapajós)
* 06. Cabelo de milho (Sivuca – Paulinho Tapajós)
* 07. Estrela guia (Sivuca – Paulo Cesar Pinheiro)
* 08. Cantador latino (Sivuca – Paulo Cesar Pinheiro)
* 09. Cada um torce como pode (Sivuca)
* 10. Feira de mangaio (Sivuca – Glorinha Gadelha)

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Sivuca (1930-2006)

PQP

.: interlúdio carnavalesco :. mais samba ao vivo – Elis Regina e Jair Rodrigues: Dois na Bossa)

Elis Regina não é uma sambista assim “de raiz”, mas o samba estava na carreira da gaúcha desde o começo, quando se apresentava na TV Record com Jair Rodrigues e com ele gravou 3 LPs ao vivo (1965, 66 e 67) com sambas de Zé Keti, Nássara, Jobim, Vinicius, Baden Powell, Cartola, Edu Lobo, Marcos Valle…

Pela percussão, pela colocação das vozes e por outros detalhes, trata-se aqui muito mais de samba do que de bossa: o nome dos álbuns fala em bossa porque parte das gravações (ou todas elas?) foram feitas durante o programa O Fino da Bossa, da TV Record muitas décadas antes da emissora ser comprada por uma igreja que associa as culturas afro-brasileiras ao diabo.

Depois, também na TV mas agora na Band, gravaria com Adoniran Barbosa cantando os seus sambas como Tiro ao Álvaro e Saudosa Maloca. E nos anos 1970 gravou também três sambas de João Bosco e Aldir Blanc: os politicamente engajados Mestre-Sala dos Mares e O Bêbado e a Equilibrista e a alegre Bala com Bala (aqui numa gravação em playback para a TV alemã)

Em conversa com o colega de blog Vassily, soltei as seguintes hipóteses sobre os par Elis/Jair, mais próximas de palpites informados em uma mesa de bar do que de argumentos sustentados por fortes evidências:

Pleyel: Aparentemente esses discos ao vivo venderam bem na época e estou pensando aqui uma hipótese pra, apesar do sucesso na época, depois serem pouco lembrados.
A hipótese: depois de morta, além do intocável Elis & Tom, Elis acabou sendo mais lembrada por canções politicamente engajadas, de compositores jovens dos anos 70: Como nossos pais, O bêbado…, Mestre sala dos mares, Nada será como antes, Para Lennon e McCartney, todas essas apelando a uma esquerda jovem de classe média
Esses 3 discos ao vivo, além de serem pré-AI-5, têm um repertório mais povão (e carnavalesco), exceto algumas canções de Edu Lobo, Tom e Vinicius. Talvez mais próximos do repertório geral do Jair Rodrigues.
O fenômeno “canção de protesto da ditadura” é muito mais um fenômeno pós-68 do que pós-64 (Além de ser fenômeno ligado às esquerdas escolarizadas, com poucos negros, mas isso já exigiria outras análises)
E como explicitam as canções do Milton tão bem cantadas pela Elis, há nessas canções de protesto muito de brasileiro, mas tb muito de Beatles e Bob Dylan, ao contrário do repertório do samba mais de raiz, que faz a crítica social por outros caminhos… Por exemplo O Neguinho e a Senhorita, samba hoje clássico e que ainda era muito recente quando Elis e Jair o gravaram.

Vassily: Elis morreu em plena abertura, três anos antes da Nova República, e suas interpretações mais icônicas na memória recente eram das canções de protesto. E há também o apagamento do Jair Rodrigues: talvez seja um viés de observação de alguém que cresceu num RS racista em que Elis era deusa e cujo maior compositor, Lupicínio, ainda não desce redondo para muita gente. Mas nos anos 80 não se fazia muita ideia lá no RS de quem era Jair Rodrigues. Quando muito, era o “preto aquele que cantou com Elis” e, depois, pai do Jairzinho do Balão Mágico

Pleyel: É até difícil de se mensurar até que ponto ele e o Simonal fizeram sucesso nos anos 60 e início dos 70 (logo antes do auge comercial da canção de protesto, após os sucessos iniciais de Chico Buarque, Vandré etc)
Porque a maior parte da população ouvia música no rádio e TV, né. Tirando uns raros pobres melômanos e colecionadores, em geral LP era da classe média pra cima. Nos sebos e feiras de rua que vendem LPs no Rio, não me lembro de ver os do Jair Rodrigues. Mas enfim, são muito bons esses álbuns de 65, 66 e 67 deles dois. E tudo ao vivo!

Elis Regina e Jair Rodrigues – Dois na Bossa nº 1, 2 e 3

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320 kbps).

Edu Lobo – ouçam a versão ao vivo de Upa neguinho no 2º disco!
Noel Rosa de Oliveira (1920-1988), autor de O Neguinho e a Senhorita, era do morro do Salgueiro. Não confundir com o seu homônimo da Vila Isabel!

Pleyel

PS: Se estiver cansada(o) de tanta tranqueira nas redes sociais ex-twitter e insta, nos siga lá: @pqpbach

.: interlúdio carnavalesco :. Três discos de samba ao vivo (Cartola, João Gilberto, Beth Carvalho)

É hoje o dia da alegria, e a tristeza nem pode pensar em chegar! (Samba-enredo da União da Ilha, 1982)

A tristeza, apesar de tudo, tem parte inalienável no repertório do samba: muito ao contrário daqueles coachs que sugerem que não se mentalize nada de triste, no samba parece que é preciso falar na tristeza para em seguida despachá-la pra bem longe. Os álbuns de hoje trazem alguns dos mais belos sambas de todos os tempos, justamente no meio dessa encruzilhada:

“A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes) – aqui, a felicidade é breve, fugidia como o Carnaval…

“Alegria” (de Cartola) – o nome engana: aqui é a alegria que está fazendo falta ao poeta

“Tristeza” (de Niltinho Tristeza e Haroldo Lobo) – novamente o nome engana: não é um samba triste, muito pelo contrário. Fruto de parceria entre o jovem Niltinho e o experiente Haroldo Lobo, seria a última obra deste último, autor de “Alá lá ô” e “Índio quer apito”. Niltinho fez a 1ª versão com 18 versos poéticos, sublimes, mas pro Carnaval era um exagero. Haroldo sugeriu reduzir pra 8. Dizia ele: os versos de carnaval devem ser simples e, quando possível, repetir palavras chaves e onomatopeias. Tristeza estourou no Carnaval de 1966. Niltinho “Tristeza” viveu até 2018, fez samba-enredos pra Imperatriz Leopoldinense e carregou como apelido sua obra maior. Até hoje a canção é muito ouvida no Carnaval carioca, mas muita gente só canta o começo da letra mais o “laiá laiá”… e o “quero de novo cantar”: a voz do povo comprovando que Haroldo estava certo. Já em 1975 a minimalista versão de Toquinho e Vinicius (aqui) selecionava parte da letra, tornando ainda menos triste um samba que nunca foi triste, ao contrário de A Felicidade.

São muitas outras as pérolas nesses três discos gravados ao vivo, algumas mais carnavalescas e outras nem tanto. Deixo mais abaixo uma série de fotos em homenagem a alguns dos compositores desses sambas.


Cartola – Ao Vivo (1978):
Alvorada
O Mundo é um moinho
Sim
Acontece
Amor proibido
As Rosas não falam
Verde que te quero rosa
Peito vazio
Alegria
Inverno do meu tempo
O Sol nascerá

Cartola – Voz (e violão?)
Regional do Evandro: Evandro – Bandolim / Pinheiro – Violão / Lucio – Cavaquinho / Zequinha, Silvio Modesto – Ritmos

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João Gilberto – Ao Vivo em Montreux (1985):
Sem Compromisso (Geraldo Pereira, Nelson Trigueiro)
Menino do Rio (Caetano Veloso)
Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque, Antônio Carlos Jobim)
Pra que Discutir com Madame (Haroldo Barbosa, Antonio Almeida)
Garota de Ipanema (Jobim, Vinicius de Moraes)
Adeus América (Barbosa, Geraldo Jacques)
Estate (Bruno Brighetti, Bruno Martino)
Morena Boca de Ouro (Ary Barroso)
A Felicidade (Jobim, de Moraes)
Preconceito (Marino Pinto, Wilson Batista)
Sandália de Prata (Barroso)
Rosa Morena (Dorival Caymmi)
Aquarela do Brasil (Barroso)

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Beth Carvalho – Ao Vivo em Montreux (1987)
Da melhor qualidade
Nas rimas do amor
Samba do avião
Pé de vento
Andança
O encanto do Gantois
Alô Montreux / Carro de boi / A vovó Chica
Nas Veias do Brasil
Tristeza / Madureira chorou / Barracão / Firme e forte
Cacique de Ramos
Vou festejar

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Geraldo Pereira (1918-1955), autor de Sem Compromisso, além de portar um bigode sempre estiloso
Cartola (1908-1980) quando jovem
Haroldo Lobo (1910-1965) e Niltinho Tristeza (1936-2018), autores de Tristeza
Dorival Caymmi (1914-2008), autor de Rosa Morena e de sucessos carnavalescos como Maracangalha
Wilson Batista (1913-1968), autor de Preconceito
Tom Jobim (1927-1994), autor de A Felicidade, Samba do avião e Garota de Ipanema
Jorge Aragão (nasc. 1949), autor de Pé de vento e Vou festejar
Ary Barroso, autor de Morena boca de ouro, Sandália de Prata, Aquarela do Brasil
Homenagem de Carlos Drummond a Cartola, poucos dias antes da morte do sambista

Pleyel

.: interlúdio :. Edu Lobo: Corrupião

.: interlúdio :. Edu Lobo: Corrupião

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Uma obra-prima absoluta da música popular brasileira. Disco há muito tempo fora de catálogo que traz um Edu Lobo (1943) no auge de sua parceria com Chico Buarque. Músicas de Edu, letras de Chico — uma fórmula que gerou muitas belíssimas canções, hoje meio esquecidas pela estupidez da música atual. É complicado saber qual é a melhor faixa deste CD, mas eu me inclino para Valsa Brasileira, Nego Maluco, Choro Bandido, Falando de Amor, Ave Rara e Corrupião, ou seja, citei 7 das 10 músicas… E o time que o acompanha é formado só de craques, é extremamente sofisticado, tocando arranjos maravilhosos. Um disco perfeito! Edu Lobo é um dos patrimônios vivos da música popular brasileira.

Edu Lobo: Corrupião

1 Corrupião
Written-By – Edu Lobo
3:26

2 Frevo Diabo
Written-By – Chico Buarque, Edu Lobo
3:41

3 Valsa Brasileira
Written-By – Chico Buarque, Edu Lobo
3:37

4 Dos Navegantes
Written-By – Edu Lobo, Paulo César Pinheiro
4:36

5 Falando De Amor / Prelúdio N°3
Written-by [Falando De Amor] – Tom Jobim*
Written-by [Prelúdio N°3] – Villa-Lobos*
4:13

6 A Mulher De Cada Porto
Written-By – Chico Buarque, Edu Lobo
3:19

7 Nego Maluco
Written-By – Chico Buarque, Edu Lobo
4:21

8 Sem Pecado
Written-By – Aldir Blanc, Edu Lobo
3:55

9 Choro Bandido
Written-By – Chico Buarque, Edu Lobo
4:03

10 Ave Rara
Written-By – Aldir Blanc, Edu Lobo
5:19

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Edu, o gênio discreto

PQP

.: interlúdio :. Edu Lobo (1943): Edu e Bethânia (1966) / Camaleão (1978) / Tempo Presente (1980) / Elis Canta Edu (2009) / Tantas marés (2010)

.: interlúdio :. Edu Lobo (1943): Edu e Bethânia (1966) / Camaleão (1978) / Tempo Presente (1980) / Elis Canta Edu (2009) / Tantas marés (2010)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Eu sei lá de onde consegui este CD-R pirata com 5 discos de Edu Lobo. Eles dão uma passada muito aleatória e sem critério do que é a carreira deste gênio. Há dois discos feitos em parceria com cantoras. O primeiro com Maria Bethânia e o quarto desta série com Elis Regina, sendo este um CD muito doido que junta tudo o que Elis gravou de Edu. O resultado é excelente. Camaleão é a obra-prima do grupo. Tempo Presente é o pior. Tantas Marés é bom. Uma seleção um tanto tola para o enorme artista que é Edu, mas é o temos no momento.

Edu e Bethânia (1966)

1 . Upa, Neguinho
Edu Lobo , Gianfrancesco Guarnieri
2 . Cirandeiro
Edu Lobo , José Carlos Capinan
3 . Sinherê
Edu Lobo , Gianfrancesco Guarnieri
4 . Lua Nova
Edu Lobo , Torquato Neto (Torquato Pereira de Araújo Neto)
5 . Candeias
Edu Lobo
6 . Borandá
Edu Lobo
7 . Pra Dizer Adeus
Edu Lobo , Torquato Neto (Torquato Pereira de Araújo Neto)
8 . Veleiro
Edu Lobo , Torquato Neto (Torquato Pereira de Araújo Neto)
10 . O Tempo E O Rio
Edu Lobo , José Carlos Capinan

Camaleão (1978)

1 . Lero-Lero
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
2 . O Trenzinho Do Caipira (de “Bachianas Brasileiras Nº 2”)
Ferreira Gullar , Heitor Villa-Lobos , Edu Lobo (adaptação)
3 . Coração Noturno
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
4 . Canudos
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
5 . Camaleão
Fernando Leporace
6 . Sanha Na Mandinga
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
7 . Branca Dias
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
8 . Bate-Boca
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
9 . Descompassado
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
10 . Memórias De Marta Saré
Edu Lobo , Gianfrancesco Guarnieri

Tempo Presente (1980)

1 . Rei Morto, Rei Posto
Edu Lobo , Joyce Moreno
2 . Desenredo
Paulo César Pinheiro , Dori Caymmi
3 . Angu De Caroço
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
4 . Tempo Presente
Edu Lobo , Joyce Moreno
5 . Balada De Outono
Edu Lobo
6 . Rio Das Pedras
Edu Lobo
7 . Dono Do Lugar
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
8 . Laranja Azeda
Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito) , Novelli
9 . Quase Sempre
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
10 . Ilha Rasa
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)

Elis Canta Edu (2009)

1 Casa Forte (Instrumental)
2 Corrida de Jangada
3 Upa, Neguinho
4 Pra Dizer Adeus
5 Memórias de Marta Saré
6 Chegança (Ao Vivo)
7 Jogo de Roda
8 Canto Triste
9 Arrastão
10 Estatuinha
11 Canção Do Amanhecer (Ao Vivo)
12 Aleluia
13 Veleiro
14 Reza
15 Zambi (Ao Vivo)

Tantas marés (2010)

1 . Dança Do Corrupião
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
2 . Coração Cigano
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
3 . Acalanto (Primeira Cantiga)
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
4 . Angu De Caroço
Edu Lobo , Cacaso (Antônio Carlos Ferreira Brito)
5 . Perambulando
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
6 . Qualquer Caminho
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
7 . Ode Aos Ratos
Edu Lobo , Chico Buarque
8 . Tantas Marés
Edu Lobo , Paulo César Pinheiro
9 . Ciranda Da Bailarina
Edu Lobo , Chico Buarque
10 . Senhora Do Rio
Edu Lobo , Domínio Público (letra)
11 . A Bela E A Fera
Edu Lobo , Chico Buarque
12 . A História De Lily Braun
Edu Lobo , Chico Buarque

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PQP

.: interlúdio :. Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980): os Afro-Sambas em 5 versões integrais

.: interlúdio :. Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980): os Afro-Sambas em 5 versões integrais

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Desde a sua inauguração, em 2006, o PQP Bach perdeu 3 pessoas que aqui postavam. Alguns de nós nem se conhecem pessoalmente. Nos unimos através da rede e conversamos como grandes amigos. Eu não sei mais a ordem exata, mas creio que o primeiro foi Ammiratore, o segundo, Avicenna e o terceiro, Ranulfus. Avicenna veio a falecer com mais de 70 anos e após longa doença. Ammiratore perdeu a luta para a covid e a ignorância daquele governo lamentável. Sua morte foi especialmente dolorida para todos nós, muito dolorida mesmo. Mas, sei lá, o passamento de Ranulfus me atingiu mais fortemente. Tínhamos a mesma idade — nascemos com diferença de dois meses –, os mesmos gostos, incrivelmente tínhamos os mesmos CDs e vinis, ele parecia ter lido tudo o que li, só que tinha uma cultura muito maior, obtida sei lá onde. Tinha viajado muito mais — morara na Inglaterra, discutia línguas eslavas — e nos ensinava muito sobre literatura e música. Como eu, ele também não tinha muita grana, não. Quando nos conhecemos em um restaurante paulistano — foi apenas um encontro –, tivemos aquele tipo de rara empatia instantânea. E ontem dei de cara com esta sua coletânea de gravações. Ranulfus era muito ligado à cultura afro, da qual conhecia muito. Imagino que ele gostaria que eu a repusesse aqui. É o que faço agora. (PQP)

.oOo.

A primeira versão desta postagem se deu em 10/11/2010, durante os 40 dias que o monge Ranulfus viveu em Salvador, e incluía apenas a 2ª e 3ª das realizações dos Afro-Sambas apresentadas agora. Em 13/05/2011 veio a segunda versão, enriquecida com mais três realizações, inclusive a primeira de todas, cantada pelo próprio Vinicius de Moraes em 1966.

E o conjunto todo volta a cena hoje, 19/10/2013, centenário de nascimento de Vinicius de Moraes – o que, os senhores hão de convir, não é pouca razão, não é mesmo?

Por razões afetivas, o monge optou por reproduzir logo adiante o texto produzido em Salvador em 2010, antecedido apenas de umas rápidas observações sobre as três versões acrescentadas posteriormente,

… antes de mais nada, a primeira gravação, de 1966, com o próprio Vinicius de Moraes no vocal solo, e preciosos arranjos instrumentais de Guerra Peixe. Na nossa modesta opinião, Vinicius se sai surpreendentemente bem: ao contrário de Baden na versão de 1990, jamais desafina – mas para “compensar”, infelizmente o back vocal desafina sistematicamente, do começo ao fim. Pena, pois é uma versão encantadora! É bom notar que contém só 8 faixas; foi na versão de 1990 que Baden incluiu mais dois Afro-Sambas – creio que já integrantes da produção original, apenas não gravados na ocasião – mais uma impressionante introdução instrumental.

A quarta versão, lançada pela Deutsche Grammophon (!) em 2003, é a da baiana Virgínia Rodrigues, descoberta por Caetano Veloso nos anos 90. Dona de um belíssimo vozeirão negro de tessitura grave, às vezes acho que Virgínia compartilha um pouco com Mônica Salmaso aquela famosa questão da interpretação meio plana, igual demais (observação que tantas pedradas já me rendeu). Um pouco. Pois no fundo ela sabe muito mais do que é que está falando… Além disso, achei os belíssimos os arranjos instrumentais e de vozes, onde há. Detalhe: este CD atinge 12 faixas pela inclusão do samba Lapinha, que eu nunca havia visto antes relacionado aos Afro-Sambas – mas, enfim, já o seu título não é Afro-Sambas e sim “Mares Profundos”.

Já a quinta, de 2008, parte para uma formação supostamente mais “clássica”: o coro a vozes. O pessoal do Coral UNIFESP (da Universidade Federal de São Paulo) convidou nada menos que sete arranjadores, alguns que chegaram a resultados belíssimos, outros bons porém mais dentro do já convencional em termos de coralização da MPB. O trabalho é perfeito em termos de afinação, precisão… mas, engraçado, não sinto que essa música ganhe mais “classicidade” por isso. Para ser honesto, sinto que os Afro-Sambas são mais grande música que nunca justo nas duas gravações iniciais, com a participação de Baden, apesar de todos os desafinos. Ainda assim, este CD do Coral UNIFESP é um trabalho que ouço com frequência e prazer, e não deixo de recomendar que vocês baixem e ouçam!

E AGORA O TEXTO ORIGINAL DA POSTAGEM:
De repente o monge Ranulfus se encontra na muy barroca & ainda mais africana cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Querendo fazer uma postagem que de um modo ou de outro tivesse relação com esse fato, lembrou imediatamente dos Afro Sambas – só que… paradoxo: essas peças que fazem inevitavelmente pensar em Bahia foram compostas por um fluminense (BADEN POWELL de Aquino, 1937-2000) e um carioca (Marcus VINICIUS DE Mello MORAES, 1913-1980).

E daí? Tem a ver, sim, com o universo imaginário e estético afro-brasileiro que tem em Salvador sua capital – e sobretudo é música da grande, não tenho dúvida que da mais importante já composta no Brasil. Não segue os procedimentos construtivos do ‘clássico’ de origem europeia? Não parei para analisar e, sinceramente, pouco se me dá: seja como for, não vejo nem ouço razões para não entendê-los como um ciclo de lieder, tanto quanto os de, digamos, Schubert ou Brahms.

Os lieder em questão foram lançados em disco em 1966, com o tremendo violonista que era Baden, e na voz o poeta Vinicius, que definitivamente não era cantor. Não sei se é verdade ou folclore, mas em seus livros de história da bossa nova o jornalista Ruy Castro sacramenta a história de que em 1962 os dois se haveriam trancado em um apartamento por um três meses com várias caixas de cachaça, e saído de lá com 25 obras primas, mas cada um para uma diferente clínica de desintoxicação…

Embora várias das peças tenham se tornado standards em vozes como a de Elis Regina, o conceito do ciclo ficou esquecido por muito tempo. Três décadas depois (1995) o violonista Paulo Belinatti se juntou à recém-surgida cantora Mônica Salmaso, e fizeram a gravação de que muitos podem dizer: “essa é clássica”: virtuosismo instrumental constante, voz cristalina pairando límpida sobre isso o tempo todo… mas… sim, é uma gravação notável, porém… honestamente, não sinto que tenha alma. A voz límpida de Salmaso me parece atravessar tudo com a indiferença de uma beldade gélida e morta. Tudo igual, igual, igual.

Por outro lado o próprio Baden – que viveu a maior parte da vida na Europa, inquestionado como um mestre maior do seu instrumento – já havia feito uma segunda gravação integral em 1990, com o Quarteto em Cy e mais alguns instrumentistas. Esquisitíssima por outras razões: Baden também não era cantor. Tem momentos em que sustenta uma nota longa a quase meio tom de distância de onde deveria estar… e, no entanto, é artista até o fundo dos ossos e com essa mesma nota desafinada me faz correr lágrimas contínuas – não porque esteja doendo no ouvido, mas de beleza pura mesmo. Estado de graça. Vá-se entender!!

Em resumo: a gravação Belinatti-Salmaso é tecnicamente a melhor, mas sinto a do próprio Baden como musicalmente muito superior – seja lá o que queira dizer esse “musicalmente”. Mas talvez nem todos concordem – e por isso mesmo vão aí as duas versões. Bom proveito!

Baden Powell e Vinicius de Moraes: OS AFRO-SAMBAS – em 5 versões integrais
As listagens de faixas e fichas técnicas se encontram em suas respectivas pastas.

1. Versão original com Vinicius e Baden (1966)
com arranjos corais e instrumentais e regência de Guerra Peixe
2. Versão de Baden Powell (1990)
com Quarteto em Cy, Paulo Guimarães, Ernesto Gonçalves e outros (1990)
3. Versão de Paulo Belinatti e Mônica Salmaso (1995)
4. Versão de Virgínia Rodrigues (2003) (“Mares Profundos”)
5. Versão do Coral UNIFESP (2008)

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Dois gênios

Ranulfus

.: interlúdio :. Chico Buarque – Ópera do Malandro (1979)

É hoje! 80 velinhas no bolo do Chico (nasc. 19/jun/1944)

Com uma carreira tão longa e diversificada – cantor, compositor, escritor – é claro que alguns de nossos leitores-ouvintes vão discordar, mas para mim o ponto mais alto de Chico Buarque foi quando, no fim da década de 1970, ele voltou ao teatro – após Morte e vida severina, Roda Viva, Gota d’água, Os Saltimbancos, Calabar.

Aqui ele reúne seus talentos já à época bem conhecidos de autor de sambas e de canções de amor, e sobretudo o seu grande assunto: olhar para a classe social que ele conhecia bem e de dentro, as elites brasileiras que se dizem muito cristãs mas adoram jogar pedra na Geni e em quem mais aparecer. Esse olhar cuidadoso voltado para aqueles que há tempos querem evitar ver pobre na praia (proposta legislativa dos nossos malandros federais de 2024) é uma das marcas do Chico, aparecendo no seu disco Caravanas (2017) e nos seus recentes romances Leite derramado (2009) e Essa gente (2019).

Estreada em 1978, a Ópera do Malandro supostamente se passa na década de 1940 em um Rio de Janeiro que ainda era capital da República – artifício para escapar da censura do regime dos generais – mas as situações retratadas são até hoje atuais, o que no fundo é uma péssima constatação. A ópera foi lançada em disco em 1979 e depois seria reencenada várias vezes com ligeiras modificações, uma canção a mais, outra a menos, por exemplo no filme de 1985. A montagem de 2003 na Praça Tiradentes (outro reduto imorrível da boemia carioca), lançada em CD pela Biscoito Fino (aqui nas plataformas de streaming), é igualmente excelente.

A “Ópera do Malandro” é baseada na “Ópera dos Mendigos” (1728), de John Gay, e na “Ópera dos Três Vinténs”, de Bertolt Brecht e Kurt Weil. O espetáculo estreou no Rio de Janeiro, em julho de 1978, e foi recriado em São Paulo, em outubro de 1979, sempre sob a direção de Luiz Antonio Martinez Correa. Este disco contém as canções de ambas as montagens.

Estamos no Rio de janeiro dos anos 1940. O comerciante Fernandes de Duran e sua mulher, Vitória Régia, exploram uma cadeia de bordéis na Lapa, empregando centenas de mulheres. O casal tem uma filha, Teresinha de Jesus, que é criada e envernizada com todos os requisitos para arranjar um casamento vantajoso.

O chefe de polícia controla a moral e os bons costumes da cidade e, por coincidência, aceita presentes e gratificações de Duran. E o contrabandista Max Overseas chefia uma quadrilha que age por aí, sem maiores embaraços, até que essas figuras se cruzam e a historinha dá no que dá.

Antes de abrir o pano, o produtor do espetáculo apresenta ao público o autor desta ópera, um malandro chamado João Alegre.
(Do encarte do álbum)

Chico Buarque: Ópera do Malandro
MPB4: O Malandro (adaptado de Die Moritat von Mackie Messer – B. Brecht, K. Weill)
Chico Buarque e A Cor do Som: Hino De Duran
Marlene: Viver de Amor
Chico Buarque e Marlene: Uma Canção Desnaturada
MPB4: Tango do Covil
Chico Buarque e Moreira Da Silva: Doze Anos
Chico Buarque e Alcione: O Casamento dos Pequenos Burgueses
Zizi Possi: Terezinha
Moreira Da Silva: Homenagem ao Malandro
Nara Leão: Folhetim
Frenéticas: Ai, se eles me pegam agora
Marieta Severo e Elba Ramalho: O Meu Amor
Turma do Funil: Se eu fosse o teu patrão
Chico Buarque: Geni e o Zepelim
Gal Costa e Francis Hime: Pedaço de mim
Cantores Líricos: Ópera
João Nogueira: O Malandro nº 2 (adaptado de Die Moritat von Mackie Messer – B. Brecht, K. Weill)

Produzido e dirigido por Sérgio de Carvalho
Arranjos e regência por Francis Hime

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

P.S.: Devo admitir, contudo, que a gravação de uma das canções mais famosas desse ciclo, a “Homenagem ao Malandro”, não me parece tão boa nessa gravação aqui. É claro que Moreira da Silva tinha um longo currículo de malandragem, mas simplesmente não combinou tanto com a melodia e letra de Chico quanto a interpretação do autor, no LP de 1978, ou ainda esta aqui de um outro malandro de longa folha-corrida:

Pleyel

.: interlúdio :. Tamba Trio: Avanço (1963) & Edu Lobo por Edu Lobo (1964)

.: interlúdio :. Tamba Trio: Avanço (1963) & Edu Lobo por Edu Lobo (1964)

O Tamba Trio acompanhou todo mundo durante a Bossa Nova e no surgimento da MPB. Os caras eram bons bons mesmo! O trio muito acompanhou Carlos Lyra, Edu Lobo, Nara Leão, Sylvia Telles, Quarteto em Cy, João Bosco e Simone, entre outros. O Tamba começou a tomar forma em 1962 acompanhando a cantora Maysa e depois Leny Andrade atuando ao lado de Luís Carlos Vinhas (piano) e Roberto Menescal (violão). A partir de 1967, com a entrada do baixista Dório Ferreira, Bebeto passaria a atuar apenas como flautista, transformando assim o trio no quarteto Tamba 4. Dois anos depois, com a saída de Luiz Eça, que formaria o seu grupo A Sagrada Família, o pianista Laércio de Freitas entrou em seu lugar. O quarteto duraria até 1970. O Tamba Trio retornou com os três integrantes originais só em 1971, gravando dois discos pela gravadora RCA. Em 1976, começou mais um hiato e, quatro anos depois, o grupo voltou, fazendo apresentações e gravando o LP Tamba Trio 20 Anos de Sucessos, lançado em 1982. A partir de 1989, o baterista Rubens Ohana, que já participara do Tamba Trio, reintegrou-se ao conjunto, substituindo Hélcio Milito. O grupo continuou até 1992, quando faleceu Luiz Eça.

Já Edu Lobo é um gênio. Basta ouvir Borandá. Desde criança, fico impressionado com Edu Lobo, quando ele canta, em tom soturno: “Deve ser que eu rezo baixo”. Segue um texto sobre a obra-prima “Borandá”.

“Borandá” (nome de uma canção de Edu Lobo) é também uma expressão nordestina que significa ‘embora andar’. Edu Lobo lançou, em dezembro de 1964, a música “Borandá”, canção de protesto, incluída no Show Opinião. Na realidade, essa canção tinha sido muito bem aceita nos círculos bossanovistas alguns meses anteriores à encenação da peça de Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa. Compositor de sólida formação e sensibilidade musicais, conviveu durante sua infância e adolescência com os gêneros da moda (samba-canção e, posteriormente, a Bossa Nova, na cidade do Rio de Janeiro) e com o frevo, a embolada, o bumba-meu-boi, cantigas infantis do Recife (por ocasião de suas férias escolares passadas com os seus familiares pernambucanos). Simpatizantes das premissas culturais do CPC e da Bossa Nova, aproximou-se de artistas engajados ou não, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Sérgio Ricardo, Carlos Lyra, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, Ruy Guerra, Nara Leão, Wanda Sá. Em “Borandá” (letra e música de Edu Lobo), canção com ambientação rural, o autor procurou desmistificar a religiosidade popular dos nordestinos, vista como um entrave ou obstáculo que contribuía para a não-conscientização do homem rústico em face dos reais problemas sociais. Aproximando-se das ideias estético-políticas esboçadas por Glauber Rocha em seu filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, Edu Lobo denuncia a miséria como um sintoma da seca e, paralelamente, procura desmistificar a religiosidade popular que impelia o sertanejo a assumir o papel de um ser errante, que se dirige para os grandes centros urbanos do litoral em busca de melhores condições de vida ou terras férteis em outras regiões do Nordeste. A temática dessa canção lembra problemas levantados por Graciliano Ramos em sua obra “Vida Secas”, e filmada por Nélson Pereira dos Santos em 1963-1964: “Deve ser que eu rezo baixo” e, ironicamente, o autor procura indicar uma resposta: “Pois meu Deus não ouve, não/ É melhor partir lembrando (Que ver tudo piorar)”. E, em seguida, Edu Lobo resume, em poucas linhas, o retrato sobre as condições de vida do retirante: “(…) Borandá, que a terra/ Já secou, borandá/ É borandá, que a chuva/ Não chegou, borandá”. E, sutilmente, denuncia a relação Igreja/ coronelismo e uma possível solução dos problemas sociais: “Já fiz mais de mil promessas/ Rezei tanta oração/ deve ser que eu rezo baixo/ Pois meu Deus não ouve, não/ Borandá, que a terra/ Já secou borandá/ É borandá, que a chuva/ Não chegou, borandá”. E, finalmente, sem nenhuma ilusão, o sertanejo procura outros lugares para fugir da seca: “Vou-me embora, vou chorando/ Vou-me lembrando de meu lugar/ Quanto mais eu vou pra longe/ Mais eu penso sem parar/ Que é melhor partir lembrando/ Que ver tudo piorar/ Borandá, borandá/ Vem borandá”.

Extraído de http://www.scielo.br escrito por Arnaldo Daraya Contier

Mas  restante do LP tem joias como Zambi, Chegança, Reza, Canção do Amanhecer e Arrastão — esta numa curiosa gravação não tão incandescente quanto a de Elis.

Tamba Trio – Avanço — 1963

A1 Garôta De Ipanema
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
A2 Mas, Que Nada !
Written-By – Jorge Ben
A3 Negro
Written-By – Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli*
A4 Mania De Maria
Written-By – Luiz Bonfá, Maria Helena Toledo*
A5 Vento Do Mar
Written-By – Durval Ferreira, Luiz Fernando Freire*
A6 Sonho De Maria
Written-By – Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle
B1 Só Danço Samba
Written-By – Antonio Carlos Jobim, Vinicius De Moraes
B2 O Samba Da Minha Terra
Written-By – Dorival Caymmi
B3 Môça Flor
Written-By – Durval Ferreira, Paulo Sérgio Valle
B4 Rio
Written-By – Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli*
B5 Tristeza De Nós Dois
Written-By – Bebeto Castilho, Durval Ferreira, Mauricio Einhorn
B6 Esperança
Written-By – Durval Ferreira, Luiz Fernando Freire*, Mauricio*

Arranged By, Piano, Music Director – Luíz Eça*
Classical Guitar – Durval Ferreira (Gato)*
Contrabass, Tenor Saxophone, Baritone Saxophone, Flute – Adalberto Castilho (Bebeto)*
Percussion – Helcio Millito*

A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo (Com a Participação do Tamba Trio) — 1964

A1 Borandá
Written-By – Edu Lobo
2:33
A2 Resolução
Written-By – Edu Lobo, Lula Freire
2:26
A3 As Mesmas Histórias
Written-By – Edu Lobo
3:55
A4 Aleluia
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
3:20
A5 Canção Da Terra
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
2:55
A6 Zambi
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
3:08
B1 Reza
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
2:55
B2 Arrastão
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
2:29
B3 Réquiem Por Um Amor
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
1:37
B4 Chegança
Written-By – Edu Lobo, Oduvaldo Vianna Filho*
3:21
B5 Canção Do Amanhecer
Written-By – Edu Lobo, Vinicius De Moraes
1:54
B6 Em Tempo De Adeus
Written-By – Edu Lobo, Ruy Guerra
3:12

Acoustic Guitar – Edu Lobo
Drums – Rubens Ohana
Flute, Bass – Adalberto Castilho (Bebeto)
Piano, Arranged By – Luisinho Eça*

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Edu Lobo em 1967

PQP

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Certa vez, em um churrasco, já devidamente alcoolizado e conversando com um especialista em Música Brasileira, o PP, começamos a fazer uma lista dos dez melhores discos brasileiros de todos os tempos. Ao lado dos óbvios Chega de Saudade, Construção, Slaves Mass, Transa, Dança das Cabeças, etc. o PP disse que Previsão do Tempo tinha lugar certo na lista e estava a fim de brigar pelo trabalho de Marcos Valle. OK, os bêbados inteligentes não brigam e reservamos uma vaguinha pra Marcos Valle e eu, que tenho o vinil original, voltei a ouvi-lo e fiquei de queixo caído. É ma-ra-vi-lho-so! Hoje vi que meu vinil vale quatro dígitos. É uma raridade.

Marcos Valle (1943) é um gênio da Bossa Nova e da MPB. Escreveu mais de 500  canções, lançou 29 álbuns, teve músicas regravadas em todos os cantos do planeta e mais de 100 sampleadas por artistas atuais como Marcelo D2 a Jay-Z e Kanye West, entre outros.

Previsão do Tempo é tido como o seu melhor álbum. Tem de tudo, samba, MPB, canções lentas, derramados flertes com o jazz e o soul. Alerta: estávamos em 1973, o governo era o do Gen. Médici de tão má memória. Alguém desavisado de nossos dias pode ver em Marcos um simpático à ditadura militar ao ouvir a faixa de abertura Flamengo até morrer. Na época estava clara a sátira, só que hoje muita gente esquece que havia músicas que necessitavam ser descriptografadas. Marcos e Paulo Sérgio estão falando de pão e circo, estão dizendo que a panaceia para o país seria escalar Dario e Doval juntos no ataque do Flamengo e tudo ficaria OK. “Até o Presidente é Flamengo até morrer!” Mais claras são Tira a mão e Mentira. A primeira é extremamente raivosa:

Mas tira a sua presença
Se manda de vez
Vou falar francamente
Não vou com você
Tira-se, retira-se, tira daqui
Não entendo essa língua
Não entendo não

É um trocadilho com a palavra Tira, que tanto pode significar o verbo tirar ou o substantivo tira, ou seja, os puliça. Outras faixas icônicas também trazem cunho político e fizeram muito sucesso. Mentira é puro deboche e foi sampleada recentemente por Marcelo D2:

Quero é ter…
Você na mira… tchup tchu, é mentira
Mira… tchup tchu, sem mentira

Já a letra de Samba Fatal foi escrita por Paulo Sérgio sob o impacto da notícia do suicídio de Torquato Neto, em 10 de novembro de 1972.

Uma obra-prima!

.: interlúdio :. Marcos Valle: Previsão do Tempo (1973)

Lado A
1. Flamengo Até Morrer
2. Nem Paletó, Nem Gravata
3. Tira A Mão
4. Mentira (Chega De Mentira)
5. Previsão Do Tempo
6. Mais Do Que Valsa

Lado B
1. Os Ossos Do Barão
2. Não Tem Nada Não
3. Não Tem Nada Não Pt. 2
4. Samba Fatal
5. Tiu-Ba-La-Quieba
6. De Repente, Moça Flor

Todas as músicas são de Marcos Valle (música) e Paulo Sergio Valle (letra), exceto Previsão do Tempo que é apenas de Marcos Valle e as duas Não tem nada não, de que é de Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle.

Arranged By, Orchestrated By, Conductor – Maestro Zé Roberto* (tracks: A2 to A6, B2, B3, B5, B6) / Maestro Marcos Valle* (tracks: A1, B4) / Maestro Waltel Branco* (tracks: B1)
Music Director – Maestro Gaya*
Trio Azymuth:
José Roberto Bertrami (teclado e arranjos)
Alex Malheiros (baixo)
Ivan Conti “Mamão” (bateria)
O Terço em:
“Flamengo Até Morrer” e “Samba Fatal”.

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Marcos Valle em 1973

PQP

.: interlúdio :. Nara Leão : “10 anos depois” (o mais clássico do mais clássico da Bossa Nova)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 19/10/2013.

Mesmo que só 9 das 24 faixas tenham letra de Vinicius de Moraes, este álbum me parece perfeitamente adequado numa celebração do seu centenário: afinal, ele foi uma das pessoas de maior participação no universo que gerou este gênero de “poemúsica”, embora mais tarde tenha tenha estado envolvido com outros gêneros que se poderiam dizer “menos clássicos”.

Para registro: os outros letristas são, por ordem de quantidade: o próprio Tom (4); Chico Buarque e Newton Mendonça (3 cada); Aloysio de Oliveira (2); Ray Gilbert, Dolores Duran e Johnny Alf (1 cada). Quanto à música, é maciçamente de Tom Jobim (19), complementada por Carlos Lyra (3), Baden Powell e Johnny Alf (1 cada).

Mas, neste álbum, o que mais me instiga a comentar é a cantora mesmo – e começo por dizer que no geral não sou muito chegado a cantores/as de voz pequena e monotímbrica, que com muita frequência dão a impressão de uma voz “engolida”, além de não facilitarem a compreensão das palavras. E confesso que demorei a perceber, mas esse definitivamente não é o caso de Nara Leão!

Tenho a impressão de que se alguém quisesse mostrar o que uma melodia é e expressa em si, apenas em sendo melodia, sem lhe acrescentar nada com efeitos de dinâmica e timbre, não haveria voz melhor que a de Nara para isso. Também se quisesse apresentar a poesia verbal associada à melodia com absoluta inteligibilidade, e na expressão mais simples possível que ainda seja tocante.

Limpidez. Nitidez. Expressão dosada em miligramas, que – uma vez o ouvido desiste de esperar arroubos e se conforma com o minimalista, o discreto – passa a parecer mais expressiva que aquela dosada em quilos. Uma sofisticação tão elevada que até parece absoluta simplicidade. Assim eu “ouvejo” o canto de Nara Leão desde que, aos 40 anos, um aluno de 17 ficou fascinado com a primeira gravação dela que ouviu, e me fez parar pra ouvir.

Por isso tenho esse canto na conta de clássico, num certo sentido no termo – e por isso também me parece especialmente chocante a pouca atenção que o país vem dando ultimamente a Nara, mais valorizada hoje em gravações e em páginas da net de outros países, de modo que não me parece supérfluo relembrar um pouquinho da sua vida e carreira.

Nara estaria com 71 anos se um câncer não nos a tivesse roubado aos 47 ( e “no-la” é a pqp, senhores puristas!). Nascida precisamente na cidade de onde escrevo (Vitória, ES) mas criada no Rio, aos 14 a garota começou a ter aulas de violão – e os pais tiveram o bom-senso de não recusar acolhimento ao pessoalzinho que começou a visitá-la pra papear e fazer som. Diz a lenda que foi no apartamento da adolescente Nara que a bossa nova nasceu. Na verdade não foi só lá… mas que ele fez sua contribuição significativa, isso fez.

Nara gravou pela primeira vez aos 19, em 1961 – e logo depois abraçou com paixão a política de esquerda, e a arte como instrumento dessa política, tornando-se “a musa da canção de protesto”, sobretudo a partir de 1964. Com tudo o que aconteceu nos anos seguintes, não é de estranhar que em 1971 estivesse em Paris, como “tanta gente que partiu” – isso quando não foi partida. E foi em Paris que gravou esta espécie de tributo aos primeiros anos da bossa nova, comemorativo também dos seus 10 anos de carreira – e em seguida parou de gravar por seis anos, dedicando-se “apenas” a cuidar dos filhos e a um doutorado em psicologia – até ficar sabendo, aos 35, que tinha um tumor cerebral. Reagiu como? Voltando a gravar e a se apresentar com afinco, como se quisesse deixar o mais que pudesse de coisas bonitas no mundo, nos doze anos que ainda viveu. Como se vê, não foram só as melodias que Nara soube percorrer com uma espécie de… grandeza sutil.

As primeiras 12 faixas do álbum são só de voz e violão (a primeira com um efeito um tanto estranho de playback, que parecia estar na moda explorar), enquanto as demais 12 trazem arranjos camerísticos, jamais desrespeitosos do volume da voz de Nara, assinados por Roberto Menescal, Luiz Eça e Rogério Duprat. Com o detalhe: voz e violão foram gravados em Paris, os demais instrumentos (inclusive um cravo!) no Brasil.

Querem saber de uma coisa? Frente a uma artista tão minimalista e sutil, já estou falando demais. Deixo-vos é com a própria.

Nara Leão: Dez Anos Depois (1971)

Disco 1, lado A
01 Insensatez (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
02 Samba de uma nota só (Tom Jobim – Newton Mendonça)
03 Retrato em branco e preto (Tom Jobim – Chico Buarque)
04 Corcovado (Tom Jobim)
05 Garota de Ipanema (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
06 Pois é (Tom Jobim – Chico Buarque)

Disco 1, lado B
07 Chega de saudade (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
08 Bonita (Tom Jobim – Ray Gilbert)
09 Você e eu (Carlos Lyra – Vinícius de Moares)
10 Fotografia (Tom Jobim)
11 O grande amor (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
12 Estrada do sol (Tom Jobim – Dolores Duran)

Disco 2, lado A
13 Por toda minha vida (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)
14 Desafinado (Tom Jobim – Newton Mendonça)
15 Minha namorada (Carlos Lyra – Vinícius de Moraes)
16 Rapaz de bem (Johnny Alf)
17 Vou por aí (Baden Powell – Aloysio de Oliveira)
18 O amor em paz (Tom Jobim – Vinícius de Moraes)

Disco 2, lado B
19 Sabiá (Tom Jobim – Chico Buarque)
20 Meditação (Tom Jobim – Newton Mendonça)
21 Primavera (Carlos Lyra – Vinícius de Moraes)
22 Este seu olhar (Tom Jobim)
23 Outra vez (Tom Jobim)
24 Demais (Tom Jobim – Aloysio de Oliveira)

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Ranulfus

[restaurado por Vassily em 23/3/2023 como saudosa homenagem ao mestre Ranulfus e ao Dia Internacional da Mulher]

.: interlúdio :. Ithamara Koorax: Rio Vermelho (1995)

Nossa homenagem ao saudoso Ranulfus continuará, também, através da republicação de suas preciosas contribuições ao nosso blog – como esta, que veio à luz em 31/12/2015

.Senhorxs: sei que este último dia de 2015 já está carregado até não poder mais de postagens tremendas, mas, desculpem, eu não posso deixar virar para 2016 sem registrar o vigésimo ano deste disco que considero um “unicum”, isto é: sem similar.

Ithamara é mais um desses casos de brasileirx vítima do nosso complexo de vira-lata endêmico: indicada não sei quantas vezes pela Downbeat entre as principais cantoras de jazz do mundo, diva absoluta no Japão, e ainda – ai! – “Ithamara quem?” para a maior parte dos brasileiros – isso quando este disco contém nada menos que a última gravação de Tom Jobim (no piano de algumas faixas); solos inacreditáveis de Ron Carter ao baixo; Luiz Bonfá, Marcos Valle, Paulo Malaguti e o próprio Tom entre os arranjadores – etc. etc.

Mas não deixo de compreender que, para brasileiros, ouvir sua própria música dita “popular” interpretada assim tenha que causar alguma estranheza. É realmente incomum – e tanto, que eu mesmo tenho dificuldades em colocar em palavras de que modo é incomum. Minha hipótese principal: por uma lado, Ithamara faz uma leitura instrumental da melodia – quero dizer, usando a voz como um instrumento solista, muitas vezes a-lu-ci-na-da-men-te; por outro, não esquece o texto, mas faz dele uma leitura teatral, de alta dramaticidade. São duas intensidades simultâneas tão altas que o resultado definitivamente não cabe em situação assim como embalar um jantar: ou você embarca e navega junto, ou se sente jogado para lá e para cá pela turbulência; sem paz – o que parece chegar ao extremo nas duas faixas em inglês, Cry me a river e Empty glass.

Quanto às onze faixas em português, admito que algo dificulta a fruição do disco até para mim: seis delas são um revival da chamada “música de fossa”, ou “música de dor de cotovelo” (ou mesmo sete, se incluirmos ‘Retrato em branco e preto’ nessa categoria) – sendo cinco numa sequência só. Ora, justamente com as leituras de La Koorax, isso pode ser uma travessia de efetivo risco para depressivos e bipolares… Se eu avalio que há um erro neste disco, é este excesso – entre tantos outros excessos que resultaram felizes!

‘Rio Vermelho’ foi o terceiro disco de Ithamara. Conheço bem este e o segundo, ‘Ao Vivo’, um pouco menos colorido timbristicamente porém igualmente intenso – mas conheço pouco dos posteriores, pois me passaram a impressão de que os produtores internacionais tenham conseguido domar um tanto o vulcão inventivo da artista – com o que confesso que meu interesse caiu um pouco.

Estarei dizendo que acho que na média Ithamara pode ter ficado sendo uma cantora menor? Não! Não acho que arte comporte esse tipo de cálculo mesquinho. Para mim, uma sílaba pode ser bastante para consagrar um(a) artista. No caso, sugiro que ouçam com atenção o gradualíssimo crescendo de tensão em Retrato em branco e preto, até a sílaba -CA- de “pecado”. Vocês me considerarão completamente maluco se seu disser que dentro dessa sílaba eu vejo se abrir uma paisagem tão ampla quanto as do Planalto Central, ou quem sabe a de algum mirante da Serra do Mar?

Pois bem: a uma cantora que conseguiu fazer isso comigo eu jamais admitirei que alguém venha a chamar de “menor” – seja lá o que houver feito ou deixado de fazer depois!

ITHAMARA KOORAX : RIO VERMELHO
Data de gravação: outubro de 1994
Data de lançamento: abril de 1995

1. Sonho de Um Sonho (Martinho da Vila/R. De Souza/T. Graúna) – 3:50
2. Retrato Em Branco E Preto (Buarque/Jobim) – 5:38
3. Correnteza (Bonfá/Jobim) – 6:41
4. Preciso Aprender a Ser Só (Valle/Valle) – 4:54
5. Tudo Acabado (Martins/Piedade) – 5:26
6. Ternura Antiga (Duran/Ribamar) – 3:48
7. Não Sei (DeOliveira/Gaya) [d’aprés Chopin] – 4:27
8. É Preciso Dizer Adeus (de Moraes/Jobim) – 3:36
9. Cry Me a River (Hamilton) – 6:06
10. Índia (Flores/Fortuna/Guerreiro) – 7:05
11. Rio Vermelho (Bastos/Caymmi/Nascimento) – 3:44
12. Se Queres Saber (Peter Pan) – 8:14
13. Empty Glass (Bonfá/Manning) – 4:02

Ithamara Koorax – Arranger, Vocals, Executive Producer
Antonio Carlos Jobim – Piano, Arranger
Luiz Bonfá – Guitar, Arranger
Ron Carter – Bass
Sadao Watanabe – Sax (Alto)
José Roberto Bertrami – Arranger, Keyboards
Arnaldo DeSouteiro – Arranger, Producer
Jamil Joanes – Bass (Electric)
Carlos Malta – Flute (Bass), Sax (Tenor)
Pascoal Meirelles – Drums
Paulo Sérgio Santos – Clarinet
Marcos Valle – Arranger, Keyboards
Mauricio Carrilho – Guitar (Acoustic), Arranger
Daniel Garcia – Sax (Soprano), Sax (Tenor)
Paulo Malaguti – Piano, Arranger, Keyboards
Sidinho Moreira – Percussion, Conga
Marcos Sabóia – Engineer, Mixing
Otto Dreschler – Engineer
Fabrício de Francesco – Engineer
Rodrigo de Castro Lopes – Engineer, Mastering
Livio Campos – Cover Photo
Hildebrando de Castro – Cover Design, Cover Art
Celso Brando – Liner Photo
Christian Mainhard – Artwork

. . . . . . . BAIXE AQUI – download here

Ranulfus

[restaurado com carinho e saudades por Vassily em 14/3/2023, como parte das homenagens a Ranulfus e ao Dia Internacional da Mulher]

.: interlúdio :. Gilberto Gil ao vivo na USP 1973 (bootleg)

As postagens deste blog são agendadas com alguns dias de antecedência. Após o épico dia 30 de outubro de 2022, não teremos palavras nossas. Deixo vocês com as palavras de Gilberto Gil há quase 50 anos. Naquela época muito distante, a polícia torturava e matava gente. Dois meses após a morte de um estudante da USP, o clima não era leve. Gilberto Gil foi procurado pelos estudantes para tocar de improviso, de graça, antes do show que faria à noite em um teatro paulista. Só com voz e violão, a maneira de João Gilberto e Jorge Ben, Gilberto Gil se soltava mais do que com banda, incorporava várias vozes, inclusive aquelas que estavam lá pra calá-lo. Essa edição não oficial (bootleg) inclui, além da música, as longas conversas com o público. Adicionamos algumas cores abaixo para diferenciar as diferentes vozes/personagens.

São Paulo, 26 de maio de 1973

[Gilberto Gil no bis, quando canta Cálice pela 2ª vez após muitos pedidos da plateia:]

– Pai, afasta de mim esse cálice
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Deixa eu lançar um grito desumano

[Outra voz:] – Cale-se!

Que é uma maneira de ser escutado

–\\–

[Em ‘Oriente’, outra voz: canto sem palavras, cheio de intervalos microtonais como os de povos orientais que Gil certamente conheceu no exílio em Londres, do qual voltou em 72.]

[Voz de Gilberto Gil:] – Esse canto é o mesmo na Arábia Saudita. Nas terra maldita do Nordeste é o mesmo na Arábia Saudita.

[Terceira voz, séria:] – Cala a boca, rapaz.
Ah, esse cara já tá…
Acaba com isso, rapaz
Ah… você aí com esse negócio desse nhanhanha…
[…]
Que cara, que babaca, olha que palhaço… fica com esse nhénhénhé, tem nada do que ver, rapaz, isso aqui é o Brasil, rapaz, Ocidente. Civilização Ocidental, rapaz, industrial, tem nada que ver com isso não! Olha aí, rapaz, o som da gente é outro!
[….] Esse cara é doido mermo…
Vai pra Índia, entendeu… Isso aqui não é… Isso aqui é lugar de produtividade.

[Voz de Gilberto Gil:] – Mas na verdade é o mermo, o mermo lamento, o mermo canto de sofrimento.
Lá nas terra maldita do Norte
Nas terra maldita na Arábia Saudita

[Outra voz: canto sem palavras]

[Voz de Gilberto Gil:] – Se oriente, rapaz…

–\\–

[Após cantar Objeto sim, objeto não]

– Lendas e profecias, é a mesma coisa. As lendas têm caráter profético, elas muitas vezes podem já estar esgotadas no seu sentido profético, ou seja, são relativas a coisas já ocorridas, mas… outras vezes não, outras vezes as lendas são elas, em si mesmo, uma forma de ocultação, ou seja, uma forma [que] Nostradamus usava, pra não ser degolado como Giordano Bruno, pela fogueira da Inquisição, ele pegou e as coisas que ele achava que ele sabia, […] botou tudo em versos ocultos ali, e agora as pessoas pegam…

–\\–

– Pera aí que tem um rapaz aqui que quer fazer uma pergunta?

[Alguém da plateia, voz quase inaudível: … qual o papel do compositor?]

– É um problema muito pessoal, rapaz, depende muito… você quer dizer o seguinte, que existe um sistema, no qual as pessoas vivem, no qual existe a lei, no qual existem as barreiras todas, não é isso? E que o artista se vê na sua criação diante desses problemas todos, no Brasil se chama Censura, e que vai determinar o que é que é, no final é o que vai fazer a seleção, vai dizer qual é a música, qual é a arte que convém ao povo, e etc. etc. Quer dizer, mas isso é um critério pessoal, é um critério deles, quer dizer, não abrange de forma nenhuma a totalidade das coisas, haja vista no Brasil as manifestações que a gente tem frequentemente contrárias a esse tipo de atitude castrativa diante da música. Agora, isso o quê que é, isso é um problema da nossa sociedade, quer dizer, é uma das insinuações do sistema da forma que ele está hoje, no mundo, e a gente tem que enfrentar. […] procuro me comportar, sem me trair, cê tá entendendo? Quer dizer, eu procuro fazer o que eu acho que posso fazer, o que devo fazer, e tudo mais, e eu acho que o comportamento de cada um, que foi o que você perguntou no fim, “O quê que o compositor devia fazer, como ele devia se comportar”, eu não acho que deva haver padrão, cê tá entendendo? Um método, uma cartilha, uma regra para o comportamento do compositor, porque aí seria a merma coisa, seria fazer também uma censura né, do lado de cá, dizer: não, só o comportamento desse tipo é que é válido contra uma barreira qualquer, e acho que não… tem a corrida de obstáculos, o cara vem e pula por cima, o outro passa por baixo… [risos]

Gilberto Gil ao vivo na Escola Politécnica da USP, 1973:
Oriente (Gilberto Gil)
Apresentação (Gilberto Gil)
Chiclete Com Banana (Gordurinha/Almira Castilho)
Minha Nega na Janela (Germano Mathias/Doca)
Senhor Delegado (Antoninho Lopes/Jaú)
Eu Quero um Samba (Haroldo Barbosa/Janet de Almeida)
Meio de Campo (Gilberto Gil)
Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil)
O Sonho Acabou (Gilberto Gil)
Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil)
Expresso 2222 (Gilberto Gil)
Procissão (Gilberto Gil)
Domingo No Parque (Gilberto Gil)
Umeboshi (Gilberto Gil)
Objeto Sim, Objeto Não (Gilberto Gil)
Ele e Eu (Gilberto Gil)
Duplo Sentido (Gilberto Gil)
Cidade do Salvador (Gilberto Gil)
Iansã (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
Eu Só Quero um Xodó (Dominguinhos/Anastácia)
Edith Cooper (Gilberto Gil)
Back In Bahia (Gilberto Gil)
Filhos de Gandhi (Gilberto Gil) [inclui: Afoxé (Dorival Caymmi) e Oração de Mãe Menininha (Dorival Caymmi)]
Preciso Aprender a Só Ser (Gilberto Gil)
Cálice (Chico Buarque/Gilberto Gil)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Em Buenos Aires. Qualquer semelhança é mera coincidência…

Pleyel

.: interlúdio :. Elza Soares pertinho do céu

Em uma entrevista ao Pasquim em 1969, Tom Jobim teve de dar notas a alguns artistas. É claro que Millôr, Ziraldo e cia. queriam gerar intriga. Ele respondeu: Nara Leão, 10. Elis Regina, 10. Elza Soares, 9. Moreira da Silva, 10. Jorge Ben, 10. Villa-Lobos, 1500. Dercy Gonçalves, 7. Nelson Rodrigues, não digo.

Elza Soares foi muita coisa, vocês sabem e lembrarão esses dias. Mas ela não era bossa-nova. Não era um doce balanço a caminho do mar. Talvez por isso a nota 9 acima. Cala a boca, Jobim!

Nos despedimos dessa cantora nada bossa-nova com um medley de Opinião (Zé Keti) com O Morro não tem vez (Tom Jobim/Vinicius)

Vamos resolver isso? Falta pouco! —> .: interlúdio :. Argonautas Interpretam Edu Lobo

Vamos resolver isso? Falta pouco! —> .: interlúdio :. Argonautas Interpretam Edu Lobo

Este trabalho precisa de você para existir  fisicamente e poder render uma graninha para os Argonautas. PQP, os caras merecem! E como! O que falta? Ora, pagar os royalties de alguns artistas e o serviço de liberação para poder ser lançado nas plataformas digitais. Como colaborar?

Aqui, ó. Falta pouco.

Só os pequepianos receberão o CD antes para poderem comprovar sua qualidade! Mas isso não significa que não possam ajudar os artistas! Vejam a imagem que coloquei após a foto do Edu Lobo, lá embaixo.

O recado dos Argonautas:

Fazer um disco com músicas de Edu Lobo sempre foi de nosso interesse. Com suas canções mágicas, coloca-se, vizinho de Tom e Chico, no nosso mais alto patamar.

As participações agigantam o álbum. Há Mônica Salmaso, Renato Braz, Leonardo Torres, Marco Forte e Heriberto Porto. Todos foram generosos e passionais, pelo que somos muito gratos.

Este disco tem, embutidos no repertório, uma atmosfera, um poder imersivo, que nós tentamos manter nos arranjos, na gravação, nas interpretações e até na mixagem e na masterização. Trata-se de uma coletânea de momentos artesanais, que para nós foram de transcendência, e que meio sem querer, meio meticulosos, tivemos a oportunidade de capturar.

Só podemos esperar que essa força que ele guarda atinja e cative a todos.

Argonautas Interpretam Edu Lobo

01. Jogo 3
Edu Lobo

Rafael Torres  arranjo, violão, viola, flauta e acordeon
Ayrton Pessoa  piano
Ednar Pinho  baixo

02. Choro Bandido
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres   arranjo, violão e voz
Ayrton Pessoa  acordeon
Ednar Pinho baixo

03. Pra Dizer Adeus
Edu Lobo e Torquato Neto

Rafael Torres arranjo, violão, guitarra e voz
Ednar Pinho baixo
Igor Ribeiro  bateria

04. A Permuta dos Santos
Edu Lobo e Chico Buarque

Mônica Salmaso  voz
Rafael Torres  arranjo, violão e vocal
Ayrton Pessoa acordeon
Ednar Pinho baixo
Igor Ribeiro  percussão
Luiz Orsano  bateria

05. Canção do Amanhecer
Edu Lobo e Vinícius de Moraes

Rafael Torres  arranjo, violão, flautas, clarinetes e voz
Ednar Pinho baixo
Igor Ribeiro  bateria

06. Meia-Noite
Edu Lobo e Chico Buarque

Edu Lobo  voz
Rafael Torres  arranjo e violão
Ayrton Pessoa piano e acordeon
Ednar Pinho baixo

07. Beatriz
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres arranjo, violão, flauta e voz
Ayrton Pessoa bandolim
Leonardo Torres  piano
Ednar Pinho baixo

08. Forrobodó
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres  arranjo, violão, flauta e voz
Ednar Pinho baixo
Igor Ribeiro  bateria

09. Sobre Todas as Coisas
Edu Lobo e Chico Buarque

Renato Braz voz
Rafael Torres arranjo, violão e voz
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano

10. Valsa Brasileira
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres arranjo, clarinete e voz
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano

11. A Moça do Sonho
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres violão e voz

12. O Circo Místico
Edu Lobo e Chico Buarque

Ayrton Pessoa  piano, acordeon e voz

13. Ave Rara
Edu Lobo e Aldir Blanc

Marco Forte voz​
Rafael Torres arranjo e violão
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano
Luiz Orsano percussão

14. No Cordão da Saideira
Edu Lobo

Rafael Torres arranjo, voz e violão
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano
Luiz Orsano bateria

15. Opereta de Casamento
Edu Lobo e Chico Buarque

Rafael Torres arranjo, arranjo, voz, saxofones e violão
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano
Luiz Orsano bateria

16. Corrupião / Ode Aos Ratos
Edu Lobo / Edu Lobo e Chico Buarque

Heriberto Porto  flautas
Rafael Torres arranjo, voz e violão
Ednar Pinho baixo
Ayrton Pessoa  piano
Luiz Orsano bateria

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Edu Lobo | Foto: Nana Moraes / Divulgação
De El Roto, no El País de Madrid, em 18/12/2021

PQP

.: interlúdio :. Dois CDs dos Argonautas: Interiores e Jangada Azul

.: interlúdio :. Dois CDs dos Argonautas: Interiores e Jangada Azul

ALTAMENTE RECOMENDADO! Isto aqui é um baita presente de Natal para os pequepianos. Rafael Torres, do grupo Argonautas, escreveu para o PQP Bach a fim de que os CDs do grupo do qual faz parte fossem divulgados por aqui. Incrivelmente, ele escreveu que “Seria uma boa maneira de divulgar o grupo, temos tão pouca oportunidade na terra do forró”.

Céus, como assim? Pouca oportunidade? Os CDs são maravilhosos, de uma qualidade e apuro instrumental difíceis de encontrar e digo mais: se este grupo tivesse surgido num ambiente mais favorável à cultura brasileira — e falo do final do século XX, ainda pertinho de nós — hoje seria um clássico. 

Ah, duvidam? Então ouçam!  

Os textos abaixo são do grupo Argonautas.

Sobre o 1º disco – Interiores

A alvorada e o movimento da manhã. A vida desperta sem pressa. As rotineiras e sinceras saudações entre comadres e compadres. O cheiro de café. As festas, as quermesses, as rezas, os santos. As missas. Os ciganos. O céu estrelado. O leve e solitário badalho do chocalho. O canto da coruja. O apagar da lamparina. Nos sonhos, os bons sentimentos de compartilhar, de respeitar e amar leve e imensamente (a vida).

Interiores vem de uma sensação que todos parecemos compartilhar: a de que quando as cidades cresceram, quando o progresso veio, alguma coisa se perdeu, uma inocência e uma poesia que quase não existem mais.

Esta poesia que existiu no passado nos causa uma nostalgia que não conseguimos explicar, a saudade de algo que muitos de nós nem sequer chegamos a conhecer.

Mergulhado nesse sentimento, o disco passeia pelos interiores do Brasil e pelos interiores de todos nós.

Sobre o 2º disco – Jangada Azul

Com 9 anos de lapso após o disco Interiores, os Argonautas lançam seu segundo álbum, Jangada Azul.

Sendo Interiores um disco conceitual, com uma ideia e uma atmosfera que o perpassam, o grupo decidiu por um segundo álbum mais variado.

Não que isso fuja da proposta do grupo, o disco conta com obras autorais que se enquadram no cancioneiro popular brasileiro.

Os Argonautas esperam que o álbum que seja mais do que um punhado de canções. Porque para falar da seca, que nunca viveram, precisam encontrar os seus sertões, seus mandacarus, suas ilhas, suas Fortalezas.

Sobre os Argonautas

Formado em 1999 em Fortaleza, Ceará, exibindo músicas próprias e releituras de obras relevantes do cancioneiro brasileiro.

Bossa nova, samba, maracatu, frevo, música instrumental, música do Movimento Armorial, cirandas, Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, João Gilberto, Luiz Gonzaga, Antônio Nóbrega, Astor Piazzolla, JS Bach, Beethoven, Debussy, Rachmaninoff, Stravinsky, Villa-Lobos. São as principais influências dos Argonautas. Mas como unir todos esses universos sonoros e artísticos e combiná-los em uma só linguagem?

É nisso que os Argonautas vêm trabalhando, desenvolvendo sua sonoridade. O resultado não é um só. Em cada nova canção, em cada novo arranjo, em cada gravação o grupo pretende abrir uma nova vereda, que ele próprio descobriu ao se encantar, antes, com as possibilidades das músicas dos seus antepassados e mestres.

O quarteto trabalha com vários instrumentos: violão, piano, viola, flauta, acordeon, saxofone, clarinete, guitarra, metalofone/ glockenspiel, bandolim, contrabaixo, bateria e diversos instrumentos de percussão.

Interiores

1. Cataventos (Rafael Torres e Alan Mendonça)
2. Arlequim (Ayrton Pessoa) (Instrumental)
3. O Amor de Margarida Flor (Ayrton Pessoa e Alan Mendonça)
4. Qui Nem Jiló (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
5. Alameda (Rafael Torres)
6. Déjà Vu (Ayrton Pessoa e Alan Mendonça)
7. Carolina (Ayrton Pessoa, Raphael Gadelha e Rafael Torres)
8. Interiores 2 (Rafael Torres e Alan Mendonça)
9. João e Maria (Sivuca e Chico Buarque)
10. Quintal (Ayrton Pessoa) (Instrumental)
11. Canção para João de Despedida (Ayrton Pessoa e Alan Mendonça)
12. Interiores (Rafael Torres)

Gravado em 2008 no estúdio Trilha Sonora, Fortaleza, Ceará
Produção: Rafael Torres e Ayrton Pessoa
Direção Artística: Rafael Torres
Gravação: Hugo Lage
Mixagem e Masterização: Anfrísio Rocha (Estúdio Som do Mar)
Fotos: Henrique Torres
Participação do Grupo Ad Libitum: Angelita Ribeiro, Maria Helena Lage, Cristiane Ramalho, Lia Villar e Luciana Gifoni (flautas doces)

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Jangada Azul

1. Mareia (Rafael Torres e Ayrton Pessoa)
2. Ilação (Ayrton Pessoa)
3. Fortaleza (Rafael Torres)
4. Aqui Nesta Ilha (Ayrton Pessoa e Joyce Nunes)
5. Choro de Mandacaru (Rafael Torres e Alan Mendonça)
6. Outros Americanos (Ayrton Pessoa)
7. Cantiga do Sertão (Rafael Torres) (Participação de Nonato Luiz ao violão)
8. Plantaria (Ayrton Pessoa e Alan Mendonça)
9. De Volta ao Começo (Rafael Torres e Alan Mendonça)
10. Flores de Maio (Rafael Torres e Alan Mendonça)
11. Miudilha do Beijo (Rafael Torres) (Instrumental)
12. Choro Dela (Rafael Torres)

Gravado em 2017 no estúdio Trilha Sonora, Fortaleza, Ceará
Produção: Rafael Torres e Ayrton Pessoa
Direção Artística: Rafael Torres
Gravação: Hugo Lage e Luiz Orsano
Mixagem e Masterização: Luiz Orsano
Este disco é dedicado a Henrique Torres e Angelita Ribeiro

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Os Argonautas em foto recente — são eles Rafael Torres (voz, violão, guitarra, flauta e clarinete), Ayrton Pessoa (piano, acordeom e voz), Igor Ribeiro (bateria e percussão) e Ednar Pinho (baixo) | Foto: Divulgação

PQP

 

.: interlúdio :. Edu Lôbo e Quarteto Novo – Cantiga de Longe (1970)

.: interlúdio :. Edu Lôbo e Quarteto Novo – Cantiga de Longe (1970)

Quem se lembra de Loopy Le Beau, o Lobo Bom? Os de minha idade – meio século e uns trocados, decerto se recordam dos desenhos bobinhos de cachorros engravatados da Hanna-Barbera. Tinha também o Coelho Ricochete e Blabláu; Tartaruga Touché; Matraca Trica; o sensível Dom Pixote, que sempre me lembrou Marcel Proust; Maguila Gorila; Pepe Legal, que virava o paladino ‘enviolado’ El Cabong! Loopy era um pobre lobo que por ser bonzinho sempre levava a pior – acho que na época não percebíamos ali uma certa lição sobre os perigos da virtude. Mas se a virtude é musical, aí sim, é tudo de bom.

Se de repente alguém me indaga: Que lindo, de quem é esta canção? E eu respondo Edu Lôbo! Logo retrucam: Do lobo?! Que lobo? Edu, minha gente! um dos maiores cancioneiros, não somente a música brasileira, a quem a própria deve muitos dos seus tesouros! Este sim, um lobo de finíssima estirpe, boníssimo em inspiração melódica e poética. Carioca, filho do pernambucano Fernando Lobo, também cancioneiro, Edu começou na sanfona, instrumento de predileção do pai – certamente bafejado pela aura de sua terra natal. Todavia o lupino jovem logo caiu de amores pelo violão, para contrariedade do seu velho. Apaixonado pela Bossa Nova, ingressou na carreira em 1960 e muito bem ciceroneado, por ninguém menos que Vinícius de Moraes, com quem viria a compor uma das joias da canção brasileira: Arrastão. Obra que lhe valeu o prêmio máximo do Primeiro Festival de Música (chamada) Popular Brasileira em 1965.

Os dados de uma gloriosa carreira que vem se desenrolando desde então podem ser encontrados facilmente e não iremos aqui desdobrar, porém, gostaria de ressaltar que Edu Lôbo sempre primou por utilizar-se da música de uma forma nobilíssima, muitas vezes engajando-a em causas de relevância social e humana. A música, esta dádiva que vem da vida e que a ela deve servir, mas que tantas vezes é produzida e desfrutada como mero ornamento. Ilustrando essa virtuosa característica do artista, temos o projeto “Nordeste Já”, de 1985, onde ele reuniu 155 vozes pela causa da seca no Nordeste, no curso de outros projetos pós-ditadura.

No presente disco o compositor e intérprete vem acompanhado por elementos de uma altíssima tétrade: O “Quarteto Novo”. Um dos mais representativos grupos da música instrumental brasileira. O taumaturgo Hermeto Pascoal, artífice dos arranjos e atuante na flauta e no piano. Que como sempre, onde pisa nasce música. Mais o célebre Airto Moreira na percussão. No contrabaixo, José Marino (Zelão), bateria Cláudio Slon e ao violão e vocal, o próprio Edu. Vale lembrar que o original Quarteto Novo contava com o incrível Heraldo do Monte ao violão e craviola, mais Theo Barros ao contrabaixo. Um dos melhores e mais importantes registros da música instrumental brasileiro é seu único disco, de 1967, primeiro a difundir o gênero baião no exterior. Todas as canções são de Edu, algumas com parcerias; exceto uma, Zum-Zum, que é do seu pai Fernando. Destaco a beleza de Mariana Mariana, uma canção que ouvimos como se sedentos bebêssemos uma água fresca da ribeira. O disco foi produzido por Aloysio de Oliveira e gravado nos States, em L.A. Alguém disse que a canção é o sino da memória; alguém mais falou que cantar seria entoar ideias; costumo pensar que a canção é o coração da música.

Edu Lôbo & Quarteto Novo – Cantiga de Longe, 1970

1 Casa Forte
2 Frevo Itamaracá (Come e Dorme)– Edu e Nelson Ferreira
3 Mariana, Mariana – Edu e Ruy Guerra
4 Zum-Zum – Fernando Lobo e Paulo Soledade
5 Águaverde
6 Cantiga de Longe
7 Festa de Santarém
8 Zanzibar
9 Marta e Romão – Edu e Gianfrancesco Guarnieri
10 Rancho de Ano Novo – Edu e Capinan
11 Cidade Nova – Edu e Ronaldo Bastos

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Edu, o lobo boníssimo.

Wellbach

.: interlúdio :. Gunnar Vargas: Circo Incandescente

.: interlúdio :. Gunnar Vargas: Circo Incandescente

Circo Incandescente, de Gunnar Vargas, é um grande disco de música popular brasileira. Excelentes letras e melodias, cada canção com personalidade e tratamento próprio e apropriado. Os sambas falam de amor, da mulher, de separações  e muito de nossa pindaíba, sempre relatando — com humor — casos quase desesperados. É um trabalho muito, mas  muito brasileiro. O tom fica entre o lírico e o bem-humorado. A voz de Gunnar é grave e bonita e a banda que o acompanha é grande e muito boa, permitindo as imensas variações nos arranjos. Onde encontrei o cara? Bem, este é um arquivo que baixei no falecido, querido e saudoso blog Um que tenha (RIP) por indicação de um amigo.

Nenhuma canção é esquecível, mas destaco o susto da abertura com a competente Circo Incandescente, a linda Vestido Preto, a dançável e sem dinheiro Osso Duro, a cômica Assim não, Assunção, o esplêndido arranjo de Mulher, a bela Chove e a sensacional O Encontro de Antigos Amantes. A referência de Gunnar parece ser Chico Buarque, que ganha, inclusive, curta citação em Assim não, Assunção.

Vale muito a audição!

Gunnar Vargas: Circo Incandescente

1. Circo Incandescente
2. Vestido Preto
3. Osso Duro
4. Assim Não, Assunção
5. Samba no Xadrez
6. Mulher
7. Vai em Paz
8. Mais um Samba
9. Promessa de Paz
10. Chove
11. Vai Me Procurar
12. O Encontro de Antigos Amantes

Gunnar Vargas, voz e violão
Luiz Waack, arranjos e guitarras
Marco da Costa, baterua
Reinaldo Chulapa, baixo
Fernando Moura, piano
Bocato, trombones
Leonardo Muniz Corrêa, sax tenor e clarinete
Amilcar Rodrigues, trompete
Hugo Hori, sax soprano
Ricardo Garcia, percussão
Antonio Bombarda, acordeon
Marcia Castro, voz
Paula de Paz. voz

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Gunnar Vargas | Foto retirada do blog do artista (Anderson Silva – Gessé)

PQP

.: interlúdio :. Eumir Deodato: Inútil Paisagem

.: interlúdio :. Eumir Deodato: Inútil Paisagem

Pena que parte da música brasileira dos anos 60 não manteve o apuro técnico das gravações de Eumir Deodato. este disco é  um milagre e, se tivéssemos mais improvisações, poderia ter sido lançado ontem. Mas é de 1964.

Deixo aqui o comentário de Carlos Calado — escrito em 2014 — acerca de Inútil Paisagem:

Naquele ano de 1964, muitos músicos brasileiros devem ter sentido ao menos um pouco de inveja do jovem pianista e arranjador Eumir Deodato. Seu disco de estreia – “Inútil Paisagem”, gravado pelo selo Forma, com arranjos orquestrais que ele escrevera para 12 canções de Tom Jobim – trazia na contracapa um texto de apresentação cheio de elogios, assinado por ninguém menos que o próprio Jobim.

“É incrível que um rapaz de 22 anos possa escrever para orquestra como Eumir escreve. Não basta ser musical, talentoso, habilidoso, sabido ou sábio. Escrever para orquestra é coisa que envolve toda uma técnica, experiência, um passado de erros passados a limpo, e eu não creio que Eumir tenha tido, com 22 anos, tempo para isso”, escreveu Jobim, compositor e músico exigente, que não costumava sair distribuindo elogios fáceis. O texto também incluía mais um de seus achados poéticos: “Meu Deus, quanta coisa Deus deu a Deodato!”

Passados cinquenta anos, Deodato ainda demonstra um certo embaraço ao se lembrar desse episódio, mas o motivo não tem nada a ver com música. “Quando alguém me falou sobre aquele elogio do Tom, tomei um susto. Sou um cara tão distraído que, para falar a verdade, ainda não tinha lido a contracapa do meu disco”, confessa o carioca, nascido no bairro do Catete, que vive nos Estados Unidos desde o final dos anos 1960.

Deodato não se recorda exatamente de quando e como conheceu Jobim. Lembra-se de tê-lo visto de longe algumas vezes, no início da década de 1960, nas animadas reuniões musicais promovidas pela família do letrista Lula Freire, em seu apartamento, no bairro de Copacabana, no Rio. Nesses encontros, frequentados por músicos da bossa nova e apreciadores do cool jazz, era comum se encontrar o violonista Baden Powell, o pianista Luiz Eça ou o flautista Bebeto Castilho, entre outros.

“O Tom já era o mais cobiçado de todos, naquela época. Ele já tinha várias músicas gravadas com sucesso, como ‘Teresa da Praia’ ou as parcerias com Dolores Duran, que eram lindas. Sempre havia muita gente em volta dele, naquelas reuniões de bossa nova. E eu era um cara muito calado, tímido. Demorou para que eu tivesse a oportunidade de conversar com ele”, recorda.

Mesmo admirando as canções e a musicalidade de Jobim, Deodato não considera que tenha sido influenciado diretamente por ele, como pianista e compositor. “Trabalhando com o Tom, eu fui descobrindo o que ele considerava mais importante na música. Ele valorizava muito as melodias – era um ótimo arquiteto de linhas melódicas. Tom também era um grande fã do Villa-Lobos. Muitas das coisas mais clássicas que fez eram influenciadas pelas ideias do Villa-Lobos”, analisa.

A ligação dos dois se consolidou quando Deodato foi convidado por Jobim a fazer arranjos para os temas instrumentais e canções que compusera para o filme “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, lançado em 1967. Clássicos da obra jobiniana nasceram nesse filme ainda pouco conhecido, como o instrumental “Surfboard”, a canção “Ela É Carioca” e, claro, o megassucesso “Garota de Ipanema”, com letras de Vinicius de Moraes.

“O Tom me deu muita força. Depois desse filme eu trabalhei muito com ele”, credita Deodato, ao relembrar outra parceria da dupla para o cinema: a trilha sonora do filme “Os Aventureiros” (“The Adventurers”), do britânico Lewis Gilbert, com a bela norte-americana Candice Bergen, no elenco. Canções populares de Jobim, como “Olha, Maria” (com letra de Vinicius de Moraes e Chico Buarque) e a valsa “Chovendo na Roseira”, nasceram como temas instrumentais para essa trilha, ainda intitulados “Amparo” e “Children’s Games”, respectivamente.

Deodato se lembra de que, quando ele e Jobim chegaram a Londres, em 1969, ainda não havia uma edição final do filme para que pudessem iniciar o trabalho. “O Tom ia escrever todos os temas e eu tinha que fazer as orquestrações. Enquanto a edição não ficou pronta, passamos dias sentados na King’s Road, olhando as garotas de minissaia, passando. Ficávamos discutindo o que faríamos com as músicas, tomando aquela cerveja morna que os ingleses servem nos bares”, recorda.

Para muitos críticos e fãs de Jobim, seus discos “Tide” e “Stone Flower” – ambos lançados em 1970, com produção do norte-americano Creed Taylor, por selos diferentes – estão entre os melhores produtos de sua parceria com Deodato. “Naquela época, Creed trabalhava para a gravadora A&M, mas tinha criado seu próprio selo, o CTI. Então pegou a verba da A&M para gravar o disco do Tom e fez dois. E ainda escolheu as melhores faixas para o ‘Stone Flower’, que saiu pelo selo dele”, comenta o arranjador.

Poucos anos depois, já como artista do elenco da gravadora de Taylor, Deodato teve uma surpresa tão grande quanto a provocada pelos elogios de Jobim aos arranjos de seu primeiro disco. O arranjo “crossover” que criou para o poema sinfônico “Also Sprach Zarathustra” (composição de Richard Strauss, que havia se tornado bastante popular, na época, ao integrar a trilha sonora do filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick) chegou ao topo das paradas de sucesso, em 1973.

“Foi um arranjo praticamente feito no estúdio, ao vivo, que me deixou quase morto”, diverte-se Deodato, contando que levou para a sessão de gravação apenas um esboço da introdução desse arranjo. ““Eu estava sem ideias, mas, na noite anterior, pouco antes de dormir, lembrei de um baiãozinho que tinha anotado em um caderno. Como a música do Strauss e esse tema eram compostas em dó, achei que valia a pena tentar. Deu certo”.

Desde os anos 1970, o requisitado Deodato atuou em centenas de outros projetos e gravações, com artistas de diversos estilos e gerações: do guitarrista de jazz Wes Montgomery e da banda funk Kool and the Gang às cantoras Gal Costa e Björk. Já no ano passado, reencontrou a obra de Jobim, ao escrever os arranjos para o álbum que a cantora Vanessa da Mata dedicou ao grande maestro da bossa.

“Só fizemos algumas mudanças de ritmo. Depois de trabalhar tantos anos com o Tom, sei que que ele tinha pavor de que trocassem a harmonia de suas composições”, comenta o arranjador, consciente de que tentar fazer a música de Jobim soar melhor ou mesmo mais atual, sem comprometer sua identidade, seria uma tarefa inglória.

Eumir Deodato: Inútil Paisagem

1 Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
2 Corcovado (Tom Jobim)
3 Só Tinha de Ser Com Você (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
4 O Morro Não Tem Vez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
5 Vivo Sonhando (Tom Jobim)
6 Ela É Carioca (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
7 O Amor Em Paz (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
8 Garota de Ipanema (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
9 Inútil Paisagem (Tom Jobim/Aloysio de Oliveira)
10 Samba de Uma Nota Só (Tom Jobim/Newton Mendonça)
11 Meditação (Tom Jobim/Newton Mendonça)
12 Samba do Avião (Tom Jobim)

Eumir Deodato: Piano
Juquinha: Bateria
Luis Marinho: Baixo
Roberto Menescal: Violão
Oscar Castro Neves: Violão
Aurino: Sax barítono
Meirelles: Sax tenor, Flauta
Orlando: Sax tenor
Paulo Moura: Sax alto
Édson Maciel: Trombone
Copinha: Flauta
Hamilton: Pistom
Irany Pinto e Sua Turma: Cordas
Arranjos e Direção: Eumir Deodato
Produção e Direção Artística: Roberto Quartin

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O vinil

PQP

.: interlúdio :. Conjunto Som 4 – 1965

.: interlúdio :. Conjunto Som 4 – 1965

Um disco saboroso, com sabor brasileiríssimo. Para apresentá-lo deveria começar falando de coisas bem brasileiras, mas de futebol nada entendo, exceto que a bola é redonda e que deveriam se decidir pra que lado correr, e não ficarem pra lá e pra cá (que não me amaldiçoe o compadre mestre Milton Ribeiro, afeiçoado ao nobre esporte). De café não sou especialista, embora ame café. Só sei que o nosso café brasileiro é inigualável, imbatível. Já me deram cafés de outras plagas e nenhum se compara ao mais modesto dos nossos torrados. Feijoada, mocotó, moqueca e farofa! Meu Santo Onófre! Só mesmo invocando Vinícius na causa:

Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.

Eis tudo. Não dá pra ser vegano diante da sinfonia de sabores de nossa pátria gastronômica; nem dá pra ser Gregoriano com um disco desses.

Houve tempo em que música instrumental tinha guarida num cantinho do gosto popular brasileiro. E que instrumentistas tinham nome e renome, mesmo sendo uma alcunha, como ‘Papudinho’. José Lídio Cordeiro, trompetista pernambucano, 1931-1991. Quem hoje em dia conhece este nome? Alguns bem aventurados, com certeza já ouviram falar dele – e o ouviram. Todavia foi um referencial no trompete brasileiro, com discos solo e inúmeras participações em diversos e ressaltados trabalhos, junto a cantores e grupos orquestrais. Outro nome, e este se inscreve nas estrelas, nosso amadíssimo Hermeto Pascoal, na época ainda não transfigurado em Gandalf, Merlim, mago dos magos. Oriundo de Lagoa da Canoa, Alagoas, 1936. Cujos méritos, gênio e magia não preciso alardear, mesmo porque em postagem anterior já o fiz – a qual recomendo vivamente. Os demais cavaleiros desta tétrade sonora são Azeitona ao contrabaixo e Edilson, bateria. Sob o prosaico e oliváceo apelido de Azeitona, Arnaldo Alves de Lima atuou ao contrabaixo ao longo de três décadas, garantindo os fundamentos harmônicos e o balanço, desde o antológico disco Chega de Saudade do João Gilberto, até os poéticos e etílicos shows de Toquinho e Vinícius pelos palcos do mundo. Sobre o excelente Edilson, não encontrei rastros, exceto que onde estava Azeitona, estava Edilson, em diversos e formidáveis trabalhos instrumentais. Ninguém lamenta mais que eu por esta lacuna, e agradeço a quem trouxer informações sobre este importante músico. O disco é essencialmente jazzístico, tem solos improvisados e outros elementos que caracterizam um período da música instrumental brasileira entre os anos 50 e 60. Jazz, enfim, não é propriamente o que se toca, mas como se toca. Ou, se preferirem os puristas, um disco de ritmos brasileiros com influências jazzísticas; ou sendo ainda mais chato, um evidente ecletismo genérico musical com resultados híbridos. Ufa! PQP!

No repertório, delícias do cardápio ‘cantoral’ brasileiro (esta palavra não existe, exceto como sobrenome de um grande cancioneiro mexicano, mas tá valendo. Só aqui, pessoal, por favor). Perceberemos que apesar de termos 4 integrantes, ouviremos 5. O Trismegístico Hermeto usa de seus poderes e se desdobra entre o piano e a flauta ao mesmo tempo. Milagres não são novidade quando se trata Dele.

Um conselho que deixo aqui aos ouvintes, desfrutem com acompanhamentos: cerveja gelada ou whisky; suquinho para os passarinhos; tripa assada com muita cebola. Batatas fritas com alho ralado e torrado. Tudo isso antes da babilônica macarronada, ou uns dois metros de luzidias costelas de porco assadas, dignas de Nabucodonosor. De sobremesa um vinho do porto, pois que algum sábio latino andou dizendo que “borracho que bebe miel, ay de él!” E, se aprouverem aos céus, maravilhosa, ou maravilhosas companhias. Apreciem sem qualquer moderação. Não engorda, a música que engorda é Rossini, que era também gastrônomo.

CONJUNTO SOM 4 – 1965
Papudinho – Trompete
Hermeto Pascoal – Piano e Flauta
Azeitona – Contrabaixo
Edilson – Bateria

  • Consolação – Baden Powell e Vinícius de Morais
  • Samba Novo – Durval Ferreira e Newton Chaves
  • Minha Namorada – Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
  • Deus Brasileiro – Marcos Vale e Paulo Sérgio Valle
  • Maria Moita – Carlos Lyra e Vinícius de Moraes
  • Deixa – Baden Powell e Vinícius de Morais
  • Esse mundo é meu – Rui guerra e Sérgio Ricardo
  • Inútil Paisagem – Aluysio de Oliveira e Tom Jobim
  • Balanço Zona Sul – Tito Madi
  • Nanã – Moacyr Santos e Marcos Telles
  • Samba de Verão – Marcos Vale e Paulo Sérgio Valle
  • Louco de Saudade – Denis Brean

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Os 2 + 2 que são 5, já dizia Caetano.

Wellbach

.: interlúdio :. Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Marcus Vinícius (LP)

A coleção da Abril – Nova História da Música Popular Brasileira – trazia grandes medalhões como Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga e Adoniran Barbosa. E, de forma um tanto surpreendente, o LP nº 55 trazia três jovens cantores e compositores pernambucanos, então na casa dos 30 anos. Alceu Valença, nascido em nos limites do agreste com o sertão, Geraldo Azevedo, natural de Petrolina, a “capital do Sertão”, e Marcus Vinicius, pernambucano criado na Paraíba. Os três lançaram suas carreiras mais fortemente no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, naqueles tempos em que as gravadoras estavam concentradas nesses estados.

Um pouco na tradição do Tropicalismo, esses três pernambucanos experimentavam com tudo o que lhes parecia mais interessante: violas e toadas do sertão, guitarras psicodélicas (Paulo Rafael nas músicas de Alceu, Robertinho de Recife nas de Geraldo), pífano, flauta em arranjos (alguns de Rogério Duprat) que remetem ao rock progressivo… Outra caractrística do rock psicodélico muito presente no sedutor Alceu: as letras românticas e surrealistas que parecem ímãs para meninas maconheiras: se Jim Morrison cantava “Girl, we couldn’t get much higher”, Alceu canta “Sei que meu pensamento lhe atrapalha…”

Nova História da Música Popular Brasileira nº 55 – Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Marcus Vinícius – LP de 1978
Lado A
1. Vou Danado pra Catende (Alceu Valença)
2. Agalopado (Alceu Valença)
3. Punhal de Prata (Alceu Valença)
4. Esse Choro Um (Marcus Vinícius)
Lado B
1. Em Copacabana (Geraldo Azevedo)
2. Novena (Geraldo Azevedo e Alceu Valença)
3. Caravana (Geraldo Azevedo)
4. Trem dos Condenados (Marcus Vinícius)

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Alceu e Geraldo em 1972

Como é que posso ser mais famoso que Mick Jagger se ele é inglês e eu sou brasileiro? Complexo. Mas não me sinto de nenhuma maneira inferior a ele. No palco, ele não canta o que eu canto e eu não canto o que ele canta. O verdadeiro artista não quer ser parecido com nada.
Alceu Valença em entrevista ao Sul 21

Pleyel

.: interlúdio :. Canção do Amor Demais – Elizete Cardoso

.: interlúdio :. Canção do Amor Demais – Elizete Cardoso

Elizete Cardoso

Interpreta

A.C. Jobim & V. Moraes

also featuring

João Gilberto

 

Eu descobri a importância cultural de artistas do calibre de Elizete Cardoso — cujo centenário de nascimento é comemorado hoje — pelos olhos e pelos comentários, mas principalmente pelo interesse que por eles tinha meu amigo islandês. Em uma de minhas vidas passadas tive um amigo islandês que adorava o Brasil. Ao ponto de, enquanto estudava alta Matemática na Alemanha, também fazia um curso de Português. É verdade que estudavas com nossos patrícios, o que lhe deixou uma mistura de sotaques que chegava a nos fazer chorar de tanto rir. Era rrrorrível…. Somos assim, certas coisas nossas só apreciamos devidamente quando são vistas pela perspectiva de outros, os outsiders.

Temos aqui, não sei por quanto tempo, a postagem de um disco comprado na megastore da Tower Records que fica no 214 S Wabash Avenue, Chicago, próxima do Art Institute. O disco reúne nomes da mais alta linhagem da arte musical brasileira, que é reconhecida e apreciada nos mais estranhos e inusitados cantos do mundo. Que ele também encontre um cantinho em seu pen-drive com a inscrição ‘GoldenCDs’ ou o equivalente de seu próprio uso.

Canção do Amor Demais

                          Elizete Cardoso

  1. Chega de Saudade
  2. Serenata do Adeus
  3. As Praias Desertas
  4. Caminho de Pedra
  5. Luciana
  6. Janelas Abertas
  7. Eu Não Existo Sem Você
  8. Outra Vez
  9. Medo de Amar
  10. Estrada Branca
  11. Vida Bela
  12. Modinha
  13. Canção do Amor Demais

Elizete Cardoso

A.C. Jobim, arranjos, regência e piano
João Gilberto, violão
Irany Pinto, violino e arregimentador
Nicolino Copia, flauta
Gaúcho e Maciel, trombones
Herbert, trompa
Vidal, contrabaixo
Juquinha, bateria
Sete violinos, duas violas e dois violoncelos anônimos
Gravado no estúdio da Odeon, Rio de Janeiro, 1958

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FLAC | 79 MB

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MP3 | 320 KBPS | 63 MB

Eu não existo sem você… E a sua, qual é?

Aproveite!

René Denon

.: interlúdio :. Maria Bethânia canta Noel Rosa (1966)

Maria Bethânia canta com a liberdade dos pássaros para fora e para cima, mas sem perda dessa intimidade fundamental à comunicação. – Vinícius de Moraes, no encarte do compacto duplo

Os seis sambas de Noel deste compacto duplo gravado em 1965 parecem ter sido escolhidos para uma quarta-feira de cinzas. É o Noel do pierrot apaixonado que acaba chorando… da mentira descoberta… do último desejo depois da separação…

Nem sombra aqui da Bethânia intérprete de sambas alegres de Chico Buarque e Dona Ivone Lara. Pois é… a jovem Bethânia sabia que todo carnaval tem seu fim.

Maria Bethânia – Maria Bethânia Canta Noel Rosa (1966)
01. Três Apitos (Noel Rosa) (2:52)
02. Pra Que Mentir? (Noel Rosa – Vadico) (3:11)
03. Pierrot Apaixonado (Heitor dos Prazeres – Noel Rosa) (2:29)
04. Meu Barracão (Noel Rosa) (2:57)
05. Último Desejo (Noel Rosa) (2:58)
06. Silêncio de um Minuto (Noel Rosa) (2:54)

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Pleyel