What I hear on the streaming isn’t what I hear in the hall!
Garrick Ohlsson ganhou o Concurso Chopin de Piano em 1970 e é conhecido como um excepcional intérprete da obra do compositor polonês, mas tem um repertório enorme, que inclui obras de Beethoven, Rachmaninov, Brahms, Granados, Scriabin, Bartók, Prokofiev, Liszt, entre outros.
Garrick foi o presidente do júri da edição deste ano do Concurso Chopin, cujo vencedor foi Eric Lu. A decisão certamente levantou mais comentários do que tem em geral acontecido. Talvez tenha sido o excesso de talentos ou mesmo outras as razões. O próprio Ohlsson explicou em entrevistas disponíveis na net as dificuldades de se chegar a um resultado em uma competição deste nível. Veja a frase que escolhi para iniciar a postagem.
Mas, hoje o dia é de Mozart, uma linda gravação feita ao vivo do Concerto para Piano No. 27, o último composto por Mozart. Pelo que entendi, Garrick Ohlsson foi chamado para substituir Igor Levitt como solista no concerto, devido a problemas de saúde deste último. Certamente seria uma noite mágica, mas, talvez, devido a isso, Garrick Ohlsson fez uma ótima apresentação – uma interpretação cristalina, muito bonita, mesmo aristocrática do último concerto de Mozart.
A orquestra e o regente Franz Welser-Möst, o atual diretor musical, certamente estavam em perfeita colaboração com o solista. A Orquestra de Cleveland e sua longa linhagem de famosos diretores musicais com ótimas gravações de obras de Mozart, mostra todas as suas qualidades.
Isso fica evidente na obra que completa o programa, a Sinfonia No. 29, obra que Mozart compôs entre seus 18 ou 19 anos, quando ainda morava em Salzburgo. Não há evidências que esta obra tenha sido apresentada em Salzburgo (eles não sabem o que perderam), mas em 1783, quando já morava em Viena, Mozart pediu a seu pai que lhe enviasse a partitura da obra e é bem possível que então a obra tenha sido apresentada. A interpretação aqui é do tipo ‘big band’, orquestra moderna, mas não se preocupe com isso, aproveite essa quase uma hora de ótima música.
“Ohlsson’s virtuosity here isn’t speed or extremes of technique but rather exceptional clarity. Even where the composer turns playful, as in the third movement, the pianist retains his stunning equanimity, allowing not so much as a single measure to sound muddy or hurried.”
Um bom e estranho CD. Talvez haja algum fato técnico que una essas obras de Mozart e Prokofiev, algo certamente acima de minha pouca compreensão. Ou será que a bonita e excelente Gesa Lücker apenas gosta das obras e fim? Ou adoro aquela Giga de Mozart e a Sonata Nº 8 de Prokofiev. O resto me pareceu limpinho e sem drama. A Sonata Nº 8 faz parte da trilogia de Sonatas compostas durante a Segunda Guerra. Não é uma obra fácil. Ela mescla violência rítmica, lirismo e uma serenidade triunfal ao final. É jornada musical intensa que vai da angústia à transcendência. Será que a pianista queria justamente o contraste?
W. A. Mozart (1756-1791) / S. Prokofiev (1891-1953): Sonatas e outras obras (Lücker)
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Sonata No. 5 in G major, KV 283
1) Allegro
2) Andante
3) Presto
4) Adagio in B minor, KV 540
5) Rondo in D major, KV 485
6) Gigue in G major, KV 574
Sergei Prokofiev (1891-1953)
Sonata No. 8 in flat major, op. 84
7) Andante dolce
8. Andante sognando
9) Vivace
A nominata galática dos executantes e dos compositores não garante um grande CD. Talvez eu esteja equivocado, mas nem o Op. 16 de Beethoven e menos ainda o Quinteto K. 452 são grandes obras. Falo em equívoco, pois considero inconcebível que venha a tratar como algo de importância menor um CD que some Mozart, Beethoven, Brendel, Holliger, etc.
01. Mozart – Quintet in E flat K.452 Largo – Allegro molto
02. Mozart – Quintet in E flat K.452 Larghetto
03. Mozart – Quintet in E flat K.452 Allegretto
04. Beethoven – Quintet in E flat Op.16 Grave – Allegro ma non troppo
05. Beethoven – Quintet in E flat Op.16 Andante cantabile
06. Beethoven – Quintet in E flat Op.16 Rondo
Alfred Brendel
Heinz Holliger
Eduard Brunner
Hermann Baumann
Klaus Thunemann
“Começou de forma muito simples: apenas uma pulsação no registro mais baixo. Então, de repente, bem acima, soou uma única nota no oboé, que ficou ali, inabalável, me perfurando, até que a respiração não conseguiu mais segurá-la, e um clarinete a tirou de mim e a adoçou em uma frase de tal deleite que me fez tremer. A luz tremeluziu na sala. Meus olhos ficaram nublados… pareceu-me que eu tinha ouvido uma voz de Deus…”
Peter Shaffer: Amadeus (trad. de René Denon).
Salieri disse estas palavras em Amadeus, referindo-se ao dilacerante e lindíssimo Adágio desta Serenata. A tradução acima foi realizada e depois roubada por mim deste blog. A Serenata K. 361 é uma obra-prima de Mozart para alegrar os corações de nossos ouvintes-leitores neste dia 7 de julho, o qual não significa nada em especial para este que vos escreve… Uma bela e surpreendente gravação do pessoal da Chamber Orchestra. Não seja louco de não baixar.
W. A. Mozart (1756-1791): Serenata No. 10 para 13 Instrumentos de Sopro, K. 361, ‘Gran Partita’ (Wind Soloists of The Chamber Orchestra of the Europe)
Serenade No. 10 In B Flat For 13 Wind Instruments, K361 “Gran Partita” (1781/4)
1 First Movement : Largo. Allegro Moderato 9:55
2 Second Movement : Menuetto 9:22
3 Third Movement : Adagio 5:15
4 Fourth Movement : Menuetto. Allegretto 5:09
5 Fifth Movement : Romanze. Adagio 9:12
6 Sixth Movement : Tema Con Variazioni 9:39
7 Seventh Movement : Rondo 3:20
Wind Soloists of The Chamber Orchestra of the Europe
Alexander Schneider
Espetaculares gravações realizadas por Karl Böhm em Berlim nos anos de 1964 e 1966, republicadas pela DG em sua coleção The Originals. Realmente, registros a serem lembrados, apesar do som de qualidade apenas razoável e da concepção algo estranha a nossos ouvidos pós-revolucionários (falo da revolução dos instrumentos autênticos que virou tudo de ponta cabeça). Mas Böhm conhecia este repertório como ninguém, tinha na mão solistas e orquestra de primeira linha, tinha Mozart e sua espetacular Sinfonia Concertante K. 364 — uma das músicas mais admiradas por mim por sua enorme profundidade, principalmente de seu Andante — e o resultado foi digno de tudo isso, o que fez a DG repor o disco em seu catálogo.
Baita CD.
Mozart – Sinfonie Concertanti
1. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 364 – Allegro Maestoso
2. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 364 – Andante
3. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 364 – Presto
4. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 297b – Allegro
5. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 297b – Adagio
6. Sinfonia Concertante in Eb Major KV 297b – Andantino convariazioni
Viola – Giusto Cappone
Violin – Thomas Brandis
Bassoon – Günther Piesk
Clarinet – Karl Leister
Horn – Gerd Seifert
Oboe – Karl Steins
Berliner Philharmoniker
Karl Böhm
Clara Haskil morreu em 1960, mas continua por aí. Esse CD saiu em 1991 na coleção Dokumente da DG e voltou a ser editada de forma ampliada em 2003 na grande coleção The Originals. A versão que aqui apresentamos é a de 1991. Haskil é mozartiana até o último fio de seus cabelos brancos e aqui dá um belo recital acompanhada pelo genial Ferenc Fricsay. Não dá nada, mas nada mesmo errado. O som é de lata, mas as interpretações são de se ouvir de joelhos. Eu fico com vontade de falar mal de Haskil só para provocar reações de quem gosta de dizer “Tremei, infiel!”, mas não dá, ela não concede espaço à crítica, a veínha era boa demais.
Outro baita CD.
Mozart: Concertos para Piano N° 19 & 27
1. Piano Concerto No.19 in F, K.459 – 1. Allegro – Cadenza: Wolfgang Amadeus Mozart 12:46
2. Piano Concerto No.19 in F, K.459 – 2. Allegretto 8:08
3. Piano Concerto No.19 in F, K.459 – 3. Allegro assai – Cadenza: Wolfgang Amadeus Mozart 7:06
Clara Haskil, piano
Berlin Philharmonic Orchestra
Ferenc Fricsay
4. Piano Concerto No.27 in B flat, K.595 – 1. Allegro 13:15
5. Piano Concerto No.27 in B flat, K.595 – 2. Larghetto 7:39
6. Piano Concerto No.27 in B flat, K.595 – 3. Allegro 8:41
Clara Haskil, piano
Munich Bavarian State Orchestra
Ferenc Fricsay
Este CD da Harmonia Mundi France foi o vencedor do Diapason d`Or de 2004. Se este fato coloca uma grife na gravação, sua audição coloca outras nestas obras que já receberam polêmicas abordagens, como as de Glenn Gould (no mínimo estranha e temperamental), as da “neo-brasileira” Maria João Pires (talvez a melhor) e de Mitsuko Uchida (a que mais ouvia, don`t ask me why). Pode ser que Uchida e Pires acabem substituídas por Staier como meu preferido, mas ainda é cedo para tais considerações que certamente não terão a menor repercussão fora dos poucos metros quadrados de minha sala…
Um anônimo deixou a nota a seguir num site norte-americano. Eu a assinaria, sem dúvida. Gostaria de imaginar que vocês também, após audição deste excelente trabalho de Andreas Staier.
A new standard for Mozart piano performance, June 8, 2005
By A Music Lover
First the essential information: This performance is on a period fortepiano, not a modern instrument. This performance is not always “pretty”, but often percussive and dynamic. Also, Mr. Staier chooses to add ornamentation that is not in the manuscript but is in accordance with the style and practice of the 18th century. Still interested? I hope so, because if you miss this, you will miss a very exciting performance of 3 of Mozart’s finest works. Not for the faint of heart or those who insist that Mozart always sound beautiful. There certainly are moments of beauty, and poignancy, but there is also fire. Mozart played as the logical precursor to Beethoven. Frankly, I’ve never completely been won over by Mozart’s piano sonatas. There always seemed to be something lacking, a feeling of them being almost, but not quite, perfect. This performance has convinced me that they are indeed masterworks. Staier’s choice of ornamentation is both tasteful and exciting, with an improvisatory feeling that adds to the almost operatic, vocal quality of the melodic line. Of course, these choices are “frozen” on disc and lose that improvisatory feel somewhat on repeated listenings, but overall I prefer this approach to a more “straight” reading. Staier doesn’t shy away from dynamic contrasts, either, at some points sounding as though he is pushing the instrument to its breaking point. But it works very well. This is a clear contender for recording of the year, along with Ronald Brautigam’s exciting fortepiano performances of Beethoven Sonatas on the Bis label.
W. A. Mozart (1756-1791) – Sonatas para Piano K. 330, 331 e 332 (Staier)
Piano Sonata No. 10 in C major, K. 330 (K. 300h)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
with Andreas Staier, pianoforte
1. Allegro Moderato
2. Andante Cantabile
3. Allegretto
Piano Sonata No. 11 in A major (“Alla Turca”) K. 331 (K. 300i)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
with Andreas Staier, pianoforte
4. Andante Grazioso (Theme Et Variations)
5. Menuetto-Trio
6. Alla Turca. Allegretto
Piano Sonata No. 12 in F major, K. 332 (K. 300k)
Composed by Wolfgang Amadeus Mozart
with Andreas Staier, pianoforte
7. Allegro
8. Adagio
9. Allegro Assai
Sim, Mozart teria ficado feliz. Ouvi o Exsultate, jubilate na Rádio da UFRGS e meu prazer foi quase sexual. Ela canta como a gente sonha ouvir alguém cantar. E então passamos ao CD: é uma jóia após outra. Dizer o quê? Eu adoro a voz de Cecilia Bartoli, amo mesmo. Como deve ser maravilhoso ter a capacidade de abrir a boca e, diferentemente de mim, não dizer bobagens com uma voz feia. Ela efetivamente tem toda uma riqueza musical muito pessoal e própria. E chega de babação.
Mozart Portraits — Cecilia Bartoli
1. Così fan tutte / Act 1 – “Temerari! Sortite!” – “Come scoglio!” 5:50
2. Così fan tutte / Act 2 – “Ei parte…Per pietà” 9:04
3. Così fan tutte / Act 1 – “In uomini, in soldati” 2:42
4. Le nozze di Figaro / Act 3 – “E Susanna non vien!” – “Dove sono i bei momenti” 6:43
5. Le nozze di Figaro / Act 4 – Giunse alfin il momento…Al desio di chi t’adora 7:19
6. Don Giovanni / Act 1 – “Batti, batti, o bel Masetto” 3:48
7. In quali eccessi… Mi tradi, K.540c – (Da Ponte)/Recitative and Aria (No.21bis) for Don Giovanni (version Vienna 1788) 5:48
8. Davidde Penitente, K.469 – 3. Aria: “Lungi le cure ingrate” 4:56
9. Exsultate, jubilate, K.165 14:37
Cecilia Bartoli
György Fischer
Vienna Chamber Orchestra
Vocês pensam que a lua é de queijo, que o PQP é a fila da Disney, que a vida é um morango? Pois fiquem sabendo que não é nada disso, mas que hoje postamos dois CDs, ambos bastante bons de um período que se pode chamar rigorosamente de “clássico”. Postagens coerentes uma com a outra, uma raridade em nosso blog.
O polonês Blechacz é um jovem pianista — nasceu em 1985 — que é bom pra caralho e que está cheio de gravações na DG. Sua especialidade é Chopin, mas aqui ele dá um show alhures. Muito bom CD!
Haydn / Beethoven / Mozart: Sonatas para Piano (Blechacz)
Franz Joseph Haydn (1732 – 1809)
Piano Sonata in E flat, H.XVI No.52 1) 1. Allegro [7:32]
2) 2. Adagio [7:07]
3) 3. Finale (Presto) [5:30]
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827) Piano Sonata No.2 in A, Op.2 No.2
4) 1. Allegro vivace [6:23]
5) 2. Largo appassionato [7:45]
6) 3. Scherzo (Allegretto) [2:58]
7) 4. Rondo (Grazioso) [6:21]
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791) Piano Sonata No.9 in D, K.311 8) 1. Allegro con spirito [4:11]
9) 2. Andantino con espressione [6:07]
10) 3. Rondeau (Allegro) [6:41]
Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a sexta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
No minuto derradeiro do concerto [no. 3] de Rachmaninoff, durante a coda, em meio ao crescendo da orquestra rumo ao apoteótico final da peça, Arthur levantou os olhos do piano e se deixou levar. Admirou entorpecido aquela deslumbrante sala lotada, como quem sonha acordado. Atrás de si, era fitado por um gigantesco retrato de Tchaikovsky. Os dedos agiam por conta própria no teclado. Nesses segundos, ele teve a dimensão do momento, a exata sensação de que uma fase de sua vida terminava, num espetacular rito, diante dos melhores do planeta. Desceu a mão com força descomunal no último acorde, levantou-se quase saltando e foi aplaudido com furor. Quase vinte minutos. Soltou um grito primal, entre lágrimas, mandando a modéstia, e o resultado do concurso, às favas:
– P***a, consegui… Eu cheguei até aqui…, repetia, enquanto se curvava em agradecimentos.
Nesse trecho de “O Piano e a Estrada” (Casa Maior Editora, 2009 – fora de catálogo, mas facilmente disponível no grande brique da interné), Marcelo Mazuras descreve a epifania que abraçou Arthur Moreira Lima nos momentos derradeiros de sua gloriosa participação no Concurso Tchaikovsky de 1970, na Grande Sala do Conservatório de Moscou. Favorito do público (“Arthur – nosso“, lembram?), aclamado pelos pares (como o gigante Emil Gilels, que o chamou de “um artista maduro, com sua própria paleta de sons” num edital do Pravda para os 250 milhões de soviéticos), e veterano de mais vivências do que parecia caber em seus recém-feitos trinta anos, nosso herói punha assim um fim a seu período formativo para dar partida no resto de sua vida.
Com duas filhas pequenas, Beatriz e Martha (um nome que é prova cabal de que a disputa com La Argerich em 1965 não deixou qualquer ressentimento, só admiração), e sem a bolsa do Ministério da Cultura da União Soviética, poderia haver alguma preocupação com carnês a pagar. Arthur, todavia, parece ter dispensado o anticlimático ritual de passagem que aflige todos os formandos, aquela memorável noite em que se vai dormir estudante e se acorda desempregado. Afinal, as muitas láureas nos concursos, aqueles moedores implacáveis de tantos bons pianistas, garantiram chuvas de convites. Seu equipamento era o melhor possível: a reputação de virtuoso jovem e carismático; mãos que coriscavam um repertório de vinte e quatro concertos e tantos quantos programas de recitais solo; um som tão russo quanto o dos grandes mestres daquela Escola; e um passaporte brasileiro que permitia uma liberdade de movimentos muito maior que a de seus colegas soviéticos, sempre amarrados por autorizações de saída, vistos de entrada e arapongas de butuca.
A supernova do piano contemplou brevemente a possibilidade de voltar ao Brasil, mas os prantos e o tilintar do chumbo que de cá ouvia disseram-lhe que não, não era ainda hora de voltar. Disposto a afinal colocar em seus bornais algo além de rublos, e já com alguns anos de gravações e concertos programados em várias repúblicas da União Soviética, Arthur escolheu então sua nova morada: seria Viena, uma metrópole tão encharcada de Arte quanto Moscou, donde poderia com facilidade lançar incursões para os dois lados da férrea Cortina.
Deu muito certo, certo até demais: sua agenda abarrotada fez seu apartamento vienense receber quase mais pernoites de colegas ilustres, como o amigo Emil Gilels e a supracitada Martha Argerich, que dele próprio. Em alguns anos, talvez saudoso de algo do calor e da radiação ultravioleta de sua São Sebastião natal, o carioca zarparia para Barcelona, acompanhando a esposa, a diplomata e pianista Eliana. Mal conseguiu gastar os solados das chinelas catalãs, ocupadíssimo que estava com intensas turnês. Numa delas, num dia de clima especialmente miserável na brumenta Glasgow, rodeado por escoceses de sotaque tão espesso que não conseguia entender, enfim perguntou-se:
– O que eu tô fazendo aqui???
A grande ficha caíra. No final da Década de Sangue e Chumbo, o Brasil estava cada vez mais a chamar de volta sua tanta gente que partira em aviões e rabos de foguete. Nosso herói, enfim, atenderia seu chamado, não sem antes iniciar uma guinada de repertório e rumos que culminaria, anos mais tarde, na boleia dum caminhão-teatro, com o mais épico capítulo da história do Piano Brasileiro.
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 4: BEETHOVEN – SONATAS FAMOSAS
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para piano no. 8 em Dó menor, Op. 13, “Patética”
1 – Grave – Allegro di molto e con brio
2 – Andante cantabile
3 – Rondo: Allegro
Sonata para piano no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Luar”
4 – Adagio sostenuto
5 – Allegretto
6 – Presto agitato
Sonata para piano no. 23 em Fá menor, Op. 57, “Appassionata”
7 – Allegro assai
8 – Andante con moto
9 – Allegro ma non troppo
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: St. Philip’s Church, Londres, Reino Unido, 1997 Engenheiro de som: Peter Nicholls Idealização e direção musical: Arthur Moreira Lima Idealização, direção musical, produção e edição: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima
Concerto para piano e orquestra n° 22 em Mi bemol maior, K. 482
1 – Allegro (cadenza: Arthur Moreira Lima)
2 – Andante
3 – Allegro (cadenza: Arthur Moreira Lima)
Franz Joseph HAYDN (1732-1809)
Concerto para piano e orquestra em Sol maior, Hob. XVIII:4
4 – Allegro moderato
5 – Adagio
6 – Rondo: Presto
Arthur Moreira Lima, piano Orquestra de Câmara de Moscou Rudolf Barshai, regência
Gravações: Estúdio no. 1 da Rádio de Moscou, União Soviética, 1971 (Mozart) e 1974 (Haydn) Engenheiro de som: Igor Veprintsev Produção: Larysa Abelyan Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1998.
Sonata para piano em Lá menor, K. 310
1 – Allegro maestoso
2 -Andante cantabile con espressione
3 – Presto
Sonata para piano em Fá maior, K. 332 4 – Allegro
5 – Adagio
6 – Allegro assai
Sonata para piano em Ré maior, K. 576
7 – Allegro
8 – Adagio
9 – Allegretto
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Idealização e direção musical: Arthur Moreira Lima Idealização, direção musical, produção e edição: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima
Concerto para piano e orquestra n° 23 em Lá maior, K. 488
1 – Allegro
2 – Adagio
3 – Allegro assai
Rondó em Ré maior para piano e orquestra, K. 382
4 – Allegretto grazioso
Arthur Moreira Lima, piano Orquestra de Câmara de Moscou Rudolf Barshai, regência
Gravações: Estúdio no. 1 da Rádio de Moscou, União Soviética, 1971 Engenheiro de som: Igor Veprintsev Produção: Larysa Abelyan Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima
Sonata para piano em Lá menor, K. 331
5 – Andante grazioso – Tema con variazioni
6 – Menuetto
7 – Alla turca: Allegretto
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Hampstead, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Idealização e direção musical: Arthur Moreira Lima Idealização, direção musical, produção e edição: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima, na Cia. de Áudio, São Paulo, 1998.
Dentro da insana agenda de Arthur como astro internacional nos anos 70, destaca-se sua relação muito especial com o Japão. A notória devoção japonesa ao Chopin polonês – que outro país do mundo tem uma Revista Chopin mensal? – converteu-se, naturalmente, em muito apetite pela arte do Chopin de Estácio, que voltaria ao país por doze anos consecutivos, legando-nos, entre outros, estes frutos colhidos do pomar do – quem mais? – Instituto Piano Brasileiro:
Um primoroso LP da Denon/Nippon Columbia (1976) com som imaculado e uma leitura das valsas de Chopin ainda melhor que sua outra, lançada na década seguinte.
Um dos recitais da maratona (doze concertos em vinte dias) da primeira visita de Arthur ao Japão, em 1976, que também rendeu o álbum acima.
Outro álbum primoroso da Denon/Nippon Columbia, totalmente dedicado a Chopin (1978)
Outro recital, de inda outra maratona japonesa, no mesmo 1984 em que Arthur fez sua gravação legendária do Rach 3.
Shopan wa suki desu ka?
“6ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre o disco de Chopin que gravou pela Marcus Pereira em 1976, sua ligação com o Japão nesta época, e o novo repertório que passou a explorar nesta época, ligando-se a músicos populares, incluindo músicos de choro, como Época de Ouro e Waldir Azevedo. Comentou sobre como foi sua volta ao Brasil, em meio a uma plena carreira internacional de sucesso, falou sobre outros LPs que gravou pela Marcus Pereira e Kuarup, e sobre sua admiração por Radamés Gnattali, com quem teve bastante contato, chegando a gravar e estrear obras suas. Por fim, falou sobre sua admiração por outro grande mestre, o Laércio de Freitas, que fez os arranjos de músicas de Piazzolla que Arthur depois gravou em disco.”
Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952. Na imagem, o imberbe lateral-esquerdo João Ferreira, vulgo Bigode (1922-2003). Escalado para a infame tarefa de marcar Alcides Ghigghia no Maracanazo de 16 de julho de 1950, só não foi mais massacrado pela opinião pública que o arqueiro Barbosa após o tento da virada uruguaia. A conquista da Copa Rio, em 1952, foi sua redenção no mesmo gramado que antes o condenara – e, não, não encontrei qualquer imagem do moço com o adereço piloso homônimo.
Ronald Brautigam, pianista holandês, é um dos grandes pianistas do século XXI. Há algum tempo ele se especializou nos pianofortes (ou fortepianos) construídos como réplicas de intrumentos antigos. Após anos tocando esses instrumentos, ele tem a intimidade, a experiência para saber o que soa bem e o que soa mal nos fortepianos.
Ele gravou uma integral de Beethoven na qual o primeiro CD se inicia com a Sonata Patética (Sonata No. 8 em Dó menor, Op. 13) que começa logo com acordes tão marcantes e com som tão profundamente diferente de um piano Steinway que milhares de ouvintes já se apaixonaram nos primeiros segundos. Logo após esse pacotaço de Beethoven, Brautigam retornou a Mozart, de quem ele já tinha gravado a integral das sonatas, lançamento do ano 2000 que não teve tanta aclamação quanto o seu Beethoven.
A gravação dos concertos foi feita com mais calma e os discos foram sendo lançados separados: alguns já foram postados por FDP Bach. Neste aqui, gravado em Köln em 2012 e lançado em 2014, Brautigam utiliza uma réplica de instrumento feito por Anton Walter (circa 1795). Mozart comprou em 1782 um pianoforte de Walter, que já era um fabricante e vendedor respeitado em Viena desde 1778.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791):
Concerto para Piano nº 18, K 456
Concerto para Piano nº 22, K 482
Ronald Brautigam, fortepiano (after Walter circa 1795)
Die Kölner Akademie, Michael Alexander Willens
Cadenzas: W. A. Mozart (K 456); R. Brautigam (K 482)
PS: Estes discos de Mozart também tiveram os links consertados: Quintetos K 515 e 516 – Talich Qt. (aqui) / Piada musical, K.522 – Barshai, Moscow (aqui)
Para honrar a memória e celebrar o legado extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de 16 de julho, seu 85° aniversário, até 30 de outubro de 2025, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a quarta das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
– Mais de duzentos milhões de seres humanos falam russo. Só uns poucos tocam bem piano. Não deve ser difícil aprender russo.
Com essa voadora à queima-roupa, recebida como resposta à sua preocupação com o aprendizado do idioma do país ao qual acabara de chegar, Arthur Moreira Lima Júnior foi devidamente apresentado a Rudolf Rikhardovich Kerer (doravante Kehrer), para cuja classe fora designado durante os cinco anos de sua bolsa no Conservatório Pyotr Ilyich Tchaikovsky de Moscou, sob os auspícios do Ministério da Cultura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no ano da graça de 1963.
Ao mostrar-lhe a caixa de ferramentas, à maneira do que o famigerado beque Gum faria no Fluminense de quatro décadas depois, Kehrer apresentava o recém-chegado ao modus russicus. No entanto, e por mais dura que imaginássemos a adaptação do carioca bonachão ao planeta soviético, com todas cores tragicômicas das histórias de peixes fora d’água, nosso herói a tirou de letra. Safo, flexível e de ouvido afiado, Arthur Arthurovich transpôs com rapidez as temidas dificuldades de adaptação a território, cultura e idioma. Não tardou para que o novo moscovita estivesse, sob temperaturas dúzias de graus abaixo daquelas de seu habitat, a desfrutar muito a experiência mais decisiva de sua vida – e também, naturalmente, a jogar muita conversa fora po-russki.
Arthur Arthurovich e Rudolf Rikhardovich: sempre no limiar entre a lição e o entrevero.
Enquanto o Brasil marchava para suas décadas de sangue e chumbo, a União Soviética experimentava um minúsculo relaxamento de tensões. Ainda que todas paredes enxergassem, que qualquer moita tivesse muitos ouvidos, e que a Guerra Fria tivesse ebulido com a Crise dos Mísseis do ano anterior, os níveis de paranoia na Moscou de Khruschev eram baixos o suficiente para que a fauna humana vinda do exterior fosse recebida com curiosidade e acolhimento. Ciente de sua posição privilegiada dentro dum regime que controlava todas as instâncias da sociedade, Arthur guardava para si suas críticas e, driblando sensores e censores, aproveitou o que o Regime de melhor tinha a lhe oferecer. O transporte público milagrosamente eficiente e a segurança agradaram-lhe tanto quanto o pervasivo senso de coletividade em tudo e de todos. Mesmo no mítico Conservatório, possivelmente o maior centro formador de músicos do seu tempo, o que em outras paragens seria um ambiente propício a canibalismo entre concorrentes era, na prática, imbuído tão só de camaradagem. Os colegas estudavam juntos, ajudavam-se, retroalimentavam-se, sem vislumbres da competitividade entre pianistas, que Arthur adorava comparar à dos jóqueis nos saudosos páreos da Gávea. Sua maior satisfação, por certo, era com formação holística oferecida aos estudantes. Muito além da Música e de sua História, eles eram instruídos num amplo escopo de disciplinas, da Economia à Política, com doses generosas da doutrina que fundamentava o onipresente Regime. As dezenas de salas do Conservatório vertiam música em todas as vozes e instrumentos, e de suas portas saíam figuras legendárias – gente do naipe de Gilels, de Rostropovich, de Oistrakh – a formarem, por trás delas, novas lendas.
Naquela usina de pianistas em que até os faxineiros assoviavam Rachmaninov, no cerne da então Capital de Todas as Rússias, ninguém o marcaria mais que Rudolf Kehrer. Admirado expoente da Grande Escola Russa, Kehrer incutiu-lhe com eficiência seus fundamentos e prática, que muito divergiam da Escola de Liszt – que fora professor do professor de dona Lúcia Branco – e da Escola Francesa de Mme. Marguerite Long. Os incontáveis arranca-rabos, que Arthur contaria às gargalhadas aos amigos pelo resto da vida, até que foram poucos, se levarmos em conta as culturas e temperamentos diametralmente opostos. Era óbvio ao mestre que o pupilo era uma gema rara, e o talentoso aprendiz sorvia as lições por todas suas terminações nervosas. O resultado não tardou: o pianismo do moço ficou russíssimo, mais russo que os próprios russos (e aqui citamos o crítico e tradutor Irineu Franco Perpétuo, “he outrusses the Russians”). Não perderei tempo tentando convencê-los disso com inda mais verborreia – apenas ouçam, por exemplo, a gravação do Concerto no. 3 de Rachmaninov que incluímos nessa postagem, uma das maiores que existem para essa obra icônica. Ou, talvez, esses Quadros de uma Exposição de Mussorgsky, gravados na Grande Sala do Conservatório de Moscou, seguidos dos Prelúdios de Chopin e de nada menos que OITO peças de bis (porque, sim, recitais mastodônticos são especialidades da Grande Escola Russa)…
… ou esse outro recital-maratona, com duas sonatas de Chopin, a integral de suas valsas, e mais alguns punhados de bis:
Quem ainda não se convenceu poderá mudar de ideia com esse incrível combo Schubert + Barber…
.
.. ou com essa gravação feita pelo próprio Kehrer da plateia, talvez o ponto alto do pianorrussismo de Arthur Arthurovich, com uma Rapsódia Espanhola antológica, a melhor que já ouvi:
Rudolf Rikhardovich, o Estoico, só sorriria uma vez para Arthur. Foi na mesma tarde em que, após concluir os cinco anos de estudos sob sua supervisão, o mais meridional de seus pupilos o recebeu em seu apartamento e lhe tocou a Sonata de Liszt – ao que o mestre, notório por nunca elogiar os alunos, por acreditar que a bajulação era danosa à formação de artistas, então tascou:
– Isso foi muito bonito.
E deve ter sido, pois Kehrer convidou Arthur para ser seu assistente na cátedra de piano. Por três anos, sempre o titular viajava, quem assumia suas classes era um carioca de Estácio que, em russo fluente, ensinava pianistas russos como tocar mais russamente que os próprios russos.
Isso é russo o bastante? Para Arthur, ainda não. Sempre mais atento à voz do povo que às academias, ele receberia sua certidão definitiva junto com outro sorriso difícil de conquistar: o daquela rubicunda babushka que, depois de mais um recital abarrotado, veio cumprimentá-lo com um singelo:
– Artur ― nash!
“Arthur é nosso”. E é deles, sim – tanto quanto orgulhosamente nosso. ❤️
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 13: A GRANDE ESCOLA RUSSA
Aleksandr Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Das Três Peças para piano, Op. 2:
1 – No. 1: Estudo em Dó sustenido menor
Oito Estudos para piano, Op. 42 2 – No. 1 em Ré bemol Maior: Presto
3 – No. 2 em Fá sustenido menor
4 – No. 3 em Fá sustenido maior: Prestissimo
5 – No. 4 em Fá sustenido maior: Andante
6 – No. 5 em Dó sustenido menor: Affanato
7 – No. 6 em Ré bemol maior: Esaltado
8 – No. 7 em Fá menor: Agitato
9 – No. 8 em Mi bemol maior: Allegro
Dos Doze Estudos para piano, Op. 8: 10 – No. 5 em Mi maior: Brioso
11 – No. 11 em Si bemol menor: Andante
12 – No. 12 em Ré sustenido menor: Patetico
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986 Engenheiro de som: Georgi Harizanov Produção: Nikola Mirchev Piano Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Dumka, Cena Rústica Russa em Dó menor, para piano, Op. 59
13 – Andantino cantabile
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Sonata para piano no. 2 em Ré menor, Op. 14
14 – Allegro non troppo
15 – Allegro moderato
16 – Andante
17 – Vivace
Concerto para piano e orquestra no. 3 em Ré menor, Op. 30
1 – Allegro ma non tanto
2 – Adagio
3 – Alla breve
Arthur Moreira Lima, piano Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional da Polônia Thomas Michalak, regência
Gravação: Katowice, Polônia, 1984 Produção: Thomas Frost
Engenheiro de som: Tom Lazarus
Piano: Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Dos Dez Prelúdios para piano, Op. 23:
4 – No. 4 em Ré maior: Andante cantabile
5 – No. 5 em Sol menor: Alla marcia)
Dos Nove Études-Tableaux, Op. 39:
6 – no. 5 em Mi bemol menor: Appassionato
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Sala de Concertos “Bulgaria” em Sofia, Bulgária, 1986 Engenheiro de som: Georgi Harizanov Produção: Nikola Mirchev Piano Steinway & Sons, Hamburgo Remasterização: Rosana Martins Moreira Lima (1998)
Quadros de uma Exposição, para piano
1 – Promenade [I]
2 – Gnomus
3 – [Promenade II] Moderato commodo assai e con delicatezza
4 – Il Vecchio Castello
5 – [Promenade III]. Moderato non tanto, pesamente
6 – Tuileries (Dispute d’enfants après jeux)
7 – Bydło
8 – [Promenade IV]. Tranquillo
9 – Balé dos Pintinhos nas Cascas
10 – Dois Judeus Poloneses: um rico, outro pobre (Samuel Goldenberg und Schmuÿle)
11 – Promenade [V]
12 – Limoges, le marché (La grande nouvelle)
13 – Catacombæ (Sepulcrum romanum) – Cum mortuis in lingua mortua
14 – Baba-Yaga: A Cabana sobre Pernas de Galinha
15 – A Porta de Bogatyr na Antiga Capital de Kiev
Sergey PROKOFIEV
Transcrição livre para piano de Tatiana Nikolayeva (1924-1993)
Suíte do Conto Sinfônico Pedro e o Lobo, Op. 67
16 – Pedro (Tema com Variações)
17 – O Passarinho
18 – O Pato
19 – O Gato
20 – O Avô de Pedro
21 – O Lobo
22 – O Sexteto Final: Todas as Personagens
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
As Estações do Ano, Suíte para piano, Op. 37a
1 – Janeiro: Junto à Lareira
2 – Fevereiro: Carnaval
3 – Março: O Canto da Cotovia
4 – Abril: Flor da Primavera
5 – Maio: Noites Brancas
6 – Junho: Barcarola
7 – Julho: O Canto do Ceifeiro
8 – Agosto: Colheita
9 – Setembro: Caça
10 – Outubro: O Canto do Outono
11 – Novembro: Troika
12 – Dezembro: Natal
Pyotr TCHAIKOVSKY
Transcrições de Arthur Moreira Lima (1940-2024)
Quatro Romances para piano 13 – Apenas Um Coração Solitário, Op. 6 No. 6
14 – Ode às Florestas, Op. 47 No. 5
15 – Janela Escancarada, Op. 63 No. 2
16 – Sozinho outra Vez, Op. 73 No. 6
Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Seis Peças para piano, Op. 51 17 – No. 6: Valsa Sentimental
Arthur Moreira Lima, piano
Gravação: Rosslyn Hill Chapel, Londres, Reino Unido, 1999 Engenheiro de som: Peter Nicholls Produção, edição e masterização: Rosana Martins Moreira Lima Piano: Steinway & Sons, Hamburgo
“4ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre algumas filmagens raras que está encontrando em seu acervo, que incluem seu programa apresentado na Manchete na década de 1980. Depois relembrou o recital de Arnaldo Estrella a que assistiu em Moscou na década de 1960 e do contato que teve com ele nesta época. Mencionou um raro disco que gravou com obras de Chopin em 1969, o que acabou resultando em um convite de Arturo Michelangeli para ser um de seus alunos neste ano, e comentou o motivo que o levou a declinar. Também falou sobre russos célebres que conheceu na época, como Dimitri Shostakovich e Maya Plisetskaya. Depois relembrou recitais e concertos que tocou no Brasil após sua premiação no Concurso Chopin de 1965, incluindo o histórico recital em que tocou pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro músicas de Ernesto Nazareth em 1966, anos antes dos discos antológicos que viria a gravar com obras deste compositor. Nesse contexto, falou sobre o contato que teve com o grande pesquisador Mozart de Araújo. Também comentou sobre quando se tornou assistente de Rudolf Kehrer depois que se formou no Conservatório de Moscou, e relembrou outros concursos de que participou na época, como o Concurso de Montreal em 1968, e o Concurso de Leeds em 1969, no qual ficou classificado em 3º lugar, e falou sobre os problemas que houve nesta edição. Também mencionou as vantagens e desvantagens de se tocar o Concerto No. 2 de Chopin em concursos.”
BÔNUS:
Nossa homenagem a Arthur abre vastos parênteses para estender nossa gratidão a seu professor, Rudolf Kehrer (1923-2013), por tudo que compartilhou com nosso herói. Nascido em Tbilisi, capital da Geórgia, Kehrer teve sua trajetória interrompida pela Segunda Guerra Mundial, quando sua família, de origem alemã, foi deportada para o Cazaquistão. Proibido de tocar piano durante o seu exílio, e autorizado a tão-só dedilhar o acordeão, manteve a destreza tanto quanto pôde tocando um teclado falso feito de um pedaço de madeira. Foi somente após a morte de Stalin, em 1953, que conseguiu retomar seus estudos no ainda remoto Conservatório de Tashkent, no Uzbequistão. Em 1961, viu sua carreira de concertista ser enfim lançada após vencer o Concurso de Toda-União em Moscou – cujo vencedor anterior fora também um brilhante pianista de origem alemã, de nome Sviatoslav Richter, e para o qual obtivera, aos 37 anos, a autorização excepcional para competir com pianistas mais jovens. Ainda proibido de se apresentar no Ocidente, assumiu uma cátedra no Conservatório de Moscou e fez muitas gravações para o selo Melodiya que, por muito tempo, só circularam pela sovietosfera. Eu as desconhecia completamente, até encontrar essa enorme coletânea da Doremi. O que ouvi derrubou meu queixo. Apesar da capinha safada, que parece ter sido feita pelo Paint duma babushka, o som é bom, e Kehrer, melhor ainda. Ainda mais que uma máquina de vencer na vida (vide seus retratos, que seriam bastantes para ilustrar todos os verbetes duma Enciclopédia do Estoicismo), ele foi um pianista MONSTRUOSO, tão imenso quanto seu repertório. É ouvir para crer.
CD 1
Johannes BRAHMS (1833-1897)
Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré menor, Op. 15
Grande Orquestra Sinfônica da Rádio de Moscou
Gennady Rozhdestvensky, regência
Gravado em 1969
Sergei RACHMANINOFF
Concerto para piano e orquestra no. 2 em Dó menor, Op. 18
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791) Concerto para piano e orquestra no. 21 em Dó maior, K. 467
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Concerto para piano e orquestra no.5 em Mi bemol maior, Op. 73 Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Franz LISZT Concerto para piano e orquestra no. 1 em Mi bemol maior, S. 124
Orquestra Filarmônica de Moscou
Viktor Dubrovsky, regência
Gravado em 1965
Sergei PROKOFIEV(1891-1953) Concerto para piano e orquestra no. 1 em Ré bemol maior, Op. 10
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1961
Georgy Aleksandrovich MUSHEL (1909-1989) Concerto para piano e orquestra no. 2 em Lá menor
Orquestra Filarmônica de Moscou
Kirill Kondrashin, regência
Gravado em 1963
Wilhelm Richard WAGNER (1813-1883)
Arranjo de Franz LISZT Abertura de “Tannhäuser”, S.442 (1848)
Gravada em 1961 BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
CD4
Wolfgang Amadeus MOZART Sonata para piano em Lá menor, K. 310
Gravada em 1975
Ludwig van BEETHOVEN Sonata para piano no. 8 em Dó menor, Op. 13, “Patética” Sonata para piano no. 14 em Dó sustenido menor, Op. 27 no. 2, “Ao Luar”
Gravadas em 1975
Georgy Vasilyevich SVIRIDOV (1915-1998) Sonata para piano
Gravada em 1975
Franz LISZT Estudo Transcendental no. 10 em Fá menor, S. 139 (1852)
Gravado em 1961 Années de Pèlerinage, Livro 2, S. 161 – No. 1, “Sposalizio”
Gravado em 1975
Em homenagem a Fluminense Moreira Lima, seguimos com o álbum de figurinhas dos campeões da Copa Rio de 1952, . Eis o volante Jair Florêncio de Santana, ou, simplesmente, Jair (1929-2014).
Uma deliciosa postagem lá de 2008, uma das últimas realizadas por Claudio Abbado, ao lado do genial violinista italiano Giulano Carmignola,em sua primeira incursão na obra de Mozart. Por algum motivo essa postagem nunca teve os links atualizados. Resolvi trazer novamente, eram outros tempos, internet lenta, baixo bitrate dos arquivos, enfim, pré história do PQPBach. Foram muitos os pedidos para repostar, então vamos atendê-los.
Mas FDP Bach está novamente postando Mozart? O que aconteceu? Um surto repentino de repertório mozartiano é sempre bem vindo, tenho certeza. Além disso, fiquei tão empolgado com este cd, que logo quis compartilhar com os senhores. Explico. Por um destes motivos inexplicáveis, até então o blog não havia postado estas obras, ou seja, os concertos para violino. Talvez o mano pqp tenha postado a Sinfonia Concertante, mas não me lembro dos outros concertos. Fiquei me enrolando por um bom tempo, tentando definir qual era a versão escolhida, entre tantas que tinha.. Mutter, Kremer, Oistrakh, Grumiaux, Mintz, Mullova, e sei lá mais quem, são várias as versões que possuo. Mas esta aqui em especial me chamou a atenção por trazer um mestre do violino barroco, Giuliano Carmignola. Sei que alguns pedirão este ou aquele solista, mas estas gravações de Carmignola são uma das melhores que já tive a oportunidade de ouvir na minha vida.
Eis um comentário encontrado na rede:
Renowned period-instrument violinist Giuliano Carmignola makes his first Mozart recording, and internationally acclaimed maestro Claudio Abbado records Mozart for the first time on period instruments! Abbado and Carmignola are long-standing collaborators and have performed Mozart together for some time; the album was born out of their feeling that it was time to commit their interpretations to disc. In addition to the five violin concertos, Carmignola teams with violist Danusha Waskiewicz on another audience favorite, the Sinfonia concertante. One of five releases celebrating Claudio Abbado’s 75th birthday, this attractively priced two-disc set promises to be one of the most important Mozart recordings of the year.
Alguns irão torcer o nariz por se tratar de Abbado, ainda mais tocando pela primeira vez com uma orquestra com instrumentos de época, mas não se preocupem.. é material de primeiríssima qualidade.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Os Concertos para Violino + Sinfonia Concertante, K. 364 (Carmignola, Abbado)
CD 1
1 – Concerto for Violin and Orchestra nº 1 in B Flat Major, K. 207 – Allegro moderato
2 – Concerto for Violin and Orchestra nº 1 in B Flat Major, K. 207 – Adagio
3 – Concerto for Violin and Orchestra nº 1 in B Flat Major, K. 207 – Presto
4 – Concerto for violin and Orchestra nº 1 in D Major, K. 211 – Allegro moderato
5 – Concerto for violin and Orchestra nº 2 in D Major, K. 211 – Andante
6 – Concerto for violin and Orchestra nº 2 in D Major, K. 211 – Rondeau – allegro
7 – Concerto for violin and Orchestra nº 3 in G Major, K. 216 – Allegro
8 – Concerto for violin and Orchestra nº 3 in G Major, K. 216 – Adagio
9 – Concerto for violin and Orchestra nº 3 in G Major, K. 216 – Rondeau – Allegro
CD 2
1 – Concerto for violin and orchestra nº 4 in D Major, K. 218 – Allegro
2 – Concerto for violin and orchestra nº 4 in D Major, K. 218 – Andante cantabile
3 – Concerto for violin and orchestra nº 4 in D Major, K. 218 – Rondeau – Andante grazioso
4 – Concerto for violin and orchestra nº 5 in A Major, K. 218 – Allegro aperto
5 – Concerto for violin and orchestra nº 5 in A Major, K. 218 – Adagio
6 – Concerto for violin and orchestra nº 5 in A Major, K. 218 – Rondeau – tempo di minueto
7 – Sinfonia Concertante in E flat major, K. 364 – Allegro maestoso
8 – Sinfonia Concertante in E flat major, K. 364 – Andante
9 – Sinfonia Concertante in E flat major, K. 364 – Presto
Repostagem de dois cds imperdíveis de Claudio Abbado frente à Orquestra Mozart que ele mesmo fundou, escolhendo a dedo seus membros. Já havia feito outra repostagem há alguns anos, mas os links expiraram e entendo que são CDs fundamentais para os fãs do grande maestro e claro, de Mozart.
Por algum motivo desconhecido, decidi que Mozart é o ideal para se ouvir neste final de semana com feriado caindo no sábado, Dia das Crianças, e Dia de Nossa Senhora Aparecida da, Padroeira do Brasil.
Trago então dois CDs deliciosos, ótimos para ouvir numa manhã de sábado de primavera.
Claudio Abbado reúne a excelente Orchestra Mozart para tocar uma peça infelizmente pouco interpretada de nosso querido Wolfgang, a Sinfonia Concertante para Sopros e Orquestra, e o belíssimo Concerto para Flauta e Harpa, K. 299.
A inusitada formação dos instrumentos solistas da Sinfonia Concertante, com oboé, clarinete, fagote e trompa, nos traz melodias lindíssimas, tocadas com muita sensibilidade e leveza, e que nos deixa de bem com a vida.
O Concerto para Flauta e Harpa já nos é conhecido, devem ter umas duas ou três versões publicadas nos últimos anos aqui no PQPBach, e traz, em minha opinião, uma das mais belas melodias já compostas na história da Música, seu segundo movimento, um Andantino. Os que não conhecem ouçam com atenção e depois me digam se não tenho razão. O segundo cd também nos traz Claudio Abbado e sua Orchestra Mozart, porém desta vez temos o 4 Concertos para Trompa, interpretados por Alessio Allegrini. Redundante seria dizer que trata-se de música para a alma e para o espírito, e que Mozart nos proporciona isso com certeza. Portanto, vamos ao que interessa.
01. Sinfonia concertante in E flat major K. 297b – I. Allegro
02. II. Adagio (Andante)
03. II. Andantino con variazioni
04. Concerto for Flute, Harp and Orchestra in C major K. 299 (297c) – I. Allegro
05. II. Andantino
06. III. Rondeau – Allegro
01. Concerto for Horn and Orchestra Nº1 in D mayor K. 412/514 – I. Allegro
02. II. Rondo (Allegro)
03. Concerto for Horn and Orchestra Nº2 in E flat mayor K. 417 – I. Allegro maestoso
04. II. Andante
05. III. Rondo
06. Concerto for Horn and Orchestra Nº3 in E flat mayor K. 447 – I. Allegro
07. II. Romanze (Larghetto)
08. III. Allegro
09. Concerto for Horn and Orchestra Nº4 in E flat mayor K. 495 – I. Allegro moderato
10. II. Romanza (Andante)
11. III. Rondo (Allegro vivace)
As gravações de Peter Serkin dos Concertos para Piano de Mozart com a English Chamber Orchestra, regida por Alexander Schneider, são muito elogiadas, principalmente por seu toque dinâmico e seguro e pela forte conexão que estabelecem entre os concertos e as óperas de Mozart
Esta postagem foi motivada por uma viagem ao centro do Rio de Janeiro (lá na Cidade, como dizemos aqui), desde o distante bairro de Camboinhas, que fica em Nikiti, do outro lado da baía (da Guanabara, pois é…)
Visitar lojas de discos usados – os sebos – está cada vez mais parecido com a ida de Harry Potter à Ollivanders, a loja de varinhas mágicas. Essa uma que visitei ontem fica escondida na sobreloja de um prédio que dá para uma travessa entre a rua do Ouvidor e a Sete de Setembro. Os CDs estão ainda lá, com todo o charme que costumavam ter, mas a profusão de sacolas e caixas com itens ainda misturados e não catalogados contrastam com a organização dos que ocupam as prateleiras e estantes presas às paredes da loja. Sinal de que muita coisa está chegando, algum colecionador pode ter batido as botas dia desses…
Foi num desses containers que avistei um dos três discos da postagem – Concertos para Piano de Mozart, os de números 18 e 19. Eu que sou fã de todos eles, mas em particular do 19, abri imediata investigação do item. O pobrezinho estava lá na caixa sufocado por gravações do Concerto para Piano de Tchaikovsky e vários Quadros de Uma Exposição…
Max e alguns de seus Grammy’s
O que me chamou a atenção em especial foi o sobrenome do pianista, pois Peter é filho de Rudolf Serkin, também pianista. Além disso, o produtor do disco é o legendário Max Wilcox. Nem todo mundo presta a atenção ao nome do produtor, mas esse papel costuma ser importante na (como posso dizer?) produção de um disco. E Max foi maximal, um nome que costuma garantir a boa qualidade do disco. Entre seus artistas teve Arthur Rubinstein (talvez o mais famoso), Eugene Ormandi, The Guarneri Quartet, Ivan Moravec. Mais recentemente Richard Goode e o Emerson String Quartet, entre outros.
Peter Serkin
Pois vejam, Peter Serkin foi um pianista que se destacou por ter música moderna em seu repertório, mas se negava a rótulos. Você poderá ouvi-lo tocando as Variações Goldberg (várias gravações), obras de Messiaen, Beethoven, Bartók. A orquestra das gravações é a English Chamber Orchestra e foi referência para música barroca e clássica antes da onda dos instrumentos de época, sempre muito, muito boa.
Alexander Schneider é um nome talvez menos conhecido, mas foi excelente músico, violinista, regente, educador e organizador de eventos. Era membro do Budapest String Quartet e atuou na organização assim como artista em festivais como o Casals Festival em Prades e Porto Rico, assim como no Marlboro Music Festival.
Eu gostei muito das interpretações dos concertos, mas em especial do movimentos lentos. Muito bonitos. Espero que você goste…
Uma nota especial para as ilustrações das capas desses três discos, que são parte de uma série de ilustrações produzidas em 1945 por Joseph Solman, a partir de um retrato de Mozart (provavelmente seu último, de 1789) feito por Dora Stock. Solman fez uma série de variações poéticas e brincalhonas buscando induzir uma atitude mais moderna em contraste coma as imagens do compositor naqueles dias. O retrato feito por Dora Stock está na abertura da nossa tradicional lista de faixas, nosso ‘programa’ da postagem.
Peter Serkin’s performances of Mozart’s Piano Concertos with the English Chamber Orchestra conducted by Alexander Schneider are highly praised, particularly for their dynamic and assured pianism, and the strong connection they draw between the concertos and Mozart’s operas.
De uma crítica na Amazon: These are among the best recordings of Mozart Piano Concertos 18 and 19, part of Peter Serkin’s collaboration with the English Chamber Orchestra and conductor Alexander Schneider. Peter Serkin is an excellent Mozartean, only 26 when this 1973 RCA recording was taped. Beautiful, clear analog sound, very balanced and maybe just a hint of congestion in FF piano chords, suggesting the limitations of analog recording technology.
Sacha Schneider e Pau Casals num bate-papo super animado com o pessoal do PQP Bach…
CD de Mozart, como dar errado? Não gostei muito da Orpheus na primeira Serenata, mas depois eles acertam totalmente a mão e acabam fazendo um belo trabalho. A Serenata No. 6, “Serenata Notturna” foi composta em 1776 e é uma joia do período salzburguês de Mozart, destacando-se pela orquestração inventiva que contrasta um grupo concertante (violino solo, viola e contrabaixo). Seu charme reside no jogo de contrastes entre os movimentos, especialmente na Marcha inicial e no Rondó final. A Serenata No. 12 é a única serenata de Mozart em modo menor (Dó menor), escrita em 1782, ecoa a intensidade dramática de suas óperas, com texturas contrapontísticas e um pathos sinfônico. Uma joia! A obra transcende a função leve típica das serenatas, antecipando o estilo maduro de Mozart — tanto que ele a rearranjou posteriormente para quinteto de cordas (K. 406), confirmando sua profundidade musical. Já a célebre Serenata No. 13, “Eine kleine Nachtmusik” é a serenata de câmara mais famosa de Mozart (1787), sintetizando graça clássica e perfeição formal em quatro movimentos de brilhante concisão. Seu Allegro inicial é um hino à alegria melódica, mas o Rondó final com seu tema irresistível consagrou-a como símbolo máximo do estilo galante mozartiano — ao mesmo tempo acessível e genial. Mozart compôs mais de 30 serenatas, muitas para eventos sociais, mas essas três mostram sua evolução: da experimentação lúdica (K. 239) à profundidade emocional (K. 388) e à perfeição atemporal (K. 525).
W. A. Mozart (1756-1791): Serenade, K. 239, “Serenata Notturna” – Serenade, K. 388 (384a) – Serenade, K. 525, “A Little Night Music” (Orpheus Chamber Orchestra)
Serenade In D Major, K 239, “Serenata Notturna”
1 Marcia. Maestoso 4:39
2 Menuetto – Trio 4:09
3 Rondeau. Allegretto 4:31
Serenade In C Minor, K 388 (384a), For 2 Oboes, 2 Clarinets, 2 Horns And 2 Bassons
4 Allegro 8:04
5 Andante 4:25
6 Menuetto In Canone – Trio In Canone Al Rovescio 4:13
7 Allegro 6:52
Serenade In G Major, K 525, “a Little Night Music”
8 Allegro 5:24
9 Romance. Andante 5:44
10 Menuetto. Allegretto – Trio 2:12
11 Rondo. Allegro 3:54
Bass – Dennis Godburn, Frank Morelli
Clarinet – Charles Neidich, David Singer (4)
Double Bass – Donald Palma
Horn – David Jolley, William Purvis
Oboe – Randall Wolfgang, Stephen Taylor (2)
Orchestra – Orpheus Chamber Orchestra
Viola – Maureen Gallagher
Violin – Naoko Tanaka, Todd Phillips (4)
Sem dúvida, um tremendo CD. Bem, com Perahia e Lupu seria difícil ser diferente. O Concerto para Dois Pianos, K. 365, foi composto por volta de 1779 e é uma das obras mais brilhantes e expressivas do repertório concertístico de Mozart. Mozart escreveu este concerto para tocar junto com sua irmã, Nannerl, que também era uma excelente pianista. Este concerto reside há décadas em meu combalido cérebro. É uma joia que mostra um incrível domínio tanto da forma concertante quanto da expressividade musical. Música bonita e grudenta pacas. O Concerto para Três Piano, K. 242, já é bem mais fraco. Depois melhora: a Fantasia em Fá Menor para Órgão Mecânico, K. 608, composta em 1791, é uma das obras mais enigmáticas e tecnicamente desafiadoras do compositor. Originalmente escrita para um órgão mecânico (um instrumento automático similar a uma caixa de música, mas enorme), ela é frequentemente executada em versões para piano a quatro mãos ou órgão tradicional. Foi encomendada pelo Conde Joseph Deym, que possuía um museu de curiosidades em Viena, incluindo um órgão mecânico acoplado a um mausoléu! A peça lembra o estilo barroco, mas com um drama tipicamente mozartiano. As Variações K. 501 foram escritas para tocar a 4 mãos com sua aluna e amiga Franziska von Jacquin, em saraus privados em Viena. Devia ser uma boa aluna porque a coisa não é simplesinha não. É uma das poucas obras para piano a quatro mãos de Mozart.
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para 2 & 3 Pianos / Fantasia, K. 608 / Andante e Variações para 4 mãos, K. 501 (English Chamber Orchestra, Perahia, Lupu)
Concerto For 2 Pianos & Orchestra In E-flat Major, K. 365 (K. 316a)
1 I. Allegro 9:36
2 II. Andante 7:09
3 III. Rondeaux: Allegro 6:35
Concerto For 3 Pianos & Orchestra In F Major, K. 242 “Lodron” Concerto
Arranged By [For 2 Pianos] – W. A . Mozart*
4 I. Allegro 8:07
5 II. Adagio 7:11
6 III. Rondo: Tempo Di Menuetto 5:16
Fantasia In F Minor, K. 608 (For Organ)
Arranged By [For 2 Pianos] – Ferruccio Busoni
7 I. Allegro Ritenutto 3:10
8 II. Andante 4:23
9 III. Allegro Ritenuto 2:33
Andante And Variations For Four Hands In G Major, K. 501
10 Andante 1:13
11 Variation I 1:06
12 Variation II 1:04
13 Variation III 1:01
14 Variation IV 1:24
15 Variation V 2:03
Orchestra – English Chamber Orchestra (tracks: 1 to 6)
Piano – Murray Perahia, Radu Lupu
Ronald Brautigam com certeza é um dos maiores pianistas da atualidade, seja tocando Beethoven em um pianoforte, vide suas gravações das sonatas que postei há algum tempo atrás, ou então atrás de um piano de cauda, em suas gravações dos Concertos do gênio de Bonn, ou então agora, novamente com um pianoforte, tocando os concertos para piano de Mozart. Esqueci de comentar que ele também gravou as sonatas de Haydn e do próprio Mozart também em um pianoforte… Ah, essas sonatas de Mozart já estão a caminho.
Eu diria que coerência e regularidade fazem parte de sua personalidade musical. Difícil dizer qual seu CD é mais ou menos bom. Tudo o que ouvi até hoje é ótimo. E estes Concertos para Piano de Mozart não fogem a regra. Coisa de gente grande. Obras da maturidade mozartiana, são tão perfeitos e completos que nem precisamos falar muito sobre eles. Basta ouvirmos. Os mais tradicionais vão sentir falta da sonoridade de um bom piano de cauda, mas o instrumento que Brautigam usa aqui está bem equilibrado, e nele o pianista pode demonstrar todas as suas possibilidades.
P.S. de Pleyel ao respostar em 2025: Ronald Brautigam parece um domador de grandes felinos ou de serpentes ao gravar Mozart e Beethoven nesses pianofortes – réplicas meticulosas daqueles da época dos compositores. Esses instrumentos às vezes são difíceis de lidar, mas as mãos experientes de Brautigam fazem tudo soar mais fácil do que realmente é.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Piano Concertos nº 24 & 25
01 – Piano Concerto No.24 in C minor, K491 – I. Allegro
02 – Piano Concerto No.24 in C minor, K491 – II. Larghetto
03 – Piano Concerto No.24 in C minor, K491 – III. Allegretto
04 – Piano Concerto No.25 in C major, K503 – I. Allegro maestoso
05 – Piano Concerto No.25 in C major, K503 – II. Andante
06 – Piano Concerto No.25 in C major, K503 – III. Allegretto
Ronald Brautigam – Pianoforte
Die Kölner Akademie
Michael Alexander Willens – Conductor
Recording: 2010 at the Immanuelskirche, Wuppertal, Germany
O maestro Josef Krips gostava de fish and chips, mas só lhe davam crips. Chips são batatas fritas, um lanche clássico. É provavelmente o termo que você mais viu ou ouviu em filmes ou programas de TV. Contrariamente a Krips, eu sou das poucas pessoas do mundo que não acha batatas fritas uma iguaria de revirar os olhos. Como, é óbvio, mas jamais peço em bares e restaurantes. Já os crips… Crips é aquele biscoito crocante com manteiga, aquela coisa nojenta que nos faz felizes, nos torna gordos e por fim nos mata. Os Crips também são gangues de rua afro-americanas, com origem em Los Angeles. Eles são conhecidos por atividades criminosas como assassinatos, roubos e tráfico de drogas, e por vestirem roupas azuis, como os gremistas. Com toda esta informação, desejo-lhe uma boa audição deste CD gravado no mês passado.
Brahms: Concerto para Piano e Orq. No 2 & Mozart: Concerto para Piano e Orq. No 23 (Rubinstein, Krips, Wallenstein)
Concerto No. 2 In B-Flat, Op. 83
Composed By – Johannes Brahms
Conductor – Josef Krips
Piano – Arthur Rubinstein
Orchestra – RCA Symphony Orchestra*
1 Allegro Non Troppo
2 Allegro Appassionato
3 Andante
4 Allegretto Grazioso
Concerto No. 23 In A, K. 488
Composed By – Wolfgang Amadeus Mozart
Conductor – Alfred Wallenstein
Piano – Arthur Rubinstein
Orchestra – RCA Victor Symphony Orchestra
5 1. Allegro
6 2. Adagio
7 3. Allegro assai
Edita Gruberova, Edita Gruberova. Edita Gruberova, que cantora maravilhosa!!! Bastien & Bastienne é uma ópera em um ato composta por Wolfgang Amadeus Mozart em 1768, quando tinha apenas 12 anos de idade. Claro que seu pai ajudou um pouquinho, tô sabendo. É uma ópera com diálogos falados em alemão, antecessora do estilo que Mozart usaria mais tarde em A Flauta Mágica. O libreto é baseado em uma pastoral francesa (Le Devin du Village, de Jean-Jacques Rousseau), adaptada por Friedrich Wilhelm Weiskern. Gosto muito dela, acho uma gracinha. Sério! A história é simples e pastoral: conta o amor entre um jovem casal de camponeses, Bastien e Bastienne, e um falso feiticeiro (Colas) que os ajuda a se reconciliar após uma briga. A operinha foi composta possivelmente para Franz Anton Mesmer (o famoso médico defensor do “magnetismo animal” ou “mesmerismo”), que teria encomendado a obra para ser apresentada em seu jardim privativo. B & B foi esquecida por décadas e só estreou oficialmente em 1890, em Berlim. São uma série de melodias simples e encantadoras, típicas do estilo galante da época. Por que é relevante? Ora, porque mostra o talento precoce de Mozart (ou de sua família) para a música dramática, mesmo sendo uma obra menor. É uma raridade por ser uma ópera em alemão de sua fase infantil (a maioria de suas óperas posteriores são em italiano, até chegar na Flauta). E, se você comparar com A Flauta Mágica, verá que Mozart revisitou o tema de “amores reconciliados por intervenção mágica” décadas depois, mas de forma muito mais sofisticada. E novamente em alemão. Os intérpretes deste CD são TODOS espetaculares, mas Edita Gruberova, Edita Gruberova, Edita Gruberova, faz misérias.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): Bastien & Bastienne, K. 50 (Raymond Leppard, Franz Liszt Chamber Orchestra)
Bastien & Bastienne, K.V. 50 (46b)
Libretto By – Friedrich Wilhelm Weiskern, J. H. Müller, Johann Andreas Schachtner
1 Intrada. Allegro 1:18
2 No. 1 Aria (Bastienne). Andante Un Poco Adagio „Mein Liebster Freund Hat Mich Verlassen“ 1:58
3 No. 2 Aria (Bastienne). Andante „Ich Geh’ Jetzt Auf Die Weide“ 1:30
4 No. 3 (Orchester) 0:16
5 No. 4 Aria (Colas). Allegro „Befraget Mich Ein Zartes Kind“ 2:15
6 No. 5 Aria (Bastienne). Tempo Grazioso „Wenn Mein Bastien Einst im Scherze“ 2:46
7 No. 6 Aria (Bastienne). Allegro Moderato „Wurd ich Auch, Wie Manche Buhlerinnen“ 1:50
8 No. 7 Duetto (Colas, Bastienne). Allegretto „Auf Den Rat, Den Ich Gegeben“ 1:56
9 No. 8 Aria (Bastien). Allegro „Großen Dank Dir Abzustatten“ 1:55
10 No. 9 Aria (Bastien). Moderato „Geh! Du Sagst Mir Eine Fabel“ 1:53
11 No. 10 Aria (Colas). Andante Maestoso „Diggi, Daggi“ 1:45
12 No. 11 Aria (Bastien). Tempo di Menuetto „Meiner Liebsten Schöne Wangen“ 2:07
13 No. 12 Aria (Bastienne). Tempo di Menuetto „Er War Mir Sonst Treu Und Ergeben“ 2:51
14 No. 13 Aria (Bastien, Bastienne). Adagio Maestoso „Geh’ Hin! Dein Trotz Soll Mich Nicht Schrecken“ 5:42
15 No. 14 Recitativo (Bastien, Bastienne). (Arioso) „Dein Trotz Vermehrt Sich Durch Mein Leiden?“ 1:06
16 No. 15 Duetto (Bastien, Bastienne). Allegro Moderato – Andantino „Geh! Herz von Flandern!“ 5:50
17 No. 16 Terzetto (Bastien, Bastienne, Colas). Allegro Moderato Moderato – Allegro „Kinder! Seht Nach Sturm Und Regen“ 3:10
18 “Un Moto di Gioia Mi Sento Nel Patto” Aria For Soprano K.579. Allegro Moderato
Soprano Vocals – Edita Gruberova
1:40
19 “Giunse Alfin Il Momento – Deh Vieni, Non Tardar” Recitative And Aria For Soprano K. 492/27 & 28 (Susanna – Le Nozze di Figaro) Allegro Vivace Assai – Andante
Soprano Vocals – Edita Gruberova
4:43
20 “Misero! O Sogno – Aura, Che Intorno Spiri” Recitative And Aria For Tenor K. 431 (425b) Adagio – Andante Con Moto – Allegro Risoluto – Anadante Sostenuto -Allegro Assai
Tenor Vocals – Vinson Cole
10:13
21 “Mentre Ti Lascio, Oh Figlia” Aria For Bass K. 513. Larghetto – Allegro
Bass Vocals – László Polgár
8:23
Baritone Vocals [Colas] – László Polgár
Concertmaster – János Rolla
Conductor – Raymond Leppard
Orchestra – Franz Liszt Chamber Orchestra*
Soprano Vocals [Bastienne] – Edita Gruberova
Tenor Vocals [Bastien] – Vinson Cole
Não encontrei resquício deste CD na minha cedeteca, mas posso afirmar que ele existe(iu) não somente em CD mas no formato LP (Philips 416 329) e fita cassete… É muito bom, tenho o LP em casa. Ah, este eu achei. É da época em que era meio escandaloso utilizar instrumentos originais fora da música estritamente barroca. Hoje, não surpreende mais ninguém. Encontrei este arquivo mp3 perdido no computador. A surpresa causada pelas abordagens do pessoal dos instrumentos originais a Beethoven pode ser medida por este artigo de 16/03/1986, publicado no New York Times: HERE COMES THE ‘AUTHENTIC’ MUSIC OF BEETHOVEN.
W. A. Mozart (1756-1791): Sinfonia Nº 40, K. 550 e L. v. Beethoven (1770-1827): Sinfonia Nº 1, Op. 21 (Orch. of 18th Century, Brüggen)
01. Mozart No. 40, K. 550, Molto allegro
02. Mozart No. 40, K. 550, Andante
03. Mozart No. 40, K. 550, Menuetto (Allegretto)
04. Mozart No. 40, K. 550, Allegro assai
05. Beethoven No. 1, Op. 21, Adagio molto – Allegro con brio
06. Beethoven No. 1, Op. 21, Andante cantabile con moto
07. Beethoven No. 1, Op. 21, Menuetto (Allegro molto e vivace)
08. Beethoven No. 1, Op. 21, Finale (Adagio – Allegro molto e vivace)
The Orchestra of the Eighteenth Century
Frans BRÜGGEN
Arthur Moreira Lima, um dos maiores brasileiros de todos os tempos (e percebam que nem mencionei seu instrumento!), completaria hoje 85 anos. Para celebrar seu legado extraordinário e honrar sua memória, publicaremos a integral da coleção Meu Piano/Três Séculos de Música para Piano – seu testamento musical – de hoje até 30 de outubro, primeiro aniversário de seu falecimento. Esta é a primeira das onze partes de nossa eulogia ao gigante.
Se me perguntassem qual minha primeira memória de Arthur Moreira Lima, eu provavelmente lhes diria que ela é tão remota quanto a que eu tenho de um pianista. Nasci sob o Terror e cresci entre os ventos da Abertura que traziam de volta quem partira em rabos de foguete. Em minha casa ouvia-se muita música – nenhuma que atraísse cassetetes, e quase sempre daquela prevalente em elevadores e consultórios odontológicos. Ainda assim, era música bastante para que a aparição de um pianista na tela da TV, daquelas de antenas finamente ajustadas com palha de aço, não fosse sumariamente rechaçada por uma mudança de canal para a novela da vez. E o pianista, bem, ele era sempre o mesmo: aquele tipo de perfil pontiagudo, olhos a um só tempo alheios e dardejantes, de postura algo gibosa ao teclado e a drapejar sua cabeleira enquanto debulhava com os dedos coisas que eu não imaginava possíveis a mim, menino telespectador. Ele tocava de tudo, e em todo lugar, e ante centenas, milhares, dezenas de milhares de pessoas, e sozinho, e com orquestras, e em toda e qualquer companhia. No programa que teve na TV aberta, inimaginável nesses nossos tristes tempos de Tigrinho, dividiu a ribalta com chorões e roqueiros, seresteiros e jazzistas; mostrou-me Ney Matogrosso pela primeira vez de cara limpa e apresentou-me o semideus Raphael Rabello, que toca, como Gardel canta para os argentinos, cada dia melhor. Entre um número e outro, com o maroto sotaque que nunca renegou seu berço, entrevistava seus convidados com muita descontração – tanta que promoveu o seguinte diálogo entre meus genitores:
– Esse é aquele pianista?
– É.
– Bem informal, hein?
– Sim.
– Nem parece pianista…
O programa saiu do ar sem-cerimoniosamente, e eu, exceto por um LP e outro que encontrava em briques, fiquei sem saber do madeixudo carismático, até o dia em que, exaurido por um plantão no pronto-socorro e disposto a tudo para ver algo que não fosse sangue ou pus, encontrei um palco montado no meio do maior parque de minha Dogville natal. Sobre ele, um piano, e ante este – sim, adivinharam! – o pianista que nem parecia pianista, e que, contrariando tudo o que se dizia dele – que não estudava, que não se levava a sério, que estava decadente – despachava com segurança os arpejos do Estudo Op. 10 no. 1 de Chopin sob o olhar tietante duns gatos-pingados aos quais me juntei, lá na fila do gargarejo. Emendou, em seguida, o “Revolucionário“, o “Tristesse“, o das teclas pretas, e foi esgotando o Op. 10, estudo a estudo, inteiros ou em parte, até que faltou somente…
– O número 2, Arthur.
– Hein?
– Faltou o número 2.
– Cê me odeia, né? – gargalhava – Mas certamente não tanto quanto eu odeio o número 2.
E atacou o temido Op. 10 no. 2, com aquelas escalas rapidíssimas todinhas com os dedos fracos da mão direita, enquanto resmungava das tendinites que ele lhe trouxera.
– Que mais cês querem?
– …
– Digam logo, que daqui a pouco vão me levar à força pro camarim.
– Piazzolla, então!
E nos deu um Adiós Nonino com a mesma eletricidade que pôs suas madeixas em riste na memorável capa do álbum que dedicou a Astor. Ao terminar, com o produtor já a olhar com ganas de arrancá-lo do palco, um dos gatos-pingados lhe alcançou um número de telefone:
– Volto hoje para o Rio – explicava-se, enquanto guardava o papelucho na casaca – mas não deixo de te ligar.
– A costela está assando desde que saí de casa. Eu e ela te aguardamos.
– E a cerveja?
– Ela também. Mais gelada que em Moscou.
E foi arrastado para as coxias, de onde voltou para tocar um Tchaikovsky furioso com a Sinfônica de Dogville. Nunca soube se ele, enfim, telefonou para o churrasqueiro. Imagino que sim. Afinal, aquele ex-menino prodígio, de nobre arte forjada no Brasil e burilada na França e na União Soviética, capaz de dialogar com bolcheviques e mencheviques, maragatos e chimangos, cronópios e famas, sempre foi também um perfeito exemplo do que em minha terra se chama de “pau de enchente” – aquele tipo que, como os galhos de árvores levados pelas enxurradas, vai parando aqui e ali – e nunca perdeu qualquer oportunidade de falar, de ouvir e de aprender.
– Decadente.
– Quê?
– Sim. Olha aí: tá vendendo disco na Caras!
– Eita…
O brasileiro não é gentil com seus heróis, e desancaram o heroico Sr. Pau de Enchente quando ele lançou sua antologia pianística a preços módicos e acessível em qualquer banca de revistas. Onde outros viam dinheirismo e decadência, eu, seu desde sempre tiete, só via generosidade – a mesma que o fez tocar para aquelas centenas, aqueles milhares, aquelas dezenas de milhares de gentes, a brilhar na TV e matar de inveja tantos colegas de ofício, a implodir o Muro da Vergonha entre os assim chamados “erudito” e “popular’, e que o levaria, em seu caminhão-teatro feito Caravana Rolidei, a tocar para compatriotas que nunca tinham visto um piano na vida.
Eu nunca consegui lhe agradecer, que se dirá o bastante – se é que haveria gratidão suficiente para tanta dedicação aos ouvidos de seu país! Até tive oportunidades: afinal, tanto eu quanto Sr. De Enchente escolhemos a mesma ilha para passar nossos últimos anos. Por algum tempo, inclusive, compartimos a mesma praia em que, vez que outra, nossos percursos se cruzavam. Numa delas, ele jogava bola com uma criança que, com um pontapé somado ao vigor do Vento Sul, mandou a redondinha na minha direção. Eu, que tenho dois pés esquerdos, devolvi-a com uma vergonhosa rosca para os devidos donos. Já me conformava com a ideia de ir buscá-la ainda mais longe, quando, antes mesmo dela quicar no chão, aquele torcedor doente do Fluminense Football Club aparou a pelota com um golpe seco que orgulharia o Príncipe Etíope e, com um toque de letra digno de Super Ézio, devolveu-a à remetente.
– Valeu, meu bom!
Craque com as mãos e com os pés, o Pelé e o Garrincha do Piano Brasileiro, gênio da raça: também tocas cada dia melhor! Venero-te tanto que jamais te conseguirei ser crítico. Se os leitores-ouvintes o quiserem, que assim sejam – mas minha homenagem aqui, ela terá só carinho e saudade ❤️.
Em memória de Fluminense Moreira Lima (16 de julho de 1940, Rio de Janeiro – Florianópolis, 30 de outubro de 2024) em seu 85º aniversário.
ARTHUR MOREIRA LIMA – MEU PIANO/TRÊS SÉCULOS DE MÚSICA PARA PIANO Coleção publicada pela Editora Caras entre 1998-99, em 41 volumes Idealizada por Arthur Moreira Lima Direção artística de Arthur Moreira Lima e Rosana Martins Moreira Lima
Volume 1: CLÁSSICOS FAVORITOS I
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Myra Hess (1890-1965)
Da Cantata “Herz und Mund und Tat und Leben“, BWV 147: 1 – Coral: Jesus bleibet meine Freude
Wolfgang Amadeus MOZART (1756-1791)
Da Sonata para piano no. 11 em Lá maior, K. 331: 2 – Alla Turca: Allegretto
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827) Bagatela em Lá menor, WoO 59, “Für Elise” 3 – Poco moto
Carl Maria Friedrich Ernst Freiherr von WEBER (1786-1826)
Da Sonata para piano no. 1 em Dó maior, Op. 24: 4 – Rondo: Presto (“Perpetuum mobile“)
Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)
Das Fantasiestücke, Op. 12: 5 – No. 3: “Warum?”
Ferenc LISZT (1810-1886)
Dos Grandes Estudos de Paganini, S. 141:
6 – No. 3: La Campanella
Jules Émile Frédéric MASSENET (1842-1912)
De Thaïs, ópera em três atos:
7 – Méditation (transcrição do compositor)
Jakob Ludwig Felix MENDELSSOHN Bartholdy (1809-1847)
Da Música Incidental para Ein Sommernachtstraum (“Sonho de uma Noite de Verão”), de William Shakespeare, Op. 61:
8 – No. 9: Marcha nupcial (transcrição do compositor)
Pyotr Ilyich TCHAIKOVSKY (1840-1893)
Das Dezoito Peças para piano, Op. 72:
9 – No. 2: Berceuse
Sergei Vasilievich RACHMANINOFF (1873-1943)
Dos Morceaux de Fantaisie, Op. 3: 10 – No. 2: Prelúdio em Dó sustenido menor
Anton Grigorevich RUBINSTEIN (1829-1894)
Das Duas Melodias, Op. 3: 11 – No. 1: Melodia em Fá maior
Alexander Nikolayevich SCRIABIN (1872-1915)
Dos Doze Estudos, Op. 8: 12 – No. 12 em Ré sustenido menor, “Patético”
Achille Claude DEBUSSY (1862-1918)
Da Suite Bergamasque, L. 75: 13 – No. 3: Clair de Lune
Manuel DE FALLA y Matheu (1876-1946)
De El Amor Brujo, balé em um ato: 14 – Dança Ritual do Fogo (transcrição do compositor) BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Volume 3: CLÁSSICOS FAVORITOS II
Johann Sebastian BACH (1685-1750)
Transcrição de Ferruccio Busoni (1866-1924)
Da Toccata e Fuga em Ré menor para órgão, BWV 565:
1 – Toccata
Giuseppe Domenico SCARLATTI (1685-1757)
2 – Sonata em Mi Maior, L. 23 (K. 380)
Carl Philipp Emanuel BACH (1714-1788)
3 – Solfeggietto em Dó menor, H 220, Wq. 117:2
Georg Friedrich HÄNDEL Da Suíte para Teclado no. 5 em Mi maior, HWV 430: 4 – No. 4: Ária com Variações, “The Harmonious Blacksmith”
Ludwig van BEETHOVEN
5 – Seis Escocesas, WoO 83
Fryderyk Franciszek CHOPIN (1810-1849)
6 – Fantasia-Improviso em Dó sustenido menor, Op. 66
Gioachino Antonio ROSSINI (1792-1868)
Das Soirées Musicales: 7 – No. 8: La Danza (Tarantella Napolitana)
Felix MENDELSSOHN Das Canções sem Palavras: 8 – Allegro non troppo (Op. 53 no. 2) – Allegretto grazioso (Op. 62 no. 6, Frühlingslied) – Presto (Op. 67 no. 4, La Fileuse)
Ferenc LISZT Dos Liebesträume, Noturnos para piano, S. 541: 9 – No. 3 em Lá bemol maior
Edvard Hagerup GRIEG (1843-1907)
Do Peças Líricas, Livro III, Op. 43: 10 – No. 1: Papillon
Antonín Leopold DVOŘÁK (1841-1904)
Das Oito Humoresques, Op. 101: 11 – No. 7 em Sol bemol maior
Pyotr TCHAIKOVSKY
Das Estações, Op. 37a: 12 – No. 11: Novembro (Troika)
Sergey Sergeyevich PROKOFIEV (1891-1953)
Das Dez Peças para piano, Op. 12: 13 – No. 2: Gavota em Sol menor
Claude DEBUSSY
14 – La Plus que Lente, L. 121
Isaac Manuel Francisco ALBÉNIZ y Pascual (1860-1909)
Da Suíte Espanhola no. 1, Op. 47:
15 – No. 3: Sevilla
Gravações realizadas na Saint Philip’s Church em Londres, Reino Unido, em 1998 Piano Steinway and Sons Engenheiro de som: Peter Nichols Direção Musical, produção, edição e masterização por Rosana Martins Moreira Lima
Fãs de Arthur encontram-se doravante INTIMADOS a ouvir o podcast “Conversa de Pianista”, do Instituto Piano Brasileiro, em que nosso ídolo conversa com o incrível Alexandre Dias, e que foi ao ar em 2020:
“1ª parte da entrevista do pianista Arthur Moreira Lima a Alexandre Dias, em que ele falou sobre como o piano começou em sua vida, suas primeiras aulas em família, seus primeiros recitais quando criança prodígio, e suas aulas com a grande professora Lúcia Branco, que o levou a participar do I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro do 1957. Também comentou sobre grandes pianistas a que assistiu nas décadas de 1940 e 1950. Foram mencionados alguns dos assuntos que serão conversados nos próximos episódios, com especial atenção para sua rica discografia, e também sua premiação em importantes concursos internacionais de piano, como o Concurso Chopin (1965), Concurso de Leeds (1969) e o Concurso Tchaikovsky (1970). Nossa homenagem e agradecimento ao grande pianista Arthur Moreira Lima, que em 2020 completa 80 anos”.
Em mais uma homenagem a Fluminense Moreira Lima, oferecer-lhe-emos um álbum de figurinhas com os heróis da final da Copa Rio de 1952, que certamente fizeram Arthurzinho chorar de alegria. Eis o arqueiro Carlos José Castilho, o Castilho (1927-1987).
Claro que um álbum com este nome – The Mozart Family Album – deveria ser uma caixa de 200 CDs e não apenas um mero disquinho de 48 minutos, mas este é um CD simpático. Não é grande música, são antes as pequenas e divertidas obras da família. Wolfgang comparece com um fragmento de uma de suas partituras mais desconhecidas, a música para o balé Les Petits Riens, composta em junho de 1778, em Paris. A obra tem 20 movimentos, mas os que foram garantidamente escritos por W. A. Mozart são os cinco aqui presentes. Mais divertida é a sinfonia de Leopold, cujos gritos da orquestra me pregaram um susto ontem, depois da meia-noite. Um disco despretensioso e bom.
Franz Xaver Mozart (1791-1844), Leopold Mozart (1719-1789), Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791): The Mozart Family Album (The Chicago Sinfonietta, Freeman)
Franz Xaver Mozart – Piano Concerto n°2 in Eb major Op.25 1. Allegro Con Brio
2. Andante Espressivo
3. Rondo
Wolfgang Amadeus Mozart – Music from ”Le petit riens” KV299b 4. Allegro
5. Largo
6. Andantino
7. Larghetto
8. Gavotte
Leopold Mozart – Sinfonia in D ”Die Bauernhochzeit” – O Casamento dos Mendigos 9. Marcia Villanesca
10. Menuet
11. Andante
12. Menuet
13. Finale
Grant Johannesen (Piano)
Jacalyn Bettridge, bagpipes
The Chicago Sinfonietta
dir. Paul Freeman
“The emotional centre of the Sonata in B-flat major is found in the ‘Andante cantabile’, an operatic aria transferred to the keyboard idiom.”
Mozart andava longe de minha vitrola, falta grave que demandava reparo urgente. O fato é que estou passando de fase, mudando e adaptando-me mais uma vez, arrastado pelas novas tecnologias. Eu sempre fui arrojado na incorporação de avanços tecnológicos nos meus afazeres e nos entretenimentos. Ouvia LPs, mas gravava fitas cassete (lembram) para ouvir no Walkman! Quando surgiram os CDs fiz a transição com a celeridade que o bolso me permitia. Fui trocando, vendendo os LPs para os amigos, para os donos de sebos de LPs e investindo nos CDs. A transição dos CDs para os arquivos digitais foi mais lenta, ainda tenho miles de CDs acumulados pela casa, mas ouço-os cada vez mais raramente. Pelo menos fisicamente, pois a música continua toda aqui, muitos verões atrás passei a digitalizá-los e tenho-os todos por aqui em HDs e parte na nuvem, mesmo os que já enferrujaram. Nestas duas últimas semanas comecei a usar de maneira mais ‘metódica’ uma plataforma de distribuição de música. Escolhi TIDAL e estou adorando! Com isso, estou assim como pinto no lixo, fuçando as novidades, que são tantas, haja tempo. Foi assim que dei com o pianista Andreas Haefliger.
O sobrenome é conhecido do pessoal que gosta de cantores, houve um tenor Ernst Haefliger. O pessoal aqui na repartição acabou de me contar que Andreas é filho do Ernst. Houve, também, um grande matemático, André Haefliger. O Haefliger matemático estudou as folheações, uma parte muito bonita da Matemática.
Uma folheação é a divisão ou um preenchimento de um ambiente matemático em subespaços, todos de mesma dimensão, empilhados uns sobre os outros, como um doce de mil-folhas ou uma resma de papel que caiu na piscina e as folhas tornaram-se ligeiramente enrugadas.
Mas, ahãmmm…. divago! Voltemos ao Mozart. As novas gravações do Haefliger pianista que vi no TIDAL me fizeram tomar o percurso inverso, de volta aos LPs, pois havia um no qual Andreas interpretava sonatas para piano de Mozart e eu me lembrei dele com gosto. O LP era do período em que a Sony tomou o lugar da CBS. Como você pode bem imaginar, o LP já não existe mais há tempos e o CD (pois que tive a encarnação do disco em CD também), se está ainda comigo, deve estar em alguma das caixas que ainda não abri desde a mudança. Assim, vasculhei HDs e espaços nas nuvens e acabei achando uma ripagem (lembram que fazíamos essas coisas?) para mp3 que está ótima para consumo.
Como me lembrava, o disco é ótimo, uma tarde agradabilíssima ao som dessas três sonatas do Wolfie interpretadas pelo jovem Andreas. Ele andou (re)gravando mais sonatas de Mozart, mas ainda não cheguei lá, está tudo lá no TIDAL. Por ora, vamos de coisas (nem tão) velhas (assim) em mídia mais recente.
Da resenha de um crítico amador da Amazon: The three sonatas collected here are among my favorites. The F-major sonata is very personal, while the Bb-major one is virtuosic and resourceful. Finally, the emotional c-minor sonata (preceded by the c-minor prelude), shows a side of Mozart that we are not especially familiar with, one which appears to lead directy into Beethoven’s piano compositions. This is an excellent CD, both for those who have never heard Mozart’s sonatas and those are familiar and who would like to hear a fine rendition of them.
Concordo plenamente com o Timmy!
Aproveite!
René Denon
Andreas experimentando um dos pianos da coleção do PQP Bach Corp.
Um clássico de capa nova. A anterior era branquinha, lembram? Para um CD como este, penso que as apresentações sejam dispensáveis. Por isso iremos com certa urgência à música. Uma excelente apreciação!
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) – Concerto para piano e orquestra No. 22 em Mi bemol maior, K. 482
01. Allegro
02. Andante
03. Allegro
Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto para piano e orquestra No. 3 em Dó menor, Op. 37
04. Allegro con brio
05. Largo
06. Rondo (Allegro)
Sviatoslav Richter, piano
Philharmonia Orchestra
Riccardo Muti, regente