Como comentei em um post anterior de música romena, às vezes a sonoridade, a ambiência da música de Lerescu me lembram muito o Stefan Niculescu dos anos 70 e 80. Verdade que tenho a sensação de que falta um quê inominável, aquele que separa a obra-prima de uma obra “apenas” muito interessante e que não se restringe simplesmente a uma falta de novidade, ou de originalidade extrema. O que posso dizer é que parece faltar o peso, a força extrema com Niculescu bizarramente nos conduz pela leveza. E mais ainda, como ele consegue abandoná-la sempre que quer, sem se tornar refém da criação. Ainda assim, as sinfonias de Lerescu são obras de enorme beleza, e tenho certeza de que devem agradar mesmo os exigentes. Há nelas um transbordar de cor e dramaticidade que me recordam também um pouco daquele grandeur do Rautavaara dos primeiros concertos para piano, da época em que este ainda não tinha diluído de vez sua música (mas as sinfonias do Lerescu, ainda assim, são melhores que o melhor Rautavaara). As três primeiras sinfonias, respectivamente de 1984, 1987 e 1994, é que realmente são o caso. A quarta, para orquestra com órgão, não me impressiona tanto. E dentre as três primeiras, tenho um carinho todo especial pela segunda, que desde os primeiros segundos já nos envolve com uma entrada brilhante e sua delicadeza um pouco infantil.
Boa diversão!
Sorin Lerescu (1953)
Sinfonias
CD 1
01 Sinfonia nº1, para orquestra (1984)
02 Sinfonia nº2, para orquestra (1987)
CD 2
01 Sinfonia nº3, para orquestra (1987)
02 Sinfonia nº4, para orquestra com órgão

itadakimasu


Aí vai mais um cd de música romena. Embora seja sempre agradável ouvir um Niculescu, a peça gravada aqui, Sequentia (1994) para flauta, clarinete, violino, violoncelo e percussão, não é do que mais me surpreende nele. É de sua última fase, abertamente sacra, com peças em geral um pouco mais escuras e muito densas. Prefiro o momento anterior, doce sem deixar de ser denso, expressivo sem deixar de ser arrojado (ao contrário de compositores como Rautavaara, que realmente deram para trás para encontrarem comunicação). Ainda assim, como já dizia, a peça é interessante, guarda um sabor meio jocoso, apesar da sacralidade óbvia. Outras peças do período, como as sinfonias 4 e 5 também são muito fortes, com momentos de beleza soberba. O que me incomoda, talvez, é a sensação de reinserção na ambientação mais típica da música de vanguarda, ainda que com estilo. Sinto muita semelhança com o Lutoslawski de Mi-Parti e Livre para Orquestra (duas das minhas prediletas deles, por sinal) pelo ar grandioso, um tanto difuso, belo mas um tanto quanto assustador (sem falar na heterofonia). O Niculescu outsider me instigava mais.