Esplendoroso !!!
Fonogramas esplendorosamente cedidos pelo maestro e compositor Harry Crowl. Não têm preço!
Estamos diante de um senhor álbum, por isso o guardei para um domingo, dia mais nobre, como nobre este o é.
Queridos, temos aqui três grandes compositores brasileiros que buscaram, com suas obras, produzir uma música de concerto mais séria, mais embasada, com mais corpo no Brasil de então, cuja música erudita estava quase que limitada a obras de salão. Os três foram brilhantes em seus estudos aqui e na Itália, Alemanha e França, conhecendo e convivendo com nomes poderosos como Brahms, Wagner, Mahler, Schoenberg, Grieg, Debussy, Massenet, Saint Saëns e Faurè. Leiam o texto do encarte, abaixo, e entenderão:
Leopoldo Miguez (1850-1902), Henrique Oswald (1852-1931) e Alberto Nepomuceno (1864-1920), cujas obras figuram neste CD, foram três dos chamados “grandes” da música brasileira, que em fins do século passado outorgaram um cunho de “maior seriedade” à nossa música. A eles, se pode juntar também os nomes de Alexandre Levy (1864-1892) e Francisco Braga (1868-1945). Miguez, Oswald e Nepomuceno, foram dos mais prestigiosos diretores do então Instituto Nacional de Música remanescente do antigo Conservatório Imperial de Música e que é hoje, nossa veneranda e benemérita Escola de Música da UFRJ. Os três, aliás, também lecionaram matérias teóricas nesse, que foi e é ainda em nossos dias, o mais tradicional estabelecimento de ensino musical do país. Necessário registrar-se, que cada qual a seu modo, tentou combater o academicismo asfixiante que sempre imperou nos educandários oficiais. Até o surgimento desses três mestres, a música brasileira, a bem dizer, só produzira dois expoentes — Pe. José Mauricio Nunes Garcia (1767-1830), nosso maior compositor sacro, e Carlos Gomes (1836-1896) o mais genial operista das Américas e o único a ter auferido fama e prestígio no exterior.
Miguez, Oswald e Nepomuceno, surgiram justamente num momento importante de transformações sociais e políticas no Brasil, quais sejam, a abolição da escravatura e o advento da república (Lo Shiavo, 1888, de C. Gomes, Dança de Negros, 1881, de Nepomuceno e Ave Libertas, 1890, de Miguez, são obras alusivas aos dois movimentos).
O legado desses músicos, indubitavelmente, mais artístico, representou um passo avante e trouxe, sem dúvida alguma, um arejamento à nossa cultura musical, que andava por demais submissa ao “italianismo” reinante. O que fazia sucesso na época eram, sobretudo, as fantasias, polcas, paráfrases e galopes do estilo “salão” a la Gottschalk, que encontrava fácil respaldo nas páginas ligeiras de Henrique Alves de Mesquita, Delgado de Carvalho, Abdon Milanez, Carlos de Mesquita e tantos outros.
Frize-se a bem da verdade, que Miguez, Oswald, Nepomuceno, Braga e mesmo Levy, falecido aos 28 anos, eram homens de outra erudição. Falavam fluentemente o francês, o italiano e o alemão e havia estudado nos melhores conservatórios europeus. Incontestavelmente possuíam uma cultura humanística, aliada a um metier artesanal, superior aos músicos em moda.
Alberto Nepomuceno — Sinfonia em Sol Menor
Não há como deixar de reconhecer-se que Alberto Nepomuceno foi a mais importante figura musical de seu tempo. Seu imenso prestígio pessoal, alicerçado peia vitoriosa e árdua campanha que encetou em prol do canto em vernáculo, sua condição de líder do movimento nativista e sua notória clarividência administrativa, já que por duas vezes (1902/1903) e (1906/1916) esteve à frente do Instituto Nacional de Música, além de sua grande atividade como regente, deram-lhe uma projeção que só Villa-Lobos depois dele, alcançaria. Porém, apesar de haver pugnado para criar um patrimônio musical próprio da nação, Nepomuceno nunca deixou de escrever música de cunho universalista e sua magnífica Sinfonia em Sol Menor, a única de autor nacional que se mantém no repertório, é um exemplo disso. Iniciada em Berlim, em 1893, foi concluída um ano após, em Paris. Sua estréia verificar-se-ia num dos Concertos Populares a 19 de agosto de 1897, sob sua direção, tendo no mesmo programa, a Suíte Antiga, a Série Brasileira e As Uyaras. Todavia, enquanto as duas últimas apresentam características nacionais acentuadas, como salientou muito bem Edino Krieger, a Suíte Antiga e a Sinfonia em Sol Menor se fazem valer por seus méritos puramente musicais expressos numa linguagem específica do classicismo e do romantismo centro-europeus. Na Sinfonia, é como se a prepotência da forma e seus problemas inerentes afastassem a possibilidade de uma preocupação temática nacionalista, mais fácil de abordar nas formas livres, de caráter rapsódico, que por sinal, predominam sempre na primeira fase de todas as escolas nacionalistas surgidas dentro do romantismo. De qualquer modo, essa experiência de Nepomuceno, reflete uma preocupação de conceder à música sinfônica brasileira um caráter de seriedade e profundidade, adotando uma forma sólida como meio de expressão, o que é significativo, sobretudo num momento em que predominava universalmente, a tendência à rapsódia, à fantasia, ao poema sinfônico descritivo e às peças de caráter pitoresco…
O Primeiro Movimento “com entusiasmo” literalmente em português na partitura, tem muito elan e uma altivez quase ufanista, com o ataque franco do tema principal em sol menor. Outros motivos se sucedem e se entrelaçam com rara habilidade. A harmonia é compacta revelando a mão do organista. A coda final é de grande beleza. O Andante quasi Adágio vem a ser, indubitavelmente, o ponto alto da obra. Uma frase larga, generosa, profunda, emerge das cordas e nos envolve como um hino de louvor à própria música. Uma obra-prima sem mácula que poderia ter sido assinada por qualquer grande músico alemão. Já o Scherzo-Presto tem finuras de filigrana. Tudo aqui é álacre e saltitante. Na parte central insere-se um inspirado intermédio cuja melodia entoada pelos violoncelos tem algo de modinheiro. Já no Finale — Con Fuocco — os episódios se sucedem ora em evoluções cromáticas, ora diatônicas, sublinhando o caráter marcial do movimento. A Sinfonia termina brilhantemente.
Henrique Oswald — Elegia
Henrique Oswald descendente de pais suíços, transferiu-se muito cedo ainda para a Itália, matriculando-se no Instituto Musical de Florença, onde com apenas 19 anos e apesar de ser estrangeiro, chegou a ocupar o cargo de adjunto de piano. Travou contato direto com Liszt e Brahms e após longos anos de permanência na Europa, retornou ao Brasil a fim de assumir a direção do Instituto Nacional de Música. Em 1902, sua peça para piano II Niege ganhou por unanimidade o Concurso de Composição promovido pelo Jornal “Le Figaro” de Paris, vencendo nada menos que 600 candidatos! Enfrentou um júri que continha entre outros, nome do porte de Saint Saëns, Faurè e Diemer o que não é dizer pouco. Apesar de haver escrito três óperas – Le Fate, II Neo e La Croce D’Oro – , duas sinfonias, uma suíte orquestral, Oswald identificou-se mais com a música de câmara e o piano, que era o seu instrumento. Nesse aspecto, pode-se afirmar ter sido ele o mais refinado de nossos grandes mestres do passado. Sua música, quase toda ela envolta em meias tintas, caracteriza-se por um acabamento minucioso e um lirismo muito “fin de siécle”, lembrando em certos momentos Faurè e, em outros Massenet, na sua transparência orquestral. Sua bela e sentida Elegia foi escrita em 1896 e se fez notar pela fluência da frase melódica principal, envolta numa harmonização sutilíssima que era um dos apanágios da arte requintada de Oswald. Sublinhe-se, os belos efeitos que o compositor extrai das duas harpas na parte central, a primeira desenhando arpejos ondulantes ascendentes e a segunda reforçando em acordes verticais a densidade harmônica dos sopros e das cordas.
Leopoldo Miguez — Prometheus
Leopoldo Miguez, foi o apóstolo mór entre nós, dos princípios estéticos preconizados por Liszt e Wagner. Adepto ardoroso da “música do futuro”, fundou em 1884, no Rio de Janeiro, o Centro Artístico que se tornaria uma filial dos postulados de Bayreuth no Brasil. Em toda sua obra, predominantemente orquestral, bem como seus dramas líricos — Pelo Amor e Os Saldunes — a influência do autor de Tristão é tão evidente quanto a que Verdi exercera sobre Carlos Gomes. Mas, Miguez sabia e orgulhava-se disso, por achar convictamente que tais influxos eram benéficos à música de nosso país. Excelente regente e ótimo orquestrador, Miguêz foi o primeiro a introduzir aqui a forma do poema sinfônico. Parisina, Ave Libertas e Prometheus são três esplendidos exemplos da arte maior deste músico sério, que sempre escreveu visando o aprimoramento de uma estética, razão pela qual, ao contrário de seu íntimo amigo Alberto Nepomuceno, nunca se sentiu atraído pelo nacionalismo. Em 1889, Miguez obtivera o primeiro lugar no concurso aberto à composição do Hino à Proclamação da República e foi nomeado primeiro diretor do recém criado Instituto Nacional de Música. Prometheus foi composto nessa época, ou seja, 1890, e baseia-se num dos titãs da mitologia grega, segundo a qual, este teria roubado o fogo do Olympo e o dera aos homens, ensinando-os a utilizá-lo, motivo por que Zeus o castigou acorrentando-o a um rochedo no cimo do Cáucaso. A partitura muito bem disposta para orquestra alterna momentos de intenso lirismo e outros de pujante dramaticidade.
(texto do encarte, de autoria de Sérgio Alvim Corrêa)
Harry Crowl ainda nos enviou uma faixa-bônus, a vibrante Ave, Libertas!, de Miguez, que possui as mesmas preocupações composísticas de Prometeu.
As peças estão muito bem executadas pela ORSEM, com Roberto Duarte no comando.
Um Baita CD! IM-PER-DÍ-VEL !!!
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Música Brasileira
ORSEM e Roberto Duarte
Alberto Nepomuceno (Fortaleza, CE, 1864 – Rio de Janeiro, RJ, 1920)
Sinfonia em Sol Menor
01. I. Allegro. Com enthusiasmo.
02. II. Andante quasi adagio
03. III. Presto
04. IV. Con fuoco
Henrique Oswald (Rio de Janeiro, RJ, 1852 – 1931)
05. Elegia
Leopoldo Miguez (Niterói, RJ, 1850 – Rio de Janeiro, RJ, 1902)
06. Prometeu
07. (Bônus) Ave, Libertas!
Orquestra Sinfônica da Escola de Música da UFRJ
Roberto Duarte, Regente
Rio de Janeiro, 1991.
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MP3 encartes em 3.0Mpixel (182Mb)
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Bisnaga