BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Concerto em Fá maior para oboé e orquestra, Hess 12 – Ludwig August Lebrun (1752-1790) – Concertos para oboé e orquestra – Schneemann – de Vriend

Já lhes contamos anteriormente que, em 1793, Haydn escreveu a Maximilian Franz, Eleitor de Colônia e empregador de Beethoven, dando conta dos progressos de seu aluno renano em Viena. Essa era, claro, uma necessária prestação de contas ante o investimento que o Eleitor fizera ao enviar o rapaz para a capital musical da Europa e pagar-lhe estudos com o maior compositor vivo:


Tomo a liberdade de enviar a Vossa Reverência, com toda a humildade, algumas peças musicais – um quinteto, uma Parthie de oito vozes, um concerto de oboé, um conjunto de variações para piano e uma fuga composta por meu querido aluno Beethoven, que foi tão graciosamente aceito por Vossa Reverência, como prova de sua diligência além do escopo de seus próprios estudos. Com base nessas peças, especialistas e amadores não podem deixar de admitir que Beethoven se tornará com o tempo um dos grandes artistas musicais da Europa, e terei orgulho de me chamar de seu professor. Eu só queria que ele pudesse ficar comigo por algum tempo ainda”


Papa Haydn foi além, e pediu mais dinheiro para seu aluno. Explicou ao Eleitor que o custo de vida em Viena era muito mais alto que o estipêndio pago a Beethoven, tão insuficiente que, vejam só, o próprio Haydn tivera que lhe emprestar dinheiro.

A resposta do Eleitor, como também já lhes contei, foi demolidora: Beethoven recebia o dobro do que declarara a Haydn; todas as peças citadas na carta, exceto a fuga, já tinham sido ouvidas na corte de Bonn, e portanto não indicavam progresso algum, e que, por isso, cogitava encerrar o sonho vienense do rapazote e trazê-lo de volta antes que lhe trouxesse mais gastos. O velho mestre, de quem Ludwig escondera a verdade, deve ter ficado com cara de pastel (ou, talvez, de Schnitzel). Não sabemos ao certo como ele reagiu. Do que temos certeza é que, pouco depois, o garoto passaria a estudar com Albrechtsberger e Salieri, e Haydn retomaria suas viagens à Inglaterra. Mais ainda: Napoleão tocaria o ficken Sie sich, invadindo a Renânia, dissolvendo o Eleitorado de Colônia, expulsando o Eleitor e transformando a viagem de estudos do jovem Beethoven numa mudança definitiva para Viena.

De todas as obras citadas na carta de Haydn, apenas a “Parthie de oito vozes” (certamente o octeto em Mi bemol maior) sobrevive. Não se sabe que fim levou o concerto para oboé, do qual se encontrou apenas a melodia do movimento lento num caderno de esboços, a chamada “Miscelânea Kafka” (Kafka-Konvolut) que se encontra no Museu Britânico. Tudo o que se conhece dos demais movimentos são seus incipits (a representação dos compassos iniciais duma obra, para fins de catalogação), encontrados num manuscrito contemporâneo. Nada se sabe, tampouco, sobre as circunstâncias em que foi composto. É bem provável que tenha sido escrito para algum dos colegas de Beethoven, que tocava viola insira aqui sua piada de violista favorita para Ludwig na orquestra do Eleitor, pois o estilo do fragmento sobrevivente é muito afeito à música para sopros prevalente nas cortes europeias da época.

Por mais convencional que pareça a melodia, a ideia dum concerto perdido de Beethoven ouriçou os oboístas. Um deles, Charles Joseph Lehrer, reconstruiu o movimento numa edição para oboé e piano, que foi posteriormente orquestrada pelo neerlandês William Holsbergen. O interesse dos neerlandeses por Beethoven (cujo sobrenome significa, em seu idioma, “hortas de beterrabas”) é notável, pois outros dois deles – Cees Nieuwenhuizen e Jos van der Zanden – propuseram-se também uma reconstrução do modesto Largo, que é aquela que ouvirão a seguir.

Claro que pouca coisa do que ouvimos é originalmente de Ludwig, mas o breve movimento, muito cantável, em nada anuncia o grande mestre que se consagraria em Viena, anos depois de passar Haydn na conversa. Escutando a singela composição do rapazote, não podemos descartar a hipótese de que ele tenha dado cabo de propósito no concerto, tamanha sua frugalidade. O fato é que, se algum dia vocês lembrarem dessas gravações que agora lhes alcanço, certamente será pelos concertos de Lebrun, xará de Beethoven e oboísta virtuoso da ebuliente orquestra de Mannheim. Lebrun, infelizmente, morreria três anos antes da carta de Haydn chegar ao Eleitor, não sem antes legar ao mundo esses brilhantes veículos que, através das palhetas de artistas como Bart Schneemann (sim, outro neerlandês), serão gratas descobertas àqueles que, como eu, amam o timbre do oboé.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Concerto em Fá maior para oboé e orquestra, Hess 12
Composto em 1792
Reconstruído por Cees Nieuwenhuizen and Jos van der Zanden

1 – Largo em Si bemol maior

Ludwig August LEBRUN (1752-1790)

Concerto para oboé e orquestra no. 3 em Dó maior

2 – Allegro
3 – Adagio
4 – Rondo: Allegretto

Concerto para oboé e orquestra no. 6 em Fá maior

5 – Allegro
6 – Adagio
7 – Rondo: Allegretto

Concerto para oboé e orquestra no. 5 em Dó maior

8 – Grave – Allegro
9 – Adagio
10 – Rondo: Allegro

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Concerto para oboé e orquestra no. 1 em Ré menor

1 – Allegro
2 – Grazioso
3 – Rondo: Allegro

Concerto para oboé e orquestra no. 4 em Si bemol maior

4 – Allegro
5 – Allegro
6 – Rondo: Allegro

Concerto para oboé e orquestra no. 2 em Sol menor

7 – Allegro
8 – Allegro
9 – Rondo: Allegro

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Bart Schneemann, oboé
Radio Chamber Orchestra
Jan Willem de Vriend, 
regência


Uma outra reconstrução do concerto para oboé de Beethoven, feita por Charles Joseph Lehrer e orquestrada por Willem Holsbergen

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

Lost and Found – 18th Century Oboe Concertos – Albrecht Mayer

Lost and Found – 18th Century Oboe Concertos – Albrecht Mayer

4792942Um agradável álbum e mais algumas figurinhas para o rol de compositores do acervo do PQP Bach, em obras desencavadas de arquivos da Saxônia e Turíngia pelo solista Albrecht Mayer, primeiro oboísta da Filarmônica de Berlim.

Nenhuma dessas obras que voltam à luz é pérola comparável ao Concerto K. 314 de Mozart, mas todas elas oferecem ótimas oportunidades para o Mayer brilhar com seu bonito som. Ainda que os concertos de Hoffmeister e Lebrun sejam talvez os que menos chances tenham de reencontrar a poeira, foram o rondó de Koželuh e o adágio de Fiala (e o belíssimo timbre do corne inglês) aqueles que cá comigo deixaram o melhor retrogosto.

LOST AND FOUND – CONCERTOS PARA OBOÉ DO SÉCULO XVIII

ALBRECHT MAYER, oboé e regência
Kammerakademie Potsdam

Franz Anton HOFFMEISTER (1754-1812)

Concerto em Dó maior para oboé e orquestra

01 – Allegro con brio
02 – Adagio
03 – Rondo. Allegro

Ludwig August LEBRUN (1752-1790)

Concerto no. 2 para oboé em orquestra em Sol menor

04 – Allegro
05 – Adagio
06 – Rondo. Allegro

Josef FIALA (1748-1816)

Concerto em Dó maior para corne inglês e orquestra

07 – Allegro moderato
08 – Adagio cantabile
09 – Allegro assai

Jan Antonín (Johann Anton) KOŽELUH (1738-1814)

Concerto em Fá maior para oboé e orquestra

10 – Vivace
11 – Adagio
12 – Rondo. Allegretto

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Vassily Genrikhovich

Mozart (1756-1791) / C.P.E. Bach (1714-1788) / Lebrun (1752-1790): Concertos para Oboé

Mozart (1756-1791) / C.P.E. Bach (1714-1788) / Lebrun (1752-1790): Concertos para Oboé

Um bom disco da época áurea da Archiv. Trevor Pinnock é um gênio da regência clássico-barroca e Paul Goodwin um mestre do oboé. O CD funciona maravilhosamente. Quase todo mundo vai achar o Concerto de Mozart superior aos outros, mas eu sou mano CPE e não abro. E não é por defender a família, é por convicção mesmo: este concerto de CPE é superior a seu análogo mozartiano, só isso. Vários dos concertos para outros instrumentos escritos por CPE são arranjos de outros antes escritos para teclado. Eu acho que já ouvi este concerto tocado por cravo (Hogwood), mas deixo esta pesquisa para os briosos jovens que leem este blog. Boa pesquisa!

Ah, o Lebrun? Meu deus, quem é Lebrun?

Mozart (1756-1791) / C.P.E. Bach (1714-1788) / Lebrun (1752-1790): Concertos para Oboé

Mozart: Concerto For Oboe And Orchestra In C Major, KV 314 (285 d)
1 Allegro Aperto 7:18
2 Adagio Non Troppo 7:16
3 Rondo: Allegretto 5:34

CPE Bach: Concerto Für Oboe And Orchestra In E Flat Major H 468 (Wq. 165)
4 Allegro 7:07
5 Adagio Ma Non Troppo 9:02
6 Allegro Ma Non Troppo 5:50

Lebrun: Concerto No. 1 For Oboe And Orchestra In D Minor
7 Allegro 8:11
8 Grazioso 5:52
9 Allegro 5:26

Bassoon – Alastair Mitchell, Alberto Grazzi
Cello – Helen Verney, Jane Coe, Timothy Kraemer
Directed By – Trevor Pinnock
Double Bass – Amanda McNamara
Flute – Neil McLaren (2), Rachel Brown (2)
Harpsichord – Trevor Pinnock
Horn – Andrew Clark (3), Christian Rutherford, Robert Montgomery (5)
Oboe – Lorraine Wood, Paul Goodwin (Solos), Sophia McKenna
Orchestra – English Concert
Timpani – Robert Howes
Trumpet – David Staff, Michael Harrison (4)
Viola – Rupert Bawden, Susan Bicknell, Trevor Jones (4)
Violin – Alison Cracknell, Diane Moore, Fiona Huggett, Graham Cracknell, James Ellis (3), Julia Bishop, Maurice Whitaker, Micaela Comberti, Miles Golding, Pauline Nobes, Walter Reiter
Violin, Concertmaster – Simon Standage

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Retrato do Mano Quando Velho (tela de Franz Conrad Löhr)

PQP