Mauricio Kagel ‎(1931-2008): Rrrrrrr… (8 Orgelstücke) & 10 Märsche um den Sieg zu verfehlen

Mauricio Kagel ‎(1931-2008): Rrrrrrr… (8 Orgelstücke) & 10 Märsche um den Sieg zu verfehlen

IM-PER-Dí-VEL !!!

Muita gente boa diz que a música moderna é pura paródia de formas mais antigas. Acho isso absurdo, mas a afirmativa cabe para este sensacional disco com obras do argentino — que viveu grande parte de sua vida na Alemanha — Mauricio Kagel. Rrrrrrr…: 8 Stücke für Orgel (Rrrrrr… 8 peças para Órgão) são obras de um Bach enlouquecido, uma  recriação da forma antiga utilizada pelo mestre. É claro que é preciso imaginação para fazê-lo bem feito, o que Kagel tem de sobra. Aliás, tem também um dos mais caros parentes da imaginação, o humor. Humor que aparece claramente em 10 Marchas para perder uma batalha, para banda militar (sopros e percussão). Eu dei muita risada ouvindo as duas obras, que não chegam a ser cômicas, mas engraçadas e estimulantes para a imaginação de quem as ouve.

Mauricio Kagel ‎(1931-2008): Rrrrrrr… (8 Orgelstücke) & 10 Märsche um den Sieg zu verfehlen

1. Râga
2. Rauschpfeife
3. Repercussa
4. Ragtime
5. Rondeña
6. Ripieno
7. Rosalie
8. Rossignol Enrhumés
9-18. 10 Märsche Um Den Sieg Zu Verfehlen

Performer [Military Band] – Adam Bauer, Hans Gelhaar, James Townsey, Manos Tsangaris, Martin Schulz, Michael Riessler, Paul Peukker, Wolfgang Sorge
Conductor – Mauricio Kagel
Organ – Gerd Zacher (tracks: 1 to 8)

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Mauricio Kagel em 1973 | Foto de Zoltan Nagy

PQP

Alexandre Tharaud interpreta Mauricio Kagel (1931-2008)

Como prometido, aí está o cd do Alexandre Tharaud interpretando obras do compositor e cineasta argentino Mauricio Kagel (radicado na Alemanha desde que tinha vinte e poucos anos). Não que eu seja um connaisseur do compositor, mas já dei uma boa garimpada na discografia dele, e nada me agrada tanto quanto este álbum. Toda possível jovialidade e e todo bom humor que se esperam de Kagel estão aqui e, creiam, não é só encenação (o que, tristemente, me parece acontecer com alguma frequência), mas resultam em uma música atraente e instigante. O período das obras aqui apresentadas pega bem uma época de transição, saindo da fase serial do início de carreira (que pega os anos 1950 e início da década de 1960) para uma fase abertamente pós-moderna (seja lá o que isso signifique), que se sedimentou no chamado teatro musical, no qual o compositor volta a lançar mão da tonalidade, numa obra de sonoridade mais adocicada, mas colorida com elementos aleatórios, recursos eletrônicos e uma encenação cômica, num resultado que nem de longe parece indicar um retrocesso da vanguarda, bem ao contrário.

Além de postar o cd aqui, coloquei um vídeo do Youtube com seu filme mais famoso, Ludwig van (1969), para quem quiser dar uma olhadela, muito embora eu não me anime muito com ele. A obra apresentada no cd com o mesmo nome, em compensação, é bem mais interessante.

E sobre o cd em si, por preguiça, traduzo (grosseiramente) um texto da BBC Music Magazine:

Que compositor vivo nomearia uma peça segundo o termo médico para unha encravada (Unguis incarnatus est), lembrando-nos maliciosamente que a expressão ‘incarnatus est’ também ocorre na missa em latim; e então, na mesma peça, cita fragmentos distorcidos de Nuages gris de Liszt enquanto pede ao pianista para fazer  um calculado e indiscreto barulho com seu metafórico ‘Unguis incarnatus’, explicitamente com o pedal? Somente um: Mauricio Kagel, o bufão na corte solene da vanguarda. Seria inadequado chamar de perspicazes essas divertidas subversões da Grande Tradição Ocidental, elas são demasiadamente sinistras e violentas para isso. Alexandre Tharaud se lança nessa brincadeira com gosto, e ele também traz uma incrível variedade de toques para a própria música. Nem toda a música é escura: há momentos de beleza tranquila e iluminada em Rrrrrrr… (baseado em mecanismos musicais iniciados pela letra R, caso isso  interesse). E nos fragmentos semi-lembrados de Beethoven em Ludwig van parece até que o compositor baixou, o que é bem captado pelo excelente conjunto, que inclui o maravilhoso barítono francês François Le Roux. E a gravação é fabulosamente detalhada sem ser clínica. O CD é uma introdução atraente, senão de arrepiar, para um compositor extremamente influente.

Ivan Hewett


Mauricio Kagel (1931-2008)


Mauricio Kagel – Alexandre Tharaud

1. Pieces for Organ (from ‘Rrrrrrr…’): Ragtime – Waltz
2. Pieces for Organ (from ‘Rrrrrrr…’): Rondeña (piano à quatre mains)
3. Pieces for Organ (from ‘Rrrrrrr…’): Rosalie
4. Pieces for Organ (from ‘Rrrrrrr…’): Rossignols enrhumés (piano préparé)
5. Pieces for Organ (from ‘Rrrrrrr…’): Râga
6. Ludwig van, film score: I
7. Ludwig van, film score: II
8. Ludwig van, film score: III
9. Ludwig van, film score: IV
10. Ludwig van, film score: V
11. Ludwig van, film score: VI
12. Ludwig van, film score: VII
13. Ludwig van, film score: VIII
14. Ludwig van, film score: IX
15. Der Eid des Hippokrates (‘Hippocrates’ oath’), for piano, 3 hands
16. Unguis Incarnatus Est, for piano & any bass sustaining instrument
17. Mm51, for piano

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itadakimasu