Baroque Twitter (Hasse, Scarlatti, Vivaldi, Albinoni, Fiorè, Vinci, Gasparini, Torri, Mancini, Dieupart)

Não, este disco não tem qualquer relação com a rede social criada em 2006, com valor de mercado estimado em uns 10 a 25 US$ bi, faixa similar ao valor da PQP Bach Corp., também criada em 2006.

O título faz referência ao som dos pássaros. Em um trabalho musicológico de primeira, juntaram oito árias barrocas para soprano com referência aos cantores que vivem em cima das árvores, algumas de compositores famosos como A. Scarlatti, Vivaldi, Albinoni. Outros um pouco menos conhecidos, como J.A. Hasse, que viveu mais de 80 anos entre Dresden, Veneza e Viena, onde chegou a conhecer o jovem Mozart (ao que parece, ambos tinham grande respeito pelo talento do outro), e Leonardo Vinci, um dos criadores do estilo galante, célebre por suas óperas de melodias mais simples, com menos contraponto, e que morreu aos 40 anos ao comer um chocolate envenenado – dizem as más línguas – por um parente de uma de suas várias amantes. E alguns são hoje praticamente desconhecidos, como os italianos Andrea Stefano Fiorè e Pietro Torri.

Na maioria dessas árias, a cantora divide o papel de solista com a flauta doce ou flautino, que imita os pássaros. Como vocês sabem, a imitação dos pássaros é uma constante na história da música. No século XX beberam dessa tradição Mahler, Stravinsky, Villa-Lobos e Messiaen.

O canto dos pássaros pode servir de metáfora para os mais diversos sentimentos, como a alegria pastoral da ária de Gasparini:

Bell’augelletto
che vai scherzando
sui verdi rami,
t’intendo: tu mi chiami,
e parla in te l’amor.

Belo passarinho
que vai brincando
sobre verdes ramos,
te entendo: tu me chamas,
e em ti, fala o amor

Os pássaros, soltos ou na gaiola, também podem representar a liberdade ou a falta desta, como na ária de Hasse:

L’augelletto in lacci stretto
perché mai cantar s’ascolta?
Perché spera un’altra volta
di tornare in libertà.

O passarinho na gaiola,
porque escutamos seu canto?
Porque ele espera em breve
voltar à liberdade.

E na ária de Alessandro Scarlatti – que faz parte da serenata Il giardino d’amore,  espécie de cantata para um público mais reservado e mais aristocrático do que o das óperas –  o canto do rouxinol aparece bem mais estilizado e rebuscado do que o estilo galante que surgiria algumas décadas depois. Assim como Hasse, Scarlatti trata de temas mais sombrios:

Rouxinol cantando (fonte: ebird.org)

Più non m’alletta e piace
il vago usignoletto

Já não me agrada e diverte
o charmoso rouxinol

Alguns desses compositores estão fazendo sua estreia no PQP hoje, por exemplo Francesco Gasparini, que foi Diretor do Pio Ospedale della Pietà em Veneza no começo do século 18, ou seja, foi patrão de Antonio Vivaldi. J.S. Bach copiou à mão a Missa Canonica de Gasparini em 1740, fez algumas mudanças na orquestração adicionando oboés, trombone e órgão, e regeu essa Missa provavelmente muitas vezes em Leipzig.

Três obras instrumentais para flauta doce e cordas completam o CD, incluindo um concerto de Vivaldi. É impressionante como sempre há novidades a se conhecer na música barroca!

ANDREA STEFANO FIORÈ (1686–1732)
1 “Usignolo che col volo”
Aria di Engelberta from the opera Engelberta (Milano 1708)
for soprano, flautino, strings & b.c.

LEONARDO VINCI (c.1690–1730)
2 “Rondinella che dal nido”
Aria di Ifigenia from the opera Ifigenia in Tauride (Venezia 1725)
for soprano, strings & b.c.

FRANCESCO GASPARINI (1661–1727)
3 “Bell’augelletto che vai scherzando”
Aria di Aurora from the serenata L’oracolo del fato (Venezia c. 1709)
for soprano, flautino & strings

FRANCESCO MANCINI (1672–1737)
Sonata 14 in G minor
Concerto for Recorder, two violins, viola & b.c.
from the Conservatory “San Pietro a Majella”, 24 concerti per flauto, Napoli 1725
4 Comodo
5 Fuga
6 Larghetto
7 Allegro

T. Albinoni

PIETRO TORRI (c.1650–1737)
8 “Amorosa rondinella”
Aria di Nicomede from the opera Nicomede (Munich 1728)
for soprano, strings & b.c.

TOMASO ALBINONI (1671–1751)
9 “Zeffiretti che spirate”
Aria di Epicide from the opera Eraclea (Genova 1705)
for soprano & b.c.

JOHANN ADOLF HASSE (1699–1783)
10 “L’augelletto in lacci stretto”
Aria di Araspe from the opera Didone abbandonata (Dresden 1742)
for soprano, flautino, strings & b.c.

CHARLES DIEUPART (1667–1740)
Concerto in A minor, for ‘small flute’, strings & b.c.
11 Vivace
12 Grave staccato
13 Allegro

Alessandro Scarlatti

ANTONIO VIVALDI (1678–1741)
14 “Quell’usignolo ch’al caro nido”
Aria di Barzane from the opera Arsilda regina di Ponto (Venezia 1716)
for soprano, strings & b.c.

ALESSANDRO SCARLATTI (1660–1725)
15 “Più non m’alletta e piace”
Aria di Adone from the serenata Il giardino d’amore (c. 1700–1705)
for soprano, flautino, strings & b.c.

ANTONIO VIVALDI
Concerto in F major, RV 442, for recorder, strings & b.c. Tutti gl’ Istromenti Sordini
16 Allegro mà non molto
17 Largo e Cantabile
18 Allegro

Nuria Rial, soprano
Maurice Steger, flautino & recorder
Kammerorchester Basel
Stefano Barneschi, violin & direction

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Caricaturas de F. Gasparini e Vivaldi, por Pier Leone Ghezzi (1674-1755). Curiosidade: a palavra caricatura tem origem no italiano ‘caricare’ – pois o desenhista exagera, carrega nos traços da pessoa

Pleyel

Purcell / Mancini / Frescobaldi: Amour et Mascarade – Música Barroca Inglesa e Italiana

É difícil entender a motivação deste disco, mas que ele é sensacional, é. Trata-se de uma coleção de obras barrocas que inclui músicas de compositores ingleses e italianos, instrumentais e vocais, seculares e sagrados, executadas pelo grupo francês Ensemble Amarillis com a soprano Patricia Petibon e o tenor Jean- François Novelli. Para o ouvinte que procura uma variedade geral de peças da época barroca, executadas com energia animada, ele é a pedida certa. Destacam-se as faixas vocais com Petibon e Novelli. Petibon, a brilha na música de Purcell e de Mancini, é um prazer ouvi-la. Seu tom é absolutamente puro e seguro. As obras de Purcell, em particular, oferecem a ela a oportunidade de exibir uma notável variedade de cores tonais e sombras dramáticas sutilmente diferenciadas; sua apresentação do lamento The Plaint é uma maravilha de expressividade musical e dramática. Ela está igualmente em casa no alegre e sexy Sound the trumpet, no qual ela se junta à Novelli. Eles (com a assistência de Purcell) transformam o texto em uma metáfora erótica, cheia de provocações que não são de todo claras na partitura, mas que, nessa performance, saltam com alegria maliciosa. As faixas instrumentais não são, em geral, tão bem sucedidas quanto as árias. As performances são animadas, e o repertório é agradável e muitas vezes divertido, mas falta algo. As deliciosas performances vocais mais do que compensam quaisquer ressalvas, e fazem deste um disco que você não pode perder.

1 The Furies
Composed By – Anonymous
1:30
2 Bid The Virtues
Composed By – Henry Purcell
3:35
3 Canzon Terza
Composed By – Girolamo Frescobaldi
3:40
4 Canzon Quinta
Composed By – Girolamo Frescobaldi
5:00
5 Canzon Prima
Composed By – Girolamo Frescobaldi
3:41
6 Canzon Sesta
Composed By – Girolamo Frescobaldi
3:06
7 O Dive Custos
Composed By – Henry Purcell
7:47
8 The Fairey Masque
Composed By – Anonymous
2:49
9 Cupararee Or Graysin
Composed By – Anonymous
2:04
10 The Plaint
Composed By – Henry Purcell
8:11
11 The Ladies Masque
Composed By – Anonymous
1:47
12 Sound The Trumpet
Composed By – Henry Purcell
2:25
13 The Coates Masque
Composed By – Anonymous
1:50
14 The Second Witches Dance
Composed By – Anonymous
1:37
15 Quanto Dolce e Quell Adore – Largo
Composed By – Francesco Mancini
6:29
16 Quanto Dolce e Quell Adore – Recitatif
Composed By – Francesco Mancini
0:48
17 Quanto Dolce e Quell Adore – Allegro
Composed By – Francesco Mancini
4:18

Ensemble Amarillis:
Heloise Gaillard (flutes a bec et hautbois baroque),
Violaine Cochard (clavecin orgue),
Ophelie Gaillard (violoncelle),
Richard Myron (contrebasse).
Patricia Petibon (Soprano) e
Jean-Francois Novelli (Tenor)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

PQP