Gavin Bryars (1943): After the Requiem (Gavin Bryars Ensemble + Bill Frisell + Balanescu Quartet + Saxophone Quartet)

Gavin Bryars (1943): After the Requiem (Gavin Bryars Ensemble + Bill Frisell + Balanescu Quartet + Saxophone Quartet)

Belíssimo CD do compositor erudito e baixista inglês Gavin Bryars. Ele utiliza instrumentos de cordas — como duas violas e um violoncelo — mais a guitarra de Bill Frisell e seu baixo para criar sonoridades únicas. A peça que mais gosto neste CD — Alegrasco — flerta com o jazz ao ser escrita para quatro saxofones, clarinete, cordas e guitarra. As peças Alaric I or II e a citada Alegrasco são estupendas. Ele segue estritamente a receita de Steve Reich para o futuro da música erudita:

Todos os músicos do passado, começando na Idade Média, estavam interessados na música popular. A música de Béla Bartók se fez inteiramente com fontes de música tradicional húngara. E Igor Stravinsky, ainda que gostasse de nos enganar, utilizou toda a sorte de fontes russas para seus primeros balés. A grande obra-prima Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill, utiliza o estilo de cabaret da República de Weimar. Arnold Schoenberg e seus seguidores criaram um muro artificial, que nunca existiu antes. Minha geração atirou o muro abaixo e agora estamos novamente numa situação normal. Por exemplo, se Brian Eno ou David Bowie recorrem a mim e se músicos populares reutilizam minha música, como The Orb ou DJ Spooky, é uma coisa boa. Este é um procedimento histórico habitual, normal, natural.

Steve Reich

Ou seja, ele dialoga com vários estilos e sonoridades. Usa improvisação, minimalismo, música experimental e neoclassicismo. Gavin Bryars, nascido em 1943, estudou filosofia e só depois música. Seu próximo CD a ser postado por mim chama-se, sintomaticamente, Farewell to Philosophy.

Grande CD de um compositor pouco divulgado.

Gavin Bryars (1943): After the Requiem (Gavin Bryars Ensemble + Bill Frisell + Balanescu Quartet + Saxophone Quartet)

1 After The Requiem
Cello – Tony Hinnigan
Electric Guitar – Bill Frisell
Viola – Alexander Balanescu, Kate Musker
15:48

2 The Old Tower Of Löbenicht
Bass – Gavin Bryars
Bass Clarinet – Roger Heaton
Electric Guitar – Bill Frisell
Percussion – Martin Allen, Simon Limbrick
Tenor Horn, Piano – Dave Smith (3)
Violin – Alexander Balanescu
16:00

3 Alaric I Or II
Alto Saxophone – Ray Warleigh
Baritone Saxophone – Julian Argüelles
Soprano Saxophone – Evan Parker, Stan Sulzmann
15:15

4 Allegrasco
Bass – Gavin Bryars
Clarinet – Roger Heaton
Electric Guitar – Bill Frisell
Percussion – Martin Allen, Simon Limbrick
Piano – Dave Smith (3)
Violin – Alexander Balanescu
19:46

Gavin Bryars Ensemble
Bill Frisell
members of the Balanescu Quartet,
saxophone quartet: Evan Parker, Stan Sulzmann, Ray Warleigh, Julian Argüelles

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Bryars veio até a gráfica expressa do PQP Bach tirar umas cópias.

PQP

Gavin Bryars (1943): Farewell To Philosophy (1997)

Gavin Bryars (1943): Farewell To Philosophy (1997)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Mais um disco genial de Gavin Bryars. Um tranquilo Concerto para Violoncelo de feições neoclássicas, o tal Farewell to Philosophy, algo bastaste sintomático quando vindo de um filósofo que abandonou tudo pela música (e parece ter sido um triste abandono); uma “Música” — ao estilo daquilo que Bartók chamava de “Música” — para instrumentos de percussão que para mim é o grande momento do disco e que leva o bem humorado título de One Last Bar Then Joe Can Sing, realmente algo que achei espetacular; e By the Vaar um ultra jazzístico noturno erudito para orquestra de cordas e baixo acústico. Note-se que o baixista não é qualquer um, mas o sempre bem-vindo Charlie Haden. Temos, neste último trabalho, uma das mais belas aproximações entre o jazz e a música erudita, gêneros cada dia mais próximos. CD absolutamente imperdível para quem se interessa pelo trabalho dos compositores eruditos do século XXI, cada vez mais estimulantes e acessíveis aos ouvintes normais.

Gavin Bryars: Farewell To Philosophy

Cello Concerto
1. [Movement 1]
2. Più mosso
3. [Movement 3]
4. [Movement 4]
5. The Philosopher
6. Poco meno mosso
7. Farewell (a tempo)

Julian Lloyd Webber, Cello
English Chamber Orchestra
James Judd

One Last Bar Then Joe Can Sing
8. Lento
9. Più mosso
10. Coda

Nexus percussion ensemble

By the Vaar (solo bass Charlie Haden)
11. [Movement 1]
12. [Movement 2]
13. Epilogue

Charlie Haden, Bass
English Chamber Orchestra
James Judd

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PQP

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Um bom disco que vale a pena pela peça de Julian Marshall e pela de Arvo Pärt.

Out of the Darkness, de Marshall, é uma cantata, mas talvez fosse melhor descrita como uma linda sequência de canções. Spiegel im Spiegel, de Pärt, dispensa comentários. E achei The Island Chapel , de Bryars, meio chatinha.

Out of the Darkness é uma cantata secular para mezzo-soprano, dois violoncelos e oito vozes. A inspiração para a peça é o poema Aus dem Dunkel (Out of the Darkness), de Gertrud Kolmar. Kolmar viveu em Berlim por grande parte de sua vida, mas foi transportada para Auschwitz em 1943, onde morreu. Sua poesia é surpreendentemente cheia de vida Aus dem Dunkel, é certamente uma das mais belas. Escrito em 1937, o poema evoca o desmoronamento e a decadência – servindo como uma predição assustadora da onda iminente de horror prestes a atingir o mundo.

Spiegel im Spiegel pode significar literalmente tanto “espelho no espelho” quanto “espelhos no espelho”, referindo-se a um espelho infinito , que produz uma infinidade de imagens refletidas por espelhos planos paralelos. A peça foi escrita originalmente para um violino e piano e violino — embora o violino tenha sido frequentemente substituído por um violoncelo — como no caso deste CD —  ou uma viola . Também existem versões para contrabaixo, clarinete, trompa, flugelhorn, flauta, oboé, fagote, trombone e percussão.

The Island Chapel foi escrita para ser apresentada na Capela de St. Nicholas, St. Ives, bem no sudoeste da Inglaterra, na Cornualha. A capela é um edifício simples e minúsculo, isolado e com vista para o mar por três lados. Então a “Ilha” é estritamente uma península (para James Joyce, “a disappointed island”) e no quarto lado ela olha para trás em direção à cidade e à Tate Gallery.

Marshall / Bryars / Pärt: Out of the Darkness (Pappenheim)

Marshall, Julian: Out of the Darkness

1 Prologue 3:46
2 One 5:49
3 Two 4:50
4 Three 4:30
5 Four 4:06
6 The River 6:22
7 Six 6:00

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Lucy Railton (cello)
School House 6 Ensemble
Howard Moody

8 Bryars, Gavin: The Island Chapel 17:06

Melanie Pappenheim (mezzo-soprano)
Sophie Harris (cello)
Ian Belton (keyboards)

9 Pärt, Arvo: Spiegel im Spiegel 8:23

Sophie Harris (cello)
Ian Belton (piano)

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Melanie Pappenheim não apenas canta esplendidamente como costuma pifar os atacantes de seu time

PQP

Gavin Bryars (1943) : Jesus’ Blood Never Failed Me Yet

Gavin Bryars (1943) : Jesus’ Blood Never Failed Me Yet

MI0000981591IM-PER-DÍ-VEL !!!

Esse é um CDs mais incríveis que ouvi nos últimos tempos. Gavin Bryars o explica e depois dou meus palpites furados:

In 1971, when I lived in London, I was working with a friend, Alan Power, on a film about people living rough in the area around Elephant and Castle and Waterloo Station. In the course of being filmed, some people broke into drunken song – sometimes bits of opera, sometimes sentimental ballads – and one, who in fact did not drink, sang a religious song “Jesus’ Blood Never Failed Me Yet”. This was not ultimately used in the film and I was given all the unused sections of tape, including this one.

When I played it at home, I found that his singing was in tune with my piano, and I improvised a simple accompaniment. I noticed, too, that the first section of the song – 13 bars in length – formed an effective loop which repeated in a slightly unpredictable way. I took the tape loop to Leicester, where I was working in the Fine Art Department, and copied the loop onto a continuous reel of tape, thinking about perhaps adding an orchestrated accompaniment to this. The door of the recording room opened on to one of the large painting studios and I left the tape copying, with the door open, while I went to have a cup of coffee. When I came back I found the normally lively room unnaturally subdued. People were moving about much more slowly than usual and a few were sitting alone, quietly weeping.

I was puzzled until I realised that the tape was still playing and that they had been overcome by the old man’s singing. This convinced me of the emotional power of the music and of the possibilities offered by adding a simple, though gradually evolving, orchestral accompaniment that respected the tramp’s nobility and simple faith. Although he died before he could hear what I had done with his singing, the piece remains as an eloquent, but understated testimony to his spirit and optimism.

The piece was originally recorded on Brian Eno’s Obscure label in 1975 and a substantially revised and extended version for Point Records in 1993. The version which is played by my ensemble was specially created in 1993 to coincided with this last recording.

Gavin Bryars

Este site faz sua descrição:

Como pode estar feliz um homem que nada tem, a não ser a roupa esfarrapada que veste, e uma garrafa de vinho na mão? O compositor britânico Gavin Bryars andava a gravar sons no centro de Londres, em 1971. Ás tantas deu de caras com um sem-abrigo a cantarolar uma quadra popular intitulada “Jesus Blood Never Failed Me”, Nunca me Faltou o Sangue de Cristo. Bryars voltou ao estúdio e quando pôs a gravação a tocar os colegas ficaram profundamente comovidos. Foi então que lhe ocorreu musicar a cantiga do feliz embriagado. No início soa a voz do homem isolada e trémola.

O quadro musical começa a compor-se com a envolvência dum quarteto de cordas.

O tema repete-se vezes sem conta, mas cada vez mais denso, até se escutar uma orquestra completa.

Gavin Bryars pensou, depois, num modo de explorar o tema por partes, criando nuances emocionais, por exemplo, fazendo sobressair as cordas graves da orquestra.

Mais adiante soa a voz do vagabundo rodeada só de sopros.

O ciclo repete-se até entrar o naipe de cordas completo com o chamado glockenspiel, uma espécie de xilofone.

Finalmente, para adensar a interpretação, Gavin Bryars contratou o vocalista Tom Waits, cuja voz se sobrepõe à do vagabundo, sublinhando o imaginário dramático da melodia, com a ajuda dum orgão.

A melodia original, ao fim de 1 hora e 14, vai-se desvanecendo, como se o homem ébrio, às tantas, se afastasse da cena.

Simples e comovente. Parece ter sido esse o intuito de Gavin Bryars ao reproduzir ciclicamente a cantiga dum ébrio. “Jesus Blood Never Failed Me” é a demonstração de que uma repetição não é necessariamente redundante. Porque o repisar duma ideia pode transformá-la. Ao ponto de lhe conferir uma nova carga emocional. Ao fim e ao cabo, a fórmula certa para gerar o máximo efeito com nuances mínimas.

Se o CD tem 75 minutos e o tema cantado pelo mendigo dura 20 segundos, ele é repetido 225 vezes… Porém, esse disco tem o curioso e notável poder de criar emoção através da acumulação. Ela vem em ondas e várias vezes tive alguma vontade de fazer despencar uma lágrima furtiva de meus olhos normalmente secos. A participação de Tom Waits não chega a ser o esperado, mas era absolutamente necessário um dueto com o mendigo.

Gavin Bryars – Jesus’ Blood Never Failed Me Yet (1993)

1. Tramp with Orchestra (string quartet) The Hampton String Quartet 27:09
2. Tramp with Orchestra (low strings) Orchestra 15:17
3. Tramp with Orchestra (no strings) Orchestra 4:48
4. Tramp with Orchestra (full strings) Orchestra 6:06
5. Tramp and Tom Waits with full Orchestra Tom Waits 19:39
6. Tom Waits with High Strings Tom Waits 1:48

Gavin Bryars Ensemble
Michael Riesman, regência

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Gavin Bryars: o mesmo tema, sempre comovente
Gavin Bryars: o mesmo tema, sempre comovente

PQP