Neste disco temos as duas sonatas para ‘piano e violino’ de Camille Saint- Saëns, além de duas outras peças menores, interpretadas ao violino e harpa.
As duas sonatas não poderiam ser mais diferentes. A primeira é virtuosística, especialmente o hipnotizante último movimento, enquanto na segunda o equilíbrio entre os instrumentos é fundamental, com a escrita para piano ganhando uma direção diferente daquela usada por Camille em obras anteriores. Como podemos ver no livreto que acompanha os arquivos musicais, Saint-Saëns tinha bastante orgulho da primeira sonata, sobre a qual escreveu ao seu editor: ‘uma sonata semelhante a um cometa que devastará o universo semeando terror e resina em seu caminho’. Sobre a segunda sonata seu comentário foi: ‘ela só será compreendida depois da oitava audição’. Eu já estou quase chegando lá…
Cecilia Zilliacus
A interpretação neste disco é maravilhosa. A dupla Zilliacus e Ihle Hadland apresenta excelente entrosamento. Eles são instrumentistas espetaculares. A introdução da resenha do disco feita na Gramaphone diz: […] as obras para violino, piano ou harpa oferecidas aqui são tocadas com fogo e comprometimento, e muitas vezes levadas ao limite.
A primeira sonata foi composta em 1885 e apresentada em um concerto da Société Nationale de Musique, pelo próprio Saint-Saëns e Martin-Pierre Marsick ao violino. O violino de Marsick era um Stradivarius de 1705 que foi também o instrumento de David Oistrakh entre 1966 e 1974. Essa sonata é contemporânea da Sinfonia com Órgão e tem quatro movimentos, que são tocados dois a dois em seguida.
Entre uma composição e outra, Camille explorava os arredores…
A segunda sonata foi composta em 1896 na cidade de Luxor, no Egito, enquanto Camille passava por lá suas férias, fugindo do frio inverno de Paris. A sonata foi composta logo após a composição do Concerto para Piano No. 5, ‘Egípcio’.
Saint-Saëns teve uma vida longa e ímpar. Demorou bastante para casar-se, mas não ficou muito tempo casado. O infortúnio da perda dos filhos certamente não ajudou a manter o casamento levando a separação. A partir daí ele essencialmente passou a fazer parte da família de Fauré, cujos filhos o viam como um tio solteirão. Daí em diante Camille passou a viajar muito. Fez bem mais do que cem viagens ao exterior da França, visitando quase trinta países. Mas o Egito, a Tunísia e a Argélia eram seus preferidos, onde passava os invernos do hemisfério norte. Como ele dizia: ‘Você embarca em um lindo navio em Marselha e 24 horas depois desembarca em Argel; e é sol, verde, flores, vida!’. Sua última viagem foi para Argélia, onde morreu em 1921. ‘No final de 1921, Saint-Saëns, de 86 anos, deu um recital bem recebido em Paris e depois partiu, como de costume, para a sua “hivernale” anual de inverno na Argélia. Mas no dia 16 de Dezembro desse ano, pouco depois de chegar ao seu querido Norte de África, sofreu um ataque cardíaco inesperado e morreu em Argel’.
Camille Saint-Saëns (1835 – 1921)
Violin Sonata No. 1 in D minor, Op. 75
Allegro agitato
Adagio
Allegretto moderato
Allegro molto
Violin Sonata No. 2 in E flat major, Op. 102
Poco allegro, più tosto moderato
Scherzo
Andante
Allegro grazioso. Non presto
Fantaisie for violin & harp, Op. 124
Fantasie
Berceuse in B flat major Op. 38 (Arr. S. Fitzpatrick for Violin & Harp)
Na seção ‘The Book is on the Table’: Here Cecilia Zilliacus offers us a violin tone that is vibrant and guttural at the same time. Her warm and sometimes wonderfully husky portamentos are such a beautiful complement to this music. But this isn’t just one kind of fearlessness – there is fire and there is ice. Pianist Christian Ihle Hadland offers the ice, the crystalline precision and sparkle: the lilting arpeggiations, the flashing passagework and the glittering cascades.
No dia 12 de maio de 1955 três pessoas se reuniram no Sala 3 da Abbey Road Studios (naqueles dias era EMI Studio 3), o menor dos espaços do famosíssimo estúdio de gravações londrino, ideal para música de câmera e recitais. Eles gravaram sete canções (Lieder) naquele dia, algumas delas estão na antologia dessa postagem. O cantor Dietrich Fischer-Dieskau estava no seu primor, aos 30 anos; o pianista Gerald Moore já era referência na arte de acompanhamento (sua autobiografia intitula-se ‘Am I too loud?’); o terceiro personagem era o produtor musical Walter Legge, que amava música e especialmente Lieder. Essa dedicação a este gênero musical me encanta e espero que chegue também a tocar você.
DFD e Gerald Moore formam uma dupla espetacular quando o repertório é Lieder e eles gravaram uma imensidade, algumas coisas mais do que uma vez. Em 1955 gravaram canções e o ciclo Winterreise, de Schubert, para a EMI, que depois gravariam novamente para a Deutsche Grammophon.
Esta antologia reúne 30 canções que estão espalhadas em três LPs de quatro gravados para a EMI entre 1955 e 1959. Selecionei essas canções dos LPs nos quais DFD é acompanhado por Gerald Moore. No disco de número três o acompanhante é o menos conhecido, mas muito competente Karl Engel e o repertório formado de algumas canções mais longas.
As canções que escolhi são exemplares da arte de Schubert, muito representativas. O som não é espetacular, mas a beleza da voz e o entrosamento do cantor e seu acompanhante de longe compensam qualquer restrição que você possa fazer.
Se você tem alguma familiaridade com esse repertório, reconhecerá cada uma das canções. Caso contrário você terá um porto seguro para iniciar suas futuras navegações. Espero que a postagem motive maiores explorações nesse repertório e você verá que essas figurinhas carimbadas reaparecerão muitas vezes nos discos e nos programas dos artistas desse gênero.
Quanto a música, deixe-me dizer que não falo alemão, mas isso nunca foi um impedimento para apreciar os Lieder e como ouço essas canções há bastante tempo, mesmo eu acabei aprendendo algumas coisas. Ou seja, aprecio a musicalidade que elas exalam, a maneira como a voz expressa os sentimentos e como se combina com o som do piano, criando um argumento musical, um universo sonoro que narra as histórias, mesmo que você não as perceba literalmente. De qualquer forma, aqui vão algumas dicas…
Heimkehr vom Feld im Abendrot, Ignaz Raffalt
Alguns temas são recorrentes, como vaguear (Wanderer), água (Wasser, Meer), noite (Nacht), primavera (Frühling). Há um bocado de sofrência (dois ciclos são impregnados disso) e algumas imagens perpassam muitas canções. A noite é sempre profunda (tiefer Nacht), o protagonista está sempre em busca de paz (ruh) ou felicidade (Glück). O céu tem a Lua (Mond) e estrelas (Sterne).
Há canções onde a letra é formada por estrofes e a música vai se repetindo de novo e de novo e formam uma boa parte delas. Veja alguns nomes: Der Wanderer na den Mond, Der Wanderer, Der Einsame (O Solitário), Fruhlingssehnsucht, Fruhlingsglaube, Im Frühling, Im Abendrot, Die Sterne.
Wanderer do David
Há na coleção duas canções com nomes de mulheres: An Sylvia e Alinde. ‘Para Silvia’ tem por letra uma tradução para o alemão de um texto de Shakespeare, Who is Sylvia, da peça Dois Cavalheiros de Verona.
Muitas canções da antologia foram compostas no fim da (curta) vida de Schubert, como indicam os altos números do catálogo D (Deutsch), mas ele era um mestre completo na arte da canção mesmo quando muito novo, como nos atestam o inquieto Rastlose Liebe D. 138 e Nahe des Geliebten D. 162, ambos com poesia de Goethe.
Temos também oito canções do Schwanengesang, um conjunto de canções que foi publicado como um ciclo logo após a morte de Schubert, com canções sobre letras de diferentes poetas. Entre elas as belíssimas Die Taubenpost, Standchen e Abschied, que resolvi deixar no fim da fila.
Há duas baladas – canções cuja letra narra uma história ou um fragmento de história, com estilo folclórico, fantasmagórica ou com tema medieval. São elas Der Zwerg e Erlkönig, que tem letra de Goethe. Essas canções são verdadeiras provas de fogo para os intérpretes, que têm pouco tempo para dar o recado, inclusive fazendo diversos personages – o narrador, o anão, a rainha, o cavaleiro, a criança e o Rei dos Elfos… Não menos dramáticas são Der Kreuzzug, Kriegers Ahnung e Heimweh. Deixo com você a tarefa de decifrá-las.
E tem ainda a música, a maravilhosa música que era amadrinhada com Schubert e que a arte de pessoas como Dietrich Fischer-Dieskau (100 anos em 2025) e Gerald Moore nos revelam, em uma linda cançãozinha, An die Musik, uma ode à música…
Franz Schubert (1797 – 1828)
Der Wanderer an den Mond D870 (Johann Gabriel Seidl)
Der Einsame, D800 (Karl Lappe)
Nachtviolen, D752 (Johann Mayrhofer)
Frühlingssehnsucht – Schwanengesang, D. 957: No. 3 (Ludwig Rellstab)
Geheimes, D. 719 (Johann Wolfgang von Goethe)
Rastlose Liebe, D138 (Johann Wolfgang von Goethe)
Liebesbotschaft – Schwanengesang, D. 957: No. 1 (Ludwig Rellstab)
Im Abendrot, D799 (Joseph von Eichendorff)
Die Sterne, D939 (Karl Gottfried von Leitner)
An die Musik D547 (Franz von Schober)
Wehmut, D. 772 (Matthäus Casimir von Collin)
Kriegers Ahnung – Schwanengesang, D. 957: No. 2 (Ludwig Rellstab)
Der Kreuzzug, D932 (Karl Gottfried von Leitner)
Totengräbers Heimweh, D842 (Jacob Nicolaus Craigher de Jachelutta)
Der Zwerg, D. 771 (Matthäus Casimir von Collin)
Der Wanderer, D. 489 (Georg Lübeck)
Frühlingsglaube, D. 686 (Johann Ludwig Uhland)
Die Taubenpost – Schwanengesang, D. 957: No. 14 (Johann Gabriel Seidl)
An Sylvia, D. 891 (Eduard von Bauernfeld, de William Shakespeare)
A primeira canção, que conta a história do Wanderer e da Lua é linda, remete à poesia chinesa do Li Po. Na terceira, a voz do DFD é reduzida a quase um fiapo, mas vai em frente… siga a deixa e ouça as outras.
Aproveite!
René Denon
DFD & Gerald Moore na Liedgrosssaal do PQP Bach Corporation em Niterói
Lorenz Christoph Mizler foi, entre muitas coisas, médico, matemático e compositor. Ele estudou teologia em Leipzig nos primeiros anos da década de 1730 e também composição musical. De alguma forma acabou associando-se a Johann Sebastian Bach a quem chamava de bom amigo. Mizler posteriormente mudou-se para a Polônia e fixou-se em Varsóvia onde praticou medicina. Ele tinha grande interesse em teoria musical e fundou a Sociedade Correspondente de Ciências Musicais. Os sócios contribuíam enviando trabalhos musicais teóricos ou práticos.
Vários compositores conhecidos faziam parte da Sociedade. Telemann, Handel, Graun e o padroeiro do blog, que associou-se em 1747, quando contribuiu com as Variações Canônicas sobre ‘Vom Himmel hoch’. No ano seguinte enviou a Oferenda Musical e para 1749 planejava enviar a Arte da Fuga.
Não é surpresa então que essa obra soe um pouco acadêmica e se você conhece Bach como o compositor da Ária na Corda Sol ou Jesus, a Alegria dos Homens, vai ficar perplexo. Praticar a audição de A Arte da Fuga é um de meus passatempos favoritos.
Como não há indicação de qual instrumento ou quais instrumentos devem ser usados para se executar a música há muitas diferentes abordagens, inclusive a especulação de que a obra havia sido feita para ser ouvida na mente, um verdadeiro exercício intelectual. É claro que isso deixaria de fora toda a plebe ignara que não lê notação musical. De qualquer forma, com a abundância de gravações ninguém precisa privar-se de ter contato com essa criação genial de Bach. As mais abundantes são aquelas nas quais se usa um instrumento de tecla como um cravo, um piano ou um órgão ou aquelas nas quais se usa um quarteto de cordas. Outras combinações musicais mais exotéricas também podem ser usadas, tais como conjunto de sopros (metais ou madeiras), marimbas ou um conjunto de acordeão com viola da gamba e violino.
Eu gosto muito da gravação da postagem na qual reina a criatividade de Heribert Breuer, um organista, regente, compositor e arranjador alemão. Ele estudou em Heidelberg, Berlim e Colônia com Helmuth Rilling e outros professores.
No libreto ele conta como pensou muito no tipo de formação que usaria para orquestrar a Arte da Fuga: minha orquestração usaria quatro quartetos e um instrumento solo com teclado.
Meu conceito era do espectro tonal mais transparente possível, cujas cores deveriam formar um contrapeso à polifonia sempre presente da obra.
O primeiro contraponto é interpretado pelo clássico quarteto de cordas. Os ritmos marcantes do segundo contraponto exigem uma instrumentação que deixe clara sua relação com as raízes do ‘cool jazz’. Dois pianos, vibrafone e contrabaixo representam a ‘música contemporânea’. No terceiro contraponto temos mais contrastes: sua expressividade cromática e desenvolvimento dinâmico explícito exigem recursos românticos, representados aqui por um quarteto de sopros – oboé, clarinete, trompa e fagote. O quarto contraponto, com o qual termina a primeira parte, sugere um mundo pré-bachiano, no qual o cromatismo e os ritmos pulsantes são evitados. Este estilo Música Antiga é representado por duas flautas doces e duas violas da gamba. Os cânones são interpretados por cravo ou órgão (apenas órgão, no disco).
Deixo aqui parte de uma crítica, entre as mais amenas que encontrei, que ajuda a descrever o que segue:
What then follows is too complicated to describe here but is a combination of all instrumental premutations as the counterpoint becomes more complex. Breuer took 25 years to do it, so one can imagine the complexity of the result. It does make for satisfying listening and serves to remind us just how amazing the Art of Fugue is. [O que se segue é muito complicado de descrever aqui, mas é uma combinação de todas as mutações instrumentais anteriores à medida que o contraponto se torna mais complexo. Breuer levou 25 anos para fazê-lo, então pode-se imaginar a complexidade do resultado. Ele faz uma audição satisfatória e serve para nos lembrar o quão incrível é a Arte da Fuga].
No livreto Heribert termina dizendo que gostaria que seu arranjo pudesse removesse dessa obra uma carga de abstração que tão comumente lhe é atribuída e que ajude a mostrar para os ouvintes a atemporalidade que reside bem no âmago da peça. Eu gostei do disco, a despeito das críticas e aguardo o vosso veredito: valeu o download?
The orchestra is made up of members of the major Berlin orchestras, its personnel varying with the program. For the Art of Fugue project, the Leipzig String Quartet, piano duettists Aglaia Bätzner and Cristina Marton, and vibraphone player Edgar Guggeis joined as guests.
Nomes dos específicos músicos estão em um documento na pasta do download.
Certainly the Musica Contemporanea group, with its jaunty, bounce-along approach, sounds out of place. [Uma crítica não muito favorável ao disco…]
Uma pena, eu gostei bastante do quarteto contemporâneo. Ouça lá no Contraponto 14, pouco depois do terceiro minuto, como eles dão o ar da graça…
Impossível evitar, o espírito de Natal está no ar. Meu vizinho colocou em sua casa tantas luzes com motivos natalinos que até a NASA já detectou o nosso bairro em seu mapa mundi de luminosidade. Fora isso, com as economias devidamente empregadas em bacalhau, a ceia deverá ser farta.
De qualquer forma, Natal remete à família e eu penso um pouco na minha. O ano teve, como deve ter acontecido na sua, altos e baixos. Impossível ser diferente, está nos genes.
Aqui comemoramos o primeiro ano de aniversário de minha neta mais nova, que está em ótimo desenvolvimento, assim como sua irmãzinha, um ano mais velha. Essa já conta até 10, reconhece e nomeia todas as cores. Ela repete tudo o que ouve, haja cuidado com o que se diga perto dela.
Uma querida cunhada está se despedindo da vida, uma nota de tristeza. Mas que vida cheia de amor e dedicação que tem sido essa. Força pedimos, confiança temos.
Assim vamos exercitando ao máximo a prática de esticar o tempo para conseguir fazer tudo o que planejamos, como o catártico escrever desta postagem.
Enfim, o que queremos para a noite de Natal? Eu quero estar rodeado de pessoas queridas, ouvir vozes e risos familiares. Ganhar abraços e beijos. Dar e receber aqueles telefonemas ou ZAP-mensagens que nos aproximam daquelas vozes que por alguma razão não podem estar ao pé de nós. Mas que no ano que vem, quem sabe?
Para a postagem, escolhi um álbum tipicamente produzido para a ocasião. Metade do disco com números do Messias de Handel, cantado em alemão (pasmem!), mas regido pelo inglês Sir Neville Marriner. A outra metade tem números do Oratório de Natal do imenso João Sebastião Ribeiro, padroeiro do blog. Aqui, forças mistas, anglo-germânicas. São vozes conhecidas para os que já ouvem música há algum tempo e precisam ser ouvidas pelos que ainda estão se aventurando nessas águas. Tudo muito lindo.
Aleluia!
George Frideric Handel (1685 – 1759)
Messiah – Der Messias HWV 56 (Highlights)
(sung in German)
2 Tröste dich, mein Volk … & Nr.3 Alle Tale macht hoch erhaben (Accompagnato & tenor arie)
4 Denn die Herrlichkeit Gottes (Chorus)
8 O du, der Wonne verkündet in Zion (Contralto aria)
11 Denn es ist uns ein Kind geboren (Chorus)
12 Pifa
14 Und alsbald war da bei dem Engel (Accompagnato sopran)
15 Ehre sei Gott in der Höhe (Chorus)
36 Warum denn rasen und toben die Heiden im Zorne (Bass aria)
39 Hallelujah! (Chorus)
40 Ich weiß, daß mein Erlöser lebet (Soprano aria)
47 Würdig ist das Lamm, das da starb (Chorus)
Lucia Popp (soprano)
Brigitte Fassbaender (contralto)
Robert Gambill (tenor)
Robert Holl (bass)
Südfunkchor (Klaus Martin Ziegler)
Radio-Sinfonieorchester Stuttgart des SWR
Sir Neville Marriner
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Christmas Oratorio, BWV 248 (Highlights)
1 Jauchzet, frohlocket, auf, preiset die Tage (Chorus)
“O enorme sucesso popular que algumas poucas obras de Rachmaninov tiveram em sua vida provavelmente não durará, e os músicos nunca o consideraram com muito favor.”
Assim escreveu o ilustre crítico inglês Eric Blom na quinta edição do Grove’s Dictionary of Music and Musicians, expressando a sabedoria musicológica predominante da época: certamente a história varreria de lado essa estrela pop da sala de concertos.
Essa foi a cara que o Blom fez quando soube que abririamos a postagem com sua afirmação…
Blom was forthright in his opinions. Even more notoriously, he wrote that Rachmaninoff “did not have the individuality of Taneyev or Medtner. Technically he was highly gifted, but also severely limited. His music is … monotonous in texture … The enormous popular success some few of Rakhmaninov’s works had in his lifetime is not likely to last, and musicians never regarded it with much favour”. To this, Harold C. Schonberg, New York critic not immune to snobbery of his own, in his Lives of the Great Composers, responded with equally outspoken unfairness, “It is one of the most outrageously snobbish and even stupid statements ever to be found in a work that is supposed to be an objective reference”.
“É uma das declarações mais escandalosamente esnobes e até estúpidas já encontradas em uma obra que deveria ser uma referência objetiva”.
Pois agora, no final de 2023, ano que viu as comemorações tanto de 150 anos do nascimento quanto as homenagens feitas pelos 80 anos da morte de Rachmaninov, podemos afirmar que ‘o enorme sucesso popular’ que suas obras tiveram em vida perduraram até agora e a história ainda está considerando se tira a vassoura do armário para varrer a estrela pop da sala de concertos.
Serguei sorrindo ao ser fotografado com seu chapéu preferido
Veja alguns dos grandes e famosos pianistas que passaram o ano a tocar Rachmaninov: Yuja Wang, Daniil Trifonov, o jovem pianista Alim Beisembayev, acompanhado da Sinfonia of London, regida por John Wilson, e Mikhail Pletnev.
E nem só de Concertos para Piano viveu o artista, como se viu nesses concertos em POA e SP.
Veja também aqui: Cinco bambas do piano homenageando o compositor.
Fazia frio na América também
Se você quer mais, basta Googlar ‘Rachmaninov 2023’ e verá como no mundo todo homenagens não faltaram.
Para essa postagem escolhi dois álbuns com toda a obra para piano e orquestra de Rachmaninov. Um saído do forno, praticamente. O jovem pianista Lukáš Vondráček viu sua ocupadíssima agenda de concertos varrida pelo lockdown da Covid e teve, para nosso grande prazer, a oportunidade de, em parceria com a ótima orquestra de Praga, regida por Tomáš Brauner, gravar a integral dos Concertos para Piano do Sergei. O outro, um clássico: Earl Wild, um virtuose do piano como poucos, acompanhado por uma orquestra real, dirigida pelo improvável Rachmaninov-regente, Jascha Horenstein, mais conhecido por suas interpretações de Bruckner e Mahler. Essa gravação, pasmem, foi feita em Londres, no espaço de uma semana, no Walthamstow Town Hall, em maio de 1965, produzida para a Reader’s Digest pelo lendário Charles Gerhardt. A Royal Philharmonic era a orquestra fundada e dirigida por Beecham, que havia morrido há apenas quatro anos no momento desta gravação e estava em excelente forma. A orquestra, é claro! A edição da postagem leva o selo Chandos.
“Chaque concerto est individualisé, le Premier flamboyant, athlétique (Vondráček m’y rappelle Sergio Fiorentino, mêmes tempos, mêmes accents, même furia débordante dans le Finale), le Deuxième lyrique et sombre jusque dans un Finale incendiaire, et le Troisième telle une immense rhapsodie où la poésie alterne avec des échappées épiques : soudain le piano devient un instrument au sein de l’orchestre, Vondráček et Brauner le pensent non plus comme un concerto, mais comme une symphonie.” “Cada concerto é individualizado, o Primeiro extravagante, atlético (Vondráček lembra-me Sergio Fiorentino, os mesmos tempos, os mesmos sotaques, a mesma fúria transbordante no Finale), o Segundo lírico e afunda-se num Final incendiário, e o Terceiro como uma imensa rapsódia onde a poesia se alterna com fugas épicas: de repente o piano torna-se um instrumento dentro da orquestra, Vondráček e Brauner já não pensam nisso como um concerto, mas como uma sinfonia.” Artalinna, June 2023
“Mais c’est dans la narration exaltée du Concerto No. 3 que le pianiste tchèque se montre à son meilleur, la prise de son restituant la moindre inflexion de ce contour sûr de ses effets. Sans conteste, le sommet du double album.” “Mas é na exaltada narração (interpretação) do Concerto No. 3 que o pianista checo mostra o seu melhor, a gravação sonora reproduz a menor inflexão deste contorno seguro dos seus efeitos. Sem dúvida, o ápice do álbum duplo.”
Diapason, October 2023
Lukáš Vondráček
Such is the luxuriance of sound revealed in these remasterings, it’s difficult to believe the recording date; and such is the quality of the piano playing that it’s easy to understand why Chandos should have wanted to go to such trouble. There aren’t so many Rachmaninov pianists who dare to throw caution to the wind to the extent that Earl Wild does in the outer movements of the First Concerto, fewer still who can keep their technical poise in the process. The improvisatory feel to the lyricism of the slow movement is no less remarkable.
Wild’s panache is every bit as seductive in No 4, and the Paganini Rhapsody is a rare example of a performance faster than the composer’s own – devilishly driven in the early variations and with tension maintained through the following slower ones …
Earl Wild tentando avistar a turma do PQP Bach aplaudindo-o de pé…
O que caracteriza o que chamamos música espanhola em palavras é elusivo, mas evidente nos sons musicais. E o fascínio por música espanhola é universal. Basta lembrar do Capricho Espanhol ou de Carmen.
Domenico Scarlatti e Luigi Boccherini são compositores que devem grande parte de suas reputações exatamente por terem vivido e produzido o melhor de sua arte na Espanha.
Os compositores franceses do século XIX e XX influenciaram e foram influenciados pela música espanhola. Basta pensar nos compositores-pianistas Manuel de Falla, Isaac Albéniz e Enrique Granados.
Eu adoro este tipo de música. O LP Danzas Españolas, de Granados, interpretadas por Alicia de Larrocha quase furou e desde então, sempre que vejo um disco com esse tipo de repertório vou logo investigar.
O pianista Luis López nasceu em Tenerife e começou seus estudos no Conservatório Superior de Canárias e aperfeiçoou-se na Polônia. Este disco é muito recente e traz peças de Granados e Albéniz. A produção – o som – e o programa do disco são excelentes. As Valsas Poéticas são deslumbrantes e as outras peças muito bem escolhidas.
Acrescentei ao disco da postagem uma coleção de faixas de um disco antigo, gravado pela pianista brasileira Magda Tagliaferro. A única peça em comum com aquelas do primeiro disco é uma peça de Goyescas, Quejas o la Maja y el Ruiseñor, mas há uma grande afinidade no repertório e ouvir interpretações tão diferentes é fascinante.
Espero que goste das peças e que a audição seja um estímulo para que você explore esse tipo de repertório.
Enrique Granados (1867 – 1916)
8 Valses poéticos
Introducción. Vivace molto
1, Melódico
2, Tempo de vals noble
3, Tempo de vals lento
4, Allegro humoristico
5, Allegretto
6, Quasi ad libitum
7, Vivo
8a Coda. Presto
8b, Tempo dil primero vals
Capricho Español, Op. 39
Capricho Español
Goyescas
Quejas o la Maja y el Ruiseñor
Isaac Albeniz (1860 – 1909)
Iberia, Cahier 1
El Puerto
Evocación
Iberia, Cahier 2
Almería
Luis López, piano
Luis López interpreta estas 8 Valsas Poéticas com rigor e inspiração, com uma sensibilidade magistral e pulso determinado. Ele completa os silêncios com intenção declarada e minucioso. Como se cada frase, cada silêncio, cada momento de som fosse uma eternidade que surge da mais distante inspiração poética.
It is difficult to think of a more irrepressible virtuoso pianist than Brazillian born but Paris based Magda Tagliaferro…a pianist who revelled in music of a facile but endearing charm.
Esta postagem é uma reverência aos 400 anos da morte de William Byrd
William Byrd morreu há quatrocentos anos, em 1623, depois de ter vivido 83 anos. Nos nossos dias isso é considerado um feito, imagine há tantos séculos. E olhe que William era católico vivendo na Inglaterra, durante o período do surgimento da Igreja Anglicana – um ambiente no qual se misturavam religião e assuntos de estado, com conspirações ocorrendo em cada esquina.
Byrd foi organista da Lincoln Cathedral a partir de 1563 e tornou-se músico da Chapel Royal, assumindo o lugar de Robert Parsons, em 1572, servindo assim, ao lado de Thomas Tallis e outros, a Igreja Anglicana. Ao mesmo tempo era membro ativo da comunidade católica e recebia a patronagem de importantes aristocratas católicos. Em termos de música sacra, enquanto na Igreja Católica os ofícios eram em latim e a música elaborada, na Igreja Anglicana usava-se o inglês e a música que se esperava devia ser simples, uma nota para cada vogal. É claro que em certas circunstâncias esperava-se alguma coisa mais elaborada e até uns certos latins…
Mas para Byrd, essa vida dupla tornou-se mais perigosa durante a década de 1580, ao longo da qual houve tentativas de destronar a rainha Elizabeth I, para coroar em seu lugar sua prima Maria Stuart. Além disso, em 1585 morreu Thomas Tallis, que era figura importante na vida de Byrd. Eles dividiam direito de publicação de música entre outras coisas. Byrd e sua família passaram diversos perrengues, chegando a ser investigado, pagando multas por não atender aos ofícios da igreja, passando por prisão domiciliar. Safava-se por ter costas-quentes e numa ocasião até por intervenção da rainha, que gostava de música e queria exibir, pelo menos nas devidas ocasiões, pompa e esplendor. E nisso, esses músicos eram realmente espetaculares, dominavam a arte como poucos. Há um moteto de Thomas Tallis, Spem in alium, para 40 vozes. É pouco ou quer mais? Os músicos da Chapel Royal, como Robert Parsons, John Sheppard e William Mundy, produziram música mais elaborada, os serviços, que faziam as vezes das missas no caso católico. Mas Tallis e Byrd só produziram serviços bastante simples, seguindo à risca as determinações do Arcebispo…
É por isso que a obra dessa publicação, The Great Service, coloca um certo mistério na história. Apesar de deter poder de publicação, essa obra não foi publicada durante a vida do compositor. Por volta de 1594 Byrd diminuiu suas atividades na Chapel Royal e mudou-se com a família para uma pequena vila em Essex, ficando próximo de um rico dono de terras na região, Petre, que era católico. Isso tudo não impediu que Byrd continuasse a produzir música que servisse a Igreja Anglicana e The Great Service pode ter sido um projeto que seguiu à publicação das Missas para Três, Quatro e Cinco Vozes, dando continuidade à tradição de obras desse escopo escritas por outros compositores, como William Mundy e Robert Parsons. A obra é composta para um coro de cinco partes, dividido em Decani e Cantoris (nomes dados às duas tendas de coro em que as duas divisões do coro ficavam de frente uma para a outra do outro lado do corredor). Algumas seções são marcadas para grupos de solistas, rotuladas como “verso” e contrastando com as seções “completas”. O coro era normalmente dobrado pelo órgão (como as partes sobreviventes do órgão deixam claro) e provavelmente às vezes por instrumentos de sopro altos (cornetts e sackbuts), uma prática que causou muito indignação entre os puritanos da época. Sua sobrevivência deve-se principalmente a conjuntos incompletos de livros parciais do coro da igreja, bem como três partes contemporâneas do órgão. Ao reunir vários manuscritos, os estudiosos se deram com um texto praticamente completo, embora a primeira parte do Contratenor Decani do Venite ainda esteja faltando. Devido ao seu escopo, a obra deve ter ficado limitada à Chapel Royal.
As partes do Grande Serviço são sete: três formam as Matinas (Morning Prayers), duas formam a Comunhão (Communion), e mais duas formam as Vésperas (Evensong):
Venite
Te Deum
Benedictus
Kyrie
Creed
Magnificat
Nunc dimitts
Eu escolhi quatro gravações, duas das quais eu ouço já há muitos anos. A primeira é a mais antiga, com o coro do King’s College, sob a direção de Stephen Cleobury é de 1987 e foi publicada na saudosa série Reflexe, da EMI. Essa é uma gravação muito interessante que apresenta as partes da obra com alguns pequenos números entre elas, colocando-as como em uma liturgia. Para completar, dois anthems, o primeiro deles falando da Rainha Elizabeth.
Depois consegui um disco com a gravação de The Tallis Scholars, com direção de Peter Phillips. Essa interpretação também é de 1987 (meu Deus, o tempo voa…) e parece mais alinhada com as práticas de época. Originalmente foi lançada pelo selo Gimell Records e hoje deve estar sob controle de algum selo universal… Ela apresenta os movimentos seguidos sem qualquer outro número. O Kyrie, que dura perto de dois minutos, não aparece nesse disco, que termina com três Anthems, dois deles também fazem parte do disco anterior. A capa traz um retrato da Rainha Elizabeth I.
As outras duas gravações são mais recentes, de 2011 e 2018, e trazem a obra num contexto mais litúrgico. Os libretos com muita informação e o texto cantado constam nos arquivos nesses casos e podem fazer a experiência de ouvir essas gravações ainda mais enriquecedora. No caso da gravação mais recente, feita pelo selo Linn Records, há trechos de texto falado, recitados por um famoso personagem inglês. Se precisar decifrar quem é o dono da voz, sugiro contratar um bom detetive…
William Byrd (1540 – 1623)
The Great Service
The Morning Service
I Venite
II Te Deum
III Benedictus
Communion
IV Kyrie
Creed
The Evening Service
Vocals [Cantor] – Robert Graham-Campbell
I Introit “Lift Up Your Hands” (Psalm 24)
II First Preces
Psalm 47 “O Clap Your Hands”
III Magnificat
IV Nunc Dimittis
V Responses
Prayers
Collects
Anthems
VI Anthem “O Lord Make Thy Servant Elizabeth”
VII Anthem “Sing Joyfully Unto God Our Strength” (Psalm 81,1-4)
Recorded At – Chapel Of King’s College, Cambridge
Alto Vocals – Anthony Musson, Benjamin Phillips (2), Stephen Hilton (2)
Bass Vocals – Gavin Carr, Lawrence Whitehead (2)
Choir – The Choir Of King’s College, Cambridge*
Directed By – Stephen Cleobury
Tenor Vocals – Christopher Cullen (2), Christopher Walker (2), Robert Graham-Campbell
Treble Vocals – Graham Green (5), Thomas Elias
Recorded: 13.-14 XII. 1985, King’s College Chapel, Cambridge.
The music in the Great Service is of unparalleled proportions and inexhaustible variety; Byrd vividly represents the text at every opportunity stimulating the listener’s imagination. The Great Service encapsulates the canticles that were sung during the services of Matins and Evensong, which made up an important part of the Book of Common Prayer.
Você ainda não viu Uma passagem para a Índia, do David Lean? Então veja, pois o filme é ótimo. Na história se opõem duas culturas: os ingleses tentando manter seus hábitos em um ambiente impregnado de sabores, cheiros e cores exóticas, muito diferentes das que eles conheciam na terrinha deles. O filme originou de um livro escrito por Edward Morgan Forster – E.M. Forster. É uma linda história que descreve esta colisão de culturas, da qual as duas saem modificadas.
O disco desta postagem traz um paralelo sonoro a esse tipo de situação, mas remonta a um período anterior àquela descrita no filme – Calcutá, 1789. O programa descreve o que pode ter sido um concerto realizado em Calcutá naquela época.
Calcutá fica na província de Bengala e foi fundada em 1609 como um posto de troca pela Companhia Britânica das Índias Orientais. A cidade se tornou um cruzamento de culturas, o Ocidente se encontra com o Oriente, gerando uma colorida fusão de comidas, música e artes em geral. Por volta de 1780, a colônia inglesa residente em Calcutá era da ordem de 4000 pessoas. Entre eles, os nababos, ricos representantes do comércio onde permaneciam anos ou mesmo décadas e se cercavam de uma pequena corte, com músicos, cozinheiro e artistas.
Neste ambiente também floresciam empresários musicais, tais como William Hamilton Bird, que organizavam concertos com subscrição e que apresentavam até mesmo Oratórios. O gosto musical era afinado com o que se ouvia em Londres, onde reinava a dupla germânica formada por Carl Friedrich Abel e Johann Christian Bach, o Bach inglês. Músicos das gerações anteriores, como Purcell e Handel também constavam nos programas. É claro que a música era adaptada às disponibilidades locais. Aqui temos quartetos e quintetos com oboé, flauta, cordas e cravo. Mas o que mais coloriu o disco, assim como deve ter feito nos concertos daquela época, são os números musicais com influência da cultura local.
As mulheres desses altos funcionários da Companhia das Índias eram educadas e sabiam tocar cravo. Os nomes de duas delas aparecem no libreto. São as amigas Sophia Plowden, de Lucknow, e Margaret Fowke, de Benares. Elas assistiam a espetáculos de música e dança dos artistas locais e depois arranjavam para cravo aquelas peças que mais gostavam. Algumas dessas árias coletadas foram arranjadas e publicadas por William Hamilton Bird. Todo esse material está reunido na Coleção Fitzwilliam, em Cambridge.
Assim como deve ter ocorrido nos concertos em Calcutá, temos essas pioneiras peças de world music, que funcionam como interlúdios para as peças ocidentais, nas quais brilham também os instrumentos locais, como a tabla e o sitar. A primeira faixa é realmente fascinante. Inicia com solo no cravo e é uma transcrição de uma ária hindustani, ao qual se juntam os instrumentos locais, assim como flauta, oboé, violino violoncelo, numa verdadeira jam session que vale o download.
Tradicional
Sakia (ária hindustani) (Arr. para grupo de câmera feito por Notturna)
Johann Christian Bach (1735 – 1782)
Quinteto para flauta, oboé, violino, violoncelo e cravo, Op. 22, No. 2
Allegro commodo
Tempo di minuetto
Quinteto para flauta, oboé, violino, violoncelo e cravo, Op. 22, No. 1
Andantino
George Frideric Handel (1685 – 1759)
Sonata em sol maior para oboé, dois violinos e b. c. – ‘My song shall be away’
Largo e staccato
Allegro
Adagio
Allegro
Henry Purcell (1659 – 1695)
(Arr. para grupo de câmera feito por Notturna)
If love’s a sweet passion (de The Fairy Queen, Z628)
Parte do elenco do filme de D. Lean relaxando no palácio do PQP Bach em Mumbai
Calcutá 1789 é um retrato fascinante da vida musical do século 18 na Índia durante o período colonial britânico.
Sob a direção de Christopher Palameta, o programa combina música tradicional indiana com obras de Purcell, Handel, J.C. Bach e C. F. Abel.
Aos instrumentistas de época de Notturna juntam-se os sons voluptuosos do sitar, tocado por Uwe Neumann, e da tabla, tocada por Shawn Mativetsky.
Inspirada em um programa de concertos de 1789 descoberto nos arquivos de Calcutá, a gravação reconstrói o rico intercâmbio cultural que se desenvolveu entre músicos indianos e ingleses que foram trazidos para a Índia como parte da comitiva da Companhia Britânica das Índias Orientais.
Aproveite!
René Denon
O Dep. de Artes do PQP Bach forneceu esta ilustração para a postagem… acho que eles se confundiram um pouco. Quel cul t’as!
Neste surpreendente disco é percorrido o caminho inverso do que vimos recentemente por aqui – uma orquestração do Quarteto para Piano e Cordas No. 1, com o festivo e impetuoso Presto alla zingarese final. Apresentados aqui, temos o tal Quarteto em sol menor op. 25, na sua versão original, e ao seu lado, um arranjo da Sinfonia No. 3 para a mesma formação – piano e cordas – feito pelo arranjador e compositor Andreas N. Tarkmann (nascido em 1956).
Andreas N Tarkmann
Arranjos de obras escritas originalmente para orquestra adaptadas para conjuntos menores ou mesmo para piano eram comuns na época anterior à música gravada, pois permitia que a música fosse apreciada ou por amadores ou mais facilmente executada. Há uma versão para trio com piano da Sinfonia No. 2 de Beethoven. Arnold Schoenberg arranjou a Canção da Terra, de Mahler, para um conjunto bem menor de instrumentos e, como você já deve saber, orquestrou o Quarteto No. 1.
Notos Quartett fotografado pela equipe de mídia do PQP Bach que é especializada em grupos de música pop…
A novidade aqui deve-se ao fato de que este arranjo da sinfonia de Brahms foi feito recentemente para o Notos Quartett pelo versátil e prolífico Andreas Tarkmann. A crítica do disco no The Guardian começa com a retórica pergunta: por que ouvir uma versão para um conjunto de câmara se há tantas gravações excelentes da versão para orquestra? Ao final chega-se à conclusão que é necessário realmente ouvir o disco para crer que o quarteto arranjado é tão bom quanto o escrito por Brahms. Como eu sempre gostei do Quarteto Cigano, ouvi o disco muitas vezes… e adorei. Vamos, dê uma chance ao jovem grupo musical e seu arranjador. Aposto uma cocada como você vai gostar. Depois me conte…
Deu a maior trabalheira levar esses espelhos todos até o bosque do PQP Bach…
Parte da crítica que pode ser lida na íntegra aqui: […] listen to what the Notos players do with the Piano Quartet No. 1. This is a stupendous performance, which entirely gets the point of Brahms’s youthful energy and ambition. Antonia Köster’s piano playing is suitably aristocratic without being overwhelming, the ensemble between her and the three string players is clean, detailed, delicate as required, and miraculously, elastically organic; Sindri Lederer’s violin tone is opulent and beautifully voiced; Andrea Burger’s viola playing is ideal for this sort of repertoire; and Philip Graham endows the cello part with rich lyricism. Together they have worked out the work’s accumulative strengths, and the result is breathtaking. I’m still reeling from the sheer power of the Andante’s middle section. Highly recommended.
[…] ouça o que os músicos do Notos fazem com o Quarteto de Piano No. 1. Esta é uma performance estupenda, que atinge inteiramente a energia e a ambição juvenil de Brahms. O piano de Antonia Köster é adequadamente aristocrático sem ser avassalador, o conjunto entre ela e os três tocadores de cordas é limpo, detalhado, delicado conforme necessário e, milagrosamente, elasticamente orgânico; O tom de violino de Sindri Lederer é opulento e lindamente dublado; A viola de Andrea Burger é ideal para esse tipo de repertório; e Philip Graham dota a parte do violoncelo de rico lirismo. Juntos, eles trabalharam os pontos fortes acumulados do trabalho e o resultado é de tirar o fôlego. Ainda estou me recuperando do poder absoluto da seção central do Andante. Altamente recomendado.
Dei com o nome Arabella Steibacher em um artigo da BBC Music Magazine sobre a famosa violinista Anne-Sophie Mutter. Ela criou em 1997 uma fundação para apoiar jovens talentos do naipe de cordas e Arabella estava entre os beneficiados, assim como Daniel Muller-Schott (violoncelo), Roman Patkoló (contrabaixo) e Sergey Kachatryan (violinista). Os benefícios culturais de iniciativas como essa são muitos e enriquecem nossas vidas.
Arabella adorou as acomodações do Salão de Entrevistas do PQP Bach headquarters…
O disco me atraiu imediatamente pelo repertório: sonatas para violino e piano compostas por franceses cujas existências coincidiram em parte, mas que também representam diferentes gerações.
Gabriel Fauré é o mais velho, mas foi bem longevo. Ele compôs duas sonatas para violino, mas essa do disco, é a primeira delas, ainda no século XIX, por volta de 1875. A première oficial foi na Société Nationale de Musique, na Sala Pleyel, que promovia música ‘francesa’ em contraste com a música ‘germânica’. Essa composição foi importante para estabelecer a reputação de Fauré como compositor.
Maurice Ravel é possivelmente o mais conhecido destes compositores e também compôs duas sonatas para violino. Como a primeira delas só veio a público depois da morte do compositor, esta segunda sonata é geralmente tratada apenas como Sonata para Violino de Ravel. Composta nos anos da década de 1920, teve o jazz e o blues, que eram muito populares em Paris desde o início do século XX, como fonte de inspiração. O terceiro movimento é intitulado ‘blues’.
A peça mais recente é a que abre o disco, uma belezura composta por Francis Poulenc. No entanto, a composição de uma sonata para violino foi um projeto que demorou a ser realizado. Várias tentativas ocorreram, desde a juventude do compositor, mas só em 1942 se completou. A sonata foi dedicada à memória do poeta Garcia Lorca, mas teve como madrinha a violinista Ginette Neveu, que deu vários pitacos para a parte de violino e estreou a peça ao lado do compositor como o pianista. Para entender a relutância e dificuldade que Francis Poulenc enfrentou na composição da peça, basta ler essas linhas que ele deixou ao completar o rascunho da peça: Le monstre est au point. Je vais commencer la réalisation. Ce n’est pas mal, je crois, et en tout cas fort différent de la sempiternelle ligne de violon-mélodie des sonates françaises du XIXe siècle…. Le violon prima donna sur piano arpège, me fait vomir. (O monstro está no ponto. Vou começar a realização. Não está mal, eu acho, e de qualquer forma é muito diferente da eterna linha violino-melodia das sonatas francesas do século XIX. O violino prima donna sobre os arpejos do piano me dá engulhos). Eu diria que o resultado ficou excelente.
Para fechar o cortejo, assim como um ‘encore’, temos mais uma peça de Ravel, Tzigane, cuja inspiração está evidente no próprio nome.
Francis Poulenc (1899 – 1963)
Sonata para Violino, FP 119
Allegro con fuoco
Intermezzo. Très lent et calme
Presto tragico
Gabriel Fauré (1845 – 1924)
Sonata para Violino No. 1 em lá maior, Op. 13
Allegro molto
Andante
Allegro vivo
Allegro quasi presto
Maurice Ravel (1875 – 1937)
Sonata para Violino em sol maior
Allegretto
Blues. Moderato
Perpetuum mobile. Allegretto
Tzigane
Tzigane
Arabella Steinbacher, violino
Robert Kulek, piano
O duo dando uma palhinha para o pessoal do PQP Bach depois do encontro para a entrevista…
Aqui em casa gostamos de comida chinesa e pedimos pelo aplicativo – eu adoro frango xadrez. Mas, gostamos mesmo é dos biscoitos da sorte. Adoramos essas frases minúsculas de ‘sabedoria chinesa’, como a maravilhosa: O segredo da longevidade é comer a metade, andar o dobro e rir o triplo’!
Se está ali, escrito, não é segredo, mas chegou apenas no seu biscoito da sorte. Parece algo que foi feito só para você. Ah, depois dessa, só pedimos meias-porções, andamos até a entrada do condomínio para buscar a comida e rimos à beça, especialmente de nós mesmos.
Bom, alegria mesmo nos deu foi esse álbum da postagem, música da Belle Époque, cheia de charme e elegância, de virtuosismo e melodias inesquecíveis. Os compositores franceses desse período, início do século 20, escreveram ou transcreveram muita música linda para duo de pianos ou piano a quatro mãos. Eu adoro esse tipo de repertório e já andei postando alguns discos dessa estirpe por aqui. Esse é de 2010, mas só agora cruzou comigo. Eu já conhecia os intérpretes, que são irmãos, mas não os havia ouvido como um duo.
Karin Lechner nasceu em Buenos Aires, Argentina. Ela passou a maior parte de sua juventude em Caracas, Venezuela, onde começou seus estudos musicais com sua mãe, Lyl Tiempo. Ela fez sua primeira aparição pública aos cinco anos de idade, e sua estreia com orquestra quando tinha 11 anos.
Mudou-se para a Europa e continuou seus estudos de piano com Maria Curcio e Pierre Sancan e também recebeu conselhos musicais de Martha Argerich, Nelson Freire, Daniel Barenboim, Nikita Magaloff e Rafael Orozco.
Sergio Tiempo fez sua estreia profissional no Amsterdam Concertgebouw aos quatorze anos, e logo se tornou internacionalmente conhecido por sua energia bruta e versatilidade musical, de Brahms a Villa-Lobos e Ginastera.
Nascido em Caracas, Venezuela, Sergio Tiempo iniciou seus estudos de piano com sua mãe, Lyl Tiempo. Enquanto esteve na Fondazione per il Pianoforte em Como, Itália, trabalhou com Dimitri Bashkirov, Fou Tsong, Murray Perahia e Dietrich Fischer-Dieskau. Ele recebeu orientação musical frequente, assim como conselhos de Martha Argerich e Nelson Freire e se apresenta regularmente com o conterrâneo e amigo Gustavo Dudamel.
O repertório do disco é ótimo. Scaramuche é uma suíte escrita por Darius Milhaud, que andou pelo Brasil como adido cultural da Embaixada Francesa, e essa experiência pode ser ouvida no terceiro e último movimento da suíte.
Depois temos transcrições da Segunda Suíte do balé Daphnis et Chloé, de Maurice Ravel, feitas por Lucien Garban, que era editor de música na editora Durand e foi amigo de Ravel por toda a vida.
No centro do disco uma peça para piano a quatro mãos, a Suíte Dolly, de Gabriel Fauré, famosa por sua inspiração no universo das crianças e que termina em um tour de force, Le pas espagnol, um enorme sucesso aqui em casa.
Depois dois noturnos de Debussy – Nuages e Fètes – transcritos para duo de pianos por Ravel. E para completar esse lindo disco, La valse, também de Ravel, em uma transcrição para duo de pianos pelo próprio compositor.
Seção “The Book is on the Table”: …without doubt one of the most electrifying recordings of four-hand piano music I have ever heard. Fauré’s Dolly is invested with a subtly expressive detail that makes you listen with fresh ears to this well-worn favourite… La valse is a thrilling tour de force. Gramophone Magazine January 2010
Do site da gravadora: It is always a musical highlight when both brother and sister join forces to offer us a truly virtuosic but also highly inspired moment of music. Their first album for avanticlassic focuses on one of the most interesting musical periods in France history: La Belle Époque. With Scaramouche from Darius Milhaud, Daphnis and Chloé by Maurice Ravel, Dolly by Gabriel Fauré, two Nocturnes from Debussy and a haunting la Valse from Maurice Ravel, they chose an inspired program displaying the intimacy, the magic, but also the fascinating musical concepts arising from this culturally rich era.
O pessoal do PQP Bach marcou uma entrevista com o duo de pianistas do disco e disse para o pessoal da imprensa que eles eram irmãos. Pois o departamento de artes foi logo tascando uma foto do arquivo….
Aproveite!
René Denon
PS: Darius fez essa cara quando lhe explicamos o ocorrido…
A frase que estava no biscoito da sorte dele foi: Quem está feliz, faz os outros felizes!
Os melhores livros são os que emprestamos dos amigos. Foi assim, Maurice Ravel emprestou de seu amigo, o pianista Ricardo Viñes, um livro de poemas escrito por Aloysius Bertrand. As poesias são cheias de personagens fantásticos e de histórias de terror. Esse disco reúne peças que foram em parte inspiradas nessas histórias escritas em forma de poemas. O disco tem dois lados, assim como o famoso personagem do conto “O Médico e o Monstro” – Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
A primeira parte é a peça que leva o nome do livro, Gaspard de la nuit, com seus três movimentos: Ondine, Le Gibet e Scarbo. Esta peça é considerada a mais difícil da literatura de piano e superou Islamey, de Balakyrev, a campeã em dificuldade até então. Pois foi o pianista Ricardo Viñes o primeiro a interpretá-la. Para saber mais sobre essa peça, veja aqui.
O outro lado do disco é uma delícia que começa com as Valsas nobres e sentimentais, nas quais Ravel emula o mundo vienense de Schubert, mais do que o de Strauss. A edição da partitura para piano (há uma versão para orquestra) leva uma citação de Henri de Régnier: “… le plaisir délicieux et toujour nouveau d’une occupation inutile” (… o prazer delicioso e sempre novo de uma ocupação inútil) – o que remete à doce inutilidade de escrever postagens, claro, guardadas as devidas proporções.
A última peça volta a ser colorida por seres fantásticos, mas do mundo das histórias para crianças (de todas as idades). A suíte da Mamãe Gansa é uma verdadeira maravilha, nessa versão para piano a quatro mãos. Encante-se com o Pequeno Polegar, A Princesinha Chinesa, A Bela e a Fera, e com o apoteótico Jardim das Fadas.
O pianista aqui é o jovem Emanuel Ax, que em 1978 tinha 29 anos e havia vencido em Tel Aviv o primeiro Concurso Arthur Rubinstein, em 1974. Na suíte da Mamãe Gansa ele tem a companhia da pianista Yoko Nazaki. Eu gostei muito deste disco já vintage, mas ainda em excelente forma.
Maurice Ravel (1875-1937)
Gaspard de la Nuit, M. 55
Ondine
Le Gibet
Scarbo
Valses nobles et sentimentales, M. 61
Modéré, très franc
Assez lent, avec une expression intense
Modéré
Assez animé
Presque lent, dans un semtiment intime
Vif
Moins vif
Épilogue. Lent
Ma mère l’oye, M. 60
Pavane de la Belle au bois dormant. Lent
Petit Poucet. Très modéré
Laideronnette, Impératrice des pagodes. Mouvement de marche
Les Entretiens de la Belle et de la Bête. Mouvement de valse très modéré
Seção “The Book is on the Table”: Emmanuel Ax is of the same generation as Murray Perahia and shares many of his attributes. These recordings date from early in his career and demonstrate all the key elements of his style – subtlety of colouring, wonderful tonal control, long-breathed lines. A must for devotees of Ax and of piano playing!
Sometimes not the playing I would look for in an individual work, but always substantial pianism and mostly much better than that. The Ravel is very, very fine, which is not in the line of most of what he does. I can often hear him solving (successfully) problems that other pianists have with specific barriers.
Un album entièrement français… Claude Debussy e Francis Poulenc contribuíram imensamente para estabelecer a identidade musical francesa, compondo música que é a um só tempo refinada, emotiva, mas também com espaço para gaiatice, ironia. E foram inovadores, verdadeiramente criativos.
A primeira vez que ouvi a sonata para violoncelo e piano de Debussy foi no disco de Rostropovich e Britten. Depois, a ouvi novamente, ao lado das suas outras sonatas, no disco da Philips, com Gendron, Grumiaux e o resto da gang. Eu gosto muito dessas obras, em particular da sonata para flauta, viola e harpa.
Francis indicando com seu chapéu para onde o pessoal do PQP Bach deveria ir para pegar o uber de volta, após a entrevista
A música de Poulenc eu descobri um pouco mais tarde, mas agora está sempre presente em minhas playslists. A sua sonata para violino, assim como a sonata para violoncelo, está entre as minhas preferidas, mas Poulenc também compôs lindas sonatas com instrumentos de sopro que vale a pena explorar.
JG Queyras
Esse disco todo francês, tem por intérpretes dois expoentes de uma nova geração de músicos franceses que assegura uma continuidade de excelência musical. Jean-Guihen Queyras é violoncelista de primeira e Alexandre Tharaud pianista que tem no repertório bem mais do que só música francesa. Os dois músicos já andaram por aqui, visitando a terrinha, e se você tiver a oportunidade, vá vê-los.
A Tharaud
Não deixe de se deliciar com as duas sonatas e também com as outras peças que completam o disco. A valsa ‘La plus que lente’, uma versão para violoncelo e piano da conhecida peça para piano. Do lado mais exótico temos a bagatela de Poulenc, que é seguida pela linda serenata. Um álbum para ser saboreado…
Conheci a sonata de Poulenc graças ao Alexandre, que acredito (embora ainda não tenha conseguido fazê-lo admitir) deve ter aprendido a tocar essa música antes de começar a andar; ela parece fluir de seus dedos como se fosse uma segunda natureza. JG Queyras
As 2 obras deste disco são contemporâneas. Hindemith compôs a Sinfonia em 1934 e Bartók compôs a sua obra em 1936.
Hindemith planejava compor uma ópera com enredo baseado na vida de Matthias Grünewald, o pintor do Retábulo de Isenheim, quando William Furtwängler lhe pediu uma peça para apresentar em uma turnê que faria com a Berliner Philharmoniker. Ele resolveu compor estes movimentos sinfônicos, que foram posteriormente usados na ópera.
Paul Sacher
A peça de Bartók foi comissionada por Paul Sacher para a celebração do aniversário de dez anos de sua orquestra, a Basler Kammerorchester. Paul Sacher dedicou-se à música de seu século de muitas maneiras diferentes: como intérprete, como patrono de novas composições e como membro e patrocinador de muitos comitês e instituições. A Música para Cordas, Percussão e Celesta foi composta no mesmo período em que Bartók compôs o Quarto e o Quinto Quartetos de Cordas. A partitura dessa peça é precedida pela cuidadosa disposição dos instrumentos em relação ao regente.
Este disco me deixou intrigado, pois sempre imaginava Herbert von Karajan regendo as peças de maior apelo aos ouvintes. As sinfonias de Tchaikovsky e outros famosos compositores, assim como os concertos, sempre com jovens intérpretes. No entanto, este é apenas um dos muitos aspectos deste regente que desperta tão forte opiniões nas pessoas. Havia também o seu interesse pela música de seu próprio tempo, assim como pelas novas tecnologias. Karajan gravou essa peça de Bartók três vezes. Sua primeira gravação, feita em 1949, foi simplesmente a segunda gravação da peça. A gravação que temos aqui foi feita em novembro de 1960 e já se beneficiou da nova tecnologia de gravações – estéreo. A produção foi feita pelo lendário e controverso Walter Legge. Há ainda outra gravação dessa obra de Bartók por Karajan e a Berliner Philharmoniker, provavelmente mais conhecida, por ser para o selo Deutsche Grammophon, feita em 1973.
Quanto a obra de Hindemith, não sei quantas gravações Karajan fez, mas certamente ela fazia parte de seu repertório de novidades, como as sinfonias de Arthur Honegger e as peças dos seres do outro planeta, Schoenberg, Berg e Webern. Há uma gravação feita ao vivo de um concerto com a Wiener Symphoniker em 18 de fevereiro de 1957, na Grosser Saal des Wiener Musikvereins, cujo programa foi a Sinfonia de Hindemith e a Sétima de Beethoven.
As duas obras do disco, apesar da proximidade temporal, não poderiam ser mais diferentes. Um texto que descreve a obra de Bartók começa assim; ‘Qual é a fonte dessa música diabólica? As divagações cromáticas sugerem Wagner e o seu Tristão, que preludia Schönberg. Mas existem outros antecedentes, e estes incluem Strauss, Stravinsky, Debussy, Ravel e, crucialmente, a música folclórica da Hungria natal de Bartók e dos seus arredores’. Diabólica… bem, trechos da obra foram usados em filmes como Being John Malkovich e Shining. Aqui você encontrará mais informações sobre essa peça.
A obra de Hindemith não é uma sinfonia no sentido estrito, uma vez que sua composição derivou de material que seria usado na ópera, mas é bem próxima do que se esperava de uma sinfonia. Veja como inicia a descrição da peça em uma análise acadêmica: “É irônico que a Sinfonia “Mathis der Maler” tenha sido considerada anti-alemã pelos nazistas. Do ponto de vista estilístico, como uma obra tonal que revive a tradição sinfônica alemã, com um foco nacionalista e uso de melodias folclóricas, deveria ter sido uma obra modelo de um compositor do Terceiro Reich. No entanto, sua paleta sonora melódica e pós-romântica a coloca na categoria de outras obras europeias da década de 1930 por compositores como Stravinsky, Bartók, Schoenberg e Shostakovich que reagiram em sua música contra o totalitarismo.”
O primeiro movimento da sinfonia, por exemplo, foi inspirado no painel “O Concerto Angélico” (Engelkonsert) de Mathis Grünewald, que retrata três anjos tocando e cantando para o recém-nascido Cristo e sua mãe. A pintura serviu de inspiração para o primeiro movimento da Sinfonia, também funcionando como prelúdio para a ópera. Aqui, Hindemith optou por citar uma melodia folclórica de oito compassos, Es sungen drei Engel ein süssen Gesang (Três Anjos Cantaram uma Canção Doce). O Sepultamento, segundo movimento da Sinfonia, foi inspirado na parte de baixo do Tríptico.
A pintura mais impressionante, na minha opinião é a que trata das tentações de Santo Antônio.
Béla Bartók (1881-1945)
Música para Cordas, Percussão e Celesta, Sz. 106
Andante tranquilo
Allegro
Adagio
Allegro molto
Paul Hindemith (1895-1963)
Sinfonia “Mathis der Maler”
Engelskonzert (Concerto Angélico)
Grablegung (Sepultamento)
Versuchung des heiligen Antonius (As Tentações de Santo Antônio)
Numa entrevista de Herbert para Herbert, que você poderá ver na íntegra aqui:
Herbert Pendergast – ‘Você acha que a música de compositores como Boulez e Webern será facilmente compreendida pelo público musical da próxima geração?’
Herbert von Karajan – ‘Tenho certeza de que a próxima geração não terá problemas em compreender a maior parte da música de hoje.Pense no Concerto para Orquestra de Bartók.Há vinte anos era considerado inacessível;hoje é um clássico.Pense na Música para Cordas, Percussão e Celesta.Quando o tocamos hoje, soa como um concerto grosso de Handel.Com o declínio da inspiração melódica na música, as técnicas seriais de hoje são uma disciplina auto-imposta necessária para o compositor…’
Paul resolveu pousar para fotos com os instrumentos do acervo do PQP Bach, durante a preparação da postagem… Béla caiu na gargalhada…
O disco consiste em dois concertos para piano de Mozart, do período de plena maturidade do compositor, mas com características próprias, muito distintas.
O Concerto No. 20 em ré menor (1785) é austero, começa com ares ameaçadores e sombrios, cheio de afinidades com a ópera ‘Don Giovanni’. É um de dois concertos em tonalidade menor e tem um dos movimentos lentos mais sublimes em toda a literatura musical. Já o Concerto No. 27 em si bemol maior (1791) é o último da série de concertos, cheio de leveza, claridade e de uma certa alegria que só Mozart é capaz de produzir em seus momentos de grande tristeza.
O intérprete, solista e regente nesta gravação, parece mais adequado aos grandes concertos românticos, é verdade, mas talvez por ter sido criança prodígio, assim como Wolfie, mostra grande afinidade com a música e o disco é tão bom que dá vontade de ouvir de novo…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Concerto para Piano No. 20 em ré menor, K. 466
Allegro
Romanze
Allegro assai
Concerto para Piano No. 27 em si bemol maior, K. 595
Seção ‘The-book-is-on-the-table’: EMI recorded the two concertos in Munich in 2008, capturing a pleasantly ambient acoustic that perfectly suits the music; it’s slightly resonant without in any way hampering midrange transparency. There is ample stage depth for the relatively small ensemble accompanying Kissin, with a realistic piano sound, reasonably wide dynamics, a modest impact, and good, clean definition and air. It’s probably easier to describe the sound by what it’s not: It’s not bright, hard, or edgy nor is it unnecessarily warm, soft, clouded, or fuzzy. For this music, it is just right. Para ler toda a crítica, clique aqui.
As suítes para teclado de Handel nunca ganharam a mesma popularidade que as suítes de Bach (Suítes Francesas, Suítes Inglesas, Partitas) ou as sonatas de seu contemporâneo italiano Domenico Scarlatti. São obras muito atraentes, com características handelianas sintetizando as características de teclado do sul da Alemanha e da Itália em um estilo e estrutura franceses muito rigorosos. Embora não sejam obviamente virtuosísticas, certamente representam um desafio para o intérprete, e o conteúdo musical é definitivamente o de Handel dos grandes oratórios, óperas e músicas orquestrais: audaz, dramático e festivo ou afetuoso.
Nas interpretações gravadas neste disco, pela pianista Dina Ugorskaja, essas características estão bastante presentes. Com tempos mais largos o aspecto mais grandioso dessas peças fica enfatizado.
Lamentavelmente, Dina Ugorskaja morreu muito cedo, em setembro de 2019. Ela era filha do pianista Anatol Ugorsky e da musicologista e artista Maja Elik. Dina estudou inicialmente com seu pai, mas toda a sua formação se deu na Alemanha, para onde a família buscou abrigo em 1990, deixando a então União Soviética.
Veja o que nos diz a abertura de sua página: Dina Ugorskaja é uma musicista reservada e profundamente intensa, séria e de voz suave, sonhadora e radiante. Sua excelência musical foi internalizada, realizada e agora nos é transmitida apenas por meio dessas incríveis gravações, como as suítes de Handel, o Cravo Bem Temperado de Bach, as obras tardias de Beethoven e Schubert.
PS: Esta postagem foi escrita antes de 5 de setembro de 2023, dia que Anatol Ugorsky faleceu, em Detmold, na Alemanha.
Seção ‘The-book-is-on-the-table’: Handel was known as a superb keyboard player, and these dance suites exploit the expressive and technical resources of his instrument with no less mastery than that of his Leipzig counterpart, and with a joie de vivre that makes listening a constant diversion and delight.
Um jovem pianista com muita confiança se prepara para lançar um de seus primeiros álbuns no qual aparecerá como solista de uma conhecida orquestra e seu famoso maestro. Qual repertório escolher? Uma grande obra com centenas de gravações famosas que certamente levarão a comparações com os monstros sagrados do teclado ou algumas peças que ficam em menos evidência, mas que exercem uma atração especial no solista e também na audiência?
Esse tipo de questão deve ter cruzado a mente do jovem Till Fellner lá pelos idos de 1994, quando gravou este álbum. Em 1993 sua carreira foi lançada de vez quando ganhou o primeiro prêmio no Concours Clara Haskil, em Vevey, Suíça. Aposto que ele buscou inspiração em outro jovem pianista no início de carreira e escolheu os dois brilhantes concertos de Beethoven. O Concerto No. 2 foi o primeiro dos cinco publicados que ele compôs e com o novo finale para a publicação é uma peça espetacular. O Terceiro Concerto também é uma peça importante na carreira do compositor, escrito na tonalidade dó menor, assim como o concerto de Mozart que tanto gostava. Com essa escolha, Till Fellner teve muito material para mostra toda a sua técnica e musicalidade, mas ainda assim evitar os dois grandes concertos, que eventualmente viriam a aparecer em sua discografia.
O acompanhamento ficou a cargo da experientíssima orquestra de St. Martin-in-the-Fields, regida pelo incansável Neville Marriner, que tantos ótimos álbuns nos deixou.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Concerto para Piano No. 3 em dó menor, Op. 37
I Allegro con brio
II Largo
III Rondo – Allegro
Concerto para Piano No. 2 em si bemol maior, Op. 19
Till Fellner passeando pelo bosque do PQP Bach de POA achando o friozinho muito estimulante…
The Book-is-on-the-table section: The young Austrian pianist Till Fellner teamed with the famous British chamber orchestra Academy of St. Martin in the Fields in 1994 and they recorded the set of two Beethoven’s early piano concertos for the French label Erato. Fellner does a good job, his technique is more than adequate for the pieces and his musicality soars on slower movements. The orchestra under Sir Neville Marriner is as polished as ever, making for an impressive recording, which deserves much more attention than it actually gets. […] I do not think you will go wrong with purchasing this album, even if you already have some recordings of Piano Concertos 2&3. Fellner and Marriner certainly do no shame to the great composer.
Assim disse Antonio Roberto, um crítico amador, para a Amazon. Eu não consigo discordar dele. Aproveite!
René Denon
Aqui o outro disco com Concertos para Piano de Beethoven com o Till Fellner:
“São na verdade solos de violino sem baixo, três sonatas e três partitas, que, no entanto, podem ser muito bem executadas no teclado”. (Jacob Adlung, Anleitung zu der musikalischen Gelahrtheit, 1758)
“O compositor frequentemente as tocava no próprio clavicórdio, e acrescentava tanta harmonia a elas quanto achasse necessário.” (Johann Friedrich Agricola, 1775, Bach-Dokumente III, Nr. 808)
No ano 2000 foi lançado o resultado de um projeto realizado pela Bachakademie Stuttgart e a gravadora Hänssler Classic – uma caixa com 170 CDs contendo a integral da obra de Johann Sebastian Bach, o santo padroeiro do blog. Já se vai quase um quarto de século e eu ainda não explorei devidamente essa caixota – como diria um de meus mais saudosos amigos.
Algumas peças do disco são interpretadas ao clavicórdio
Pois antes que chegue mais uma dessas efemérides e nova caixas surjam, decidi vasculhar esse material. Algumas de suas preciosidades já foram aqui apresentadas, como a extraordinária gravação das Partitas BWV 825 – 830, pelo regente e cravista Trevor Pinnock.
Para hoje temos a música de Bach interpretada pelo cravista Robert Hill. Nestes dois discos o programa é de transcrições de música escrita originalmente para instrumentos de cordas, como a Partita BWV 1004, escrita para violino solo e que termina com a famosíssima Ciaccona.
As duas frases que estão em destaque no início do texto são evidências da prática comum tanto de Bach quanto das gentes que o cercava de interpretarem assim, ao teclado, música que fora concebida para cordas.
… outras no alaúde com teclado
No disco temos transcrições feitas na época de Bach e outras recentes, feitas pelo próprio Robert Hill. Na listagem das obras a seguir isso ficará explicitado. Além disso, diferentes instrumentos de teclado são usados na gravação – cravo, clavicórdio e cravo-alaúde (Lautenklavier).
Espero que você ouça a música sem maiores preocupações com originalidade ou não, simplesmente desfrutando esse universo sonoro decididamente Bachiano. Veja que Robert Hill reúne excelente formação musical, experiência, prática e é músico de mão cheia. Há mais contribuições dele na nossa fila de espera…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
CD1
Partita em sol menor (transcrição da Partita em ré menor BWV 1004, por Robert Hill)
Allemanda
Corrente
Sarabanda
Giga
Ciaccona
Sonata em ré menor BWV 964 (transcrição da Sonata em lá menor BWV 1003)
Grave
Fuga
Andante
Allegro
Sonata em sol maior BWV 968 (transcrição da Sonata em dó maior BWV 1005 – movimentos 2 a 4 por Robert Hill)
Adagio
Fuga – Alla Breve
Largo
Allegro Assai
Robert Hill, cravo
CD2
Partita em mi maior BWV 1006a
Preludio
Loure
Gavotte En Rondeau
Menuet I
Menuet II
Bourrée
Gigue
Sonata em dó maior BWV 966 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
Prélude
Fuga
Adagio/Presto
Allemande
Adagio em lá menor BWV 965 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
Adagio
Sonata em lá menor BWV 965 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
Adagio
Fugue
Adagio/Presto
Allemande
Courante
Sarabande
Gigue
Fuga em si bemol maior BWV 954 (Composição de J.A. Reincken e arranjo de J.S. Bach)
Fuga
Sonata em dó menor (transcrição da Sonata em sol menor BWV 1001 feita por Robert Hill)
Adagio
Allegro
Siciliana
Presto
Robert Hill, cravo-alaúde (1-7, 20-24), clavicórdio (8-12), cravo (13-19)
Foto de R Hill nos dias que ele agitava com Reinhardt Goebel e a banda MAK
Para saber um pouco mais sobre R Hill, clique aqui.
Particularmente interessantes as faixas 12 e 13, nas quais a mesma música, composta por Reincken e transcrita para teclado por Bach, é interpretada ao calvicórdio e logo a seguir ao cravo, permitindo comparar a sonoridade dos dois instrumentos.
Dizem que ele viveu 100 anos, mas pode não ser tanto assim…
Johann Adam Reincken foi, assim como Dietrich Buxthehude, compositor e organista de uma geração anterior a J.S. Bach. Ambos eram expoentes na arte da improvisação e serviram como modelo para Bach, que visitou ambos em sua juventude, como parte de sua formação.
Reincken era organista em Hamburgo onde foi visitado por Bach mais uma vez em 1720, quando este fora até a cidade em busca de uma posição. Nesta ocasião Bach deu um concerto no órgão da Igreja de Santa Catarina, instrumento do qual ele muito gostava, com a presença de Reincken, que lhe pedira uma improvisação sobre o coral luterano An Wasserflüssen Babylon. Conta a história que o velho músico teria dito a Sebastian: Eu achava que esta arte [da improvisação] estivesse extinta, mas pude ver que ela ainda vive em você.
A jovem pianista achou que fosse apenas cansaço da turnê ou uma virose e continuou cumprindo sua agenda até o último concerto. No entanto, ao acordar depois disso, percebeu que a situação era mais séria – ela não conseguia levantar-se da cama e estava com a visão afetada, pois via tudo duplicado. Demorou duas semanas para que conseguisse voltar a andar de novo. Após muitos exames e visitas a diferentes médicos, a pianista Alie Sara Ott que havia maravilhado o mundo da música com suas interpretações da música de Liszt, Chopin, Beethoven, estava diante de um desafio gigante: foi diagnosticada como tendo esclerose múltipla.
Esclerose Múltipla
Também chamada: EM
Uma doença em que o sistema imunológico ataca a cobertura protetora dos nervos. Na EM, o dano resultante nos nervos interrompe a comunicação entre o cérebro e o corpo. A esclerose múltipla causa muitos sintomas diferentes, incluindo perda de visão, dor, fadiga e coordenação prejudicada. Os sintomas, gravidade e duração podem variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas podem não apresentar sintomas na maior parte de suas vidas, enquanto outras podem ter sintomas graves e crônicos que nunca desaparecem. A fisioterapia e a medicação que suprime o sistema imunológico podem ajudar com os sintomas e retardar a progressão da doença.
Isso ocorreu em 2018. “Encontrei-me a bordo de uma montanha-russa emocional, com sentimentos de pânico, medo e devastação”, ela escreve. No entanto, com o equilíbrio certo de tratamento e terapia, seus sintomas gradualmente diminuíram e Ott conseguiu continuar sua carreira como concertista. “Eu sempre fui uma pessoa positiva. Tenho 31 anos e ainda tenho uma longa vida pela frente. Não quero passar o resto da minha vida sendo lastimável e triste. Isso não é quem eu sou”, ela diz.
Este disco recente mostra que ela tem conseguido seguir com sua carreira de pianista, assim como outras atividades que fazem parte de sua vida. Ela também se conecta às pessoas ao colocar sua proeminência global a serviço de contratos lucrativos. Enquanto Ray Chen se apresenta exclusivamente em ternos Armani, Yuja, Yundi e Domingo consideram o relógio Rolex seu “instrumento favorito”, Alice Sara Ott modela diamantes, pulseiras e todo tipo de joia, e ela projetou uma série de bolsas de couro para uma exclusiva empresa alemã. Ela é a Embaixadora Global da Technics, a marca de áudio Hi-Fi da Panasonic.
Ludwig Van Beethoven (1770 – 1827)
Concerto para Piano No. 1 em dó maior, Op. 15
Allegro con brio
Largo
Allegro scherzando
Sonata para Piano No. 14 em dó sustenido menor, Op. 27 No. 2 “Ao Luar”
Alice Sara Ott entrou no mundo dos smartphones com sua série de adesivos “E Aqui Vem a Alice”, projetada para o popular aplicativo de mensagens instantâneas LINE. Sua estratégia de vendas diz: “Alice toca piano, preferencialmente descalça. Ela adora viajar, chocolate, uísque e origami”. E como toca…
Depois de toda a correria para fazer a postagem, ela adorou passar um tempinho na piscina do PQP Bach, em Araruama…
A estrada que liga Olmutz até Absam passa por várias cidades interessantes: Brno, Viena, Linz e… Salzburgo. Por essa estrada deveria ter passado o nosso Henrique Biber, lá no verão (europeu) de 1670. O patrão, bispo Karl II von Liechentstein-Kastelkorn, o enviara até lá para comprar na loja de Herr Jacob Steiner alguns violinos e outros instrumentos de cordas para a sua orquestra. Pois o jovem Biber, lá pelos seus vinte e tantos anos, era virtuose do violino e resolveu passar uns dias em Salzburg, mostrando seus muitos talentos ao Arcebispo Maximilian Gandolph von Kuenburg, que era amigo do bispo Karl. Pois Biber gostou tanto de Salzburgo e das oportunidades locais que nunca saiu de lá.
Eventualmente, o bispo Karl se reconciliou com Biber, em prol de preservar um pouco de dignidade. Biber, na verdade, infringiu seu contrato original por seis anos (1670-1676), enquanto estava ausente e desfrutava das riquezas da vida em Salzburgo. Inclusive se casando em 1672. Biber continuou a viver a grande vida em Salzburgo até sua morte em 1704. Ele até se tornou um pouco um socialite e conquistou favores suficientes para ser nomeado cavaleiro pelo Imperador Leopoldo I em 1690 (foi quando o “von” foi adicionado a “Biber”). Os nomes Ignaz e Franz, de dois santos jesuítas, também foram acrescentados.
Essas sonatas aqui gravadas mostram bem como ele era inventivo e talentoso como compositor, revelando também um pouco de suas habilidades como instrumentista.
Eu gostei imensamente do disco, inclusive por sua linda sonoridade. O selo Glossa é Espanhol e as gravações foram feitas em Antequera, que fica próxima de Málaga. A violinista Lina Tur Bonet já esteve aqui pelo blog, patrocinada pelo próprio PQP Bach, apresentando sonatas de Herr Bach e Mr. Handel. Ela tem um excelente currículo e escreveu as notas do disco. Veja um trechinho: Em Biber, pode-se perceber um caráter intimamente ligado à terra, em sua combinação original de melodias populares, danças e elementos folclóricos, e através de seu desejo de ter seu próprio “estúdio de composição”, além de cultivar um jardim e cuidar de videiras.
Apesar do disco não conter as oito sonatas da obra completa publicada por Biber em Nurenberg, no ano de 1681, achei que as aqui apresentadas dão uma ótima perspectiva do todo.
Lina Tur Bonet selecionou quatro das oito sonatas para violino solo com baixo contínuo e acrescentou uma parthia para duas violas d’amore.
A violinista espanhola Lina Tur Bonet é uma especialista em música virtuosística para violino do início do Barroco e já gravou vários CDs com seu conjunto Musica Alchemica pelo selo Pan Classics.
Sua gravação completa das Sonatas do Rosário de Biber foi celebrada tanto por críticos quanto pelo público, e ela recebeu o prêmio Diapason d’or na França por seu CD “La Bellezza“.
Lina Tur Bonet no castelo do PQP Bach, nos arredores de Málaga
“honest and heartfelt music-making, her releases are becoming things to look forward to”
Há pouco tivemos um pequeno Ligeti frenzy onde algumas ótimas gravações dos Études para Piano foram postadas. Mas, como nosso apetite por essas obras é insaciável, sempre que uma nova gravação tão bem recomendada como esta aparece, nosso editor chefe logo encomenda uma postagem, com urgência!
Han Chen pronto para enfrentar esse inverno brabo que faz no Rio de Janeiro
Realmente, o disco do Han Chen merece toda a nossa apreciação. Este jovem pianista é natural de Taichung, Taiwan, e estudou com Yoheved Kaplinsky na Juilliard School, onde obteve seu bacharelado e mestrado. Ele foi beneficiado, em parte, com uma bolsa de ex-alunos do Van Cliburn. Foi vencedor do primeiro prêmio no Sexto Concurso Internacional de Piano da China e o seu álbum de estreia, pela Naxos, oferece algumas transcrições de óperas de Liszt.
Este álbum dos Études foi escolhido pelo editor da Gramophone como um dos dez melhores para a última edição da revista. Veja um trecho da resenha: “[Chen]’s one of the few pianists who handles both gnarly contemporary scores and over-the-top Romantic showpieces with equal authority and style…” (“Chen é um dos poucos pianistas que domina tanto partituras contemporâneas desafiadoras quanto peças românticas exuberantes com igual autoridade e estilo…“)
Outro álbum do Chen é uma coletânea de peças do compositor e regente inglês Thomas Adès, que talvez apareça dia desses no seu PQP Bach mais próximo.
Sobre a música desse álbum, você já sabe, Ligeti compôs seus Estudos para Piano ao longo de sua carreira, deixando três livros, o terceiro meio que por terminar, mas assim terminado pela situação. Eu não consigo deixar de ficar muito impressionado com os arrasadores estudos Désorde (lembro do Caos da Matemática), Der Zauberlehrling (O Aprendiz de Feiticeiro) e L’escalier du diable. Mas há muito o que admirar nestas peças e espero que você comente depois de ouvir o disco, indicando quais estudos lhe impressionaram mais.
A ordem aqui é um pouco diferente dos outros discos postados. Primeiro o Livro Um e o Livro Três. Em seguida, como intermezzo, duas peças mais de juventude, dois Caprichos. Completando o disco, o Livro Dois, que inicia com o Galamb Borong (com jeito de música javanesa), Fém (que é ferro…), além de dois estudos dos que mencionei acima, terminando com a Columna infinta, que talvez nunca acabe…
Recebi uma pasta musical que prometia – Concerto para Piano No. 2 de Brahms mais as Quatro Peças para Piano, op. 119 – um total de oito arquivos na pasta, um disco virtual com oito faixas, quatro do concerto e as outras quatro, das lindas peças. O selo holandês Brillant não é assim, uma Brastemp, mas traz ótimas gravações e oferece muitas outras possibilidades além do que costuma ser gravado de novo e de novo. A pianista Karin Lechner pode não ser muito conhecida, mas foi protegida de Martha Argerich e isso não costuma acontecer por nada. A expectativa pelo disco era alta, mas ao colocar para tocar a música que surgiu foi bem outra. Escondidas atrás das informações sobre a música de Brahms estava um recital para piano, música do período romântico. Pois a deliciosa dúvida imediatamente se pôs – o que e quem estaria tocando? Até parecia um desafio do PQP Bach.
As quatro primeiras faixas eram familiares, melodias bem conhecidas, mas eu não conseguia exatamente descobrir o que estava tocando. Depois de uma segunda audição, algumas cascatas de notas começaram a se revelar. Busquei a confirmação comparando com arquivos do meu acervo (atividade bem divertida) e assim surgiu o primeiro nome – Gnomenreigen, de Liszt. Eu confesso não ter muita paciência com Liszt, mas não faz muito tempo postei dois discos de Murray Perahia e lá estava a confirmação. Daí para descobrir que a faixa quatro era a Valsa Mefisto foi um pulo, pois ela também estava num disco que havia ouvido há pouco, um disco com valsas gravado pelo pianista Vassilis Varvareso. A terceira faixa foi a que mais me iludiu. Eu achava que poderia ser um noturno de Chopin, mas não conseguia nenhuma coincidência. Fui para outra parte do disco e duas faixas descobri de cara. Schubert, Impromptu, só faltou verificar qual deles. O disco mais a mão era uma gravação de Marc-André Hamelin. Logo em seguida a faixa oito, a Primeira Balada de Chopin, linda, como interpretada por Nobuyuki Tsujii. Fui dormir com o placar empatado, quatro a quatro. No outro dia, cedo, outra faixa logo se revelou, Arabesco de Schumann, como não percebi antes? Lá estava a prova, no disco do Fabrizio Chiovetta. Mas essas vitórias empalideciam quando eu pensava na terceira faixa, tão perto, mas tão distante. Dei tratos à bola, mas nada… Neste ponto me ocorreu algo, e você pode até dizer que foi golpe baixo, mas a curiosidade me aguçava e então, apelei: Google Search – Pesquisar uma música – e a peça revelou-se o Sonho de Amor, de Liszt. Como não pude ver antes? Como dizem os gringos, I was barking to the wrong tree, pensando que pudesse ser algo de Chopin. Aí o recital se revelou por inteiro. A primeira peça, o outro estudo de Liszt, também gravado pelo Perahia, Ruídos da Floresta, e a quinta faixa, outra famosíssima, Les Jeux d’eau à la Villa D’Este, que tenho tocada pelos dedos de outro grande pianista, Pierre-Laurent Aimard. De posse do programa, faltava descobrir o pianista, mas com a lista dos nomes das peças, não foi difícil localizar. O Google logo deu o serviço, a pianista é a ótima Klára Würtz, que já teve discos aqui por mim postados, num disco do mesmo selo Brillant, com o sugestivo nome ‘Música Romântica para Piano’. O tal disco da Klára tem, na verdade, mais duas faixas, outra de Chopin, a lindíssima Barcarolle, e uma peça virtuosística de Debussy, L’isle joyeuse. Eu já havia montado um disco paralelo com as peças interpretadas pelos outros pianistas, que havia usado como referência para confirmar as peças do disco misterioso. Gostei tanto da atividade que resolvi postar assim, o romântico recital de Klára Würtz e depois, tudo de novo, com os outros intérpretes. Fica com você ouvir tudo e depois me contar do que gostou mais…
Franz Liszt (1811 – 1886)
Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
Liebestraume, S. 541 / R. 211
Valsa Mefisto No. 1
Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este
Franz Schubert (1797 – 1828)
Impromptu, D935, No. 3 em si bemol maior
Robert Schumann (1810 – 1856)
Arabeske em dó maior, Op. 18
Frédéric Chopin (1810 – 1849)
Ballade No. 1 em sol menor, Op. 23
Barcarolle em fá sustendo maior, Op. 60
Claude Debussy (1862 – 1918)
L’isle joyeuse
Klára Würtz, piano
Klara Würtz
Disco Paralelo
Franz Liszt (1811 – 1886)
Estudo de Concerto No. 1 – Waldesrauschen
Estudo de Concerto No. 2 – Gnomenreigen
Murray Perahia, piano
Liebestraume, S. 541 / R. 211
Nobuyuki Tsujii, piano
Valsa Mefisto No. 1
Vassilis Varvareso, piano
Années de pèlerinage, Livro 3, S. 163 – No. 4, Les jeux d’eau a la Villa d’Este
When chosen Gramophone’s Pick of the Month (May 2022), the review sums up: “Würtz’s performances have disarming freshness which throws our listening emphases away from her and back on to the music.” The Hungarian-born pianist Klára Würtz is based in The Netherlands and is best known for her numerous recordings on Brilliant Classics.
Os Concertos para Cravo de Bach surgiram da necessidade de música para os concertos no Collegium Musicum, uma sociedade musical centrada nos alunos da Universidade em Leipzig, que se reunia semanalmente no Café Zimmerman. Bach foi o diretor dessa sociedade por certo tempo e para conseguir os concertos usou material de outras ocasiões adaptando-o para esse novo formato.
Esses concertos para cravo e orquestra sobreviveram em uma cópia feita pelo próprio Bach, reunindo os Concertos enumerados BWV 1052 – 1059. Na verdade, o manuscrito começa com a inscrição JJ – Jesus juva (Jesus, ajude) e, após o Concerto BWV 1057, encontra-se a inscrição Finis. S.D.Gl. (Soli Deo Gloria). Isso indica que esses seis concertos formam um conjunto de seis peças. A parte de cravo do Concerto BWV 1058 tem muitas correções e o Concerto BWV 1059 contém apenas fragmentos. Apesar disso, este concerto pode ser recomposto, como foi feito neste disco, pelo cravista Steven Devine, uma vez que Bach usou seus movimentos em três números da Cantata BWV 35 – Geist und Seele wird verwirret.
Steven Devine no Castelo do PQP Bach, na Turíngia
O disco foi lançado há poucos dias reunindo a ótima Orchestra of the Age of Enlightenment sob a regência desde o cravo de Steven Devine, com produção do também relativamente novo selo inglês Resonus, fundado em 2011. Steven já tem ótimos discos lançados pelo selo Resonus, que já ganhou alguns prêmios por seus excelentes produtos.
Como bônus para nossos fiéis seguidores, acrescento os três movimentos da Cantata BWV 35 – Espírito e Alma estão confusos, na gravação do contratenor Alex Potter acompanhado pelo conjunto Il Gardelino, pelo selo belga Passacaglie.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto em ré maior, BWV 1052
Allegro
Adagio
Allegro
Concerto em lá maior, BWV 1055
Allegro
Larghetto
Allegro ma non tanto
Concerto em ré maior, BWV 1054
[Allegro]
Adagio e piano sempre
Allegro
Concerto em ré menor, BWV 1059 (reconstrução – S. Devine)
Steven Devine combines a career as a conductor and director of orchestral, choral and opera repertoire with that of a solo harpsichordist and fortepianist. He is Conductor and Artistic Advisor of The English Haydn Festival; Music Director of New Chamber Opera, Oxford and Director of the Orchestra of the Age of Enlightenment’s “Bach the Universe & Everything” series.
The harpsichord concertos of J.S. Bach form the origins of the keyboard concerto genre that was to continue to flourish through the music of his sons, C.P.E. Bach and J.C. Bach, and onwards.
Here, celebrated keyboardist Steven Devine is joined by members of the Orchestra of the Age of Enlightenment in this recording that features the Concerto in D minor, BWV 1052, Concerto in A major BWV 1055, and the Concerto in D major BWV1054, together with a new reconstruction by Steven Devine of the Concerto in D minor BWV 1059.
Há pouquíssimos instrumentos para os quais Bach nada escreveu. No seu tempo, era costume tocar um concerto ou um solo com algum instrumento durante a comunhão, na igreja, e ele compôs um grande número de obras assim, escrevendo-os de tal forma que eles ajudavam quem os estivesse interpretando a tornar-se um artista ainda melhor – a maior parte deles se perdeu.
J.N.Forkel
Guillaume Rebinguet Sudre
Neste disco Guillaume Rebinguet Sudre dirige o Ensemble Baroque Atlantique e interpreta concertos de J.S. Bach – o Concerto para Violino No. 1 BWV 1041, o Concerto para três Violinos BWV 1096 (uma transcrição do Concerto para três Cravos BWV 1064) e um Concerto para dois Violinos, transcrito pelo próprio Guillaume a partir da Sonata para Órgão (Triosonata) BWV 530. No livreto, Guillaume explica como as conhecidas transcrições do próprio Bach lhe serviram de guia e inspiração.
Funcionando como interlúdios entre os concertos, temos uma sarabanda e duas sinfonias e aberturas de cantatas, que reforçam o lado mais introspectivo e reflexivo da música de Bach, fazendo bom contraste com os movimentos mais solares dos concertos.
O disco não é um primor de produção, mas vale a novidade da transcrição e o amor dos artistas pela música fica evidente em cada trecho.
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto para Dois Violinos em sol maior, BWV 530
Guillaume Rebinguet Sudre e Diana Lee, solistas
Vivace
Lento
Allegro
Suite para Cravo em mi menor, BWV 996
Sarabande
Jean-Luc Ho, cravo
Christ lag in Todesbanden, BWV 4 & 12
Sinfonias
Violin Concerto para Violino No. 1 em lá menor, BWV1041
—
Andante
Allegro assai
Der Herr denket an uns, BWV 196
Sinfonia. Andante
Concerto para Três Violinos em dó maior, BWV 1096
Guillaume Rebinguet Sudre, Alix Boivert e Simon Pierre, solistas
Os músicos do Ensemble Baroque Atlantique são todos apaixonados por instrumentos antigos
Quem é Guillaume Rebinguet Sudre? Professor de violino barroco no Conservatório de Bordeaux, discípulo de Enrico Gatti e Hélène Schmitt. Ele também é um fabricante de cravo em Charente.
Vista do Palácio PQP Bach nas margens do rio Charente
O Chat PQP ajudou na tradução de trechos de uma crítica original em francês: Você quer um jovem conjunto francês imaculado e às vezes até esplêndido, de primeira classe, mas previsível? Veja Pigmalião […]. Quer um coletivo às vezes desajeitado, mas cheio de ideias, que se diverte no seu primeiro disco para sacudir nossos hábitos em Bach? O Ensemble Baroque Atlantique recordará que, até há pouco tempo, a música antiga era movida pelo espírito de aventura.
O Concerto para dois violinos baseado na Sonata para Órgão BVW 530 e é menos legítimo historicamente, mas muito mais convincente musicalmente do que muitas “reconstruções” recentes.
O cartão de visita está pronto. Que a banda Atlantic dedique todo o seu tempo para entregar uma segunda obra à altura de seu talento.
“De muitas maneiras, Jenő Jandó definiu a abordagem que a Naxos tem para o seu catálogo: inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade. A isso pode-se acrescentar talvez a supremacia da obra sobre o ego do intérprete.”
Em 4 de julho de 2023 o mundo da música gravada perdeu um de seus mais prolíficos artistas – Jenő Jandó, pianista húngaro. Nascido em Pécs, em 1º de fevereiro de 1952, começou a carreira como a maioria dos pianistas, ganhando concursos e visibilidade. Atuou também como professor da Academia Franz Liszt de Budapest. O acervo de gravações deixado por Jenő Jandó merece as características listadas na página da Naxos – inovação, completude, qualidade, abrangência e disponibilidade.
Gravou para o selo Hungaroton, mas sua carreira de artista de disco se confunde com a do selo Naxos, para o qual deixou um enorme legado.
Para reverenciar tudo o que ele fez pelos amantes da música, especialmente os menos abastados, reuni nesta postagem quatro de seus discos, tentando dar alguma representatividade à sua extensa e bela obra.
Piano e Orquestra: Neste gênero Jenő Jandó deixou muitas gravações memoráveis, como a Integral dos Concertos para Piano de Mozart, que você encontrará aqui no PQP Bach. Há uma gravação da dobradinha com os concertos de Grieg e Schumann e outro disco espetacular com os Concertos de Bartók. Esse último também está aqui no blog. Como neste ano também reverenciamos o último dos românticos, decidi postar o Concerto No. 2 de Rachmaninov, que vem acompanhado da Rapsódia sobre um tema de Paganini. Música para milhões! Veja os louvores do Penguin Guide sobre esse disco, pela tradução feita pelo Chat PQP: As performances dessas obras por Jenő Jandó são muito recomendáveis. Ele tem a completa medida das idas e vindas, a fluência da fraseologia rachmaninoviana e o movimento lento é romanticamente expansivo, a reprise particularmente bela, assim como o final tem bastante energia e um sentimento lírico maduro. A Rapsódia é interpretada brilhantemente, tão boa quanto qualquer performance no catálogo.
Piano Solo: Aqui a lista de gravações é imensa. Nomes como Beethoven, Mozart, Bach, Schubert, Haydn, Schumann, Liszt, Scarlatti estão por lá. De Beethoven, Mozart, Haydn e Schubert gravou as integrais das sonatas para piano e outras cositas… De Bach há gravações do Cravo Bem Temperado e das Variações Goldberg. De qualquer forma, para mim, a Integral das Sonatas para Piano de Beethoven merece uma referência, mesmo tendo seus montes e vales, como disse o Conde Vassily. Desta coleção escolhi o disco que foi lançado como o Volume 2, com três sonatas que têm apelidos: Waldstein, Tempest e Les Adieux. Mais uma vez, o Penguin Guide: Jenő Jandó oferece aqui três das famosas sonatas, interpretadas com muito prazer, e elas soam bem agradáveis devido à sua abordagem direta.
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para Piano No. 21 em dó maior, Op. 53 “Waldstein”
Allegro con brio
Introduzione: Molto Adagio
Rondo: Allegretto Moderato
Sonata para Piano No. 17 em ré menor Op. 31 No. 2 “Tempest”
Largo – Allegro
Adagio
Allegretto
Sonata para Piano No. 26 em mi bemol maior Op. 81a “Les Adieux”
Alguns dias após está postagem ter ido ao ar, recebemos alguns comentários singelos. Entre eles, uma menção a esse disco, que decidi acrescentar à pequena antologia. Vale!
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Sonata para Piano No. 8 em dó menor, Op. 13 ‘Pathetique’
Grave – Allegro di molto e con brio
Adagio cantabile
Rondo: Allegro
Sonata para Piano No. No. 14 em dó sustenido menor, Op. 27 No. 2 ‘Ao Luar’
Adagio sostenuto
Allegretto
Presto agitato
Sonata para Piano No. No. 23 em fá menor, Op. 57 ‘Appassionata’
Música de Câmara: Jenő era ótimo músico camarístico e há vários discos primorosos nesse gênero. Sonatas para Violino e Piano com Takako Nishizaki, música para violoncelo e piano, de Kodaly, por exemplo, com a violoncelista Maria Kliegel, música para clarinete e piano com o clarinetista Kálmán Berkes. Para essa postagem escolhi uma gravação na qual ele faz parceria com o ótimo Quarteto Kodály, outra instituição da Naxos. Veja os comentários sobre a gravação dos Quintetos com Piano de Schumann e Brahms por esses titulares absolutos do time Naxos. Sobre o Quinteto de Brahms: “Essa ótima gravação da Naxos tem muito a oferecer, mesmo que não inclua a repetição da exposição do primeiro movimento. A execução é ousadamente espontânea e possui muita energia e sentimento expressivo. A abertura do final também possui um certo mistério e, de maneira geral, com uma gravação cheia de corpo e muita presença, isso causa uma forte impressão. Certamente, é uma pechincha.” Sobre o Quinteto de Schumann: “Uma performance fortemente caracterizada do belo Quinteto de Schumann, interpretado por Jenő Jandó e o Quarteto Kodály. Esta é uma interpretação vigorosa, romântica em espírito, e sua espontaneidade é bem transmitida por uma gravação vívida, feita em uma acústica atraente e ressonante.”
Robert Schumann (1810 – 1856)
Quinteto com Piano em mi bemol maior, Op. 44
Allegro Brillante
In Modo D’una Marcia. Un Poco Largamente
Scherzo: Molto Vivace – Trio I – Trio II – L’istesso Tempo
Allegro, Ma Non Troppo
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Quinteto com Piano em fá menor, Op. 34
Allegro Non Troppo
Andante, Un Poco Adagio
Scherzo: Allegro – Trio
Finale: Poco Sostenuto – Allegro Non Troppo – Presto, Non Troppo
Música Ligeira: Num outro aspecto da música gravada, decidi trazer esse disco com selo Hungaroton, com música mais leve e despretensiosa – típica do período austro-húngaro, que revela outro aspecto da produção deste verdadeiro maratonista do piano que foi Jenő Jandó. O disco contém peças de Rossini e Schubert arranjadas para piano por Liszt. Rossini era frequentador das soirées nas casas dos abastados Aguado e Rothschild, onde ele geralmente acompanhava trechos mais famosos de suas óperas ao piano. Eventualmente ele acabou compondo novas peças para essas ocasiões. Isso deu surgimento a árias e duetos que foram posteriormente publicadas em ciclos, com o nome Soirées musicales. Liszt gostava bastante dessas peças e acabou fazendo arranjos delas para piano, que é o que ouvimos aqui. Já as Soirées de Vienne foram feitas sobre melodias de Schubert e buscam entreter e encantar.
Arranjos de Ferenc Liszt (1811 – 1886)
Composições de Franz Schubert (1797 – 1828)
Soirées De Vienne
2 Poco Allegro
Arranjos de Ferenc Liszt
Composições de Gioacchino Rossini (1792 – 1868)
Soirées Musicales R.236: Part One
1 La Promessa (The Promise) – Canzonetta
5 Il Rimprovero (Reproach) – Canzonetta
7 La Partenza (Depart) – Canzonetta
11 L’Orgia (The Orgy) – Arietta
3 L’Invito (Invitation) – Bolero
6 La Pastorella Dell’Alpi (The Shepherdess Of The Alps) – Tirolese
7 La Gita In Gondola (By Gondola) – Barcarola
8 La Danza (Dance) – Tarantella Napoletana
Arranjos de Ferenc Liszt
Composições de Franz Schubert
Soirées De Vienne
7 Allegro Spiritoso
Arranjos de Ferenc Liszt
Composições de Gioacchino Rossini
Soirées Musicales R.236: Part Two
2 La Regata Veneziana (The Venice Regatta) – Notturno