Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Pierrot Lunaire, Bach BWV 552

A minha procura pela gravação de Pierrot Lunarie feita pela cantora Maria Bergmann, conduzida por Hans Rosbaud (selo WERGO), tem sido incessante. Pois guardo na memória o impacto que esta obra me causou e que, desde então, não venho sentindo com outras gravações. Um amigo sumiu com o disco e nunca mais o vi. Mas fiquei satisfeito com o disco Schäfer-Boulez, já postado aqui, que tem muitos detalhes revelados, mas pouco do lado obscuro (uma pena). Mas tenho uma bela compensação ou um complemento do disco Schäfer-Boulez que coloco aqui, até aguardar o disco da Wergo (será que alguém o encontra neste universo virtual? É uma raridade e está fora de catálogo fazem muitos anos). Jane Manning está muito convincente e Simon Rattle, ainda novinho (gravação de 1978), segura a peteca com perfeição. Aproveitem.

Outra surpresa que vos trago é a BWV 552 de Bach numa transcrição nada literal para orquestra feita por Schoenberg. Essa transcrição teve sua estréia em 1929 sob a regência de Furtwangler com a Filarmônica de Berlim. A obra recebeu grandes elogios, principalmente de Webern (que tem uma transcrição famosa de um movimento da Oferenda Musical de Bach). Não tenho informações sobre a gravação.

Um presente para curtir e se emocionar neste fim de semana (já ouvi umas 200 vezes essa transcrição).

CDF

Pierrot Lunaire
Performed by Nash Ensemble
with Jane Manning
Conducted by Simon Rattle

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Bach-Schoenberg (BWV 552):

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Jaime Zenamon (1953) – O preço da paz

Quase ninguém conhece Jaime Zenamon, violonista e compositor boliviano naturalizado brasileiro que morou vários anos na Alemanha e vive numa granja nas imediações de Curitiba, quando não está em terras germânicas. Ninguém muito menos conhece o filme O preço da paz (2004), com Herson Capri, Giulia Gam, Danton Mello, Camila Pitanga, José de Abreu e Lima Duarte. Eu mesmo nem ouvi falar dessa película, centrada na história do Barão do Cerro Azul, figura de proa da história paranaense.

Mas, gostaria que vocês me dissessem se não estou certo em considerar a trilha de O preço da paz uma das belas do Brasil, nos últimos tempos. Se não de cabo a rabo, pelo menos nos momentos em que o compositor se permitiu elevar a música do mero patamar de plano de fundo sonoro. The end of a film e Sueño, p. ex., são daquelas músicas pra você fazer um apresentação de slides sem igual pra sua namorada. Experimente.

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O preço da paz

1. The end of a film
2. Vivíssimo
3. Valsinha
4. O preço da paz
5. Marcha fúnebre
6. Ameaça
7. A fuga
8. Gumercindo
9. Passacaglia (Bach-Zenamon)
10. Anésia
11. Sueño
12. Pica-pau
13. Emboscada
14. Aprisionados
15. Catedral de Curityba
16. Maragatos
17. Malambo
18. The end of a film

Orquestra Sinfônica de Berlim, regida por Jaime Zenamon

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CVL

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Pierrot Lunaire, Ode To Napoleon

Após aquele disco de Glenn Gould com as deliciosas e românticas canções de Schoenberg, aqui encontramos um ciclo de canções absolutamente revolucionário – Pierrot Lunaire de 1912. O pequeno melodrama para voz feminina e grupo de câmara é composto de 21 canções ultra-expressionistas, onde Schoenberg emprega a técnica (não inédita) do falado-cantado (Sprechstimme). As sensações sobre a noite, a lua, decapitação (Enthauptung) … são narradas-cantadas por uma personagem apavorante e salientadas pelos instrumentistas de forma virtuosa e febril.

A capacidade de Boulez de dar um novo brilho as obras que rege é mesmo espantosa. Gosto de tudo que ele grava. E a falta de fervor que alguns críticos condenam, eu vejo como uma vantagem. No entanto, no caso de Pierrot Lunaire, a dupla Christine Schäfer-Boulez poderia se soltar mais no imaginário psicótico da obra. Mas a clareza e majestosa voz de Schafer compensam a ausência de alucinadas declamações que eu gostaria de ouvir (noutra oportunidade postarei o que acho adequado). Ajuda muito assistir o DVD feito pelo mesmo grupo de músicos do cd. A direção lembra muito aqueles “absurdos” geniais de David Lynch.

Cannon

Outra importante obra deste disco é Ode a Napoleão, cujo texto de Byron (escrito em 1816) poderia ser chamado de Ode a Hitler ou qualquer outro ditador. Foi escrita por Schoenberg em 1942 e é uma das grandes obras-primas do século XX. Gravação exuberante.

CDF

cd:
1. Act I, No. 1, “Mondestrunken”
2. Act I, No. 2, “Colombine”
3. Act I, No. 3, “Dandy”
4. Act I, No. 4, “Die blasse Wascherin”
5. Act I, No. 5, “Valse de Chopin”
6. Act I, No. 6, “Madonna”
7. Act I, No. 7, “Der kranke Mond”
8. Act II, No. 8, “Nacht”
9. Act II, No. 9, “Gebet an Pierot”
10. Act II, No. 10, “Raub”
11. Act II, No. 11, “Rote Messe”
12. Act II, No. 12, “Galgenlied”
13. Act II, No. 13, “Enthauptung”
14. Act II, No. 14, “Kreuze”
15. Act III, No. 15, “Heimweh”
16. Act III, No. 16, “Gemeinheit”
17. Act III, No. 17, “Parodie”
18. Act III, No. 18, “Mondfleck”
19. Act III, No. 19, “Serenade”
20. Act III, No. 20, “Heimfahrt”
21. Act III, No. 21, “O alter Duft”
22. Herzgewachse Opus 20
23. Ode To Napoleon Buonaparte Opus 41

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Edino Krieger (1928) – Sonatina e outras obras para piano

Ninguém pediu a Sonatina de Krieger, mas vou empurrá-la pra vocês assim mesmo, já que Santa Catarina está me inspirando e me rendendo bons lucros. É uma das obras para piano mais queridas – senão a mais – de compositores brasileiros vivos e a mais conhecida de todo o catálogo do célebre compositor catarinense.

Segue o texto do encarte do CD com a Sonatina e outras peças pianísticas importantes de Krieger.

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Edino Krieger

Nascido em Brusque, Santa Catarina, a 17 de março de 1928, aos 7 anos iniciou estudos de violino com seu pai, Aldo Krieger, violinista e compositor. Aos 14 anos ingressou no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Iniciou em 1944 estudos de composição com H.J. Koellreuter, ingressando no ano seguinte no Grupo Música Viva. Em 1948 obtém o 1º lugar em concurso do Berkshire Music Center, EUA, onde estudou sob a orientação de Aaron Copland. Em seguida, consegue bolsa de estudos para Julliard School, onde estudou com Peter Menin. Em 1955, estuda em Londres com Lennox Berkeley e nesse mesmo ano é premiado no Festival Internacional de Varsóvia. Em 1959 conquista o 1º prêmio do I Concurso Nacional de Composição do MEC, com o Divertimento para Cordas. Em 1965 suas Variações Elementares foram estreadas no Festival Interamericano de Música de Washington, e no ano seguinte seu Ludus Symphonicus recebia sua estréia mundial pela Orquestra de Filadélfia, em Caracas. Em 1967 e 1968 obtém Medalha de ouro nos Festivais Internacionais da Canção do Rio de Janeiro.

Paralelamente à sua atividade criadora, tem exercido diversas funções públicas, entre as quais as de diretor musical da Rádio MEC, organizador e regente assistente da Orquestra Sinfônica Nacional, criador e diretor dos festivais de música da Guanabara de 1969 a 1970, e idealizador das Bienais de Música Contemporânea. Obteve ainda em 1969 o prêmio Golfinho de Ouro, conferido pelo Museu da Imagem e do Som. Dirige a Divisão de Música da Rádio Jornal do Brasil e exerceu a crítica musical no Jornal do Brasil. Em 1979 criou o projeto Memória Musical Brasileira — FUNARTE — do Ministério da Educação e Cultura (atualmente Ministério da Cultura). Em 1981 assumiu a direção do instituto Nacional de Música da FUNARTE.

As Composições

As composições de Edino Krieger incluídas nesta gravação datam dos anos 50 e pertencem a um período caracterizado pela busca de uma expressão voltada para as raízes de sua própria experiência musical. Com efeito, enquanto suas peças anteriores, de 1945 a 1952, mostram um interesse pela pesquisa de novas formas e de nova linguagem, partindo do impressionismo do Improviso para flauta só até o dodecafonismo dos Epigramas, das Miniaturas para piano e da Música 1952 para Cordas, sua produção, a partir do Choro para Flauta e Cordas, de 1952, aponta para uma linha neo-clássica, com a predominância de formas e estruturas mais tradicionais e, paralelamente, de uma linguagem mais tonal e uma substância musical fortemente impregnada de sabor brasileiro. Essas composições parecem mergulhar no mundo sonoro de sua infância, marcado pelo ambiente musical da família, dos ensaios de carnaval na alfaiataria de seu avô, nos anos 30 e 40, onde os blocos se reuniam em torno do “Jazz Band América”, formado exclusivamente pela família, para aprender e ensaiar o repertório carnavalesco de cada ano; ou das retretas da Banda Musical Concórdia, que seu pai integrou e depois dirigiu, como sucessor do mestre Humberto Matioli; ou, ainda, das serestas que seu pai e seus tios promoviam todos os fins de semana, noite a dentre e que terminavam, invariavelmente, no portão da sua casa, onde às vezes se estreava uma nova valsa nascida ao longo da madrugada…

Acrescente-se a isso uma preocupação de caráter didático, que se inicia com as 20 Rondas Infantis, de 1952, e se manifesta no Prelúdio e Fuga, de 54, no Choro Manhoso e no Estudo Seresteiro, de 56 e na Sonatina, de 57.

A Sonatina, que abre este disco, recebe agora a segunda gravação pelo pianista Miguel Proença, que a lançou em seu primeiro LP, em 1982, tornando-a uma página particularmente conhecida do estudante de piano.

O Prelúdio (cantilena) e Fuga (marcha-rancho) nasceu como um exercício de fuga, sem maiores pretensões. Ao ler a Fuga, recém-concluída, a pianista Anna Stella Schic sugeriu estrear a peça numa próxima ocasião. Um Prelúdio foi então acrescentado, à guisa de introdução ao exercício, e a composição, já agora com sua forma barroca de Prelúdio e Fuga, e com sua substância brasileira de cantilena e marcha-rancho — à maneira das Bachianas de Villa-Lobos — foi dedicada à pianista, e depois incorporada à Suíte para Cordas, composição de caráter didático dessa mesma época, e mais adiante, em 1967, transcrita para coro a 8 partes pelo próprio autor, transformou-se na Fuga e Anti-Fuga. Com letra de Vinícius de Moraes.

O Choro Manhoso e o Estudo Seresteiro foram compostos em Brusque, em 1956, num dos períodos de férias que o autor passava em sua cidade natal.

Ilmar Carvalho

Krieger e as Sonatas para piano

As Sonatas para Piano, de Edino Krieger — que recebem neste LP o seu primeiro registro fonográfico — foram compostas na década 50, época em que o compositor produziu também o Quarteto para Cordas nº1 e a Brasiliana (para viola e cordas).

Impregnadas de atmosfera modal, quanto à sua essência melódico-harmônica, essas obras trazem reminiscências do período em que Krieger viveu nos Estados Unidos (1948-49), estudando com Aaron Copland (no Festival de Tanglewood) e Peter Menin (na Juilliard School of Music, de Nova Iorque). Pertencem a uma fase marcada pela presença de elementos temáticos de caráter nativista, dentro de um traçado formal tradicionalista. No período anterior, predominavam técnicas e linguagem vanguardistas, e um culto sistemático das formas sintéticas e miniaturistas.

A Sonata nº1 foi escrita no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1953 e maio de 1954. Já no primeiro movimento — Andante – Allegro energico — desponta o clima modal da partitura, ao lado do emprego constante de quartas e quintas justas e dos desenhos uníssonos em dobramentos de oitava. Poulenc, Prokofiev e o próprio Aaron Copland podem ser apontados como fontes de influência para o discurso musical do autor.

O segundo tempo — Seresta — já existia antes como peça isolada, trazendo no subtítulo a menção “Homenagem a Villa-Lobos”. Trata-se de um texto em que convivem simplicidade melódica e vigor pianístico, mesclando-se a ambientação modal com características mais determinantes da música brasileira de caráter urbano.

O movimento final — Variações e Presto — inicia-se com um tema lento e expressivo, exposto em linguagem transparente. A 1ª variação (Moderato) tem caráter rítmico: o autor propõe uma nova figuração para o desenho temático (melodicamente um terço acima), usando com abundância pausas e deslocamentos de acentos. A 2ª variação (Andantino) fixa-se no aspecto melódico, começando pela exposição do tema em movimento contrário. A 3ª variação apresenta o motivo central com os valores ampliados, em contraponto com belos comentários de sabor seresteiro. A quarta — e última — variação é um Allegro scherzando de feição rítmica e virtuosística.

O Presto conclusivo fecha a Sonata em atmosfera burlesca, tipicamente brasileira: o desenho principal sugere com nitidez um frevo nordestino.

É importante ressaltar que a Sonata nº1 foi, 1959, adaptada pelo autor para orquestra de cordas, recebendo, na nova versão, o título de Divertimento para Cordas, obra que obteve o 1º Prêmio no concurso “Música e Músicos do Brasil” da Rádio MEC.

Estreada no Rio, em 1959, pelo pianista Homero Magalhães, a Sonata nº2 foi composta três anos antes, em abril de 1956, quando Krieger se aperfeiçoava em Londres, com Lennox Berkeley. A obra mantém o clima melódico-harmônico da sonata anterior, desenvolvendo-se igualmente em três movimentos.
O primeiro movimento — Allegro — apresenta a célula temática inicial em oitavas dobradas, prosseguindo em seguida na textura modal peculiar e impregnando o discurso pianístico de cristalinos trinados, procedimento que — um ano mais tarde — o autor conservaria em sua conhecida Sonatina.

O segundo movimento — Andantino — traz sugestões nordestinas com sutil tratamento harmônico, remetendo-nos ao despojamento e ao savoir-faire dos Andantes de Guarnieri. O texto caminha para um adensamento da linguagem pianística, retornando em seguida à amena beleza do clima inicial.

O tempo final — Vivace molto e com spirito — tem o caráter de uma Tocata, alternando células de acordes de quinta justas com sinuosos desenhos de oitavas dobradas. A conclusão é brilhante e virtuosística.
Primeira obra dessa série, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi criada em 1953, surgindo inicialmente como um Rondon-Fantasia, dedicado a Jeanette e Heitor Alimonda. Krieger posteriormente ampliou a partitura e rebatizou-a de Sonata, tornando o final pianisticamente mais eloqüente.

O autor conservou, porém, a estrutura de um único movimento de caráter monotemático: o expressivo motivo principal aparece variado no decorrer da peça, com as características essenciais do décor modal, límpidos trinados e transparentes texturas.

Em 1971, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi editada pela Peer International (Nova Iorque/Hamburgo).

Ronaldo Miranda

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01 – Sonatina – I. Moderato
02 – Sonatina – II. Allegro
03 – Prelúdio e Fuga – I. Prelúdio (Cantilena)
04 – Prelúdio e Fuga – II. Fuga (Marcha-rancho)
05 – Choro Manhoso
06 – Estudo Seresteiro
07 – Sonata nº1 – I. Andante
08 – Sonata nº1 – II. Seresta (Homenagem a Villa-Lobos)
09 – Sonata nº1 – III. Variações e Presto
10 – Sonata nº 2 – I. Allegro
11 – Sonata nº 2 – II. Andantino, moderato e con motto
12 – Sonata nº 2 – III. Vivace molto e con spirito
13 – Sonata a 4 Mãos – Moderato

Miguel Proença e Laís de Souza Brasil (vide no encarte quem toca o quê)

BAIXE AQUI (Os arquivos estão em extensão .mpc)

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Mando de brinde os três Estudos Intervalares, compostos em 2000. O estudo “das quartas” é outra obra que descobri que utiliza o tema de Nozani-Ná, recolhido por Roquette Pinto e incorporado nos Choros 3, 7 e 12 do Villa, em Moacaretá de Sérgio de Vasconcellos Corrêa e noutra obra que não me lembro.

I. Das segundas
II. Das terças
III. Das quartas

Piano: Alexandre Dossin.

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CVL

Edino Krieger (1928) – Canticum Naturalle e outras obras

Zarpei em direção ao Sul do país. Estou em Santa Catarina pra ver o quanto a filial volante do Café do Rato Preto apurou no mês de outubro, que é supermovimentado naquele Estado (oktoberfest aqui, oktoberfest acolá…).

Passarei dois dias especificamente em Brusque, cidade natal do maior compositor catarinense, que chegou aos oitenta anos de idade em 2008: Edino Krieger.

O CD que vai aqui postado contém cinco obras de três fases distintas de Krieger: a Suíte e o Divertimento para cordas, neoclássicos e nacionalistas, da década de 50, pós-expurgação de Koellreuter; Ludus e Estro, pós-expurgação nacionalista, altamente seriais; e o absurdamente estupendo Canticum Naturalle.

Se você acha bonito os passarinhos cantando na Alvorada de Lo schiavo de Carlos Gomes, no Choros n° 10 do Villa ou mesmo na rica Pássaros exóticos de Messiaen, vai se impressionar profundamente com a Floresta Amazônica reconstituída instrumento por instrumento (ou bicho por bicho) nos dois primeiros minutos da peça de Krieger e com o sirênico (ou iárico, “de Iara”, mais propriamente falando) vocalise para voz feminina na parte central – e vai perder o fôlego com a tempestade tropical que cai no último minuto.

Canticum Naturalle não alivia pra nenhum instrumento da orquestra – que requer piano, celesta, harpa e vasta percussão. Todos os naipes têm passagens superdifíceis, de modo que não é toda sinfônica que tem preparo pra dar conta dela. Existe um abismo entre as versões aqui postadas – a da Rádio MEC, mesmo com o grande Eleazar de Carvalho, não chega perto da orquestra alemã que Krieger regeu.

De longe essa é a obra-prima do octogenário compositor catarinense e item certo no top ten do cânone sinfônico nacional. Uma partitura sui generis e inigualável.

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01. Suíte para cordas (1954)
02. Divertimento para cordas (1959)
03. Ludus Symphonicus (1965)
04. Estro Armonico (1975)
05. Canticum Naturalle (1972)

Orquestra Sinfônica da Rádio MEC, regida por Eleazar de Carvalho
Meio-soprano: não sei.

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Quem não estiver a fim de adentrar no universo musical de Edino Krieger agora, baixe somente esta gravação de Canticum Naturalle, mas uma orquestra que dá conta do recado e que teve o próprio compositor regendo. Enfim: arquivo imperdível.

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Orquestra Filarmônica do Sul da Vestfália, regida por Edino Krieger
Soprano: Evi Zeller

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Quem quiser que eu poste a famosa Sonatina do Krieger, bBasta pedir nos comentários: ela sairá na semana que vem, se Canticum Naturalle tiver boa saída, claro.

CVL

Astor Piazzolla (1921-1992) – Arthur Moreira Lima interpreta Piazzolla

Aproveitando o sucesso do projeto Um piano pela estrada, de Arthur Moreira Lima, e dos downloads do CD Tangazo, segue este álbum do famoso pianista, dedicado a Piazzolla. A capa que tá aí do lado no link da Amazon foi a da versão internacional; há outra pra edição brasileira.

Não tenho muito a falar. AML toca com o coração – pode ser brilhante para uns e contestável para outros – e Piazzolla é pra ser tocado por quem ama sua música. Então, excelente audição.

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Arthur Moreira Lima interpreta Piazzolla

Tangata Silfo y Ondina (19:22)
01. Fugata (3:17)
02. Soledad (7:40)
03. Finale (8:25)

04. Libertango (3:56)
05. Invierno Porteño (7:46)
06. Decarísimo (3:33)
07. Oblivion (3:57)
08. Tango-Preludio (2:36)
09. Onda Nueve (7:56)
10. Balada Para Un Loco (6:46)
11. Adíos nonino (9:42)

Transcrições: Laércio de Freitas

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CVL

Celina Szrvinsk & Miguel Rosselini – Piano a 4 mãos

Acabei de chegar no Recife, vindo de Buenos Aires. Como fiz escalas em São Paulo e BH ouvindo a língua dos hermanos o tempo todo e agüentando uma inhaca triste de um casal conterrâneo de Zidane, me lembrei de um excelente CD para piano a quatro mãos, que reúne justamente duas peças de compositores franceses, duas de espanhóis, duas de mineiros e duas de paulistas.

A pianista goiana Celina Szrvinsk (diz-se “Chervínsqui”) e o pianista [acho que paulista] Miguel Rosselini, radicados em Belo Horizonte, formam o duo pianístico mais conhecido do Brasil na atualidade. Neste disco – que tem um homônimo, cujo repertório inclui Schumann e Edino Krieger, mas que não o possuo – Fauré, Ravel (e sua top-minded suíte para quatro mãos Mamãe ganso), Albéniz e de Falla antecedem os paulistas Ronaldo Miranda e Aylton Escobar e os totalmente desconhecidos mineiros Calimerio Soares e Oiliam Lanna (Oiliam deve ser William em dialeto jacu).

A peça de Miranda é a bela Variações Sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros, que se vale do mesmo Rasga o coração que o Villa utilizou no Choros n° 10, e tem uma versão para quinteto de sopros que um dia será postada aqui no blog.

Mais informações sobre o CD, aqui.

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Celina Szrvinsk & Miguel Rosselini – Piano a 4 mãos

1-6. Suíte Dolly, op. 56, Gabriel Fauré
7-11. Ma mère l’oye, Maurice Ravel
12. Pavana-Capricho, op. 12, Isaac Albéniz
13-14. Duas danças espanholas, de A vida breve, Manuel de Falla
15. Seresta “opus um”, Aylton Escobar
16. Batuccata, Calimerio Soares
17. Reflexos de bruma e luzes, Oiliam Lanna
18. Variações sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros, Ronaldo Miranda

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CVL

Compositores estadunidenses

Este é um daqueles CDs comerciais de coletâneas, no caso destinado ao mercado norte-americano, mas nele estão as melhores gravações que possuo do Adágio de Barber, da Abertura de Candide e das peças de Copland em questão.

A Primavera apalache está na versão original, para 13 instrumentos; o Hoe-down teve uma sessão intermediária inteira suprimida (não sei por quê); o pianista na Rapsódia in Blue é o próprio Gershwin, cuja orquestra gravou a posteriori sobre o rolo com o registro do compositor (não ficou legal); e a Dança do sabre consta só pra preencher o tempo do CD.

Ao passar por NY, visite o Café do Rato Preto no Madison Square Garden.

1. Fanfarra para o homem comum – Copland
2. Abertura de Candide – Bernstein
3. Primavera apalache – Copland
4. Hoe-down, de Rodeo – Copland
5. Rapsódia in blue – Gershwin
6. Adágio para cordas – Barber
7. Dança do Sabre, do balé Gayané – Khatchaturian

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CVL

Interlúdio – Edson Cordeiro

Baixou o espírito de Bluedog em mim: “Edson Cordeiro?! Qual foi, Ciço?!”. Acho que peguei raiva musical.

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Os comentários sobre o CD deixo por conta de vocês. Se forem em boa quantidade, vou postando mais discos fortuitamente.

Levantei vôo de Buenos Aires e estou indo para o Recife.

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As Edson Cordeiro is a familiar name in Brazil, I speak some lines about him to foreign habitués of this blog as we have many music lovers worldwide who join us.

Edson is perhaps the most popular countertenor we have because he is an ecletical pop singer that sings success from many music genres, like classical music, jazz, Brazilian Popular Music from early 20th Century and Spanish music.

The CD posted here, released in 1991, is Edson’s first one – and is the best of all. It revealed all his versatility: from Janis Joplin to Bizet, including a so genial mix of Mozart’s Queen of the night aria with Rolling Stones’ Satisfaction, sung with the Brazilian died rock singer Cássia Eller. In that moment, he was a sopranist; only some years later he trained the countertenor register and recorded another CD specifically to show his “new” voice.

The lyrics of some musics in this CD are here, beside some others.

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Edson Cordeiro

1. Creole Love Call
2. La seguidille
3. Baioque – Baião
4. Naturträne
5. Sometimes I Feel Like a Motherless Child
6. A Rainha da Noite – (I Can´t Get No) Satisfaction
7. Kiss
8. A Lua é um Balão – Moon is Made of Gold
9. Mercedes Benz
10. Down em Mim
11. Voz de Mulher – Fascinação

Participação especial: Cássia Eller

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CVL

César Guerra-Peixe (1914-1993) – Principais obras sinfônicas [link atualizado 2017

Aqui um superpost “pague um e leve quatro”, para vocês aproveitarem o weekend inteiro e eu pegar mais umas duas ou três semanas de auto-licença.

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Guerra Peixe, que assinava o nome com um hífen que não havia em seus documentos oficiais, foi um violinista filho de portugueses nascido em Petrópolis que passou os primeiro anos de carreira tocando em orquestras de rádio e de bailes e fazendo arranjos para elas, no Rio de Janeiro.

Participou do Grupo Música Viva, surgido na década de 40 em torno de [Hans-Joachim] Koellreuter (pra quem ainda não ouviu falar do alemão, trata-se do introdutor do dodecafonismo no Brasil), ao lado de Cláudio Santoro, Edino Krieger e Eunice Catunda, mas – assim como Santoro e Krieger – deu tchau pro papo alienante do alemão e se deixa tomar pela leitura de Mário de Andrade.

Tanto é verdade, que Guerra-Peixe destruiu algumas obras dodecafônicas e catalogou as outras à parte, como um index.

O Guerra (alcunha para os amigos) recusou convites de Copland para morar nos EUA e de Hermann Scherchen para rumar para a Suíça, preferindo reger a orquestra da Rádio Jornal do Commércio de Pernambuco. Neste Estado iniciou suas informais pesquisas de campo a fim de se aprofundar na música folclórica, continuadas no litoral paulista na década de 50.

Sua estadia no Recife, de 1949 a 1952, reforçou sua inclinação nacionalista musical e o fez desferir ironias corrosivas a Koellreuter, antes e depois da tumultuosa querela com Camargo Guarnieri, pela Carta Aberta de 1950.

Em Pernambuco, Guerra-Peixe formou um círculo de aplicados alunos que iria render frutos anos mais tarde: Jarbas Maciel e Clóvis Pereira, expoentes da composição armorial (vide futuro post sobre a música armorial) e os únicos vivos do grupo, Sivuca (se o nome do sanfoneiro paraibano causar espanto, pois bem: ele sabia teoria musical muito bem) e Capiba, o maior compositor de frevos de Pernambuco.

Na década de 60, passa para sua fase universalista – ainda de orientação realista-comunista, mas menos marcada pelos ritmos nacionais, e com pontuais recaídas atonais – sempre ganhando a vida com arranjos para filmes e para músicos populares; é dele o famoso arranjo daquela marchinha futebolística “Noventa milhões em ação…”. Nas décadas seguintes, deu aulas de composição na Escola Villa-Lobos, no Rio, bem como para alunos particulares e na Universidade Federal de Minas Gerais (anos 80).

Como este resumo sobre Guerra-Peixe está mais para enciclopédia estudantil, procure por further information na Wikipédia.

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Aqui seguem as cinco principais obras sinfônicas do compositor, quatro das quais, de caráter programático e ligadas a símbolos da história e das artes brasileiras.

Museu da Inconfidência é a melhor, mais gravada e mais popular de todas elas – principalmente pelo segundo movimento, Cadeira de arruar – e a qual vocês devem ouvir primeiro, para ter uma boa impressão do Guerra. No próprio ano de estréia da suíte, 1972, ela foi gravada pela Sinfônica Brasileira, sob a batuta de Karabtchevsky, num vinil da Philips, junto com o Choros n° 6 do Villa e Mosaico, de Marlos Nobre.

O curto e solene movimento de abertura, que um compositor amigo meu e ex-aluno do Guerra me disse ser totalmente Paul Hindemith, reaparece no final do último movimento, um rondó que reveza um tema heróico, referente aos tempos de glória dos reinos africanos de onde saíram os escravos brasileiros, e um lamentoso jongo (ritmo precursor do samba) cantado pelo fagote, emulando um canção para distrair o trabalho e para amenizar a saudade que o escravo sentia de sua terra.

O segundo movimento resgata a atmosfera zombeteira dos escravos que caçoavam do senhor deles, sem este saber, enquanto levavam-no na cadeira de arruar (de andar pela rua) para ver as festividades profanas. O terceiro movimento, misterioso e triste, evoca o luto pelos que morreram nas manifestações de 1792, o qual se sente ao se quedar ante o panteão do museu ouropretano.

A retirada da Laguna (1971), a obra mais extensa do Guerra, foi baseada no livro de Visconde de Taunay (escritor, militar, historiador, político e também compositor, tendo apreço por Leopoldo Miguez e Carlos Gomes, e a quem meus colegas do tempo de escola chamavam de Visconde do Tonel), que por sua vez relata um dos episódios mais desastrados [e desastrosos] das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai.

Este registro tem valor por trazer o próprio compositor como regente. Pertence a uma série lançada pela Funarte, primeiro em vinil depois em CD, na qual os autores regiam suas obras. Apesar de bem orquestrada e de bom apelo cinematográfico, a suíte é meio naïf, como a Sinfonia Brasília. É uma obra que valeria uma nova gravação, com uma grande orquestra e um bom maestro, para fazê-la render melhor.

Tributo a Portinari (1991) foi a última grande criação de Guerra-Peixe, escrita enquanto ele usufruía de uma bolsa da Fundação Vitae. A orquestração belipisciana continua pragmática e indefectível, disposta à la Beethoven mas tratada à la Copland, vinte anos depois da Retirada, do Museu e do Concertino. Podem observar que, independente da linha estética seguida, seus alunos – como Ernani Aguiar e Guilherme Bauer – a adotaram, devido sobretudo à economia (facilita a contratação de músicos).

Cordas sem divisi, madeiras aos pares, nunca com clarone ou contrafagote, sem recorrer ao piano e à harpa, raramente solicitando a celesta, usando dois ou três trompetes, quatro trompas e dois ou três trombones, dispensando por vezes à tuba, utilizando no máximo três percussionistas e reservando ostinati únicos aos tímpanos. E nunca repetindo uma seção anterior da peça sem modificá-la minimamente: A voltará como A’ (A linha), não como A.

Quatro quadros do mais célebre pintor que tivemos no Brasil serviram de base para a obra: Família de Emigrantes (na verdade, Retirantes), Espantalho, Enterro na rede e Bumba-meu-boi. Acontece que não existe somente uma tela que equivalha à cada título – pode fazer o teste no site da Fundação Portinari. E sobre cada movimento desse “Quadros de uma exposição” brasileiro (se bem que pela ausência de um tema ao estilo do Promenade, tal título cabe melhor ao “Museu”, pela sua “Entrada”) teria não sei quantas linhas a dizer; vamos adiante, que é melhor.

Quando da inauguração de Brasília, abriu-se um concurso para premiar uma sinfonia que tivesse a cidade como tema. Camargo Guarnieri tava escrevendo a dele, mas foi chamado para integrar o júri e arquivou a idéia até estrear sua Sinfonia n° 4 (1963). JK tinha encomendado a Tom e Vinícius tal sinfonia programática, mas por contratempos diversos a Sinfonia da Alvorada (1960) só foi ouvida em 1966 (e pela segunda vez vinte anos depois), uma verdadeira porcaria que vai ficar aqui mofando na minha discoteca.

Por não sei que cargas d’água, não se concedeu o primeiro lugar no referido concurso e o segundo foi dividido entre Guerra-Peixe, com a Sinfonia n° 2 (1960), Cláudio Santoro e José Guerra Vicente. É a obra mais ampla da fase nacionalista do Guerra, já adentrando na universalista; não vejo muita coisa de especial nela, exceto pelas palavras de JK no último movimento, no mais parafraseador estilo “Um retrato de Lincoln”, de Copland.

Por fim, o Concertino para violino e orquestra de câmara (1972), atendeu a um pedido de Cussy de Almeida, violinista e então maestro da Orquestra Armorial. No entanto, Cussy nunca executou a obra porque Guerra-Peixe confiou a première a Stanislaw Smilgin. O Concertino nem é a cara da Orquestra Armorial; se ele fosse escrito na fase nacionalista do Guerra, aí sim – mas o Movimento Armorial nasceu em 1970.

A presente gravação estava nos meus arquivos em mp3 que baixei da net. O LP de onde saiu o Concertino contém três peças breves para piano – as peças para violão e Espaços sonoros, o dono do disco juntou ao criar um CD caseiro. Decidi não excluir essas partituras não sinfônicas pela raridade delas.

Excelente semana.

***

I. Museu da Inconfidência (Impressões de uma visitação em 1966)
1. Entrada (Andante)
2. Cadeira de arruar (Allegro moderato)
3. Panteão dos inconfidentes (Larghetto)
4. Restos de um reinado negro (Vivace)
Orquestra do 18° Festival de Música de Londrina, regida por Norton Morozowicz

 

II. A retirada da Laguna
1. Partida para os campos
2. Pantanais
3. Alegria em Nioaque
4. Laguna
5. Uma noite calma
6. Incêndio – depois, o temporal
7. Esperança no Campo das Cruzes
8. A morte do Guia Lopes
9. Regresso pacífico
10. Canção à fraternidade universal
Orquestra Sinfônica da Rádio MEC, regida por Guerra-Peixe

 

IIIa. Tributo a Portinari
1 – Família de Emigrantes
2 – Espantalho
3 – Enterro na Rede
4 – Bumba-Meu-Boi
IIIb. Sinfonia n° 2 – Brasília
5 – Allegro ma non troppo: O candango em sua terra – A caminho do Planalto – Recordações que o acompanham – Chegada alegre
5 – Presto: Trabalho
7 – Andante: Elegia para o ausente
8 – Allegretto con moto: Manhã de Domingo – Allegretto: Tarde infantil – Andante: Desce a noite – Presto: Volta ao trabalho – Moderato: Inauguração da cidade – Allegro ma non troppo: Apoteose
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Coral da OSPA, regidos por Ernani Aguiar, Narrador: João Antonio Lopes Garcia
Texto: Juscelino Kubitschek, trecho do discurso da inauguração de Brasília

Concertino para violino e orquestra de câmara
1. I. Allegro comodo
2. II. Andantino
3. III. Allegro un poco vivo
Orquestra não identificada, Regência: Guerra-Peixe, Violino: Stanislaw Smilgin

Peça p’ra dois minutos
4. Peça p’ra dois minutos
Suíte n° 2 – Nordestina
5. I. Violeiros
6. II. Caboclinhos
7. III. Pedinte
8. IV. Polca
9. V. Frevo
Miniaturas n° 4
10. Miniaturas n° 4 – Allegretto – Adágio – Presto
Sônia Maria Vieira, piano

Lúdicas
11. Lúdicas n° 5
12. Lúdicas n° 10
13. Prelúdio n° 1
14. Prelúdio n° 2
15. Prelúdio n° 5
16. Peixinhos da Guiné
Sebastião Tapajós, violão

Espaços sonoros
17. Estático
18. Dinâmico
Trompa: Francisco de Assis Silva, Piano: Sarah Higino

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CVL
Repostado por Bisnaga

Darius Milhaud (1892 -1974): La création du monde, Le boeuf sur le toit

Conheço e gosto de Jazz. Não tanto quanto em outros tempos. Pois apreciava o gênero nos bares, com amigos e boas mulheres, com muita bebida e fumaça…Depois que esta bendita fase passou, sentar numa poltrona de vovô, com suco de laranja e canudo, está cada vez menos atraente, principalmente para a audição do bebop e suas ramificações. No entanto ainda aprecio muito o Jazz um pouco menos requintado, aquele anterior a formação camerística, das grandes orquestras e de maior alegria.

Dessa fase interessante do Jazz, o compositor francês Milhaud, nos anos de 1920, encontrou nos clubs noturnos do Harlem fonte riquíssima para sua mais importante e celebrada composição, La création de monde. Esta obra vai além do Ebony Concerto de Stravinsky na mistura desses dois mundos. Pois na obra pós-classicista do russo, só em poucos momentos, a música parece tangenciar o Jazz, já na Création do francês há núcleos de puro Jazz e alegria, como se a orquestra clássica fosse invadida por um grupo de arruaceiros que dão sentido a uma das mais tristes e tocantes aberturas da música clássica.

Depois dessa fascinante obra, encontramos Milhaud respirando o Brasil no seu Le bouef sur le toit. Essa música brasileiríssima dos maxixes do começo de século XX é um rondó dividido em 12 seções, cujos temas serão facilmente reconhecidos pelos ouvintes de outras épocas, de João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense,…Aliás quanto perdemos com a “sofisticação” da música popular brasileira. Nos 50 anos de Bossa Nova, o melhor resumo que encontrei para definir o que ela significa foi enviado por um primo por e-mail. Vejam se há melhor resumo da MPB do que esse ?

A gravação é excepcional (melhor que Bernstein) e as duas outras obras do disco que não comentei são também dignas de estarem aqui.

1. La Creation du monde, Op. 81
2. Le Boeuf sur le toit, Op. 58
3 – 10. Suite provencale, Op. 152b
11 – 18. L’Homme et son desir, Op. 48

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CDF

Jorge Antunes (1942) – ¡No se mata la Justicia!

Dom Óscar Arnulfo Romero Galdámez (1917-1980) tornou-se arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador, em 1977. Nomeado por Roma por seu perfil conservador, Monsenhor Romero, como ficou conhecido, passou a conviver mais de perto com os fiéis e a observar pela ótica deles os abusos do exército salvadorenho, que temia um golpe de estado por parte de guerrilhas esquerdistas.

Com as incômodas denúncias – em suas homilias, à imprensa e a quem quer que fosse – de violação aos direitos humanos, incluindo assassinatos de clérigos, começou a receber ameaças de morte. Em 24 de março de 1980, “finalmente” (pro conforto dos militares), Monsenhor Romero tomou um tiro mortal no coração, de um milico anônimo, durante uma missa numa capela perto da Catedral de San Salvador, e virou mártir de imediato.

A notícia da morte de Monsenhor Romero atraiu milhares de pessoas a seu velório, para insatisfação do exército salvadorenho. Os militares dispersaram a multidão ao custo de 42 outras mortes. Dali, deflagrou-se oficialmente a Guerra Civil de El Salvador, que durou até 1992. Até hoje, o crime não foi solucionado, graças às oligarquias que ainda comandam o país, mas a peregrinação ao túmulo de Monsenhor Romero desde então tem sido a maior da América Central.

***

Jorge Antunes – carioca radicado em Brasília, ativista de esquerda, autor do hino do PSol e de um Hino Nacional Alternativo, professor da UNB e um dos mais representativos (e polêmicos) expoentes da vanguarda brasileira – ganhou um prêmio da Sociedade de Música Contemporânea Israelense e viajou para a Terra Santa em 1980, onde passou quatro meses (em Jerusalém e num kibutz), desenvolvendo os rascunhos do tributo que estava concebendo ao arcebispo assassinado.

A referência à cor violeta advém da teoria cromofonética de Jorge Antunes, que relaciona uma cor do espectro solar a cada uma das notas diatônicas. De acordo com essa teoria o violeta equivale à nota mi, que predomina também em Ritual Violeta.

A Elegia violeta para Monsenhor Romero é uma das peças mais impactantes da música clássica nacional. Esta gravação péssima, que me parece ser a única, e o coral não tão bem ensaiado não reduzem a força da obra, desde a simulação do peso do tiro mortal em Monsenhor Romero, no acorde inicial do piano, e os gritos de desespero simulado nas cordas, até a última frase que o coral canta (a do título do CD).

“Não se mata a Justiça!” foi a resposta que o arcebispo deu a um repórter da TV Globo que o entrevistou em San Salvador, o qual perguntou-lhe se não tinha medo de morrer devido às denúncias contundentes que fazia.

***

Falo en passant somente da obra mais importante – e, de longe, a mais atrativa – desse CD de Jorge Antunes; para saber sobre as demais, dêem uma olhada no encarte. Muito engenhosa, para se mencionar, é a Cromorfonética, que você pode confundir com uma obra eletroacústica, mas, com uma segunda ouvida, perceberá que é para coro misto.

Estou aqui em Brasília, tentando achar o Café do Rato Preto através do endereço que meu gerente me deu, já que nunca estive na capital federal:

Quadra SHIS Trecho 50 Lote 200

Acontece que o Google Earth acusou “galáxia não localizada” e não sei o que fazer no momento. Acho que daqui mesmo do aeroporto JK vou-me embora pra… Pra não sei onde… Talvez Santa Catarina, talvez Recife, talvez Rio, talvez Buenos Aires…

***

1. Elegia violeta para Monsenhor Romero (1980), para dois solistas infantis, coro infantil, piano obligato e orquestra de câmara

Coro Infantil do Kibutz Hatzerim e do Conservatório de Música de Beer-Sheva
Solistas: Hagit Shapira e Ruth Halifa
Piano obligato: Mariuga Lisbôa Antunes
The Israel Sinfonietta
Regente: Jorge Antunes

2. Cromorfonética (1969), para coro a capella

Coro Pro-Arte Ensemble Graz
Regente: Karl Emst Hofmann

3. Proudhonia (1972), para coro misto e fita magnética

Coro: Les Douze Solistes des Choeurs de l’ORTF
Regente: Marcel Couraud
Gravação: 16/04/1973, no Festival de La Rochelle 1973 – Rencontres Internationales d’Art Contemporain Salle Oratoire, La Rochelle, France

Rimbaudiannisia MCMXCV (1994), para jovens cantores solistas, coro infanto-juvenil, orquestra de câmara, luzes e máscaras.
4. Rimbaudiannisia MCMXCV – I. Expiation pour Cumiqoh
5. Rimbaudiannisia MCMXCV – II. Voyelles
6. Rimbaudiannisia MCMXCV – III. Ditirambus

Choeur La Maîtrise de Radio France  Orchestre Philharmonique de Radio France  Regente: Arturo Tamayo

7. Ritual violeta (1999), para saxofone tenor e sons eletrônicos

Sax: Daniel Kientzy

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CVL

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Lieder

Caros amigos, confesso minha total displicência com vocês. Tenho tanta coisa para oferecer, mas como o tempo parece favorecer assuntos burocráticos e sem importância, sucumbo ao silêncio. Mas o fã das minhas intervenções sabe que a espera é sempre recompensadora. Não direi o que pretendo colocar no futuro, mas a cipoada de discos raros que pretendo postar é absurdamente empolgante e digna deste digníssimo site. Claro que não esquecerei minhas dívidas com os senhores, os outros discos da coleção Webern vão sair em breve. Na verdade sigo um pouco a política do meu irmão mais velho, gosto de colocar aquilo que ouço no momento, e para Webern, a audição deve ser curtida em espaços longos.

Mas o belo disco de canções de Webern, postado anteriormente, motivou a audição de outro grande disco com canções de Schoenberg. Este precioso disco que vos trago é uma das pérolas de minha coleção. Canções tão belas e românticas, que podem ser ouvidas com suas amadas antes do ato sexual. Ao contrário de Webern, Schoenberg não esperou atingir sua maturidade para publicar seu opus 1. O mestre percebeu que aquelas canções, mesmo bem pouco originais, mereceriam sua assinatura final. Fez certo. Os ciclos de canções op.1, op.2, op.3 e op.6 são inesquecíveis e ganham uma ótima interpretação do grande pianista Glenn Gould com cantores desconhecidos. Ressalto que a parte dedicada ao pianista tem igual importância ao dos cantores. Aliás, a fascinação de Gould por estas jóias pode ser sentida em seus gemidos, muito bem capitados pelos microfones.

Das Buch der hängenden Gärten” op.15 é a principal obra do disco. São 15 canções compostas na fase decisiva na história da música, entre 1908 e 1909. Aqui já temos um outro compositor, menos espontâneo, contudo harmonicamente superior ao dos outros ciclos. Peças de um grande mestre que ainda não está seguro no caminho que vai seguir. Terminam de maneira evasiva e conflituosa, mas apontando para o inevitável fim da tonalidade. Glenn Gould é absolutamente perfeito nessas obras, e os cantores são bem competentes.

Disco 1:

1 – 2. Zwei Gesänge, Op. 1
3 – 6. Vier Lieder, Op. 2
7 – 21. “Das Buch der hängenden Gärten” op. 15

Disco 2:

1 – 6. Sechs Lieder, Op. 3
7 – 8. Zwei Balladen, Op. 12
9 – 11. Drei Lieder, Op. 48
12 – 13. Zwei Lieder, Op. 14
14 – 15. Zwei Lieder, Op. post.
16 – 23. Acht Lieder, Op. 6

CDF Bach

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Padre Penalva (1924-2002) – Ágape II e Drummondianas

Caminhando aqui em Curitiba, soube através de um amigo que, bem pertinho da Catedral e da filial do Café do Rato Preto, havia um sebo superlegal. Lá, achei essa raridade do Padre [José de Almeida] Penalva, natural de Campinas, mas radicado na capital paranaense. Pensei que, apesar de contemporâneo, fosse escutar algo à la Padre José Maurício, já que ambos foram sacerdotes (são aquelas imagens que formamos para preencher nosso vazio de informações e que ao virem à realidade se mostram equivocadas).

Que surpresa ao ouvir o Ágape II, principalmente pelo turbulento movimento final e pelo recitante, que intercala orações em grego inteligível ao texto cantado em latim. Depois vi que no encarte do CD que o compositor dizia que essa era a peça que melhor o retratava. Lendo-se as palavras do próprio Padre Penalva (no programa do I Festival Penalva, em 2003), percebe-se que ele não tinha a menor cara de conservador, pelo menos na estética musical:

“Passei pela Vanguarda. Vivi e me decidi por ela. Depois, me apaixonei pela Pós-Vanguarda, que significou uma revolução contra o exclusivismo da Vanguarda. Hoje estamos num paraíso: cada um pode compor da maneira que quiser: pode-se escrever um acorde perfeito ao lado de um cluster, empregar melodias folclóricas dentro de um tecido atonal! Durante muito tempo escrevi música não figurativa que nem eu mesmo entendia, uma música hermética. Hoje prefiro uma música que comunique, que atinja. Acho que a música tem que passar emoção. Eu mesmo sou assim: eu preciso da emoção, eu sinto emoção! Sempre usei todos os meios novos não por eles mesmos, mas subjugando-os à idéia, ao texto, à mensagem. As novas técnicas servem para aumentar a palheta, os recursos usados em direção a este objetivo maior que é a idéia”.
(José Penalva, 1993)

Padre Penalva pertenceu a uma linha de clérigos brasileiros ligados à composição erudita e que foram também membros da Academia Brasileira de Música, linha que inclui o pernambucano Padre Jaime Diniz (antecessor de Penalva na Cadeira 27), o Frei Pedro Sinzig, austríaco naturalizado brasileiro, e o Padre João Batista Lehmann, alemão (sucessor de Sinzig na Cadeira 05).

Por sinal, vocês sabiam da existência da ABM? Pois é, ela (fundada por meu pai em 1945) nunca cogitou a admissão de Roberto Marinho em suas fileiras, daí a falta de mídia da qual não sofre sua correlata na área das Letras. Por sinal, apesar de ela não ser de música clássica ou popular, nominalmente, só entram maestros, compositores, intérpretes e musicólogos de extensa trajetória, ou seja, é preciso no mínimo ser musicalmente alfabetizado. Uma vez perdida, entra um crítico (Luiz Paulo Horta, recentemente admitido na ABL, é membro da ABM há anos e passou a ser a primeira pessoa a integrar ambas as instituições).

As seis Drummondianas, a outra obra original de Penalva no CD, são belas canções para coro feminino com piano ou coro misto à capela. Dentre as cantadas por coro misto, Sub usa um recurso de estilo ouvido de Cromorfonética de Jorge Antunes, chiados diversos imitando um fundo acusmático sobre o qual pairam as vozes principais, e Sinal de apito, peça de música-teatro, segue a trilha das peças corais de Gilberto Mendes.

No mais, as outras peças deste CD do competente Madrigal Vocale não são muito inspiradas. Le regard de Dieu é uma adaptação coral de “um tema do terceiro movimento do segundo concerto para piano” de Scriabin com texto de Teilhard de Chardin. O resto são arranjos de canções folclóricas e populares – na Mini-suíte Arlequim, uma releitura de três clássicos da MPB, tem até uma descaracterização total de Menina, de Paulinho Nogueira. Dá pra passar sem essa.

O texto abaixo também foi extraído do programa do I Festival Penalva.

“José de Almeida Penalva nasceu em Campinas, São Paulo, a 15 de maio de 1924 e faleceu em Curitiba, Paraná, a 20 de outubro de 2002. Sacerdote, compositor, professor, musicólogo, escritor, foi, para todos os que tivemos o privilégio de conhecê-lo, um exemplo de vitalidade e vigor na sua busca por abrir novos caminhos para os seus contemporâneos em direção a uma música sem fronteiras ou preconceitos.

“Na sua grandeza tanto na música quanto na sua humanidade, deixou-nos um modelo de seriedade, sinceridade e simplicidade. Foi um dos mais importantes compositores brasileiros da segunda metade do século XX. Sua música apresenta uma singularidade especial, principalmente quanto à exploração das linguagens (antiga e nova, sacra e secular) e à densidade e à intensidade expressivas.

“Construiu um discurso próprio e inserido no seu tempo, em que comenta e compreende a realidade humana no seu lirismo, na sua leveza e, ao mesmo tempo, no seu drama e na sua busca pela verdade. Autor de uma obra extremamente expressiva, compôs desde música de câmara e peças solísticas para piano até obras orquestrais e corais.

“Usa os mais diversos idiomas contemporâneos, como a música tonal orgânica e inorgânica, dodecafônica, atonal, tonal/modal livre e matérica, que combina a elementos da música brasileira e de épocas passadas, como o canto gregoriano, a polifonia renascentista, o romantismo de Brahms, a música de Schönberg e Webern. Sua produção mais recente integra, ainda, elementos da música de Ligeti, Penderecki e, principalmente, o ecletismo de Schnittke.

Dentro de um discurso que o próprio Penalva classifica de pósvanguardista, faz uma releitura das formas e das linguagens do passado modificando-as, metamorfoseando-as e combinando-as com técnicas da vanguarda e da pós-vanguarda de maneira livre, individual e atual. Sua obra demonstra, de um lado, um compositor preocupado com o lado reflexivo e filosófico da criação; de outro, um músico de humor refinado e de profunda humanidade”.

Elisabeth Seraphim Prosser
Comissão Organizadora do I Festival Penalva

Ágape II

01. Metanóia
02. Doxa
03. Páter
04. Eirene

05. Le regard de Dieu
Scriábin – Transcrição para coro de Padre Penalva – Texto de T. de Chardin

Drummondianas

06. Hotel Toffolo
07. A qualquer tempo
08. A mulinha
09. Sub
10. Sinal de apito
11. Quero me casar

Arranjos de Padre Penalva

12. Casinha pequenina (Tradicional)
13. Cantiga por Luciana (Paulo Tapajós e Edmundo Souto)
14. Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro)

15. Mini-suíte Mania das pessoas

16. Mini-suíte Arlequim

Madrigal Vocale
Regência: Bruno Spadoni

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CVL

Silvestre Revueltas (1899 – 1940) – La noche de los mayas

O nacionalismo trouxe resultados interessantes para música. Poucas notas e já identificamos o país de origem da composição. No período romântico essa tarefa era bem mais difícil, pois todos os compositores de segundo e terceiro time escreviam como Schumann ou Brahms (no pós-modernismo vivemos a mesma coisa). Claro que a música folclórica sempre foi uma fonte constante e importante para os grandes compositores, e às vezes fica difícil lembrar um grande nome que não tivesse raiz profunda com o seu país. Alguns observadores mais radicais reforçam que o compositor que esquece as tradições populares e desconhece sua música folclórica não teria base para construir obra de valor. No entanto, quando observamos a carreira de um grande compositor, a música folclórica era apenas mais uma ferramenta, proposital ou acidental, para construção de uma obra mais complexa e estruturada, o objetivo era outro. Diferente dos nacionalistas que tinham como meta exaltar as riquezas melódicas e rítmicas de seu país. Exemplos foram muitos: Villa-lobos no Brasil, Copland no Estados Unidos, o jovem Stravinsky na Rússia, Manuel de Falla na Espanha. Mas acho que nenhum deles foi tão fervoroso nacionalista quanto o mexicano Silvestre Revueltas.

Silvestre Revueltas teve uma carreira curta. Era pobre e alcoólatra. Morreu com apenas 41 anos, e diz a lenda, com uma garrafa na mão. Foi um personagem difícil, passou um ano trabalhando na Espanha, durante a guerra civil. Prestou uma homenagem a Federico Garcia Lorca com uma obra de inusitado contraste (primeira faixa do disco). Sua música, como estrutura técnica, deve muito a Stravinsky; mas como inspiração, deve tudo ao coração do México. Quem nunca pisou no México, mas ouviu Sensemaya (1938) pode dizer que conhece, sim, um pouco deste país. A obra é exuberante e colorida, traz a natureza do povo mexicano, e de um México ainda povoado pelos Maias. A obra mais importante é La noche de los mayas (1939), conhecida como a Sagração da Primavera mexicana. Foi inicialmente pretendida como trilha de filme, mas ganhou vida própria logo cedo. A obra é extremamente empolgante, assim como todo o disco. Uma bela viagem na geografia e na história do México.

1. Homenaje a Federico Garcia Lorca
2. Sensemaya
Performed by New Philharmonia Orchestra
Conducted by Eduardo Mata

3. Ocho X Radio
4. Toccata
5. Alcancias: Allegro
6. Alcancias: Andantino
7. Alcancias: Allegro vivo
8. Planos
Performed by London Sinfonietta
Conducted by David Atherton

9. La Noche de los Mayas: I. La noche de los Mayas
10. La Noche de los Mayas: II. La noche de Jaranas
11. La Noche de los Mayas: III. La noche de Yucatan
12. La Noche de los Mayas: IV. La noche de encantamiento
Performed by Jalapa Symphony Orchestra
Conducted by Herrera de la Fuente

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Leonard Bernstein Discusses and Conducts XX-Century Music

Leonard Bernstein foi um mestre em quase tudo. Homem de vastíssima cultura musical, músico com repertório extenso e memorável. Mas um dos pontos que merecem destaque foi sua habilidade como divulgador da música clássica. Há uma série famosa feita para televisão nos anos 1960, os concertos para juventude, que são muito prazerosos de ver link. É impressionante contemplar o Carnegie Hall lotado de crianças e Bernstein dando um show como professor, aulas com exemplos brilhantes e cativantes. Nunca caindo na simplificação, ou desmerecendo a inteligência de seus pequenos ouvintes.

Creio que muito de nós aqui no Brasil nunca tiveram a chance de encontrar um personagem parecido com o Bernstein na nossa juventude, alguém que apresentasse o vasto mundo musical, sem doutrinação do que é certo ou errado. Gostamos de música clássica (ou Jazz) simplesmente por nossos próprios méritos, e isso é louvável, principalmente num país que preza a mediocridade. No entanto, ainda pagamos um preço alto por isso. Não gostaria de colocar como exemplo, a obra 4´33´´ de Cage. Achar ridícula uma peça é um julgamento que deve caber ao próprio ouvinte mesmo. Devemos realmente conviver com este tipo de diversidade de opinião. Mas é importante, antes de tudo, conhecer a obra em profundidade, ou mesmo ler a respeito antes de ouvi-la, e só depois podemos condená-la ao nosso limbo musical ou, como costumo fazer, dá uma outra oportunidade no futuro.

Como a música que defendo é mesmo de difícil digestão, achei necessário pedir a ajuda do Leonard Bernstein. Esse disco-aula realizado também nos anos 1960, Bernstein se desdobra para divulgar a famigerada música que se fazia em seu tempo. Apresenta exemplos de obras bem importantes e complexas para uma platéia adulta e inquieta (aplausos e vaias no fim de cada obra). Percebemos que aquele registro foi feito num momento decisivo e tenso para história da música, uma crise fascinante tratada com brilhantismo por Bernstein. Comentários muito interessantes sobre o novo espectro que o mundo musical vislumbrava. Mesmo sendo um registro feito há mais de 40 anos atrás, é atualíssimo para o ouvinte brasileiro.

Obras de Xenakis, Boulez e Cage são analisadas por Bernstein antes de cada perfomance, num inglês fácil de entender.

A obra que abre o disco é de Copland e foi feito para uma audiência mais jovem, apenas um pequeno refresco.

Copland – An Outdoor Overture
1. Introduction by Bernstein
2. Perfomance
3. Post- perfomance

Xenakis – Pithoprakta
4. Introduction by Bernstein
5. Perfomance
6. Post- perfomance

Henry Brant – Antiphony One
7. Introduction by Bernstein
8. Perfomance

Boulez – Improvisation sur Mallarmé I
9. Introduction by Bernstein
10. Perfomance

Cage – Atlas Eclipticalis
11. Introduction by Bernstein
12. Perfomance

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BAIXE AQUI (Parte 2) – DOWNLOAD HERE

John Cage (1912 -1992) – 4´33´´

Os homens são mesmos fascinantes e engraçados. Afirmam-se como indivíduos, mas inevitavelmente são destinados a serem peças de encaixe do muro histórico. 4´33´´ é uma obra inevitável, mesmo se Cage não tivesse existido. A música sempre levou a busca dos extremos, e o fim acabaria sendo esse: 4 minutos e 33 segundos nos quais os músicos param. E a música, também pára? Segundo Cage, não. A música criada pelo evento ou constrangimento (sussuros, xingamentos, ruídos, ou o próprio silêncio [parte importante da música]) seria nova a cada apresentação desta obra. Assim como já vinha ocorrendo com suas obras aleatórias, 4´33´´ abre possibilidades interessantes e inesperadas.

Nesta rara gravação podemos ouvir 4´33´´ sendo interpretada por um grupo excelente de percussionistas, que parecem ter gravado numa bela manhã de primavera. É possível ver duas outras versões desta mesma peça no youtube, uma para grande orquestra link e outra para piano link. Outra obra de Cage que merece destaque é Amores, música para piano preparado e percussão. Muito empolgante. Participação do pianista Zoltán Kocsis, cujo piano produz um som realmente estranho e percussivo. O disco termina com o ótimo Third Construction de Cage para 4 percussionistas.

Ah, já ia esquecendo, aqui você encontra uma das melhores interpretações de Ionisation de Varèse.

1. Ionisation, for 13 percussion instruments (Edgard Varese)
2. Toccata for orchestra (Carlos Chavez)
3. 4’33” (John Cage)
4. Double Music for percussion quartet (John Cage, Lou Harrison)
5. Amores, for prepared piano & 3 percussion: I – Solo for Piano
6. II – Trio
7. III – Trio
8. IV – Solo for Piano
9. Third Construction, for 4 percussionists (John Cage)

Amadinda Percussion Group

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Karlheinz Stockhausen (1928-2007) – Helikopter Quartett (1993)

Digamos que no programa de hoje à noite será apresentado, após um dos últimos quartetos de Haydn, o quarteto de cordas de Stockhausen. Não se preocupe com o que vai ocorrer: provavelmente os músicos vão sair do teatro com suas partituras, e cada um deles terá a sua disposição um helicóptero com um piloto. Pois é, eles devem tocar seus instrumentos em pleno vôo. Haverá um operador de som no teatro que deve mixar o som vindo da cabine de cada helicóptero, e tudo deve ser visto através de quatro telões. Os helicópteros devem fazer um vôo circular, cujo raio é de aproximadamente 6 km. Em média, toda a obra ou o vôo leva um pouco mais de meia hora.

Se você acha que é improvável ver esta peça sendo apresentada na sua cidade, saiba que esta belíssima experiência foi registrada num recente DVD da Euroarts. Ótimo vídeo link

Performer: Arcadian Academy, Karlheinz Stockhausen, Arditti String Quartet

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Ernest Bloch (1880 -1959): Quartetos de Cordas (Griller String Quartet)

Ernest Bloch (1880 -1959): Quartetos de Cordas (Griller String Quartet)

Foi através de algumas críticas entusiasmadas sobre este disco que entrei em contato pela primeira vez com a música de Bloch. O que mais me chamou a atenção foi o fato do compositor ter vivido as duas Grandes Guerras e escrito suas impressões através de dois quartetos de cordas: o primeiro quarteto escrito em 1915-16 e o segundo em 1945-46. O Quarteto de Cordas n.1 tem quase uma hora de duração, e às vezes parece atingir aquela linha perigosa, onde as ideias caminham por inércia. Mas a impressão é logo sobrepujada pela honestidade e virtuosismo de sua escrita. Em muitos momentos esse quarteto antecipa a música bélica de Shostakovich. Já o quarteto n.2 é mais conciso e mais bem estruturado; sem, contudo, perder as qualidades do primeiro quarteto: vigor e espontaneidade. Um crítico mais exagerado colocou esta obra ao lado dos últimos quartetos de Beethoven.

Nos quartetos n.3 e n.4 o peso das duas Grandes Guerras não estão mais presentes. As influências judaicas também foram bastante diminuídas (lembro aqui que Ernest Bloch foi um compositor judeu bastante ativo, escreveu peças em prol da causa judaica como a Suíte Hebraica, Baal Shem, e Israel Symphony). Nestes dois quartetos temos música pela música, ou usando aquele termo usual e duvidoso: música absoluta. Uso esporádico do dodecafonismo com elementos bartokianos.

Infelizmente estes quartetos foram pouco gravados e executados, acho que o quarteto n.1 só existe neste registro. A compensação é que o Griller String Quartet interpreta com incrível dedicação e força, deixando quase nada a ser desejado, apenas uma melhor qualidade sonora (gravação feita em 1954). Mesmo assim, nesse disco é possível perceber a importância dessas obras.

Ernest Bloch (1880 -1959): Quartetos de Cordas (Griller String Quartet)

Disco: 1
1. String Quartet n.1: Andante moderato
2. 2. Allegro frenetico
3. 3. Andante molto moderato (Pastorale)
4. 4. Finale (Vivace)

5. String Quartet n.3: Allegro deciso
6. 2. Adagio non troppo
7. 3. Allegro molto
8. 4. Allegro

Disco 2:
1. String Quartet n.2: Moderato
2. 2. Presto
3. 3. Andante
4. 4. Allegro molto

5. String Quartet n.4:Tranquillo – Allegro emergico – Tranquillo
6. 2. Andante
7. 3. Presto – Moderato – Presto
8. 4. Calmo – Allegro deciso – Calmo

Griller String Quartet

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Ernest Bloch antes de comprar a Bloch Editores

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Concerto para Violino

O concerto para violino de Schoenberg é uma das obras mais importantes da música e é um absurdo que seja tão desconhecida do público. Esta obra foi escrita logo após a chegada do compositor aos Estados Unidos, no começo dos anos 1930. O mestre deixou seu país devido ao delírio nazista, talvez por isso esta obra seja tão angustiada. Obra dificílima e totalmente dodecafônica. Mas quem seria louco pra dizer que este concerto é frio ou artificial? Se não me falha a memória a obra é retratada por Thomas Mann no seu famoso livro Doutor Fausto como obra de seu personagem principal, Adrian Leverkühn.

Mesmo assim, é raríssimo encontrar um disco com este concerto para violino. Só existem gravações relativamente antigas. Alguns dizem que pelo fato de exigir “seis dedos na mão esquerda”, o músico fica intimidado. Ora, só por isso? Bem, já que a maioria dos marmanjos treme ao desafio, só mesmo uma bela garota como Hilary Hahn para trazer esta obra-prima à tona.

A outra obra do disco é o já manjado concerto de Sibelius que, para ser sincero, ainda não ouvi. Na verdade, depois da gravação de Heifetz, não ouço esta peça com mais ninguém.

1. Violin Concerto, Op.36 – 1. Poco Allegro
2. Violin Concerto, Op.36 – 2. Andante grazioso
3. Violin Concerto, Op.36 – 3. Finale. Allegro
4. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 1. Allegro moderato
5. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 2. Adagio di molto
6. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 3. Allegro, ma non tanto

Violin: Hilary Hahn
Swedish RSO
Conductor Esa-Pekka Salonen

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Witold Lutoslawski (1913 – 1994): Concerto for Cello / Livre pour orchestre

Quando por muito tempo um nome de importância não surge, é inevitável perguntar se a arte dá sinais de seu fim. Claro que tal pensamento apocalíptico não soa bem na boca de um crítico pançudo, cuja carreira sempre se baseou no fatalismo das coisas. Quantos críticos em diferentes épocas esbravejaram este fim, mesmo diante de nomes como Stravinsky, Picasso ou Joyce? Mas quando, por algum tempo, nenhum nome vem à cabeça, alguém que balance as estruturas e que mostre uma nova direção, o ar se enche mesmo é de pessimismo.

Talvez o nome de Lutoslawski não esteja entre os grandes transformadores, pois o compositor polonês teve sempre sua música muito próxima, inicialmente, a Szymanowski e Bartok, e depois, à música mais avançada dos anos 50 e 60. Enfim, a originalidade não foi seu grande trunfo. Mas será que isso é motivo de pessimismo? Ser original é mesmo importante? Conhecendo bem a obra de Lutoslawski, acredito realmente que ele foi sim um grande mestre, pois ao contrário de alguns criadores revolucionários, sua música não é artificial, ela é absolutamente sincera mesmo em estruturas complexas como o atonalismo ou aleatoriedade.

O concerto para violoncelo dedicada a Rostropovich é daquelas obras nascidas para ficar. É tão dramaticamente estruturada como se fosse um concerto de Brahms. Lembro de Brahms, pois o compositor foi de certa maneira chamado de conservador (não por Schoenberg). Brahms não trouxe uma linguagem revolucionária, mas quem ousaria diminuir o valor de sua música por isso? Penso o mesmo do compositor polonês. Esta obra escrita no fim dos anos 1960 está ao lado de qualquer concerto já escrito para este instrumento. É mesmo uma obra-prima.

Outra fantástica obra neste disco é Livre pour orchestre que também, como o concerto, permite que os músicos usem a imaginação em certos momentos bem limitados, ou seja, aqui vemos uma forte presença de John Cage rondando sua obra. Mas a sonoridade de Lutoslawski é tão inconfundível quanto a de Brahms.

Novelettes para orquestra, escrita no fim dos anos 1970, é vista por alguns como um retrocesso. Lutoslawski tinha certos momentos de crise. Ficava em dúvida no caminho que deveria seguir. Essa obra fica justamente numa dessas fases de transição. Apesar de ser uma obra menor e menos avançada que as duas obras anteriores, ela tem momentos encantadores.

Chain 3 para orquestra foi escrita após esta crise. O resultado é absolutamente fantástico. Para o meu pobre conhecimento de música contemporânea, uma das últimas grandes obras escritas. Talvez os pessimistas possam ver finalmente o fim da jornada da música ocidental. Mas Chain 3 foi escrita em 1986. Bem, não faz tanto tempo assim.

1. Livre pour orchestre
2. Concerto for Cello and Orchestra
3. Novelette: Announcement
4. Novelette: First Event
5. Novelette: Second Event
6. Novelette: Third Event
7. Novelette: Conclusion
8. Chain No. 3

Performed by Katowice Polish Radio Orchestra & Chorus
cello: Andrzej Bauer
Conducted by Antoni Wit


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Morton Feldman (1926 – 1987): Piano and Orchestra; Flute and Orchestra; Oboe and Orchestra; Cello and Orchestra

É difícil definir a música de Morton Feldman. Mas se temos intimidade com pintura abstrata ou o teatro de Beckett, esta tarefa fica mais simples. A música de Feldman é o espaço pintado com sons, só que sem ritmo, melodia ou mesmo qualquer forma. A estrutura de Feldman é a não-estrutura. O risco é a monotonia e, mesmo para ouvintes calejados, é apenas essa sensação que parece existir. A música de Feldman não oferece pontos para nos apoiarmos, o ouvinte segue os sons com os mesmos olhos de quem segue um quadro de Pollock.

Esse disco oferece quatro obras importantes, todas elas escritas na década de 1970, época que Feldman já começava a encontrar seu próprio estilo. Apesar dos títulos das obras, todas elas são anti-concertos, pois nenhum dos solistas é mais importante que a orquestra, e nem há diálogo entre eles. A construção é aquela que já disse no início, a orquestra e o solista se completam na criação de um espaço sonoro, sem início, fim ou desenvolvimento. No entanto, extremamente cativante, pois dá ao ouvinte uma sensação de vagar em terreno misterioso e belíssimo. Não se enganem com a primeira impressão (como já aconteceu comigo), Morton Feldman foi um compositor dos grandes.

Disco: 1
1. Flute And Orchestra
2. Cello And Orchestra

Disco: 2
1. Oboe And Orchestra
2. Piano And Orchestra

Performed by Runkfunk-Sinfonieorchester Saarbrucken
Conducted by Hans Zender

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Schnittke (1934 – 1998) – Concerto Grosso No.1 – Quasi una Sonata – Moz-art à la Haydn – A Paganini

Por pouco deixei que minhas idéias sobre música moderna limitassem as minhas experiências sonoras. “Não entendo esta música”. Claro, um ouvinte sempre salvo pelo tom dominante; não poderia se sentir seguro quando esta luz era apagada. Mas a música de Schnittke, mesmo quando tonal, é escura, angustiosa e macabra. O ouvinte não terá conforto com esta música. Mas neste disco, além disso, temos o virtuosismo e o humor.

Com o concerto grosso n.1 de Schnittke (talvez sua obra mais importante) caímos na música pós-moderna (ou pós-tudo) que muitas vezes é chamada de poli-estilística. Aqui Schnittke coloca Vivaldi, Webern, Mozart, Beethoven, Cage (piano preparado) e até tango num liquidificador e faz uma música única, uma obra de primeira grandeza, um resumo de tudo, mas com um humor negro típico de Schnittke. A formação é simples: dois violinos solistas, um cravo, uma orquestra de cordas e um piano preparado (basicamente um piano comum com pregos, bacias com água e outras coisitas sobre as cordas). A estrutura segue o velho estilo barroco à la Corelli com 6 movimentos. Música empolgante e perturbadora.

Este disco está recheado de obras-primas, pois a próxima peça, Quasi uma sonata, está entre as mais importantes composições das últimas décadas. Originalmente escrita para violino e piano (sonata n.2), neste disco encontramos o formato violino e orquestra de câmara. Schnittke vai desconstruíndo a forma sonata com extremo virtuosismo, humor (negríssimo, claro) mas sem entregar uma obra retalhada. Dificilmente uma obra de Schnittke não tem unidade.

Moz-art à la Haydn já é um clássico? Possivelmente. Aliás, Schnittke talvez seja o compositor de sua geração mais executado atualmente. Claro que aqui Schnittke segue a velha tradição russa dos mestres Prokofiev e Shostakovich que usavam o humor em obras refinadas.

Quem lembra das variações sobre aquele famoso tema dos caprice de Paganini? Claro, Brahms, Rachmaninov, Lutoslawski…Mas aqui Schnittke se aproxima do método de Paganini: ferrar o violinista. A Paganini é uma obra pra violino solo insuportavelmente difícil, mas nem de longe uma obra só virtuosística. Gidon Kremer dá um show. Enfim, o disco todo é uma obra-prima e merece ser comprado. Um marco da música pós-moderna (todas as obras são pós-anos 60).

Este foi praticamente meu primeiro disco de música moderna, e todas aquelas minhas idéias preconcebidas foram pro ralo.

1. Con grosso No.1: 1. Prelude: Andante
2. Con grosso No.1: 2. Toccata: Allegro
3. Con grosso No.1: 3. Recitativo: Lento
4. Con grosso No.1: 4. Cadenza [without tempo marking]
5. Con grosso No.1: 5. Rondo. Agitato
6. Con grosso No.1: 6. Postludio. Andante-Allegro-Andante
7. Quasi una sonata
8. Moz-Art a la Haydn
9. A Paganini

Gidon Kremer, Yuri Smirnov, Tatiana Grindenko,
The Chamber Orchestra of Europa
Conducted by Heinrich Schiff

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951) – Quartetos de Cordas n.3 e n.4

Agora estamos num terreno árido, mas não menos empolgante que os outros quartetos predecessores. Nesta época (1927) Schoenberg já havia criado o sistema dodecafônico (do grego dodeka: 'doze' e fonos: 'som'), no qual as 12 notas da escala cromática são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica. Mas Schoenberg nunca foi tão radical assim, com excessão de uma pequena peça para piano, ele nunca escreveu uma obra inteiramente dodecafônica.

O quarteto de cordas n.3 já não é romântico e expansivo, mas sim clássico, o mais haydniano dos quatro quartetos. A sua estrutura em quatro movimentos (moderato, andante, intermezzo e rondo) segue a velha idéia de forma sonata com exposição, re-exposição, desenvolvimento,...mas com uma relação entre elas quase impossível de conceber para uma primeira audição. No último movimento, o rondo é estruturado da seguinte maneira: A-B-A2-C(+D)-A3-B2-A4-Coda. Onde a seção D é um desenvolvimento de temas anteriores. Enfim Schoenberg leva as últimas conseqüências o que um ouvinte menos atento chamaria de "caos" numa base rígida e perfeitamente controlada. O atonalismo por si só era um terreno muito movediço para Schoenberg, por isso o velho mestre encontrou no dodecafonismo uma forma segura de percorrer estas plagas. No entanto, o quarteto n.3 não é uma obra totalmente dodecafônica. Mas parece ser um consenso entre os críticos que este é o melhor dos quatro quartetos, e quem sabe o mais importante do século XX.

O quarteto n.4 é "mais agradável que o terceiro" (palavras de Schoenberg) e o mais difícil de todos (palavras minhas). Tentar identificar os temas e desenvolvimentos é loucura. Ouço esse quarteto com ouvidos soltos. Gostaria ter a partitura desse quarteto em minhas mãos e ver com meus próprios olhos toda a sua intrincada estrutura. Novamente Schoenberg retoma o velho modelo : allegro molto, scherzo, largo e allegro. É música para poucos.

Disco: 2
1. Quarteto n.3, Op. 30: I. Moderato
2. Quarteto n.3, Op. 30: II. Adagio
3. Quarteto n.3, Op. 30: III. Intermezzo, Allegro Moderato
4. Quarteto n.3, Op. 30: IV. Rondo, Molto Moderato
5. Quarteto n.4, Op. 37: I. Allegro Molto, Energico
6. Quarteto n.4, Op. 37: II. Scherzo (Comodo)
7. Quarteto n.4, Op. 37: III. Largo
8. Quarteto n.4, Op. 37: IV. Allegro

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951) – Quartetos de Cordas n.1 e n.2

Como fiquei responsável pela música moderna, trazendo aos ouvintes algo um pouco mais radical, cerebral e às vezes indigesto, começo minha participação com um disco mais ou menos óbvio, pois foi a partir do segundo quarteto de Schoenberg que o mundo tonal foi perfurado.

Mas o sistema tonal já estava há algum tempo sofrendo uma série de ataques, diria até que o ínicio do quarteto dissonante de Mozart pode ser visto como um pequeno exemplo dessa procura do novo mundo. As fantásticas “monstruosidades” sonoras de Wagner e Strauss que deixaram o sistema tonal esgotadíssimo. O Adágio da Décima de Mahler. As últimas sonatas de Scriabin…Mas foi realmente Schoenberg quem atravessou a barreira. O sistema tonal é quebrado no último movimento do quarteto n.2, nele uma voz feminina inicia seu canto (texto do poeta Stefan George) com as célebres palavras: “Ich fuhle luft von anderem planeten…” (Eu sinto o ar de um novo mundo…). Não dá para ouvir isso sem ficar arrepiado. Todo o quarteto é belíssimo, um mundo se misturando com outro.

Mas devo confessar que minha maior paixão é mesmo o quarteto n.1. Aqui o sangue fervilha. Apesar de ter quatro movimentos (todos os quatro quartetos de Schoenberg tem 4 movimentos), o quarteto não tem pausa, um movimento conectado ao outro, temas iniciais que vão sendo revisitados até o fim. Nesta época (1905) Schoenberg estudava a sinfonia Eroica. Com Beethoven “eu aprendi como evitar a monotonia e o vazio, como criar variedade fora da unidade…”.

A interpretação do “arditti string quartet” é excelente. E a voz que sai da soprano Dawn Upshaw é assombrosa.

Disco: 1
1. Quarteto n.1, Op. 7: I. Nicht Zu Rasch (Pas Trope Vite)
2. Quarteto n.1 , Op. 7: II. Kraftig (Energique)
3. Quarteto n.1, Op. 7: III. Massig (Modere)
4. Quarteto n.1, Op. 7: IV. Massig (Modere)
5. Quarteto n.2, Op. 10: I. Massig (Moderato)
6. Quarteto n.2, Op. 10: II. Sehr Rasch (Tres Rapide)
7. Quarteto n.2, Op. 10: III. ‘Litanei’ Langsam (Lent) – Dawn Upshaw
8. Quarteto n.2, Op. 10: IV. ‘Entruckung’ Sehr Landsam (‘Eloignement’ Tres Lent) – Dawn Upshaw

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