Hoje resolvi trazer uma possibilidade interessante para aqueles que se interessam pela música de Bach. Serão dois CDs recém lançados, interpretados por dois grandes músicos, mas cada um dentro de suas especificidades e características.
Vladimir Ashkenazy interpreta ao piano as mesmas Suítes Francesas que Blandine Rannou interpreta ao cravo. Sâo duas leituras diferentes, duas escolas bem diferentes.
O texto abaixo foi escrito por Blandine Rannou, e está no booklet do CD, e foi traduzido livremente por este que vos escreve.
“As primeiras cinco dessas ‘Suítes pour le clavessin’ (suítes para o cravo) abrem o “Clavierbüchlein für Anna Magdalena Bach” de 1722. As suítes também foram copiadas e recopiadas pelos alunos de Bach, estendendo assim sua influência para além do círculo familiar de Bach.É provável que ele pensasse nas suítes como peças de ensino, como as invenções, o cravo bem temperado e as seis partitas (designadas como “exercícios de clavier”). No entanto, as suítes dificilmente são simples exercícios ou estudos destinados a facilitar o progresso técnico e musical inconsciente em alunos mais ou menos capazes. São, sim, uma simples expressão do que era importante – e até mesmo crucial – para transmitir. Eles não devem ser considerados “sacrossantos” como tais. Seu propósito, desprovido de orgulho, era “edificar” no sentido arquitetônico; neles se encontram os valores que Bach desejava transmitir aos outros. Eles aspiram a quintessência em vez de simplificação. As suítes podem nos ajudar a entender quais elementos são importantes para transmitir.
O primeiro elemento a aparecer é a dança. As estruturas e fórmulas rítmicas da dança estão claramente presentes, constituindo essa linguagem comum e tranquilizadora derivada de uma tradição francesa difundida na Europa e já livre das contingências da ‘dance music’ propriamente dita. Eles, no entanto, sugerem que Bach desejava transmitir a ideia – até mesmo, por assim dizer, de fazer música para dançar. Era essencial conhecer as características de cada movimento de dança (ritmo, ritmo rítmico recorrente fórmulas, caráter geral, acentos para ser feito em pontos precisos, acordados), mas também para saber como jogar para a dança real. Faz parte do treinamento de um aluno aprender a usar a energia, transportar o ouvinte através do momento dinâmico e rítmico, esquecer a sonoridade por si só e aproveitar ao máximo o caráter percussivo do cravo.).
Mas o papel e propósito da música do século XVIII era, acima de tudo, comunicar emoção. Embora o jogador fosse naturalmente obrigado a assimilar a organização rítmica de um movimento de dança, era com a intenção de transmitir emoção. Essa emoção, carregada por um corpo dançante, poderia igualmente ser transmitida através de uma bela linha de canto. E este é provavelmente o segundo ponto importante a ser feito. Nestas suites, a emoção fala. Uma linguagem musical extremamente simples, até mesmo humilde, também pode ser generosa. Vai diretamente ao âmago da questão: as linhas simples de agudos e seus acompanhamentos de baixo cantam tão lindamente e com tal brilho que a emoção facilmente se faz sentir. Não estamos falando aqui de um mero fio – Bach não está escrevendo miniaturas: a música libera uma torrente de emoção poderosa e sincera. É importante para o intérprete enfatizar a linha de canto que transmite o Affekt de cada peça através da linguagem específica do cravo, com seu som colorido e rico reforçado por um “baixo fundamental”; encontrar maneiras de realçar a polifonia implícita e experimentar ornamentos e repetições variadas. E gradualmente a melodia, carregando a emoção e em si carregada pela dança, forma uma organização hierárquica, como a fala discurso. O prazer de “cantar” é, assim, agravado com o prazer de “falar”: pode-se criar relações entre notas através de acentuação, fazer conexões retóricas e desenvolver articulação. Assim, o uso de peças de dança transporta corpo, coração e mente para planos superiores, refletindo o mais alto grau de uma cultura implícita, sem nunca cair na armadilha da música objetiva, intelectual e austera, nem na de um personagem leve e frívolo, enquanto também evita a emoção fácil por si mesma. A lição a ser aprendida dessas suítes francesas concebidas pedagogicamente é, talvez, a necessidade de se deixar dançar, cantar e falar. Essa música maravilhosa, altamente realizada (embora algumas vezes subestimada) alcança seus objetivos através da realidade concreta do instrumento, sem procurar transcendê-lo ou evocar outros mundos sonoros. Aqui está um cravo simples, mas poderoso.”
Depois desta verdadeira aula sobre como interpretar nossas queridas Suites Francesas, não temos outra opção a não ser ouvi-las. Volto a salientar que não é para definir quem é melhor ou pior, trata-se apenas de uma postagem para mostrar a riqueza da música de Bach.
Espero que apreciem a experiência.
01. Suite No.1 in D minor, BWV 812 – I. Allemande
02. Suite No.1 in D minor, BWV 812 – II. Courante
03. Suite No.1 in D minor, BWV 812 – III. Sarabande
04. Suite No.1 in D minor, BWV 812 – IV. Menuet I & II
05. Suite No.1 in D minor, BWV 812 – V. Gigue
06. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – I. Allemande
07. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – II. Courante
08. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – III. Sarabande
09. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – IV. Air
10. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – V. Menuet
11. Suite No.2 in C minor, BWV 813 – VI. Gigue
12. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – I. Allemande
13. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – II. Courante
14. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – III. Sarabande
15. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – IV. Menuet I & II
16. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – V. Gavotte
17. Suite No.3 in B minor, BWV 814 – VI. Gigue
18. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – I. Allemande
19. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – II. Courante
20. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – III. Sarabande
21. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – IV. Gavotte
22. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – V. Air
23. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – VI. Menuet
24. Suite No.4 in E flat major, BWV 815 – VII. Gigue
25. Suite No.5 in G major, BWV 816 – I. Allemande
26. Suite No.5 in G major, BWV 816 – II. Courante
27. Suite No.5 in G major, BWV 816 – III. Sarabande
28. Suite No.5 in G major, BWV 816 – IV. Gavotte
29. Suite No.5 in G major, BWV 816 – V. Bourrée
30. Suite No.5 in G major, BWV 816 – VI. Loure
31. Suite No.5 in G major, BWV 816 – VII. Gigue
32. Suite No.6 in E major, BWV 817 – I. Allemande
33. Suite No.6 in E major, BWV 817 – II. Courante
34. Suite No.6 in E major, BWV 817 – III. Sarabande
35. Suite No.6 in E major, BWV 817 – IV. Gavotte
36. Suite No.6 in E major, BWV 817 – V. Menuet – Polonaise
37. Suite No.6 in E major, BWV 817 – VI. Bourrée
38. Suite No.6 in E major, BWV 817 – VII. Petit Menuet
39. Suite No.6 in E major, BWV 817 – VIII. Gigue
Vladimir Ashkenazy – Piano
01. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 I. Allemande
02. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 II. Courante
03. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 III. Sarabande
04. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 IV. Gavotte
05. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 V. Bourrée
06. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 VI. Loure
07. Suite française No. 5 in G Major, BWV 816 VII. Gigue
08. Suite française No. 1 in D Minor, BWV 812 I. Allemande
09. Suite française No. 1 in D Minor, BWV 812 II. Courante
10. Suite française No. 1 in D Minor, BWV 812 III. Sarabande
11. Suite française No. 1 in D Minor, BWV 812 IV. Menuet I & II
12. Suite française No. 1 in D Minor, BWV 812 V. Gigue
13. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 I. Allemande
14. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 II. Courante
15. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 III. Sarabande
16. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 IV. Anglaise
17. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 V. Menuet – Trio
18. Suite française No. 3 in B Minor, BWV 814 VI. Gigue
CD 2
01. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 I. Allemande
02. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 II. Courante
03. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 III. Sarabande
04. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 IV. Gavotte
05. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 V. Menuet
06. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 VI. Air
07. Suite française No. 4 in E-Flat Major, BWV 815 VII. Gigue
08. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 I. Allemande
09. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 II. Courante
10. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 III. Sarabande
11. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 IV. Air
12. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 V. Menuet
13. Suite française No. 2 in C Minor, BWV 813 VI. Gigue
14. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 I. Allemande
15. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 II. Courante
16. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 III. Sarabande
17. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 IV. Gavotte
18. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 V. Polonaise
19. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 VI. Menuet
20. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 VII. Bourrée
21. Suite française No. 6 in E Major, BWV 817 VIII. Gigue
Blandine Rannou – Harpsichord
Amigo, cómo se abre un data file? es la primera vez que pasa.
gracias
Clique no link, e abra a página do Mega. Ai basta clicar para fazer o download. O arquivo está compactado em formato 7zip.
está en un archivo dataFile, no en zip
Yo lo bajé, y resultó un archivo .7z (más exactamente BBRSF.7z ). De ese archivo he extraido el contenido con el mismo WinRar que uso para otros formatos.
gracias, no sé como hacerlo, pero vale la explicación
Me apaixonei por essas suítes desde os tempos da faculdade, quando descobri na biblioteca do IA um vinil do Wilhelm Kempf tocando a 5a. Cheguei a fazer uma transcrição para dois violões. Se tivesse que escolher um disco só do velho Bach para levar pra uma ilha deserta seria esse. Se fossem dois, levaria as inglesas junto.