Anton Bruckner (1824-1896)

Hoje, 4 de setembro, é o dia dos 200 anos de nascimento de um dos compositores que mais amo: Anton Bruckner.

Ele nasceu em Linz, na Áustria, e foi uma figura estranhíssima. Este ano, li a biografia que Lauro Machado Coelho escreveu sobre ele. Muitas coisas começaram a fazer sentido.

Dizia a lenda que Bruckner era quase um idiota. Nada disso. Mas havia o ambiente rural e quase tacanho em que o compositor nasceu, a desgraça de ser um jeca, a sua insegurança neurótica, seu alto conhecimento e seus incríveis — de modo positivo — resultados como aluno. Porém, mesmo sendo um espetacular improvisador ao órgão, professor e compositor, Bruckner era um ingênuo que propunha casamento às moças mais inatingíveis, era hiper religioso, anotava tudo o que fazia, gastava e recebia, sabia quantas árvores existiam em todos os seus caminhos diários, pois as contava, além de outras esquisitices absolutamente originais. Quando transferiu-se de Linz para Viena, quis ter certeza de que seria aceito de volta caso fosse um insucesso em Viena. Insegurança total, sempre.

Também ficava agradecido a quem regia sua música, a ponto de se submeter a humilhações. Halb Genie, halb Trottel (metade gênio, metade pateta) era o que se dizia dele. Podem imaginar esse homem saído da pequena Linz (Sankt Florian) para a sofisticada Viena? Pois ele adquiriu o respeito de gente como, por exemplo, Gustav Mahler. Sua música foi adotada por Hitler como símbolo da força e da pureza arianas, mas logo os historiadores descobriram que, Bruckner, devoto de Richard Wagner, não era nem um pouco antissemita e o nazismo desgrudou dele assim que a guerra acabou. Quando os maestros judeus começaram a ser preteridos, Bruckner passou a convidá-los para estrear suas sinfonias, deixando de lado os “alemães”.

Compondo sinfonias imensas, realizou grandes esforços para ver sua obra aceita – inclusive revisando-a incessantemente… Não podia ouvir uma opinião contrária que já saía reescrevendo tudo. E criou imensa obra, cheia de diferentes versões. Um prato delicioso para os musicólogos.

Sou muito Bruckner e minhas sinfonias preferidas são a 3, 4, 5, 7 e 9. Ele tem 11, mas parou na nona. Ele tem uma Sinfonia de Estudo, que não era para ser publicada. Insegurança. Era tão boa que tornou-se a Sinfonia N° 0 (Nullte). Teve outra a qual ele também não deu número. Bruckner declarou que ela “gilt nicht” (não contava)… Hoje, é tocada, claro.

Sua música trazia a estranheza de parecer por vezes imitar o órgão, seu instrumento, sempre com muitas pausas significativas e entradas em fortíssimo para alegria dos metais da orquestra.

Bem, esta é minha pequena homenagem a este gênio. Abaixo, uma boa piada sobre suas incontáveis revisões.

PQP

6 comments / Add your comment below

  1. Futebruckner: aquele canto que torcidas de diferentes países entoam (no vídeo: Eurocopa 2016) é erradamente atribuído à canção Seven Nation Army, da banda pop contemporânea White Stripes.

    Quando escutei a primeira vez, achei que o trecho havia sido chupado de Wagner, do Anel dos Nibelungos. Descreditado pelos amigos fãs de música pop, fui atrás e descobri que estava parcialmente certo: o próprio líder da banda, Jack White, admitiu publicamente que o riff e o canto são integralmente copiados da 5a de Bruckner, na qual Bruckner admite forte influência wagneriana.

    Sim, estou me jactando de memória auditiva elefantina. Mas Bruckner rulez e Wagner também.

    https://youtu.be/p4Sp0MDKSZo

  2. Bruckner fundia a verve camponesa, excentricidades muito peculiares e os aspectos litúrgicos que absorveu em Sankt Florian. Mas na crítica ao seu comportamento, a gente descobre muita presunção e convenções. Fico imaginando quão afetado devia ser Hans von Bülow, por exemplo.

  3. É memorável o uso que Visconti fez da Sinfonia n7 em Senso (1954).
    As cenas em que Alida Valli, ao som de Bruckner percorre desesperadamente as ruelas de Veneza, sob o domínio austríaco são belíssimas.

  4. Por aqui, não há como não amarmos quem vocês nos ensinam a amar! Eu confesso que não conhecia Bruckner antes de me tornar habitué aqui do Blog – e sempre guiado pela paixão de vocês. Obrigado, PQP Bach, pela bela homenagem!

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