Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas (Pollini)

O grande René Denon postou estes CDs em 2019 com muito mais categoria. Bem aqui, ó. Reposto-os aqui neste cantinho só para não perder os muitos comentários.

Sei que não somente “aqueles comentaristas habituais” hostilizarão esta gravação colocada entre as melhores da DG (obrigado pela lembrança dos Originals, Lais; minha gravação é pré-Originals), como nossa comparsa Clara Schumann deverá apresentar chiliques em defesa de seu amado Alfred Brendel que, segundo ela, acarinha melhor o compositor que ela mais ama.

(Nunca entendi esta senhora que casa com um, tem Brahms por amante, mas gosta mesmo é de Schubert. A mente masculina é mais simples e burra, graças a Deus, e interessa-se por todas, prova de seu amor à humanidade.)

Schubert é o compositor que mais lamento. Apenas 31 anos! Onde ele chegaria se tivesse vivido, por exemplo, os 57 anos de Beethoven? É difícil de responder, ainda mais ouvindo suas últimas obras, amadurecidas a fórceps pelo sofrimento causado pela doença. Este criador de melodias irresistíveis trabalhava (muito) pela manhã, caminhava à tarde e bebia à noite. O bafômetro o pegaria na volta, certamente. Seria um recordista de multas. Não morreu da sífilis e sim de tifo, após ingerir um vulgar peixe contaminado. Ou seja, uma droga de um peixe podre nos tirou anos de muitas obras, certamente. Espero que, se o inferno existir, este peixe esteja lá queimando. Desgraçado, bicho ruim!

A interpretação de Pollini é completamente despida de exageros ou de virtuosismo. Ele respeita inteiramente Schubert, compositor melodista e destituído de virtuosismo pessoal ao piano, pero… nada de sentimentalismos, meus amigos. Pollini é um realista. E, com efeito, as sonatas finais desfazem o mito do Schubert fofinho, mundano e feliz. Era um indivíduo profundo e o trágico não lhe era estranho.

Minha sonata preferida é a D. 960, com seu imenso e emocionante primeiro movimento. Quando o ouço de surpresa, penso que virão o que não me vêm há anos: lágrimas. O que segue é-lhe digno, com destaque especial para o zombeteiro movimento final. O D. 959 também é extraordinário, principalmente o lindíssimo e nobre Andantino e o lied do Rondó. Também tenho indesmentível amor pela contrastante primeira peça das Drei Klavierstucke.

A Fundação Maurizio Pollini, desta vez patrocinada por PQP Bach, agradece todos os apoios recebidos e declara-se ofendida pela nefasta ironia perpetrada pelo provocador Kaissor (ou foi o Exigente?) ao querer estigmatizar nosso ídalo por ser mais divulgado em razão do perfil marcadamente “comercial” de sua gravadora. Com todo o respeito, respondemos a ele que Pollini é a Verdade e o Absoluto. Dou a Schnabel um lugar no pódio e ele que fique quieto. “O homem que inventou Beethoven”??? Arrã. Acho que foi reinventado… :¬)))

Franz Schubert (1797-1828): As Últimas Sonatas (Pollini)

CD 1

1. Piano Sonata No. 19, D.958 – Allegro
2. Piano Sonata No. 19, D.958 – Adagio
3. Piano Sonata No. 19, D.958 – Menuetto: Allegro
4. Piano Sonata No. 19, D.958 – Allegro

5. Piano Sonata No. 20 In A D.959 – Allegro
6. Piano Sonata No. 20, D.959 – Andantino
7. Piano Sonata No. 20, D.959 – Scherzo: Allegro
8. Piano Sonata No. 20, D.959 – Rondo: Allegretto

CD 2

1. Piano Sonata No. 21, D.960 – Molto Moderato
2. Piano Sonata No. 21, D.960 – Andante Sostenuto
3. Piano Sonata No. 21, D.960 – Scherzo: Allegro
4. Piano Sonata No. 21, D.960 – Allegro Ma Non Troppo

5. Allegretto In C Minor D.915

6. 3 Klavierstucke, D.946 – No. 1 In E Flat Minor – Allegro Assai
7. 3 Klavierstucke, D.946 – No.2 In E Flat – Allegretto
8. 3 Klavierstucke, D.946 – No. 3 In C – Allegro

Maurizio Pollini (Piano)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Um Schubert engomadinho pra vocês.

PQP

27 comments / Add your comment below

  1. Pollini…mto “janota” para o meu gosto; nada como o meu Brendelzinho, estilo puro e duro!:P

    PQP, entender a alma feminina…. acrescente na lista mais uma dezena de amantes, a começar por Monteverdi!:P

    (sim,estou tendo um chilique):P

    beijos!

  2. Ah, mas que maravilhosa série de postagens é essa!
    As transcrições para piano de Vivaldi, três esplêndidas sonatas de Beethoven e agora – Schubert!
    Além disso, o texto de PQP mostra-se novamente inspiradíssimo.
    Todos poderão visualizar o peixe que matou Schubert, ardendo numa das fornalhas do inferno, para toda a eternidade.
    Esse site às vezes me deixa realmente entusiasmado e tão alegre a ponto de lembrar ao duvidoso SAC do blog um pedido antigo por algo da música de câmara de Beethoven, trios ou quartetos para piano ou trios de cordas, qualquer coisa seria tão bem-vinda.
    Contudo, depois dessa série de postagens é realmente um pecado pedir alguma coisa mais.

  3. Caro Exigente.

    Estou atendendo um cliente em minha outra vida. Logo que chegar num computador com um mínimo de tempo, reformo o texto.

  4. Nunca ouvi tanto Pollini em minha vida quanto nos últimos tempos. Isso tudo porque detesto me prender a impressões antigas. Vira e mexe a gente muda de opinião, isso já aconteceu comigo com relação a intérpretes. Infelizmente (e digo de coração), minhas impressões antigas sobre o P. continuam as mesmas. Agora ouvirei o que o italiano fez com este compositor tão absolutamente caro a mim, e que já encontrou a perfeição nas mãos de Kempff, Rubinstein, Brendel, Schiff e – pasme – Horowitz.

    Emendando um comentário sobre o comentário do P.Q.P. na outra postagem, me pergunto: qual o problema com Horowitz? E me pergunto ainda: apesar de querelas baseadas em gosto, como é possível gostar de Pollini e não gostar de Horowitz? Horowitz é grande, grande, grande! Um dos maiores pianistas que já pisaram sobre o solo terrestre, sem dúvida!

  5. Estou ouvindo as Sonatas!!

    Que coisa! Como já transcrevi, um comentário do usuário da amazon traduz muito bem as minhas impressões:

    “Há sempre algo especial na interpretação de Pollini que me atrai, e que é diferente.”

  6. Faz alguns meses que Pollini apresentou em Carnegie Hall a Sonata Hammerklavier. Interessante o comentário do critico Pedro Bóleo:

    Ele toca com os pés. Nunca só com cabeça, nunca só com mãos. Com o corpo todo, ele mergulhou na música para revelar os timbres escondidos, as notas decisivas, descobrir os acentos certos, as articulações precisas. Por vezes está tudo ligado, quase a embrulhar-se, mas, de súbito, um acorde que pára o mundo, ou uma pequena fractura, um brilho que revela uma coisa pequena mas essencial. Pollini foi descobrindo as feridas que a música abre.

    Stockhausen deixou de ser difícil: pareciam fáceis de seguir, como melodias, as cores e os diferentes ataques e dinâmicas do piano. (Nota: Pollini repetiu uma das peças. Segundo percebi, houve um engano do rapaz que passava as páginas. Coisas que acontecem.) As Klavierstücke pareciam simples, comparadas, por exemplo, com a extraordinária Kreisleriana de Schumann, onde fervilha o amor por Clara Wieck tanto como a sua paixão pela literatura (Kreisler é uma personagem de uma obra de E.T.A. Hoffmann). Fervilham vidas, a de Pollini, a de Schumann, e a do público, que era muito (até se acrescentaram cadeiras nas partes laterais do palco, ali quase em cima de Pollini).

    E depois a sonata de Beethoven, que parte o mundo em dois, como alguém disse. Sobe às estrelas e desce ao fundo da terra. Pelo caminho, toma a liberdade de pôr em causa as formas em que pega, de romper radicalmente com elas (por exemplo a fuga con alcune licenze, ou seja, como bem me apetecer porque eu sou Beethoven…). A Hammerklavier é assim. Antes de compor esta sonata, em 1817 Beethoven desesperava, não via saída: “Aprendo em cada dia, sem música, a aproximar-me do túmulo”. Com a opus 106, voltou a compor e a ter esperança, mas já não era o mesmo. Pollini mostrou a ruptura de Beethoven com uma clareza tal, raivosa e lírica em cada pormenor, e ao mesmo tempo permitindo-nos ouvir a totalidade, todas (se fosse possível) as promessas e os conflitos que ressoam naquela sonata. E ressoaram mesmo, não é só metáfora. Mas essa música, de há quase 200 anos, ainda sobrevive, ainda serve para alguma coisa? – ouvi mais tarde esta pergunta. Não sei para que é que serve. Mas Maurizio Pollini provou que ela ainda faz tremer o mundo.

  7. PQP! Coincidentemente estava assistindo agora o documentário sobre Nelson Freire, e há um depoimento de Martha Argherich sobre Pollini. Ela diz que quando ouviu ele tocar pela primeira vez, ficou impressionada como nunca antes.

  8. Bem, ouvi quase inteiros os dois cd’s, e serei objetivo: sem dúvida são boas gravações, que podem servir de referências dessas obras a qualquer um. Surpreendi-me, pois achei que não iria gostar, mas gostei mais desse Schubert do que do último disco aqui postado, com as sonatas Op. 27 de Beethoven.

    Mas, no fim das contas, absolutamente não consigo considerar como “a” gravação. Aliás, bem longe disso. Não posso dizer de modo algum que as interpretações de Pollini sejam ruins aqui, mas posso dizer sem desassossego que não trocaria nem Brendel, nem Kempff, nem Schiff, nem Badura-Skoda pelo italiano. E falando especificamente da magnífica sonata D. 960, prefiro, ainda, os excelentes registros de Rubinstein e de Horowitz (sim, Horowitz, um primor!).

    Há muitos belos momentos com Pollini. Ele, em geral, vai muito bem nas passagens de fúria, e nos movimentos lentos. Mas em meio à fúria, quando subitamente se descortina aquela bela melancolia schubertiana, especialmente nessas ocasiões Pollini comete seu pecado mais recorrente: passa por cima das frases, das micro-inflexões, e da atmosfera, deixando passar momentos da maior riqueza. Infelizmente. Nessas horas sabemos porque Kempff é Kempff.

  9. Olá 21º e demais amigos.
    Bem, eu continuo com a imagem do Schubert dos Lieder, até mesmo do Trio, talvez da Truta e da Inacabada. Mas, continuo com o receio de ouvir o Schubert que fica repetindo o mesmo acorde sem qualquer sentido musical que os justifique; continuo com receio daquelas melodias oitavadas empobrecedoras e cansativas (com tantos contracantos e outros elementos polifônicos maravilhosos que poderiam ser criados); com receio daquelas escalas descendentes inexpressivas e que nada dizem, nem sob os dedos de Pollini nem dos de qualquer outro pianista. Aqui vale a pena dizer, novamente, o que disse Schöembrg em seu Tratado de Composição Musical:

    ” Não se compõe uma obra musical, juntando-se pedacinhos uns aos outros, como fazem as crianças em seus jogos de montar. A obra é concebida como UM TODO… “.

    Ou seja, a composição surge como um “insight” (para naõ usar a palavra inspiração que diz bem menos do que a outra).

    Em suas Sonatas, salvo em outras duas que não me recordo, no momento, quais sejam, Schubert vai, justamente, juntanto pedacinhos uns aos outros como se estivesse improvisando algo que não se sabe de onde veio e onde pretende chegar. No entanto, concordo plenamente com o 21º quando ele ressalta a beleza da 960. Sobretudo nos dois primeiros movimento. É realmente a obra de um grande artista que quase se iguala a si mesmo em seus Lieder.
    Sob os dedos de Pollini, os dois últimos movimentos da 960 são impecáveis.
    Com relação aos dois primeiros… …haveria muita coisa a ser dita e eu não desejo dizê-las por respeito ao grande pianista que ele realmente é, embora seja forçoso reconhecer que há os que os traduzam bem melhor.
    Um grande abraço a todos.
    Edson

  10. Clara Schumann, ajude-me aqui! O que podemos dizer ao amigo que reduz nosso Schubert a um criador de colchas de retalhos?

    Fora de brincadeira, discordo com todas as minhas forças do colega Edson. Não é por simplesmente adorar Schubert, mas justamente por gostar conheço muito da obra dele, e quanto mais conheço mais tenho a certeza de que trata-se de um compositor de primeiríssima estirpe, compositor de mão cheia, na acepção mais técnica do termo. Franz sabia muito bem o que fazia quando compunha, mesmo sob certo desconforto no trato da forma-sonata, que não combinava muito bem com sua inclinação ao discurso estendido, especialmente na música instrumental. Essa visão de Schubert como um boêmio que escrevia o que lhe vinha à cabeça, movido a inspiração e a vinho, está ultrapassada há muito, e não explica a grandiosidade de sua produção.

    Schoenberg escreveu aquilo, e com razão, mas duvido que tenha tido Schubert em mente quando o fez. Aliás, os compositores da Viena entre 1750 e 1830 são, na minha opinião, os exemplos mais bem acabados de criadores que entenderam muito bem essa questão de conceber a obra “como um todo”, mestres do trato da forma e da condução motívica, elementos diametralmente opostos aos conceitos de colagem e de rapsódia.

  11. Bela caixa de comentários!

    Eu acho autenticamente maravilhoso quando pessoas discordam com cordialidade. Parabéns para nós todos.

    Não, não gosto de Horowitz, apesar de reconhecer seu parentesco como nosso amigo MP. Eu – EM MEUS OUVIDOS – noto algo de gratuito nele, uma tentativa de colocar virtuosismo onde às vezes é solicitada a simplicidade. Veja bem, não tenho horror a ele, chamá-lo de Horrorowitz é um problema de não perder um trocadilho besta, certo?, mas estou longe de fruí-lo.

    Meu pai o ouvia demais nos anos 70-80 e eu gostaria de lembrar em que peças e de que gravações falo, mas minha crítica é tão vazia que não consigo lembrar com clareza o que não gostei.

    A propósito, tenho mais de 50 anos.

    Abraços.

  12. As observações do Ticiano são muito finas e procurarei reouvir os momentos de bonança em meio à tempestade por MP.

    Minha curiosidade por MP começou pelo momento em que soube de sua intimidade com a música moderna. Tinha alguns vinis de Concertos de Mozart, onde ele era não mais que correto. Depois, tive contato com seus Prokofiev, que são muuuuuuuuito interessantes e o respeito absoluto veio com as últimas sonatas de Beethoven.

    Há alguma coisa de “intencional” em suas abordagens que me fascina. Ele deseja romantizar menos, talvez. É algo que tb há de forma mais clara – e até caricatural – em G. Gould e que aqui reaparece de forma mais inteligente, respeitando mais a tradição, mas ao mesmo tempo…

    Bom, tenho que pensar mais!

  13. Excelentes comentários!

    Vejam que coisa interessante: Tenho percebido que aquilo que mais me encanta em Pollini é o que mais desagrada aos não-polinianos.

    Pollini procura alcançar o ideal da “interpretação perfeita”. O seu rigor obsessivo para com a partitura é o que mais me encanta. Muita pesquisa, severidade intelectual, ele procura ser o mais fiel possível para com as intenções do compositor, tentando eliminar qualquer “visão pessoal da obra”.

    Talvez seja esse o segredo. Quiçá isso tenha relação com o conceito que temos de interpretação. O que é interpretação? Sei que há muita polemica sobre isso, e opiniões contraditorias. Alguns entendem a interpretação como uma forma de “reinvenção da obra”, onde o interprete não vai apenas transmitir as notas da partitura mas vai além do que quer dizer a partitura, imprimindo um caráter pessoal aquela obra. Essa não me parece ser a atitude de Pollini.

    Ele parece correr da tentação de se colocar a si mesmo em destaque, acima da propria obra, parece correr da tentação de querer “inventar uma versão pessoal e original” das obras, procurando colocar em destaque a música em sí mesma.

    Talvez seja isso que os amigos percebam nos andamentos lentos. Ele nunca cai na tentação de imprimir um caráter excessivamente emocional, que nem sempre é do compositor e sim do intérprete.

    Rubinstein já citado compreendeu isso. Arthur realmente é um pianista admirável. Quando ele chegou aos EUA, segundo as suas proprias palavras, será metralhado de críticas porque colocava um caráter muito pessoal às suas interpretações, muitas notas erradas, e foi nessa época que ele se casou.

    De acordo com sua biografia, ele então vai especializar o seu rigor técnico, e é a partir desse periodo que vai fazer as maiores gravações da sua vida.

    Horowitz é um pianista que eu ouvi e ainda ouço. Mas não consigo ainda colocá-lo entre os grandes. Não sei, talvez seja debilidade minha.

    Michelangeli é um pianista que me fascina admiravelmente. Com certeza é o pianista mais parecido com Maurizio Pollini. Ele tem o mesmo ideal estético e é tão obsessivo e perfecionista quanto MP. Com um repertório pequeno, tudo o que tocava, tocava perfeitamente.

  14. Já tinha desconfiado que eu e a Lais tínhamos coisas em comum, mas essas agora foram demais.

    Concordamos em Horowitz e, e… em Michelangeli! Os Schubert e Brahms que Arturo gravou são simplesmente es-tu-pen-dos, por exemplo. Ele também está em meu (nosso, Lais) panteão.

  15. Caríssimo amigos.
    Não devemos distorcer os comentários que são postados pelos demais, sob pena de não estarmos nos enriquecendo com outros pontos de vista que não os nossos.
    Jamais usei as catalogações que o caro Biancolino coloca em meus escritos.
    Não sei se Schubert era um Bohêmio, pois, não tive a honra de conviver com ele.
    A História?
    Bem… …a história é, muitas vezes, uma espécie de “ouvi dizer” e, como todos os “ouvi dizer”, uns “ouvem dizer” que foi assim e outros que foi de outra maneira.
    Contudo, mesmo se Schubert houvesse sido um bohêmio, tal fato nem engrandeceria suas composições de menor mérito e, tampouco, tornaria menos ricas suas magníficas composições.
    Não há mágica nisto.
    Ninguém consegue tornar em “obra prima” aquilo que não o é, mesmo usando todo o “marketing” do mundo.
    Acho que ninguém aqui fez mais elogios a Schubert do que eu, pois, de fato, eu me liguei ao que ele tem de melhor e que é realmente genial.
    Não acredito ser benéfico para alguém colocarmos em situação de destaque algo que não tem destaque algum.
    Mas, compreendo que cada um ouve e diz o que julga ser a sua realidade.
    A minha realidade não está sendo imposta a ninguém.
    Foi apenas exposta e com todo o respeito que cada um de vocês merece.
    Vamos perder um pouco dessa ilusão de que tudo o que Mozart, Beethoven, Schumann (do qual que quase nada deixa de se-lo) Rachmaninnof, Brahms, Stravinsky, Bella Bartok, Villa-Lobos, Marlos Nobre, Edino Krieger etc. etc. etc. escreveram, são sempre obras primas. Pedindo emprestada a mania de nosso atual Presidente da República, penalti é coisa que não se perde mas até Pelé já os perdeu.
    Vamos perder, igualmente a ilusão de que tudo o que fulano toca é melhor do que tudo o que os demais que já tocaram.
    Não há Deuses nisto.
    Nem entre os Deuses Gregos havia infalibilidade.
    Porque um humano pode ser Zeus?
    Perdoem-me ter sido tão longo para dizer o óbvio: não adianta pedir a ajuda de Clara Schumann, pois, por divina que ela seja, ela não conseguirá transformar obras secundárias de qualquer compositor, em obras de primeira grandeza. Só em eleições do Big Brother ou em outras, via internet, que apontaram Luiz Gonzaga como a Personalidade do Milênio Que Passou ou que a figura do Cristo Redentor, postada no Rio, é uma das dez maravilhas do mundo.
    Bem. É assim, estimada Clara.
    Lamento não precisar pedir sua ajuda, pois, está tudo escrito nas partituras e registrado nos cd e dvd.
    Mas, quando se tratar de Robert Schumann, talvez eu peça socorro, ajuda e até milagres a “Clara Schumann”. Schumann e Brahms são quase perfeitos.
    Obrigado pela atenção a tão longo palavrório parecido com as intermináveis Sonatas do admirável Schubert dos Lieder e de outras obras já mencionadas.
    Por falar em Clara Schumann?
    Porque a discriminação de apenas julgar que os homens são magníficos intérpretes?
    Se na area da Composição isto pode até justificar-se, na área da interpretação, Deus, como há Grandes intérpretes femininas…
    Ciaozinho pessoal, em homenagem ao Pollini.
    Abraços fraternos a todos.
    Edson

  16. Em outra ocasião pedirei licença para fazer o que deveria fazer agora, para não quebrar o andamento das postagens.
    Infelizmente o avião não me espera e não posso perdê-lo.
    Mas, creio que as colocações de Lais sobre a atitude do intérprete com relação às obras que executa, está a merecer maior atenção. Apenas, e a guisa de provocação, colocarei, aqui, que não concordo com sua visão do que deve ou não deve fazer um intérprete.
    Um intérprete não está decifrando papiros de 4.000 anos antes de Cristo. Está com tudo claramente escrito e impresso através de códigos que ele conhece muito bem.
    O que o compositor deixa para ele é apenas um esquema rudimentar demais para a grandeza genial do que é necessário fazer.
    É mais ou menos o mesmo que ocorre com um Ator de Teatro.
    Está tudo escrito e ele sabe ler. Todos dizem as mesmas palavras.
    Mas… …mesmo dizendo as mesma palavras, há os que as dizerm de forma genial e os que as dizerm de forma bizonhamente inadequada. Mas… …inadequada a que? …o que pretende o ator?
    Bem… …mas, isto vai longe e o meu vôo também.
    Um dia retomaremos o tema, com certeza .
    Outra homenagem ao Pollini (do tipo Schubert das Sonatas impossíveis) Ciaozinho, pessoal.
    Um grande abraço a todos.
    Edson

  17. Caro Edson,

    você diz não querer impor sua visão, mas parece bater o martelo e defender sua opinião argumentando que “está tudo escrito nas partituras”, como se bastasse abrir um volume hipotético da obra completa de Schubert para facilmente saber qual obra é “genial” (conceito complicado….) e qual é banal, depois contabilizar tudo e rotular o compositor disso ou daquilo. É fácil assim dar nomes aos bois? É claro que existem obras escandalosamente boas e outras realmente banais, mas estes são os casos extremos. Difícil é saber o que é o que quando não tratamos dos extremos. Pois no meio de uma obra aparentemente banal pode estar escondido algo tão absolutamente magnífico que ficamos sem saber como rotular a obra. A musicologia esbarra sempre nesta problemática, e vira e mexe obras “menores” são elevadas à categoria de “primas”, pela constatação de elementos antes obscuros. Por isso insisto: você quer rotular Schubert segundo sua visão, e eleger, segundo a mesma, o que é bom e o que é ruim. Do mesmo modo que a suposta perfeição de Schumann e Brahms pode também ser posta em cheque. O fato é que lidamos com o subjetivo, e precisamos, ao máximo, fugir de impressõe causadas por nossos meros gostos.

  18. Ticiano! Essa dilema que você citou com o qual a musicologia periodicamente esbarra é interessantissimo!

    Li um artigo de um compositor contemporaneo que ele citava por exemplo a famosa Clair de Lune de Debussy, como uma obra que foi considerada pobre, fraquissima, e de qualidade inferior na época em que foi criada.

    Entretanto, diferentemente dos “entendidos” da época, o público sempre ficou bastante atraído por essa pequena peça, e hoje em dia ela foi elevada a categoria de obra prima de Claude Debussy!

  19. PQP! Veja… Eu admiro intensamente o Mozart de Maria João Pires… Tenho entretanto uma gravação dos concertos 20 e 23 com o Michelangeli, que eu não troco por João Pires nunca!

  20. Caro Biancolino.
    Escrevi um longo comentário sobre suas última colocações a meu respeito. Com todo apreço e consideração.
    No momento de postá-la, reli o que havia escrito e cheguei à conclusão de que nossa troca de opiniões estava extrapolando o limite do bom senso, tornando-se insípida e cansativa.
    Na realidade, pareceu-me que você não estava muito interessado em Schubert . Tampouco em saber onde ele foi genial e onde e porque foi apenas banal.
    Vai dai que mudei todo o conteudo de nossa troca de “desinformações cansativas” e resolvi fazer um pesgunta cuja reposta, talvez, nos leve a um denominador comum. Claro que a pergunta teria que ser banal, falta do que incorreríamos no risco de escrever muito para eslcarecer pouco.
    A pergunta é a seguinte:

    Você gosta de chocolate?

    Se a reposta for positiva, será um alívio geral, pois afinal, chegamos a um acordo.
    Caso, porém, seja negativa, continuaremos em campos opostos.
    Mas, deta vez, não eu poderia dizer que o chocolate Lacta tem “cores repetidas sem qualuer sentido estético”.

    Desta vez teremos que ficar apenas no:

    Sim-eu gosto e no Sim-eu também gosto

    ou no

    Sim-eu gosto e no Não-eu nãogosto nem um pouquinho

    Contudo, ainda corremos o risco de ficarmos discutindo se o tal do “pouquinho” é ou não significativo para todos os chocólatras do mundo.
    Mas… …pelo menos conseguiremos mudar de assunto.
    Né?
    Um grande abraço. Vale uma caixa de chocolate se a resposta for sim.
    Edson

  21. Caro Edson,

    se você crê mesmo que qualquer discussão sobre música esbarre no gosto X não gosto, limito-me a não mais incomodar-lhe com qualquer consideração. Se você acha que pode tirar Schubert do trono no qual a História o colocou baseado apenas no seu gosto, calo-me. Mas saio desentendido: se tudo é gosto, e nada merece ser discutido, por que seu primeiro post? Só para expor o “seu gosto”? Isso é ainda mais desinteressante do que “insípidas e cansativas” discussões sobre qualquer coisa que não seja “Eu gosto, e você?” . Abraço.

  22. Kempff no passado e Brendel na atualidade em se falando de Schubert, o resto é masturbação ideológica…..Pollini é forçar muito a barra, Pollini ”bombril” ….eheheh….

  23. Só sei que Polinni, para sonatas, é um dos melhores! As últimas sonatas de Beethoven como as noturnas de Chopin postadas aqui, coloca-nos em sintonia com o Infinito!

    Uchida sabe fazer boas gravaçõesm mas não trancende, apenas excetua bem o que toca, mas falta-lhe profundidade, trazer à tona do espírito o âmago místico do compositor.

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