Apesar de algumas carrancas, fiquei especialmente feliz com o resultado do último interlúdio — o jazz supraenergético do Soil & “Pimp” Sessions. Que uma parte do público deste blog é deveras conservador, já se sabia; o que eu seguidamente me pergunto, ao preparar as postagens para cá, é quão inovadores, permeáveis e, principalmente curiosos outros grupos de leitores podem ser. E ao abraçar o Japão com o groundbreaking jazz do S&PS, as respostas que chegaram pelos comentários foram gratificantes. Como, por exemplo, tangenciou o Juan Carlos Bosco: é preciso louvar as novas iniciativas em torno do jazz. Não se trata exatamente de falar em “renovação” — palavrinha que traz um ranço indesejado, de que o antigo não presta mais —, mas de re-interesse, re-despertar. Mais do que fazer jazz de uma forma leve, arejada, os novos combos que lotam pubs de Nagoya, Tokyo e Osaka estão formando novas gerações de ouvintes de jazz; e estão mostrando que o estilo não serve apenas para ouvir em casa, ou em lounge bars de personalidade molenga.
Não sei o que vocês acham, mas este cão fica sorrindo ao imaginar que, em “botecos” japoneses, tem gente que sai para dançar jazz ao invés de dance music. Curtir ativamente um estilo que parece renegado ao easy listening, pano de fundo, ao menos em nosso país.
Nada mais justo, portanto, que continuar nosso passeio pelo Japão. O post de hoje traz outros dois sensacionais combos — que, ao contrário do S&PS, são menos “barulhentos” e caminham mais próximos ao jazz tradicional, embora sem perder as doses generosas de groove, e os toques de latinidade, que marcam este particular DNA. Aliás, que não fique dúvida: tanto o Indigo Jam Unit quanto o Quasimode tem uma formação básica que inclui bateria e percussão fixas, além de double bass e piano.
O Indigo Jam Unit não precisa de mais nada; suas faixas são calcadas principalmente no baixo, que divide a maior parte da atenção com os belos riffs de piano. Apesar de um toque de nu-jazz, sua base é bop, e com muito a dever ao jazz modal, principalmente o dos anos 60. E boas composições: além de repletas de swing, são faixas que permanecem nos ouvidos e na memória (ouça Rumble, com um solo de piano de tirar o fôlego, e Time, com sua percussão marcante, e concorde comigo). Não só isso; é um álbum bastante cinemático, com muito movimento, e uma trilha sonora grandiosa pra quem se aventura com mp3 portáteis nas ruas da cidade.
Já o Quasimode, apesar de ter a mesma formação de base, utiliza convidados nos metais; no disco presente, um par de trumpetes e um sax alto, se identifiquei bem (impossível achar a listagem completa do cd na internet. Estamos tratando de grupos ainda pouco conhecidos fora do país de origem). Havia dito que o Indigo Jam Unit tem um feeling sessentista? Pois este disco do Quasimode não é apenas o feeling, mas também homenagem. A banda, que neste ano ganhou a chancela Blue Note de qualidade, resolve fazer uma releitura de clássicos daquela década, tocando standards de artistas do catálogo de sua nova gravadora. O resultado é um disco bastante coeso de jazz contemporâneo: das três bandas japonesas apresentadas, esta é a que tem raízes mais expostas — embora as faixas puxadas no soul e nos bongôs e ton-tons deixem claro de que não se trata de um disco antigo.
Para além de um jazz muito bem feito, tenho um particular carinho ao saber que ouço música ao mesmo tempo tradicional e inovadora, gravada do outro lado do mundo, e nos dias de hoje. (Estas duas bandas, inclusive, lançaram novos álbuns no começo deste mês.) Espero que vocês sigam comigo nessa jornada!
Indigo Jam Unit – Pirates /2008 (V2)
download – 65MB
樽栄嘉哉: keyboards
笹井克彦: double bass
和佐野功: percussion
清水勇博: drums
01 Pirates
02 Rumble
03 Giant Baby
04 Arctic Circle
05 Himawari
06 Time
07 Nostalgia
08 Trailer
09 Raindrop
Quasimode – Mode of Blue /2008 [V2]
download – 86MB
Yusuke Hirado: keyboards
Takahiro Matsuoka: percussion
Sohnosuke Imaizumi: drums
Kazuhiro Sunaga: bass
01 mode of blue(新曲/ブルーノート・トリビュート曲)
02 On Children (Jack Wilson)
03 Afrodisia (Kenny Dorham)
04 Little B’s Poem feat. Valerie Etienne (Bobby Hutcherson)
05 The Loner (Donald Byrd)
06 No Room For Squares (Hank Mobley)
07 Congalegre (Horace Parlan)
08 Ghana (Donald Byrd)
09 Sayonara Blues (Horace Silver)
10 African Village (McCoy Tyner)
11 Night Dreamer (Wayne Shorer)
Boa audição!
Blue Dog
Gostei de ver o Indigo Jam Unit aqui. 🙂
Eles têm alguma relação com o Soil & Pimp Sessions, não lembro qual, mas sei que fazem muitos show juntos.
Tenho uma recomendação: A banda J.A.M. (Just A Maestro), que é um trio composto por integrantes do Soil & Pimp Sessions.
Outra ótima banda do Japão: Jabberloop
Saudações. 😉
Amigo mas uma vez estou aqui, eu na realidade em relação a música em geral sou bastante conservador, mas sempre ando atras de coisas novas, Jazz sou bastante a moda antiga, mas como disse gostou de ouvir novedade e quanto mas creativas melhor, esse CD de Quasimode eu tenho e é muito bom, ele vai pelo lado soul mas tocam muito bem, gostei. Agora estou escutando Indigo Jam Unit, me parecem bons, ainda vou escutar mas, por enquanto estou gostando. Eu não sei se você conhece a pianinsta japonesa (antiga)Toshiko Akiyosi, é uma maravilha.
Eu gosto muito o Jazz que os europeos estam tocando eu tenho acompanhado, muita gente de valor. Agora também curto um bom blues e aí os americanos tem revelados bons talentos ultimamente, coisa que por enquanto no jazz não tem aparecido nada extraordinario.Um abraço amigo e continue postando coisas boas, boas festas para você e sua turma.
Muito bom! Jazz com pegigree ,mas sem cerebralismos.Música
sem cerimonia,um vento bom.Grande post Cachorro.
Só gostaria que você traduzisse os nomes dos músicos do
Indigo Jam Unit…
Muito bom INDIGO JAM UNIT, valeu são bem criativos, estou curtindo.O pianista é ótimo com um toque bem refinado.
Senhores que entendem mais disso do que eu, por favor, ajudem a entender: qual é a diferença entre um contrabaixo normal e um “double bass”? Há alguma diferença, ou são só dois nomes para um mesmo instrumento?
Senhores que sabem mais disso do que eu, por favor, ajudem a entender: qual é a diferença entre um contrabaixo normal e um “double bass”? Há alguma diferença, ou são só dois nomes para um mesmo instrumento?
Links quebrados! Uma pena! Se puderem repostar, por favor, seria muito legal!!
Palomino, Double Bass é o nome em inglês do nosso bom e velho contrabaixo.
Eu quase nunca comento aqui, apesar de baixar o material com certa frequencia. Me perdoem.
Já havia baixado estes discos há tempos, quando da postagem original.
Estou escrevendo só para dizer que são SENSACIONAIS! são dois discos MUITO bons, dos meus preferidos.
Zeus bless you!
Formiga
Todo preconceito é burro.
Nunca comentei aqui, mas visito o site com frequência. Gostaria de parabeniza-los pelo esforço de vocês e agradece-los pelo excelente acervo que disponibilizam diariamente!
Uau!
Esse indigo jam unit é bom demais.
Fazia tempo que não via uma banda nova de jazz tão criativa.
Abraços e obrigado pela postagem.
Olá, Bluedog! Obrigado por mais uma bela postagem!! Viva a nova geração de jazzistas japoneses!! Hiromi, Soil & Pimp e Quasimode me enchem de alegria!
Ah… Bluedog… tenho uma pergunta para você… estou coordenando um curso de apreciação musical na Universidade de Música e gostaria de saber, na sua sua opinião, os nomes de 5 discos de Jazz que todo músico deveria conhecer e apreciar pela vida inteira…
Abraço!
Mais um belo post, Bluedog. Baixei e ouvi imediatamente, adorei ambos e já recomendei a um brother que manda bem na batera lá na baixada santista. Parabéns e obrigado!
isso é um re-upload? tenho certeza que foi no pqpb que descobri indigo jam unit.
Sim, é.