Ligeti (1923 – 2006): Études e Trio para Piano, Violino e Trompa – Eric Huebner / Thomas Hell ֍ — 28/05/2023 — 100 anos de Ligeti!

Eu continuei estudando Matemática e Física por conta própria, mas um ano e meio depois eu me dei conta que queria ser compositor e depois disso nunca mais mudei de ideia.

György Ligeti

Algumas etapas na construção do elusivo Conjunto de Cantor

Mais Ligeti aqui.

Uma das características mais marcantes que vejo na música de György Ligeti consiste no reflexo de sua criatividade e sua recusa de se encaixar em algum estilo musical corrente. Ele estava atento a diversos tipos de estilos musicais – polifonia africana, música da América Latina (discutia em suas aulas as gravações trazidas por Roberto Sierra, um aluno porto-riquenho), jazz como a música de Bill Evans e Thelonius Monk, só para se ter uma ideia. Fora da música ele também tinha interesses diversos, como na Teoria do Caos, conjuntos (fractais) de Mandelbrot, nas tríades do Conjunto de Cantor, na literatura de Jorge Luis Borges e de Lewis Carroll. Essas inspirações e muitas outras lhe deram forças para na última etapa de sua vida produzir música incrivelmente original, como os Études, Estudos para Piano.

O piano ou teclado havia recebido sua atenção em peças como a Musica ricercata, no início da década de 1950 e também na peça Continuum, de 1968, um exercício para produzir um contínuo sonoro a partir de uma grande quantidade de notas tocadas em um pequeno intervalo de tempo (uma inumerável quantidade de finíssimas fatias de salame). Para obter esse efeito, usou o cravo, capaz de grande agilidade no seu mecanismo. Esse instrumento também foi usado, dez anos depois, em mais duas outras peças – a Passacaglie ungherese e Hugarian Rock, quando ele tentava se reconectar com suas raízes húngaras. Outra produção envolvendo piano é o conjunto de três peças para dois pianos, de 1973: Monument, Selbstportrait e Bewegung (Movimento).

De qualquer forma, entre 1977 e 1982 Ligeti passou por um período sem produzir novas obras e enfrentando problemas de saúde. Saindo desse período de seca em 1980, ele conheceu as peças de Conlon Nancarrow que lhes surgeriram novos caminhos criativos. Em 1982 compôs o Trio para violino, piano e trompa a pedido do pianista Eckart Bresch, para acompanhar a composição de Brahms para a mesma combinação de instrumentos. Essa composição o colocou de volta à ativa e deu partida ao maravilhoso processo de composição dos três livros de Estudos. Segundo o próprio Ligeti, seus ‘influenciadores’ foram Scarlatti, Chopin, Schumann e Debussy, mas é claro que ele canalizou para essas obras muitas outras influências.

Pilares da Criação

Eu adoro os nomes dos estudos e como esses nomes refletem aspectos das respectivas obras, lembrando o caso dos prelúdios de Debussy. Veja, a Matemática está presente nas desordem de Désordes e na geometria de Vertige, L’escalier du diable e Columna infinita. Há a poesia de Arc-en-ciel, Automne à Varsóvie, Entrelacs, assim como o técnico Touches bloques ou alusivos e brincalhões Galamb borong e Fém. Der Zauberlehrling é o Aprendiz de Feiticeiro. No último livro, que ficou incompleto, há o estudo com nome de filme – À bout de soulfle, Breathless, Sem Fôlego.

Escolhi para esta postagem um disco com o pianista Eric Huebner que em 2012 foi apontado pianista da Filarmônica de Nova Iorque e é dedicado à música dos séculos 20 e 21. No disco ele interpreta os livros 1 e 2 de Estudos e, na companhia da violinista Yuki Numata Resnick e trompista Adam Unsworth, interpreta o Trio. Gostei inclusive da produção do disco e ficarei de olhe em suas outras contribuições.

Eric Huebner

A obra de Ligeti já tem o passaporte para a posteridade, mas é bastante recente e os primeiros músicos que as interpretaram (alguns inclusive receberam dedicatórias do compositor) ainda estão ativos. A própria colaboração com o compositor está presente em algumas gravações recentes. Ligeti era bastante específico quanto a maneira como esperava que suas obras fossem interpretadas. Mas uma nova geração já está se apresentando e dando a essas peças as suas interpretações e isso é o que torna a música tão orgânica, tão viva. Por isso decidi postar uma outra gravação completa dos 18 estudos, feita para o selo Wergo, dedicado à música contemporânea, pelo pianista Thomas Hell. Irresistível não imaginar o apresentador mandando: Ladys and gentlemen, I now give you Hell, … Thomas Hell! Claro, em inglês hell é inferno, mas em alemão é claro, brilhante. Assim, vocês poderão ver que o Thomas tem fogo e brilho para interpretar os estudos de Ligeti, mas também pode ter uma visão um pouco diferente dessas obras.

Thomas Hell

Uma palavra sobre o selo Wergo. Eu sempre imaginei que Wergo fosse uma palavra em alemão, bem dentro de minha fértil imaginação e santa ignorância. Mas, é simplesmente o nome escolhido para a companhia que foi fundada em 1962 pelo historiador e editor de música Werner Goldschmidt.

E agora, senhoras e senhores, a música!

 

György Ligeti (1923 – 2006)

Études pour piano, Livre I

  1. Désordre
  2. Cordes à vide
  3. Touches bloquées
  4. Fanfares
  5. Arc-en-ciel
  6. Automne à varsovie

Études pour piano, Livre II

  1. Galamb borong
  2. Fém
  3. Vertige
  4. Der Zauberlehrling
  5. En suspens
  6. Entrelacs
  7. L’escalier du diable
  8. Columna infinită

Eric Huebner, piano

Trio for Violin, Horn & Piano

  1. Andante con tenerezza
  2. Vivacissimo molto ritmico
  3. Alla marcia
  4. Lamento. Adagio

Yuki Numata Resnick, violino

Adam Unsworth, trompa

Eric Huebner, piano

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MP3 | 320 KBPS | 161 MB

Critically acclaimed pianist Eric Huebner releases his performance of György Ligeti’s famous Études alongside his iconic Trio for Violin, Horn, and Piano with colleagues Yuki Numata Resnick and Adam Unsworth. Ligeti’s attraction to stylistic influences from across the spectrum, including non-Western music cultures, while preserving a Hungarian core to his aesthetic, is apparent in Huebner’s dynamic performances of these remarkable works.

György Ligeti (1923 – 2006)

Études pour piano, Livre I

  1. Désordre
  2. Cordes à vide
  3. Touches bloquées
  4. Fanfares
  5. Arc-en-ciel
  6. Automne à varsovie

Études pour piano, Livre II

  1. Galamb borong
  2. Fém
  3. Vertige
  4. Der Zauberlehrling
  5. En suspens
  6. Entrelacs
  7. L’escalier du diable
  8. Columna infinită

Études pour piano, Livre III

  1. White on White
  2. Pour Irina
  3. À bout de souffle
  4. Canon

Thomas Hell, piano

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MP3 | 320 KBPS | 131 MB

In the early days, pianists felt obliged to obey Ligeti’s injunction to go always to extremes – of loudness, speed or sheer frenzy. Nowadays, as this new recording shows, they are more relaxed and worldly-wise…In general, it’s the fluidly atmospheric or reflective Etudes that come off best…but overall, this is a magnificent recording.[BBC Music Magazine]

György Ligeti (1923 – 2006)

Três Peças para Cravo

  1. Continuum
  2. Passacaglia Ungherese
  3. Hungarian Rock

Erika Haase, cravo

Três Peças para Dois Pianos

  1. Monument
  2. Selbstportrait
  3. Bewegung

Erika Haase e Carmen Piazzini, pianos

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MP3 | 320 KBPS | 70 MB

Erika Haase foi uma pianista alemã que se dedicou bastante à música de vanguarda. Ela foi amiga de Ligeti, colaborou por um tempo com Boulez e teve Andreas Staier entre seus alunos.

 

 

 

Aproveite!

René Denon

A turma do PQP Bach flagrou Ligeti estudando Matemática

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