Peço licença ao mestre e colega PQP Bach para usar, sob minha pessoal e intransferível responsabilidade, o seu selo de distinção, pois esse disco merece: IM-PER-DÍ-VEL!!!
Este precioso registro ao vivo de um concerto no Théâtre des Champs-Elysées, em Paris, é simplesmente uma das mais poderosas gravações desta belíssima sinfonia, a única escrita pelo francês-nascido-na-Bélgica-mas-que-na-época-não-era-Bélgica César-Auguste Jean-Guillaume Hubert Franck, ele mesmo, César Franck (1822-1890).
É um disco que, no meu pequeno altar de devoção pessoal, ocupa um lugar especial tanto por ser uma das minhas gravações favoritas dessa belíssima sinfonia (Furtwängler, Dutoit, Sanderling e Munch são outras que vêm à mente) como também uma das minhas gravações favoritas de mister Leonard Bernstein, que leva a Orquestra Nacional da França às “máximas alturas” do poema de Augusto dos Anjos. Sei que estou soando superlativo, e a idéia é essa mesmo.
A Sinfonia em ré menor foi a última das grandes obras compostas por Franck, escrita entre 1886 e 1888 (ele morreria pouco depois, em 1890). É a culminação de um arco criativo que reúne suas obras mais belas e interessantes: o Quinteto para piano em fá menor (1879), o Prelúdio, coral e fuga para piano solo (1884) e a estupenda Sonata para violino e piano em lá maior (1886).
Tudo é tão radiante e tão bem construído que é difícil destacar alguma coisa nessa gravação, já que meio que tudo é digno de nota. Seriam os cintilantes fraseados? A beleza dos timbres? A forma como Bernstein e os franceses encontram um balanço perfeito entre a rica delicadeza artesanal dos detalhes e a opulência grandiosa do todo? Estejam desde já convidados a dividir seus pensamentos e emoções aqui na caixinha de comentários. Sinto que tudo que se possa dizer soa algo banal frente a tamanha façanha artística, mas não seria essa justamente uma das delícias de se escutar música assim, tão finamente tecida?
Das notas do encarte do disco, de Petra Weber-Bockholdt, em tradução livre deste escriba:
“Composta em 1868-1888, a ‘Sinfonia em ré menor’ de Franck é uma obra tardia que o músico concluiu aos 66 anos, dois anos antes de sua morte. Essa sinfonia pode ser descrita como uma das principais obras de sua época, pois reúne características essenciais da música composta naquele período. Ela se baseia na chamada forma cíclica, um método de ligação temática que, embora não tenha sido ‘inventado’ por Franck, deve a ele impulsos essenciais como princípio composicional.
No decorrer da sinfonia, os temas dos vários movimentos se mostram relacionados ou, pelo menos, semelhantes, de modo que podem ser unidos ou – soando simultaneamente – combinados uns com os outros. Essa ligação direta ocorre nessa sinfonia, bem como em muitas outras obras que seguem esse princípio de organização. No Finale, Franck analisa todos os temas da sinfonia com mais ou menos detalhes.
A concentração em determinadas formas temáticas é acompanhada pelo esforço de processá-las artisticamente, de ‘realizá-las’. Ambos são um legado da tradição musical alemã. Em contraste, a obra revela sua origem francesa por meio da mudança frequente de humores e atitudes musicais, que, ao se sucederem, dão a impressão de episódios diferentes. Essa característica está relacionada ao caráter pictórico da música francesa, que é moldada por ideias gestuais.”
Completa o saudoso lado b do disco um pequeno poema sinfônico de Camille Saint-Saëns, Le Rouet d’Omphale, de engenhosa orquestração. Uma daquelas pequenas peças de programa, que antecedem o concerto e, depois do intervalo, uma sinfonia. (arquivos corrigidos, com a inestimável ajuda do nosso querido René Denon!)
Em suma, um discaço, senhoras e senhores!
César Franck (1822-1900)
Sinfonia em ré menor
1. I – Lento
2. II – Allegretto – attacca
3. III. Allegro non troppo
Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Le Rouet d’Omphale, op. 31
4. Andantino – Allegro – Tranquilo e scherzando
Orchestre National de France
Leonard Bernstein, regência
Karlheinz
4. Andantino – Allegro – Tranquilo e scherzando
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Thanks
Dear Ermete, thank you for your message! I will check it asap.
Dear Ermete, now it´s correct. Thanks, again!
Thank you to you !!
Tem sido muito bom acompanhar suas postagens, Karlheinz. Quanto à sinfonia, nos últimos tempos geralmente ouço os registros de Monteux e Herreweghe, e este disco que ora compartilha me conquistou de pronto. Achei tudo com ótima dinâmica, solene mas delicado, nos detalhes do registro se percebem o diálogo musical da obra, a completa ausência de impessoalidade fria e estritamente técnica, bom perceber avulsos e irrelevantes esbarrões e sons estranhos à composição mas inerentes à representação dos músicos, concreta que é, da circunstância e fincada em pedra no registro. Adorei! Gostava de registrar apenas o quanto soa esquemática e simplista a divisão entre tradição alemã e francesa — não exatamente o caso da referência da postagem — operada de pretexto a servir de dicotomia forçada, quase sempre para conferir palmares e louvores aos franceses do século XX. Quando o assunto tem em comum Beethoven e Debussy, por exemplo, parece que é incontrolável, para alguns, reduzir aquele à caricatura, ignorar a diversidade de sua música. Talvez se reduza Beethoven para seja possível, só assim, pô-los lado a lado…Proferiam tal discurso alguns escritores, dos quais cito em especial Décio Pignatari, um outro participante do jornal Rascunho: assim, não daria para comparar a sofisticação das peças de Debussy com as sonatas para piano de Mozart, estas seriam boas até; a elegância daquele com a grosseria e ímpeto de Beethoven; ainda, Debussy teria introduzido a noção de espaço na música etc. Isto é, aquele apelo ao progresso, suposto defeito apontado na música de Beethoven, é aplicado justamente nos desdobramentos da arte. Trata-se, claro, de conversa fiada (a ideia de espaço é divertida, ao menos). De minha parte, é sempre bom visitar Fauré e Franck, sentir o ar destas paragens totalmente singulares, novas, genuínas. Esta sinfonia é um bom exemplo, uma das grandes realizações humanas, basta por si.
Caro Otavio, muito obrigado por seu generoso e atencioso comentário! Fico feliz que tenha gostado da gravação e tomado um pouco de seu tempo para compartilhar suas impressões. De resto, devo dizer que concordo muito contigo, é de fato uma dicotomia forçada e bem esquemática, simplista. Trabalhei algum tempo na imprensa e era uma batalha pessoal tentar fugir desse tipo de clichê que pouco traz de fato para a análise ou apreciação. Lembro do Barenboim questionando a associação entre a música francesa (o próprio Debussy que você citou) e o impressionismo, argumentando que essa relação estaria muito mais presente entre a música e a literatura (Mallarmé, Baudelaire) do que de fato com a pintura impressionista. Enfim,tem conversa pra mais de metro aí… De novo, agradeço o atencioso comentário! A gente que escreve aqui sente falta desse contato com os leitores. Um grande abraço!
Baixei hoje, 2 de maio, e também veio quebrada a faixa 4; não toca.
Um abraço.
Olá Cleverson, obrigado pelo toque. De fato, está com algum problema, e misterioso: o disco toca direitinho no meu aparelho, mas quando tento digitalizar, a faixa 4 termina em branco. Acabei de tentar mais três vezes… Vou consultar alguns amigos do ramo para tentar resolver. Um abraço!
Corrigido agora, graças ao nosso querido René Denon!