Claude Debussy
(Alguma) Música para Piano
A perspectiva do virtuose de piano
Parabéns!
Os pais de Claude Debussy eram pessoas simples – uma costureira e um balconista – e ficaram cheios de planos quando ele, com apenas dez anos, foi aceito no Conservatório de Paris para estudar piano. Uma carreira como pianista, virtuose do instrumento, seria a realização de um sonho. Mas, bem pouco tempo depois, a realidade se mostrou outra, para grande exasperação tanto dos pais quanto dos professores. O garoto adorava distorcer cada efeito do pobre instrumento e não parava de murmurar, como se estivesse todo o tempo falando com o instrumento. A avaliação dos mestres: ótimo acompanhante e dono de grande invenção harmônica, mas não um pianista!
Hoje é impossível falar da música para piano sem mencionar Claude Debussy, cuja obra para piano certamente deixou sua marca e influência. Basta pensar nos Prelúdios e nos Estudos.
Neste momento em que o colocamos em destaque pela passagem de 160 anos de seu nascimento, decidi evidenciar nesta postagem o aspecto desta obra que lança um apelo aos pianistas virtuoses. É claro, não deu para explorar o tema até o fundo (ah, se Conde Vassily se atracasse com isso…), mas a ideia é pontuar, lembrar esse aspecto.
Minhas limitações e poucos recursos me deixaram com estes dois pianistas, um do século 20, que de certa forma, também foi o século da música para piano de Claude: Vladimir Horowitz; o outro é bem atual e atuante: Marc-André Hamelin.
O primeiro arquivo é o conteúdo de um disco gravado por Marc-André Hamelin, todo dedicado a peças de Debussy. Os dois conjuntos de três peças para piano cada um, Images I e II, escritos entre 1901 e 1907, e o segundo livro dos Prelúdios, de 1912-13.
A música contida aqui nos revela como Debussy era inspirado pelas mais diferentes formas de arte e como ele conseguia recriar, de forma inovadora, as diferentes belezas – impressões – palavra que ele mesmo não aceitava, em sua própria arte.
Mas, aviso aos navegantes! Se você ainda não conhece esta música, a primeira parte do disco demanda um bom momento para ser ouvida, sem pressas ou ansiedades. Permita que as belezas sonoras extraídas do piano possam ser devidamente apreciadas. Se você prefere mais ação, vá até os prelúdios, depois de ouvir alguns movimentos das Images e, depois, volte… Não há pressa!
Veja os nomes das peças das Images: Reflets dans l’eau, Et la lune descend sur le temple qui fut, Poissons d’or. Para realizar estas peças é necessário sensibilidade, inteligência, controle do tempo e o requisito que motivou a postagem, virtuosismo. Basta pensar no último dos Prelúdios, aqui interpretado magistralmente por Hamelin: Feux d’artifice.
O segundo arquivo, que oferecemos apenas em mp3, é uma compilação de algumas (poucas, pena…) peças de Debussy que Volodya tocava. Ele, que assim como Marc-André Hamelin, poderia tocar ‘qualquer coisa’, tinha estas peças em seu repertório. Aqui reunimos gravações feitas em estúdio com gravações ‘ao vivo’. Na verdade, duas peças são apresentadas duas vezes cada uma, gravadas assim, primeiro em estúdio e depois a gravação ao vivo.
A faixa 00 lhe dará uma ideia de como reage o pessoal do PQP Bach quando Volodya aparece por aqui, mas se isso te incomodar muito, pode simplesmente excluí-la.
A seleção de Horowitz começa com alguns Prelúdios, quatro deles: “Les fées sont d’exquises danseuses, Bruyères, “General Lavine” – eccentrique e La terrasse des audiences du clair de lune. Todos em comum com o Hamelin. Um estudo para mostrar que era perfeito nos arpejos e duas típicas peças de encores: Serenade for the doll, da Suíte Children’s Corner, para deixar a plateia bem quietinha (que um bom pianista é assim, bota todo o mundo sob seu feitiço), fechando o petit recital com L’isle joyeuse, para sair nos ombros da multidão!
Primeiro Arquivo
Claude Debussy (1862 – 1918)
Images pour piano – Livro 1
- Reflets dans l’eau
- Hommage à Rameau
- Mouvement
Images pour piano – Livro 2
- Cloches à travers les feuilles
- Et la lune descend sur le temple qui fut
- Poissons d’or
Préludes – Livro 2
- Brouillards: Modéré
- Feuilles mortes: Lent et mélancolique
- La Puerta del Vino: Mouvement de Habanera
- Les fées sont d’exquises danseuses: Rapide et léger
- Bruyères: Calme
- «General Lavine»—excentric: Dans le style et le mouvement d’un Cake-Walk
- La terrasse des audiences du clair de lune: Lent
- Ondine: Scherzando
- Hommage à S Pickwick Esq PPMPC: Grave
- Canope: Très calme et doucement triste
- Les tierces alternées: Modérément animé
- Feux d’artifice: Modérément animé
Marc-André Hamelin (piano)
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FLAC – HiRe| 990 MB
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MP3 | 320 KBPS | 173 MB
The hallmarks of Hamelin’s style are always in evidence, and the clarity with which the polyphonic aspects of Reflets dans l’eau come through gives a sense of momentum rarely perceived in this piece.
BBC Music Magazine, janeiro de 2015
Hamelin’s stature, extraordinary from the start, increases with every new issue. And here in his latest album he subdues his legendary, transcendent technique to convey Debussy’s very essence with a surpassing ease and naturalness….Hamelin’s glistening sonority is flawlessly captured by the Hyperion team. This is a disc to treasure.
Gramophone, novembro de 2014
Segundo Arquivo
Claude Debussy (1862 – 1918)
- Aplausos para Horowitz
- Prelude IV, Book II – Les fees sont d’exquises danseuses (Gravação em Estúdio)
- Prelude IV, Book II – Les fees sont d’exquises danseuses (Gravado ao Vivo)
- Prelude V, Book II – Bruyeres (Gravação em Estúdio)
- Prelude V, Book II – Bruyeres (Gravado ao Vivo)
- Prelude VI, Book II – General Lavine-eccentric Cake-Walk (Gravação em Estúdio)
- Préludes VII, Book II – La terrasse des audiences du clair de lune (Gravação ao Vivo)
- Étude – Pour les arpeges composes- Dolce e lusingando (Gravado ao Vivo)
- Serenade for the Doll – Allegretto ma non troppo (Gravado ao Vivo)
- L’isle joyeuse (Gravado ao Vivo)
Valdimir Horowitz, piano
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MP3 | 320 KBPS | 77 MB
As faixas 0, 2, 4 e 6 foram gravadas ao vivo em um concerto no Woolsey Hall da Yale University em 13 de novembro de 1966.
As faixas 1, 3 e 5 foram gravadas em estúdio entre 1962 e 1963. Produção de Thomas Frost. (Estas faixas fazem parte dos dois primeiros volumes de uma coleção lançada pela Sony com gravações de Horowitz e trazem as sessões de gravação feitas entre 1962 e 1963 no estúdio montado pela Columbia na mansão do artista, que se recusava a se mostrar num estúdio.)
As três últimas faixas foram gravadas no Concerto do Carnegie Hall de 1966. (Também fazem parte da coleção mencionada anteriormente.)
Não deixe de ler esta perspectiva sobre a arte de Horowitz.
Aproveite!
René Denon
Se você gostou do primeiro álbum, não vai deixar de apreciar estas postagens aqui:
Claude Debussy (1860 – 1911) • ∾ • Peças para Piano • ∾ • Steven Osborne ֍
Claude Debussy (1862-1918): Images I e II – Estampes – Ivan Moravec, piano
Que postagem, como de hábito, primorosa, René Denon, muito obrigado por compartilhar!
Eu sou fã confesso de Debussy e compartilho tão fortemente tudo o que disse sobre o tempo na obra dele! Não há pressa em Debussy – ou não pode haver… Obviamente que grande parte do que ouço serve de trilha sonora para coisas da vida: trabalhar (quando estou em casa), dirigir, lavar louça (dia desses, meu filho disse “Papai, vou fazer igual a você” e colocou os fones para lavar a louça)… Mas com alguns mestres, a coisa não pode ser assim. Se começa a tocar Beethoven no carro, por exemplo, eu pulo a faixa, não consigo, pois devo parar e prestar atenção. Com Debussy, preciso estar acomodado confortavelmente e com tempo para ouvi-lo e vê-lo fazer o tempo parar.
Mais uma vez, abraços, René.