Depois de se estabelecer em Viena, sem se importar com a terrível advertência de papai Leopold, Mozart aproveitou todas as oportunidades para impressioná-lo com a seriedade de seus propósitos. Em abril de 1782, ele informou a seu pai que ‘Todos os domingos, às 12 horas, vou à casa do Barão van Swieten, onde não se toca nada além de Bach e Handel. No momento, estou fazendo uma coleção de fugas de Bach…”. Para as matinês semanais barrocas do Barão, Mozart também transcreveu diversas fugas de Bach para cordas, seis para trio e cinco para quarteto. Seu entusiasmo por Bach pode ter sido estimulado ainda mais por sua noiva, Constanze, que se era uma espécie de fugólatra.
Para seus arranjos de quarteto, Mozart favoreceu as fugas de som mais arcaico. Quando foram publicadas, eram precedidas, de maneira um tanto incongruente, por novos prelúdios de autoria desconhecida — era um Bach filtrado por um prisma galante. A Akademie für Alte Musik complementa três das transcrições de Mozart com arranjos anônimos de quinteto de cordas, com novos prelúdios. Fica tudo muito estranho. Para compensar a severidade potencial em uma sucessão de fugas lentas, a Akademie varia as cores instrumentais: cordas solo, orquestra de cordas, oboés, trombones e fagote.
Um disco interessantíssimo!
W.A. Mozart sobre J.S. Bach: Adagios & Fugues (Akademie Für Alte Musik Berlin)
1 Prelude & Fugue In D Minor K405/4 6:03
2 Larghetto Cantabile In D Major & Fugue K405/5 4:45
3 Adagio & Fugue in A Minor 5:55
4 Allegro In C Minor K Anh 44 & Fuga A Due Cembali K426 4:33
5 Adagio Cantabile & Fugue In E Flat Major 3:55
6 Adagio & Fugue In C Minor K546 6:32
7 Adagio & Fugue in E Major K405/3 5:08
8 Adagio & Fugue in B Minor 6:08
9 Adagio & Fugue in D Minor 7:28
Akademie Für Alte Musik Berlin
PQP
Traduzo um trecho da repostagem de capa da revista Diapason de fevereiro/2021: “O que Mozart deve a Bach” (Ce que Mozart doit à Bach)
Em 1768, CPE Bach deixou a Prússia para ir para Hanse e substitui seu falecido padrinho Telemann em Hamburgo. Mas a memória que ele deixou em Berlim nunca será apagada. É aqui que ele reúne a maior parte dos manuscritos de seu pai depois de 1750 – eles ainda estão lá. É lá, na sala da princesa Anne-Amélie, irmã mais nova de Frederico II, que nasce o culto simultâneo de Bach e Handel. Então é aqui que vamos encontrar nosso ator principal, o barão Van Suiten, que foi embaixador (1770–77) na corte de Frederico II.
Wolfgang para seu pai em 10 de abril de 1782: “A propósito, eu gostaria de pedir a você, quando você enviar o Rondeau de volta para mim, para incluir as 6 fugas de Handel e as tocatas e fugas de Eberlin. – Vou todos os domingos às 12 horas ao Barão Van Suiten – e só tocamos Handel e Bach. Mal instalado em Viena, o jovem compositor que fugiu de Salzburgo busca por todos os meios florescer nesta nova terra. Serenatas, óperas, aulas de piano, nenhuma porta deve permanecer fechada. A maioria resiste a ele, contudo. Apenas a casa do “Barão Van Suiten”, mais propriamente van Swieten, o acolhe incondicionalmente. Um colecionador amante da música, o barão inventa o “concerto histórico” e, meio século antes de Mendelssohn, adivinha que a arte secreta do velho Bach fará grande barulho.
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