.: interlúdio :. 100 anos de Astor Piazzolla: Concierto para bandoneón – Tres tangos – Piazzolla – Schifrin #Piazzolla100

De Ástor não lhes falarei – meus colegas falarão mais, e melhor. Limitar-me-ei a contribuir, na justa homenagem a seu centenário, com uma entre as tantas gravações desse gênio multifacetado que esparramou criatividade para todos os gêneros, como se prisma fosse, a partir de suas firmes fundações tanguísticas.

Se escolhi este disco entre tantos, claro, não foi sem bons motivos. Afinal, um dos mimimis mais consistentes durante a carreira de Piazzolla foi o dos que protestavam contra as audições de sua  música nos sacrossantos palcos em que, criam eles, só se deveria ouvir música de concerto. Hoje, quase três décadas depois de sua morte, tantos são os grandes concertistas a levarem suas obras no repertório a todos os palcos do mundo que nos fica difícil imaginar possível um reproche desses. No entanto, muitos tomates zuniam sobre Piazzolla a cada tentativa, usualmente magistral, de integrar as tradições da música de concerto, do tango e do jazz, e dá-las ao mundo através de seu Nuevo Tango. Imagino, assim, que sua vontade de provocar os detratores e ganhar uma tomatina privê fosse a maior de sua vida ao compor, em 1979, seu concerto para bandoneon e orquestra.

Ainda que composto na tradicional forma de três movimentos, sendo um lento flanqueado por dois rápidos, o concerto mostra de quem é criatura logo nos primeiros, vigorosos compassos, com a entrada imediata do solista num assertivo tango, acompanhado por uma orquestra que, claramente, é tão só um disfarce camerístico para o tradicional quinteto piazzolliano. A notável adição à turma de cordas, piano e percussão é a harpa, de participação marcante no primeiro movimento e convidada de honra do bandoneon no belo dueto do segundo. O finale, claramente inspirado em La Muerte del Ángel, cita um tango composto para a trilha sonora de Con alma y vida – escolha que, como Ástor nos contou, também,não foi à toa:

Não sabia como o terminar. Então disse a mim mesmo: vou-lhes dar um tango, de modo que os eruditos saibam que, quando quero, eu posso compor como eles, e que quando eu quero eu faço as coisas do meu jeito”

Se os “eruditos” tivessem qualquer dúvida disso, bastar-lhes-ia acompanhar a engenhosa transformação da seção assinalada como Melancolico final na erupção rítmica que arremata o concerto: coisa de consumado mestre, cujo legado viverá muito mais que o desses pobres-diabos.

 

Ástor Pantaleón PIAZZOLLA (1921-1992)

Concierto para Bandoneón y Orquesta

1 – Allegro marcato
2 – Moderato
3 – Presto – Melancolico final

Tres Tangos para Bandoneón y Orquesta

4 – Allegro tranquillo
5 – Moderato místico
6 – Allegro molto marcato

Ástor Piazzolla, bandoneón
Orchestra of St. Luke’s
Lalo Schifrin, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

“Diminuto bandoneonista argentino”: anúncio da estreia profissional de Piazzolla na Argentina, em 1936, depois de voltar com sua família dos Estados Unidos, onde viveram.
O “disminuto bandoneinista” Ástor, como menino-jornaleiro, e seu ídolo Carlos Gardel no filme “El día que me quieras” (1935). O filme foi rodado em “Nueva York”, onde os Piazzollas viviam, e o astro afeiçoou-se ao jovem músico, convidando-o para fazer essa ponta. Fez-lhe também o convite para se juntar à turnê de seu conjunto, mas o pai do moleque não permitiu. Essa recusa salvaria a vida de Ástor: Gardel e seus músicos morreriam num desastre aéreo em Medellín, no ano em que o filme foi lançado. Mais tarde, superado o trauma colossal da morte de “Carlitos”, Piazzolla comentaria jocosamente que, se tivesse desobedecido seu pai e acompanhado Gardel, ele estaria “tocando harpa, e não bandoneón”

Vassily

P. S.: Para completar a homenagem a Ástor, restaurei dois links quebrados:

Astor Piazzolla (1921-1992): Five Tango Sensations com Piazzolla e o Kronos Quartet – LINK REVALIDADO

.: interlúdio :. Astor Piazzolla (1921-1992) — Los Tangueros (com Pablo Ziegler e Emanuel Ax)

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