Nada presente nesse disco faria muita falta ao mundo, mas os completistas certamente chiariam, então cumpriremos a tabela e apresentaremos as árias avulsas de Beethoven com acompanhamento de orquestra.
Três delas – “Ah, Perfido!”, “Ne’ giorni tuoi felice” e “Tremate, empi, tremate” – já são nossas conhecidas. Somar-lhes-emos algumas outras, também em italiano, e igualmente escritas como exercícios de prosódia naquela língua que Ludwig apresentou a seu professor, Antonio Salieri. Já mencionamos algumas vezes que o sonho dourado de nosso herói era triunfar na ópera. No entanto, assim como a sombra amedrontadora de Haydn pairava sobre sua música instrumental, sobre quaisquer planos seus de óperas em italiano sobrevoavam os fantasmas das magníficas obras-primas de Mozart, particularmente a trinca Le Nozze/Così/Don. Ao longo de sua vida madura, no entanto, o fantasma italiano de Beethoven seria bem outro: o compositor de maior sucesso em todo continente, o bon gourmand que paria óperas em borbotões, o extraordinariamente rico e famoso e inibidor de fortuna de qualquer outro operista, Gioachino Rossini.
Vamos às árias.
Primo amore, piacer del ciel (“Primeiro amor, prazer celestial”) é previsivelmente sentimental e foi o primeiro fruto dos estudos de prosódia italiana. No, non turbati (“Não, não temas”) é, assim como Ne’ giorni tuoi felici, baseada em texto do onipresente Pietro Metastasio, autor de libretos multiplamente reciclados pelos mais diversos compositores, inclusive o Kapellmeister Salieri, que os usava também como material de ensino.
Mais interessantes, acho eu, são as árias em alemão, todas ao estilo dos Singspiele que faziam imenso sucesso em Viena, e nenhum mais que a obra-prima de Mozart – sempre ele -, sua “Flauta Mágica”. O welch ein Leben, ein ganzes Meer von Lust e Soll ein Schuh nicht drücken foram compostas para inserção no Singspiel Die schöne Schusterin oder Die pücefarbenen Schuhe, de Ignaz Umlauf, que tinha sido nomeado Kapellmeister de Singspiele (sim, houve esse cargo) pelo imperador Joseph II. As árias restantes datam dos anos de Bonn: a assanhadinha Prüfung des Küssens (“Teste de beijo”)—Meine weise Mutter spricht / Küssen, Küssen, Kind, ist Sünde! (“Minha sábia mãe dizia/Beijar, beijar, criança, é pecado!”) e a marota Mit Mädeln sich vertragen (“Dando-se bem com garotas”), que se baseia num Singspiel com textos de Goethe e foi revisada nos primeiros anos de Ludwig em Viena.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
1 – “Ah! perfido!”, cena e ária para soprano e orquestra, Op. 65 (1796)
2 – “Primo amore”, cena e ária para soprano e orquestra, WoO 92 (1790-92)
3- “No, non turbarti”, ária para soprano e orquestra, WoO 92a (1801-02)
Hanne-Lore Kuhse, soprano
4 – “Ne’ giorni tuoi felici”, dueto para soprano, tenor e orquestra, WoO 93 (1802)
Hanne-Lore Kuhse, soprano
Eberhard Büchner, tenor
5 – “Tremate, empi, tremate”, trio para soprano, tenor, baixo e orquestra, Op. 116 (1802)
Hanne-Lore Kuhse, soprano
Eberhard Büchner, tenor
Siegfried Vogel, baixo
6. – “Prüfung des Küssens”, ária para baixo e orquestra, WoO 89 (1790-92)
7 – “Mit Mädeln sich vertragen”, ária para baixo e orquestra, WoO 90 (1790-92)
Siegfried Vogel, baixo
Duas árias para o Singspiel “Die schöneSchusterin” de Ignaz Umlauf, WoO 91b (1795-96)
8 – No. 1: “O welch ein Leben”, para tenor e orquestra
Eberhard Büchner, tenor
9 – No. 2: “Soll ein Schuh nicht drücken”, para soprano e orquestra
Hanne-Lore Kuhse, soprano
Staatskapelle Berlin
Arthur Apelt, regência
Vassily