BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Vinte e cinco canções escocesas, Op. 108 – Allen – El Zein – Pérez – Bernard – Lièvre-Picard – Rouchon – Fagiuoli – Musto – Armengaud

Entre o final do século XVIII e o início do século XIX, a música folclórica estava em voga em boa parte da Europa. Não se tratava, evidentemente, do fruto de trabalho de etnomusicologia, disciplina que ainda nem sonhava ser um zigoto, e sim de canções atraentes que servissem a instrumentistas e cantores amadores para, em suas casas, fazerem música com os recursos que tivessem disponíveis. Entre os vários personagens que se dedicaram a proporcionar partituras para esses afãs, dois são de nosso especial interesse:  o editor escocês George Thomson (1757-1851) e, claro, nosso herói em jubileu, Ludwig van Beethoven. 
 
Thomson era amigo, entre outros, do bardo Robert Burns (1757-1796 –  o poeta nacional da Escócia, imortalizado pela célebre Auld Lang Syne  [alerta de André Rieu ativo] [sim, fiz de propósito] – e dedicou-se a colecionar canções das ilhas britânicas, particularmente de sua terra natal. Percebendo o quão infecciosamente elas eram transmitidas e repetidas pelos melômanos,  passou a publicar suas melodias em novas roupagens, com letras feitas por distintos poetas e em arranjos encomendados aos maiores nomes da música da época, como Haydn e Hummel. No início do século XIX, ao ouvir falar de um tal Beethoven de que muito se falava em Viena, resolveu escrever-lhe para propor-lhe negócios.
 
Thomson e Beethoven nunca se encontraram pessoalmente, mas sua rocambolesca relação epistolar daria seguramente uma ópera bufa (que certamente não encomendaríamos ao renano, dada sua reticência para com o gênero). Ainda que lhes concedamos o desconto por conta do bloqueio continental a que Napoleão submeteu as ilhas britânicas e a imensa dificuldade de levar um grão de areia que fosse de Edimburgo a Viena, tudo foi, no mínimo, enroladinho: o primeiro convite de Thomson foi enviado em 1803, mas Beethoven só fechou negócio em 1809 e demoraria ainda outro ano para entregar a primeira encomenda. O resultado dessa parceria, publicado em Edinburgo e Londres para os bolsos de Thomson e em Viena para a surrada capanga de Ludwig, foram cento e sessenta arranjos de canções da Escócia e de diversos outros países. Dentro desse prolífico e pouco conhecido veio da produção beethoveniana, a coleção de vinte e cinco canções escocesas publicadas como Op. 108 foi a única a receber um número de opus, e por ela começaremos.
 
Admito que, antes de insensatamente me propor a este projeto da travessia da obra completa de Ludwig, eu nunca escutara esses arranjos. Esperava algo muito enfadonho, talvez merecidamente esquecido como mero trampo pagador de contas, mas me surpreendi com a qualidade do que ouvi. Se nada há de memorável, e em que pese o tom decididamente sentimental da maioria dos arranjos, é óbvio que Beethoven se dedicava com gosto em burilá-los, ainda mais porque envolviam o trio com piano, conjunto com o qual estrearia seu catálogo de obras e para o qual já compusera tanta coisa importante. Espero que gostem – e, se não for o caso, sugiro que aqui retornem em 4 de outubro, quando já teremos quitado todos os arranjos em nossa lista e já teremos passado a outro capítulo obscuro da produção beethoveniana.

Ludwig van BEETHOVEN
(1770-1827)

Vinte e cinco canções escocesas, para voz, coro misto, violino, violoncelo e piano, Op. 108
Arranjadas entre 1815-1818
Publicadas em 1818

1 – Music, Love and Wine. Allegretto più tosto vivace
2 – Sunset. Andante con molto espressione
3 – O sweet were the hours. Andante con moto semplice
4 – The maid of Isla. Allegretto ma con espressione
5 – The sweetest lad was Jamie. Andantino un poco allegretto
6 – Dim, dim is my eye. Andante amoroso con molto espressione
7  – Bonny Laddie, Highland Laddie. Allegretto quasi vivace
8 – The lovely lass o’ Inverness. Affettuoso assai ed espressione
9 – Dueto – Behold, my love, how green the groves. Grazioso
10 – Sympathy. Andantino più tosto allegretto
11 – O! thou art the lad of my heart. Allegretto più tosto vivace
12 – Oh, had my fate been join’d with thine. Andante teneramente con molto espressione
13 – Come fill, fill, my good fellow! Spirituoso ma non troppo presto
14 – O how can I be blythe and glad. Andante poco allegretto
15 – O cruel was my father. Andante con molto espressione
16 – Could this ill world have been contriv’d. Allegretto grazioso e un poco scherzoso
17 – O Mary, at thy window be!. Andantino quasi allegretto
18 – Enchantress, farewell. Andantino grazioso con espressione
19 – O swiftly glides the bonny boat. Andante poco allegretto
20 – Faithfu’ Johnie. Andantino semplice amoroso teneramente
21 – Jeanie’s Distress. Andantino quasi allegretto
22 – The Highland Watch. Spirituoso e marziale
23 – The Shepherd’s Song. Allegretto
24 – Again, my Lyre. Andante affettuoso assai
25 – Sally in our alley. Andantino con moto grazioso e semplice assai

Juliette Allen, soprano
Dania El Zein, soprano
Natalie Pérez, mezzo-soprano
John Bernard, tenor
Vincent Lièvre-Picard, tenor
François Rouchon, barítono
Alessandro Fagiuoli, violino
Andrea Musto, violoncelo
Jean-Pierre Armengaud, piano

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#BTHVN250, por René Denon

Vassily

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