Johannes Brahms (1833-1897) – Concerto para Piano nº 1 in Ré Menor, op. 15 – Paul Lewis, SRSO, Daniel Harding

Esta excelente gravação é uma das melhores que foram lançadas neste novo século. É a nova geração mostrando a que veio, principalmente o jovem maestro Daniel Harding que, frente à excelente Orquestra da Rádio Sueca, esbanja talento e versatilidade, em uma obra que em sua introdução antes parece uma sinfonia que um Concerto. Tudo é grandioso aqui, e a orquestra é parte fundamental da obra, é uma batalha de titãs entre o solista e a orquestra, portanto, é fundamental que todos os envolvidos se entendam para fazer com que a obra possa fluir. Não é uma peça fácil, é longa, densa (mas qual obra de Brahms não o é?), e com certeza esgota a todos, tanto física, quanto psicologicamente.

Como não poderia deixar de ser diferente, foi uma obra que não foi bem recebida em sua estréia. Eis o que escreveu o influente crítico musical Edward Bernsdorf:

“uma composição arrastada para o seu túmulo. Essa obra não pode proporcionar prazer (…) nada tem a oferecer além de desolação desesperançada e aridez (…) durante mais de três quartos de hora tem-se de suportar esse revolvimento e esquadrinhamento, esse estiramento e esforço, esse dilaceramento e remendar de frases e floreios ! Não apenas se tem de se assimilar essa massa em fermentação, tem-se também de engolir uma sobremesa das dissonâncias mais estridentes e dos sons mais desagradáveis. Deliberadamente herr Brahms tornou a parte do piano mais desinteressante possível (…) por fim, a técnica de piano de Herr Brahms não satisfaz às exigências que atualmente temos o direito de fazer a um solista de concerto.” 

Trata-se de uma obra revolucionária, com certeza, mas lá em 1859 não foi assim que foi entendida. Ao contrário. “Uma obra severa e inflexível, intelectualmente muito mais exigente do que a sinfonia comum,” nas palavras de Malcolm McDonald, biógrafo do autor, que neste seu livro traz uma carta do próprio Brahms para seu amigo Joseph Joachim logo após a estréia da obra:

“O meu Concerto teve aqui um brilhante e decisivo – fracasso (…) no fim três pares de mãos se juntaram muito devagar e em seguida uma vaia completamente inconfundível, de todos os lados, impossibilitou qualquer manifestação desse tipo. Não há mais nada a dizer sobre esse episódio, pois nem uma pessoa me disse uma palavra sobre a obra”.

O impacto que esta obra causou aos meus jovens ouvidos de adolescente não foram muito diferentes. Precisei aprender a ouvir esse concerto. Quando falo impacto aos meus ouvidos adolescentes, quero acrescentar que até então eu ouvia apenas o trivial: algumas sinfonias de Beethoven, algumas obras de Mozart, Chopin, Tchaikovsky, etc. Precisei conhecer e me apaixonar pelo Segundo Concerto para então voltar ao Primeiro. E também tive de assimilar a obra de Beethoven, principalmente suas últimas sinfonias e concertos para piano, e claro, principalmente, mergulhar de cabeça na Primeira Sinfonia para poder assimilar melhor aquela ‘massa em fermentação’. A partir de então, Brahms tornou-se um compositor fundamental para mim.

Paul Lewis dispensa apresentações. Para quem já encarou a gravação da integral das sonatas de Beethoven e concertos do mesmo Ludwig, encarar Brahms era um caminho meio que natural. Infelizmente o músico grava pouco, parece meio arisco aos estúdios de gravação, portanto, aguardando ansioso sua gravação do Segundo Concerto, esta obra atemporal, única, fundamental. Quem viver, verá.

01. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – I. Maestoso-Poco piu moderato
02. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – II. Adagio
03. Piano Concerto No. 1 in D minor, Op. 15 – III. Rondo. Allegro ma non troppo
04. 4 Ballads, Op. 10 – 1. Andante D Minor
05. 4 Ballads, Op. 10 – 2. Andante D Major
06. 4 Ballads, Op. 10 – 3. Intermezzo- Allegro B Minor
07. 4 Ballads, Op. 10 – 4. Andante con moto B Major

Paul Lewis – Piano
Swedish Radio Symphony Orchestra
Daniel Harding – Conductor

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2 comments / Add your comment below

  1. FDP, ótima postagem. No começo deste terrível pesadelo de pandemia, adquiri o referido livro do Malcolm McDonald, e isso exatamente por influência de uma postagem sua que o cita ( https://pqpbach.ars.blog.br/2013/05/07/johannes-brahms-faz-180-anos-1833-1893-concertos-para-piano-e-orquestra-gilels-jochum-bpo/ ). É muito rico. Quanto ao álbum, gosto bastante dos envolvidos. Embora tal repertório tenha concorrentes colossais (o próprio Gilels, claro), temos aqui uma bela versão. Obrigado!

    1. Meu caro Otavio Ferraz, essa biografia de Brahms do McDonald já me acompanha há bastante tempo. É livro de consulta, de cabeceira, assim como a biografia de Beethoven, do Maynard Solomon. Lá nos anos 90 a editora Jorge Zahar, na época dirigida pela filha do editor, a Cristina, tinha uma coleção de livros de música, foram publicados alguns livros indispensáveis, como estes dois citados acima, a biografia de Bach pelo Karl Gerhringer, o estudo sobre Mozart do Nobert Elias, entre outros. Creio que atualmente estejam esgotados, mas se procurares em bons sebos é capaz de encontrares. Ah, esqueci de citar o ‘Discurso dos Sons’, se não me engano é este o título, do Nikolaus Harnoncourt.. são títulos obrigatórios para nós que tanto amamos música .

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