Quando a Oitava estreou, num concerto que também incluiu a já manjada e bem-sucedida dobradinha Sétima/Wellington, a reação, se não de desgosto, foi de estranheza. Depois da energia tremenda da Sétima, cuja reputação só crescia, surgia aquela sinfonia neoclássica, neo-haydniana, concisa e com três de seus quatro movimentos em sonata-forma. Estaria Beethoven, o arauto do futuro da Música, dando a ré?
Pelo jeito, não atentaram para a escrita: desde a “Eroica”, Ludwig alternava uma sinfonia inovadora e expansiva com uma contraparte concisa e/ou relaxada. Se a Quinta foi gêmea bivitelina da Sexta, os primeiros esboços da Oitava surgiram juntos aos da Sétima, que acabou tendo uma gestação mais curta. Composta essencialmente em 1812, ano em que Beethoven conheceu seu ídolo Goethe num veraneio em Teplitz/Teplice e escreveu sua famosa carta à “Amada Imortal”, a Oitava é notável por ser uma das únicas grandes obras de Beethoven sem um dedicatário. Ela já começa contrastando com sua irmã: em vez da imensa introdução que abre a Sétima, aqui uma frase assertiva inicia imediatamente os trabalhos. Não há, como na sinfonia anterior, um movimento lento propriamente dito, e sim um “pseudo-scherzo” cujo pulsar remete tanto a um metrônomo que se cogitou tratar-se de uma homenagem a seu inventor, Mälzel (a descoberta posterior de um breve cânone vocal com o tema do Allegretto e uma citação a Mälzel pareceu corroborar a teoria, mas acabou refutada como uma falsificação – mais uma – de Anton Schindler). Em seguida ao “pseudo-scherzo”, em dum scherzo propriamente dito, há um delicioso minueto – o primeiro que ele escrevia em oito anos, e mais uma jocosa referência ao não tão distante passado em que a uma sinfonia não poderiam faltar minuetos. O finale é, entre todas as partes, aquela de maior sustância: depois dum começo sutil e um tanto hesitante, a coisa vai fermentando e crescendo e tomando uma proporção tamanha que só consegue encontrar um fim com a maior e mais extravagante de todas as codas de Beethoven.
Tantos gestos de humor e bruscos imprevistos, dentro duma forma mormente clássica, foram entendidos na época como anacronismo, mas hoje eu só os consigo perceber como imensa ironia – a mesma com que Ludwig teria respondido ao comentário de seu aluno Czerny sobre o fato do público não ter aclamado a Oitava e preferido a Sétima:
Porque ela é muito melhor.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sinfonia no. 8 em Fá maior, Op. 93
Composta em 1812
Publicada em 1817
1 – Allegro vivace e con brio
2 – Allegretto scherzando
3 – Tempo di menuetto
4- Allegro vivace
Wiener Philarmoniker
Wilhelm Furtwängler
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
NBC Symphony Orchestra
Arturo Toscanini
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Chicago Symphony Orchestra
Fritz Reiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Berliner Philharmoniker
Herbert von Karajan
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Chicago Symphony Orchestra
Sir Georg Solti
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Sinfonieorchester des Norddeutschen Rundfunks
Günter Wand
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Koninklijk Concertgebouworkest
Bernard Haitink
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
The Hanover Band
Roy Goodman
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Orchestre Révolutionnaire et Romantique
John Eliot Gardiner
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Gewandhausorchester Leipzig
Riccardo Chailly
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Vassily
No meio de tanto regente bom, não está faltando o Hans Schmidt-Isserstedt?
Olá, José Maria!
Sem dúvida Schmidt-Isserstedt está fazendo falta nesse rol de bons regentes, ainda mais numa série de sinfonias de Beethoven, que ele gravou integralmente duma maneira tão peculiar e marcante. O motivo para não o ter incluído foi, simplesmente, que eu não dispunha de todas as gravações de sua série quando iniciei as postagens sobre as sinfonias. Agora que as consegui, deverei postá-las em algum momento, ou mesmo incorporá-las às postagens que já fiz. Um abraço!
Olá, JM!
Eu não resisti e vou meter minha colher nesse angu! Por maior que seja o respeito que temos pelo H S-I e por mais que você goste das interpretações dele, notoriamente famosas, sua mensagem me faz lembrar da cena de Laurel e Hardy, que para nós foram o Gordo e o Magro, fazendo compras de sorvete…
https://www.youtube.com/watch?v=pE8LVWsmMT0
Abração…
Quem sabe algum de nossos jurássicos representantes acrescenta algumas sinfonias com o Hans…
Abraços do
René
Até agora fico surpreso quando penso que, dentro deste projeto que tanto estimo, foram publicadas 12 integrais das sinfonias, fora a restauração das versões de Klemperer, Walter e Harnoncourt etc., num ato de reverência à música de Beethoven infinitamente maior que tudo o que os grandes jornais brasileiros, por ex., têm feito (deixado de fazer) ao longo deste jubileu. Não ouvi as 12, a de Mariss Jansons, que não conhecia, foi para mim uma ótima descoberta. Contudo, e com todo respeito, a impressão que fica é que, fossem ofertadas 100, 200 integrais, ainda apontariam alguma falta.
Que postagem, Vassily Genrikhovich! Ótimo texto e inúmeras opções de peso para fruição do sempre maravilhoso Beethoven.
Sei que é pedir muito, mas… Qual das interpretações me recomendariam? Gosto de maestros como Celibidache e Klemperer, então queria (sim, eu sei, só pedido inusitado, mas vocês são tão sábios no assunto…) duas opções – a mais próxima do estilo deles e a mais distante, para expandir minha visão.
Abraços!
Olá, Marcelo! Grato pela visita e pelo gentil elogio!
Talvez minha resposta chegue tarde demais, mas acho que, entre as gravações deste rol, a de Reiner está mais próxima a Kemperer, e a de Furtwängler, mais distante. Não consigo encontrar qualquer estilo que se aproxime ao de Celibidache – embora as leituras de Gardiner e Goodman sejam certamente as que mais se afastem dele.
De forma alguma, Vassily, pois eu não segui adiante nesta postagem! Muito obrigado!
No meu início de jornada neste maravilhoso mundo da música clássica (ou erudita), também não consigo achar paralelos ao meu querido Celibidache, então fico feliz de essa também ser a sua opinião, afinal você manja mais do que eu hauehahahahaha!
Baixando com alegria o álbum do Fritz Reiner.