BTHVN250 – A Obra Completa de Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Egmont, Op. 84 – Die Weihe des Hauses, Op. 124 – Föttinger – Malkovich – Haselböck

Quando o Burgtheater de Viena, em 1809, decidiu fazer uma nova montagem do “Egmont” de Johann Wolfgang Goethe, estreado vinte anos antes, não poderiam ter feito melhor escolha para o autor de sua música incidental. Beethoven idolatrava Goethe e respondeu à encomenda com grande entusiasmo, dedicação e, no que lhe era realmente incomum, rigoroso cumprimento dos prazos combinados. A montagem foi um sucesso e, ainda mais importante para Ludwig, Goethe adorou a música, que, nas palavras do mestre das Letras, evocou o caráter de seu drama com “notável gênio”.

“Egmont”, a tragédia, acompanha os dias finais de Lamoraal, o conde flamengo de Egmont, que luta contra a opressão dos invasores espanhóis capitaneados pelo duque de Alba. Abandonado pelos correligionários, o conde é aprisionado pelos inimigos. Clärchen, sua amada, vem a seu socorro e tenta, sem sucesso, libertá-lo. Desesperada com a falha de seus esforços, Clärchen suicida-se. Egmont é, enfim, condenado à morte e encara com altivez o caminho para o patíbulo, certo de que sua ilibada trajetória e dedicação à causa que lhe custará a vida inspirará seus compatriotas no caminho para a liberdade. A música de Beethoven para “Egmont” é pouco ouvida além da poderosa abertura, o que é uma pena, pois, a despeito da pouca coesão entre suas peças, tem vários momentos memoráveis – sobretudo as duas canções de Clärchen e a “Sinfonia da Vitória” que evoca o fim heroico de Lamoraal. As semelhanças da trama com a de “Leonore” – o herói aprisionado, a heroína que vem em seu socorro – são notáveis, e não se pode duvidar de que elas tenham instigado Ludwig, talvez ressentido com o fracasso de sua única ópera, que reestrearia cinco anos depois, amplamente retrabalhada, como “Fidelio”.

A gravação que escolhi provém de Resound, uma série muito especial produzida por Stephan Reh e dirigida por Martin Hasselböck. Nela, a Wiener Akademie Orchester executa obras de Beethoven, sob a regência de Hasselböck, não só com instrumentos originais, mas com as forças orquestrais usadas nas estreias e, sempre que possível, nos locais em que elas aconteceram. Como o Burgtheater em que se ouviu pela primeira vez o “Egmont” não existe mais, e o teatro com esse nome que hoje há em Viena é uma reconstrução de um novo Burgtheater, destruído por bombardeios, escolheu-se fazer a gravação num outro notável teatro vienense: o Theater in der Josefstadt, o mais antigo teatro da cidade ainda em funcionamento, e que foi reinaugurado em 1822 com a abertura Die Weihe des Hauses (“A Consagração da Casa”), também incluída no disco.

As gravações da música incidental de “Egmont” costumam incluir uma parte para narrador que, embora não previstas no original, ajudam a contextualizar a música de cena, na ausência do texto de Goethe. Já lhes alcançamos aqui, anteriormente, uma poderosa versão narrada pelo inesquecível Bruno Ganz. Para a série Resound, foram feitas versões em alemão e inglês, e cada qual ficou a cargo de um grande ator. A primeira foi lida pelo austríaco Herbert Föttinger, de distinta carreira no teatro vienense, que foi um excelente Fausto e um notável Valmont em “Ligações Perigosas”, além de diretor duma montagem de “Fidelio” regida por Nikolaus Harnoncourt no próprio Theater an der Wien em que a ópera estreou e, não menos importante, diretor artístico do Theater in der Josefstadt em que foi feita a gravação. Já a versão em inglês é lida pelo brilhante John Malkovich, que curiosamente também viveu um Valmont inesquecível, mas no cinema, e cujo estilo harmoniza tão bem com a música, executada com o conjunto instrumental menor que o costumeiro, que passou a ser meu “Egmont” favorito.

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)

Música para a Tragédia “Egmont” de Johann Wolfgang von Goethe, Op. 84
Composta entre 1809-1810
Publicada em 1810 (abertura) e 1812 (demais peças)

1 – Abertura. Sostenuto, Ma Non Troppo – Allegro
2 – Monólogo e Canção: Die Trommel gerührt
3 – Monólogo e Entreato no. 1: Andante
4 – Monólogo e Entreato no. 2: Larghetto
5 – Monólogo e Canção: Freudvoll und leidvoll, gedankenvoll sein
6 – Monólogo e Entreato no. 3: Allegro
7 – Monólogo e Entreato no. 4: Poco sostenuto e risoluto
8 – Monólogo e Música: Clärchens Tod bezeichnend: Larghetto
9 – Melodrama: Poco sostenuto
10 – Monólogo e Sinfonia da Vitória: Allegro con brio

Bernarda Bobro, soprano
Wiener Akademie Orchester
Martin Haselböck,
regência

“Die Weihe des Hauses”, Abertura em Dó maior, Op. 124
Composta em 1822
Publicada em 1825
Dedicada ao príncipe Nikolai Golitsin
11 – Maestoso e sostenuto – Allegro

Wiener Akademie Orchester
Martin Haselböck, regência

Versão em alemão, com narração de Herbert Föttinger
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Versão em inglês, traduzida por Christopher Hampton e narrada por John Malkovich
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

#BTHVN250, por René Denon

Vassily

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