Depois de Gould, Horowitz.
Minha determinação em ganhar um lugar de honra no Livro do Ódio de vós outros certamente será premiada depois que eu lhes trouxer mais um entre os grandes pianistas mais malditos do século XX para tocar neste Festival Beethoven. E começo afirmando-lhes que, por tudo que sobre ele li, Horowitz detestava Beethoven – o que provou gravando-o pouquíssimo e banindo-o de seus recitais por uma boa parte da carreira. Não o entendia e tinha ranços em tentar imprimir sentido no que chamava de “bagunça sonora” do renano. Ademais, as obras principais do mestre alemão, ainda que tecnicamente muito difíceis, não lhe permitiam momentos de bravado para seduzir com seus muitos truques pianísticos as plateias. Não foi à toa, portanto, que uma das poucas obras de Beethoven que tocava com certa frequência e gravou mais de uma vez foi a sonata Op. 57, a “Appassionata”, que muito se presta àqueles momentos horowitzianos que seus admiradores tanto apreciam em obras de Rachmaninov e Scriabin.
Não há como saber se a recíproca, se Vladimir e Ludwig tivessem sido contemporâneos, seria verdadeira. Todavia, qualquer pessoa que já tentou produzir sons com um teclado admira a maestria de Horowitz em fazê-lo, por maiores que sejam as restrições que tenha ao restante de suas qualidades de intérprete. Não são poucos os pianistas do panteão que o consideram o maior de todos que ouviram – a deusa Martha Argerich, por exemplo -, embora seja igualmente fácil reconhecer que suas interpretações de boa parte do repertório, Beethoven incluso, pareçam priorizar o momento, o detalhe, e o colorido à estrutura das peças, qualidades que certamente o fariam cair em desgraça junto a Ludwig, que tinha profundo desdém por tal abordagem, manifesto muitas vezes acerca de virtuoses itinerantes que volta e meia tentavam, sem sucesso, arrebatar-lhe a posição de melhor pianista de Viena
Posto isso, e gasturas que vocês possam ter com Horowitz à parte, acredito que sua leitura para a sonata Op. 13, cognominada “Patética” pelo editor da obra, seja a melhor das que fez para o punhado de sonatas do renano que levou a disco. Acho que seu estilo é bem apropriado para o primeiro movimento, ao sublinhar seus contrastes, e acho difícil alguém fazer o teclado cantar como Horowitz o faz no célebre Adagio cantabile. Ademais, a peça é concisa o bastante para que a encerre convincentemente, sem incorrer nas inconsistências de andamento que tanto criticam nele. Completam o disco uma gravação muito boa da terceira sonata do Op. 10, em que as inconsistências supracitadas talvez apareçam (não que eu ligue para elas), e a já mencionada sonata “Appassionata”, em que Horowitz está um pouco mais próximo de seu quintal.
Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
Sonata para piano em Dó menor, Op. 13, “Patética”
Composta em 1798
Publicada em 1799
Dedicada ao príncipe Karl von Lichnowsky
1 – Grave – Allegro di molto e con brio
2 – Adagio cantabile
3 – Rondo: Allegro
Três sonatas para piano, Op. 10 – No. 3 em Ré maior
Composta e publicada em 1798
Dedicada à condessa Anne Margarete von Browne
4 – Presto
5 – Largo e mesto
6 – Menuetto: Allegro
7 – Rondo: Allegro
Sonata para piano em Fá menor, Op. 57, “Appassionata”
Composta entre 1804-1805
Publicada em 1807
Dedicada ao conde Franz von Brunswick
8 – Allegro assai
9 – Andante con moto
10 – Allegro ma non troppo – Presto
Vladimir Horowitz, piano
Vassily
Obrigado Por tantas pérolas que nos vai legando aqui!
Não gosto de Horowitz. Ademais porque, certa vez, dando nota de ser uma personalidade despeitada, afirmou que para singrar no meio musical era fundamental ter bons relacionamentos homossexuais. Um absurdo, portanto! Não gosto de Horowitz. Pronto. Ponto!
Certa vez perguntaram para Horowitz porque Ele tocava tão rápido e o mesmo respondeu ” Porque Eu Posso “.
O toque e o fraseado de Horowitz são marca registrada. O que fica é a obra. Grato e um abração do Dirceu.