18 de fevereiro de 2014 foi um dia muito especial. Foi o dia em que assisti Maurizio Pollini no Southbank Center em Londres. Às 19h, ele entrou no palco do Royal Festival Hall, sala principal do complexo. Antes da sua entrada, o locutor do teatro anunciou que o repertório do recital — cuja primeira parte seria formada por obras de Chopin e a segunda por Debussy — fora ampliado por decisão de Pollini: era estava incluindo a Sonata N° 2 do compositor polonês na primeira parte. E completou dizendo que Maurizio dedicava pessoalmente o concerto à memória de Claudio Abbado. Aquilo fez com que um arrepio percorresse a espinha de todo o teatro, desde as primeiras e caras cadeiras até o lugar mais barato onde nos encontrávamos. Ato contínuo, enquanto o teatro com mais de mil pessoas mudava o tom da algaravia comum pré-concerto, traindo a emoção de todos, Pollini caminhou para o piano. Era o início de um dos maiores momentos de minha vida. Minha mulher escreveu:
“Ele é um sábio. Tem altíssima cultura musical e concisão. Enquanto o ouvia, pensava em diversas formas de reciclagem: ecológica, emocional, psíquica… Sua interpretação é a de um asceta que pode tudo, mas demonstra humildade e grandeza em trabalhar apenas para a música. Pollini não fica jogando rubatos e efeitos fáceis para o próprio brilho, mas me fez rezar e chorar. Que humanidade, quanto conhecimento! Depois desse concerto, minha vida não será a mesma”.
Foi a primeira vez que vi Pollini em ação, após ouvir dúzias de seus discos. Acho que não vou esquecer da emoção puramente musical — pois ela existe, como não? — de ouvir meu pianista predileto. Já estava com pena dele, tantas foram as vezes que retornou ao palco para ser aplaudido. Para Pollini ser absolutamente fabuloso, só falta o que não quero que aconteça e que já ocorreu com Abbado.
Ludwig van Beethoven (1770-1827): Sonatas para piano Op. 7, 14 e 22
Piano Sonata No.4 in E flat, Op.7
1. 1. Allegro molto e con brio 7:34
2. 2. Largo, con gran espressione 7:20
3. 3. Allegro 4:31
4. 4. Rondo (Poco allegretto e grazioso) 6:34
Piano Sonata No.9 in E, Op.14 No.1
5. 1. Allegro 6:01
6. 2. Allegretto 2:34
7. 3. Rondo (Allegro comodo) 3:01
Piano Sonata No.10 in G, Op.14 No.2
8. 1. Allegro 5:47
9. 2. Andante 4:54
10. 3. Scherzo (Allegro assai) 3:06
Piano Sonata No.11 in B flat, Op.22
11. 1. Allegro con brio 6:46
12. 2. Adagio con molto espressione 6:16
13. 3. Menuetto 3:03
14. 4. Rondo (Allegretto) 5:21
Maurizio Pollini, piano
PQP
Meu caro, por mais que nos esforcemos, não conseguiremos traduzir com palavras nos emoções. As vezes uma coisa simples para uns é capaz de nos fazer marejar. Agradecido pela postagens, que não ouvi ainda, mas as recomendações deste e de Janine já suficientes para eu gostar antecipadamente.
PQPBach, por que você não me convidou? rsrsrs Brincadeira. Mas como eu te invejo por ter visto em ação um dos maiores pianistas da história. E ainda mais homenageando outro grande mestre da música. Imagino como deve ter sido inesquecível.
Emocionante o seu relato, principalmente pra mim que tive o mesmo prazer de ver Pollini pela primeira vez no ano passado. Em um concerto um mês antes, ele tinha retirado a Hammerklavier (uma das obras mais difíceis do repertório) de última hora, então eu já esperava um velhinho decadente, mas foi só o velhinho encostar no piano que ficou claro que ele está no auge, fazendo o difícil parecer cada vez mais fácil.
Nunca vi aplausos tão demorados!
Imperdível! Não me canso de ouvir. Obrigada.
Midas do piano.
Maravilhoso! Muito obrigado
Zeus lhes pague!
Obrigado, excelente trabalho de Pollini, como sempre! Só fica agora faltando, aqui no PQP, o CD de Pollini com as primeiras 3 sontas de Beethoven (vocês conseguem ?????) – os demais vocês já postaram todos… E, pelas minhas contas, no próximo Pollini completa o ciclo completo ! Abraço a todos !
eduardo, essa era uma dúvida minha: saber se o pollini havia gravado todas as sonatas do beethoven
Pollini acaba de gravar o ÙLTIMO CD do Novo testamento do piano – completa, agora, as sonatas de Beethoven. Esse CD deve sair em f/Novembro, com as Op.31;
No PQP, faltaria só este novo CD, e o último, o CD com as 3 primeiras sonatas, pra ter a integral do surdo ranzinza com o Maurizio…
Abraço !!!
Manda pra nós!
Só vi a publicidade na Deutche Grammophon, não consegui ainda… Mas estou procurando !!
Alguém teria a Appassionata com Arrau naquela antiga gravação que saiu pela Phillips? rs
devo ter, wellington… sabes o ano da gravação?
O vinil consta de 1985, embora a gravação possa ser mais antiga. Arrau gravou outras vezes esta sonata, inclusive ao vivo, já antes de morrer e nos tempos do CD. O disco da Phillips, cinzento com o nome de Beethoven em azul, infelizmente não dá mais informações; faz parte de uma série cobrindo todas as sonatas. Se tiver fico muito grato, pois admiro sobremaneira esta gravação, não somente por ter sido a primeira que conheci desta obra. Na verdade, nas suas antigas postagens, consta Arrau tocando sonatas de Beethoven, talvez seja a mesma seção de gravações, embora o link esteja desativado.Gostaria de dizer também que aguardo o aval para postar algo, pois que não tendo ainda podido arcar com o recurso PQP share, recorri ao 4shared, que funciona bem, todavia não sei seria aceitável. Deixei nos rascunhos a postagem. Obrigado, abrs.
Wellington, como comentei anteriormente eu tenho uma caixa do Arrau tocando Beethoven, só ainda não consegui descobrir o ano de sua gravação. Assim que possivel, a trago.
Que beleza. Talvez seja a série que saiu em vinil na primeira metade dos anos 80. Na qual está a interpretação sobre a qual falamos acima. Abrs.