Leopold Stokowski (1882-1977): Native Brazilian Music

Nos idos de 1940, em plena segunda guerra mundial, os EUA estavam empenhados em realizar a chamada “Política da Boa Vizinhança” iniciada ainda em meados da década de 30. Um dos ramos deste projeto era basicamente integrar a cultura entre as Américas, e assim, no verão americano de 1940, o Maestro Leopold Stokowski (1882-1977) embarcou no navio S.S. Uruguay com sua orquestra a “All-American Youth Orchestra” e zarpou para uma turnê de Boa Vizinhança ao Brasil, Argentina, Uruguai, e alguns países da América Central. Seu primeiro porto de escala foi o Rio de Janeiro.

 

HVL ao piano ao lado de Magda Tagliaferro

Dono de uma inconfundível cabeleira prateada o britânico, de pai polonês e mãe irlandesa, desembarcou no cais do porto do Rio às 18h30 do dia 7 de agosto de 1940. A recepção foi liderada por Villa-Lobos, que, na companhia da pianista Magda Tagliaferro, velha conhecida de ambos, recebeu o amigo Stokowski com um abraço efusivo. Eles se conheceram na Paris dos anos 1920, e desde então, envolvidos com a criação e a promoção da música erudita moderna, estabeleceram uma amizade duradoura. Antes da turnê pelas Américas, o maestro vinha trocando cartas com Villa sobre um dos intentos de sua visita (integral da carta no fim do texto), e solicitou sua ajuda para recolher e gravar “a mais legítima música popular brasileira”. O maestro explicou que, devido ao seu grande interesse pela música do Brasil, ele iria pagar todas as despesas envolvidas e até especificou os tipos de música que desejava: sambas, batucadas, marchas de rancho, macumba, emboladas, etc. As gravações propostas estavam destinadas a lançamento pela Columbia Records. Elas também seriam tocadas em um congresso folclórico pan-americano que estava por vir (e que nunca aconteceu).

Villa-Lobos atendeu ao pedido do maestro e recorreu ao seus amigos, os sambistas Donga, Cartola e Zé Espinguela, que convocaram a nata dos músicos do Rio. Talvez apenas um homem da estatura de Villa-Lobos e suas ligações com os mundos do choro e do samba poderia ter reunido tal “Dream Team” do Samba para Stokowski. De fato, qualquer cartaz anunciando o seguinte rol seria um item de colecionador avidamente procurado hoje, (eu pelo menos não achei nada, nenhum cartaz do dia na net…).

Donga, Stoki e HVL

Em uma grande cerimônia, subiram ao S.S. Uruguay, em agosto de 1940, nomes como Pixinguinha, Donga e João da Baiana, a Santíssima Trindade do Samba – maiores representantes da primeira geração de sambistas do Rio. Também estiveram lá Cartola, ao lado de sua Estação Primeira e um coro de pastoras da Mangueira; Zé da Zilda, um dos primeiros sambistas “de morro”, provenientes das Escolas de Samba, a fazer sucesso “no asfalto”; Jararaca e Ratinho, mestres da embolada; Luiz Americano, saxofonista e chorão, um dos pioneiros no uso do instrumento na música popular brasileira; e Zé Espinguela, macumbeiro, figura de suma importância para o meio cultural da época.

As gravações transcorreram durante toda a madrugada de 8 para 9 de agosto, algumas poucas horas após a atracação do S.S. Uruguay. O convés do navio, frequentado por Stokowski, dirigentes da NBC/RCA por jovens instrumentistas dos Estados Unidos, foi tomado por dezenas de músicos do Rio, alguns deles em traje de carnaval, pois se acreditava que haveria filmagem (também o que nunca aconteceu).

Musicos da AAYO

Em seu livro “Todo Tempo que Eu Viver” (Rio de Janeiro, Corisco Edições, 1988), o cineasta Roberto Moura citou uma reportagem que apareceu no jornal A Noite em 8 de agosto de 1940:
“[…] O salão de música do S.S. Uruguai em toda sua existência talvez não tenha abrigado tantas celebridades como o fez ontem à noite. […]. As 22 horas, começou a concentração dos conjuntos, escolas de samba, orquestra, gente que ia cantar e gente que ia ouvir. Nesse último grupo, o próprio comandante do navio, que logo tomou lugar em uma cômoda poltrona, de onde acompanhou todo o desfile. Pixinguinha, Jararaca, Ratinho, Luís Americano, Augusto Calheiros, Donga, Zé Espinguela, Mauro César, João da Baiana, Janir Martins, Uma ala do Saudade do Cordão [sic], que tanto sucesso alcançou no último carnaval, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, o compositor David Nasser, toda essa gente fala, comenta, discute, até que tem início a trabalho das gravações. À medida que os ponteiros dos relógios correm, os passageiros do Uruguai voltam dos seus passeios pela cidade e vão tomando lugar no vasto salão. E os grupos se sucedem diante do microfone na tarefa das gravações. Já passava muito da meia-noite quando chegaram os maestros Stokowski e Villa-Lobos. Os fotógrafos se movimentam, na ânsia de colher os melhores flagrantes, mas o famoso regente de Filadélfia foge discretamente das objetivas. Por fim, desaparece de vez do salão. E, assim, de número em número, passa a noite e já é a madrugada que surge. O salão de música do Uruguai ainda cheio. Agora, a maior parte da platéia é constituída dos elementos da “All American Youth Orchestra”, que, curiosos, procuram conhecer os instrumentos típicos. Na sexta-feira, 9 de agosto, com pelo menos quarenta músicas gravadas (alguns dizem uma centena), Stokowski deu adeus ao Rio de Janeiro e partiu para São Paulo. O que ele deu aos músicos por seu trabalho? Apenas seus cumprimentos entusiasmados.”

A Columbia Records lançou as gravações de Stokowski feitas no S.S. Uruguay no inicio de 1942 sob o título “Native Brazilian Music”. Das oficiais quarenta músicas gravadas, apenas dezessete viram a luz do dia, em dois álbuns, cada um contendo quatro discos 78-RPM. As notas na contracapa anunciavam:
“Aqui neste álbum da Columbia Discos você tem a autêntica música do Brazil… Magnificamente tocada por músicos nativos… Selecionados e gravados sob a supervisão pessoal de Leopold Stokowski. Estas expressivas gravações foram feitas durante a excursão pela América do Sul do maestro Stokowski com a All American Orchestra. Em vários pontos da Excursão, o doutor Stokowski ouviu o folclore nativo e a música popular interpretados por músicos dos nossos bons vizinhos. Para a gravação, escolheu o que concluiu ser o melhor e o mais típico”.

A maioria dos músicos morreu sem nunca ter ouvido as gravações. Poucos foram pagos por elas. Cartola, por exemplo, recebeu uns míseros 1.500 réis, o suficiente para comprar três maços de cigarro baratos, um ano e meio depois das gravações. Em uma entrevista dada a Sérgio Cabral em 1974, Cartola disse que finalmente ouviu “Quem Me Vê Sorrir” — sua primeira gravação cantando — na casa de Lúcio Rangel uns bons vinte anos depois das sessões no S.S. Uruguay. Dois outros participantes da mesma gravação, Aluísio Dias (1911–1991) e Dona Neuma Gonçalves Silva, tiveram de esperar até 1980 para ouvi-la em fita. Dona Neuma (1922–2000) era a filha do presidente da Mangueira Saturnino Gonçalves, e grande dama do samba, tinha em 1940 apenas 18 anos e foi uma das pastoras que forneceram o acompanhamento vocal eletrizante em “Quem Me Vê Sorrir”.
Em uma entrevista de 1981 para o cineasta Roberto Moura, Dona Neuma ainda lembrava com simplicidade e carinho os detalhes a comida deliciosa servida a bordo do S.S. Uruguay 41 anos antes: “…. assim, eu ainda era criança, mas os coroas que foram, foram a fim de comer, tinha muita coisa boa pra gente comer, aí foi a primeira vez que nós comemos peru com abacaxi, carne de porco com ameixa, um jantar luxuoso. Gravamos, depois da festa é que teve a recepção. […] Foi tudo no mesmo dia. Foi rápido. Foi de tarde mas o samba rolou até de manhã. Eu dormi no convés do navio, que gostoso lá. […] Tinha um tipo de uma aletria com presunto, queijo, sei lá, não era macarrão era aletria, mas muito bem feita, soltinha, não ficou aquela lama não, que a gente faz uma aletria, muito bem feita, não sei como é que eles cozinharam aquilo, mas ficou soltinha, acho que eles fizeram o molho depois cozinharam o macarrão ali dentro, deram uma sacudidela que ficou soltinho, uma delícia, mas eu só queria comer, sabe? Comer e andar pelo navio. […] Era um navio bonito. […] Era um salão bonito, tinha um palco, nós cantamos num palco, ele regendo. Ele regia a nós, tinha uma orquestra e a bateria nossa. […] Ele regia a orquestra, depois veio e regeu a bateria e a gente. Nós já sabíamos porque o maestro Villa-Lobos ensinou os gestos da mão, como ia, se fosse levantando, se fosse levantar, todos os gestos nós sabíamos, ensinados pelo maestro Villa-Lobos. Ele ensinava aqui, na escola, em todo lugar, porque o maestro que nós conhecíamos naquela época foi o Villa-Lobos, foi ele. Ele vinha aqui no morro muito, porque ele era amigão do Cartola….”

A Columbia nunca lançou “Native Brazilian Music” no Brasil, e até hoje, as únicas cópias conhecias poderiam ser contadas nos dedos de uma mão. Nem o governo do Brasil nem qualquer outra entidade brasileira fez algum esforço para recuperar estas gravações. Em 1987, durante o centenário de Villa-Lobos, o Museu Villa-Lobos (MVL) no Rio de Janeiro lançou as 17 faixas de Native Brazilian Music em um LP produzido por Suetônio Valença, Marcelo Rodolfo, e Jairo Severiano, com notas do musicólogo Ary Vasconcelos (encarte junto com as faixas no download). A música foi transferida não a partir das matrizes originais, cujo paradeiro (se sobreviveram) continuou desconhecido, mas a partir de discos 78 rpm doados pelo colecionador Flávio Silva. Estes dois albuns contendo 4 discos 78 rpm cada, com 17 faixas no total, devem constar entre os mais importantes discos brasileiros em qualquer época, porém, foram lançados apenas…nos USA! Das 40 músicas gravadas, a Columbia lançou somente 17. Que outros tesouro mais se perderam ?

Vou parar por aqui. Quando os jornalistas, os políticos, os artistas leram as impressões e comentários dos jornalistas Americanos a coisa do “políticamente correto” e “boa vizinhança” ficou meio que “à deriva”, virou uma grande “quizumba”,  quase um problema diplomático. Coisas do tipo: “… o Brazil é muito bonito, uma grande tribo. Os nativos são gente qua andam e dançam sem roupa, alegres e alheios a grande guerra eropéia…..”. Bom como brasileiros nós nem precisamos nos esforçar para saber as respostas que foram dadas, e as respostas das respostas e por ai vai… Fora o mal-estar dos outros grandes artistas que ficaram de fora do evento sem terem sido convidados. Sobrou para o Villa explicar por que não convidou Siclano e Beltrano. Internamente entre os músicos da época houve muita ciumeira. Talvez esta seja uma explicação próxima do “porque” a Columbia jamais lançou esta pérola em terras Tupiniquins.

Integral da Carta do Villa para o Stokowski:

Rio de Janeiro, 16 de julho de 1940
“Caro Sr. Stokowski
Recebi sua carta do dia 3 do corrente e me apressei para responder para expressar todo o prazer que tive ao saber de sua visita iminente ao Brasil.
Estou verdadeiramente encantado com os seus planos para intercâmbio folclórico entre as nações dos continentes americanos por intermédio de discos.
Você pode contar comigo, pois farei tudo que me for possível para satisfazê-lo, correspondendo à confiança que você depositou em mim.
Estou mandando em anexo um plano das gravações que devem ser feitas por cantores populares (oriundos dos estados mais típicos dos Estados [do Brasil] e que vivem nos ambientes da Capital), vestidos em roupas típicas, se for necessário para filmagem.
Para mobilizar estes elementos, o seguinte é necessário:
1) – Seu consentimento em uma resposta urgente para
iniciar a convocação destes elementos nos próximos dez dias;
2) – A garantia de 500 dólares para despesas gerais;
isto é, a estes músicos, que devemos pagar para
reuni-los, que é uma coisa muito difícil;
3) – As cópias dos discos gravados devem permanecer no Rio,
mesmo aqueles que serão gravados nos países americanos;
Se você estiver de acordo com o plano apresentado abaixo, seria mais conveniente se você enviasse o mais rápido possível instruções para a Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte do Brasil, para que haja um entendimento material com o organizador dos elementos típicos que irão servir em sua gravação planejada, pois eu não tenho os meios materiais para o empreendimento. No entanto, eu poderia organizá-los e coordená-los com prazer.
Quanto à parte artística de sua excelente orquestra de jovens americanos, eu devo lembrá-lo de que, para o maior sucesso possível e para a simpatia e interesse da nova geração brasileira, deve-se organizar programas principalmente com música moderna, e incluir em cada concerto um compositor brasileiro, de sua escolha, e outro dos Estados Unidos. Como você, eu tenho um grande interesse na troca da música artística entre os dois Continentes.
Aguardando sua resposta urgente, eu peço a você, Caro Senhor, para aceitar a confiança de meus sentimentos mais distintos,
H-Villa-Lobos
Avenida Almirante Barroso, 81 – Edifício Andorinha, 5° and.
s/ 534 – Rio de Janeiro, Brasil”

Nas gravações de Stokowski, Pixinguinha tocou sua flauta brilhante em muitas faixas, e cantou um dueto com Jararaca.

 

 

 

O conjunto regional de Donga forneceu muitos dos acompanhamentos nas gravações de Stokowski.

 

 

João da Bahiana – Por muitos anos o mais importante percussionista no Brasil, ele é tido como o responsável por introduzir o pandeiro no samba e no choro e transformou a faca e prato em instrumento rítmico.

 

 

 

Cartola – Nas sessões de Stokowski, onde ele fez suas primeiras gravações cantadas, Cartola foi acompanhado pelo compositor/violonista da Mangueira Aluísio Dias e um grupo de percussionistas da Mangueira.

 

 

Zé Espinguela—José Gomes da Costa (1901–1944). Pai-de-santo e importante pioneiro do samba. Quando o samba ainda era ilegal, Espinguela recebeu rodas de samba em sua casa seguidas das cerimônias de macumba. Encabeçou o Bloco dos Arengueiros no morro da Mangueira (primeiro desfile de Carnaval: 1927), do qual surgiram os sete fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, dentre eles Espinguela. Inventou a competição de escolas de samba em 1929. Popularmente conhecido como Pai Alufá, ele foi acompanhado nas gravações de Stokowski pelo grupo vocal-instrumental-de dança que geralmente tocava em suas festas, fossem elas sagradas ou profanas. Estas foram as únicas gravações cantadas feitas por Espinguela, também conhecido como José ou Zé Spinelli.

O S.S. Uruguay atracado na Praça Mauá no Rio de Janeiro. Foi um dos três navios de Boa Vizinhança pertencentes à American Republics Line e operado pela Moore-McCormack Lines. Em maio de 1939, o Uruguay trouxe Carmen Miranda para Nova York pela primeira vez.

 

 

Estaremos nas próximas postagens fazendo uma singela homenagem ao grande Maestro Leopold Stokowski, esta é a primeira de sete.

Apreciem e divulguem esta preciosidade ! Quem sabe um dia ainda aparece as outras 23 faixas gravadas…. o material do álbum de 1987 está em “pdf” junto com a música no “download”.

Native Brazilian Music

1 – Macumba de Oxóssi ( Donga, José Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Está assinada por Donga e Espinguela. Essa macumba “with vocal ensemble” como explica a mesma etiqueta, foi gravada pelo Grupo de Pai Alufá. Como se sabe, Oxóssi é o orixá dos caçadores, sendo sincretizado, no Rio de Janeiro, como São Sebastião, e como São Jorge, na Bahia. Seu símbolo é o arco e flecha, dançando com essa arma em uma das mãos e com um erukerê (uma espécie de espanador feito com rabos de boi) na outra. O Grupo do Pai Alufá era um conjunto vocal-instrumental coreográfico dirigido por Zé Espinguela e que animava as festas deste, fossem elas sagradas (macumbas) ou profanas (sessões de samba e de chula). A voz solista é do próprio Espinguela.

2 – Macumba de Iansã (Donga, José Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Outra macumba de Donga e Espinguela, gravada pelo mesmo grupo e com Espinguela como solista. Iansã, orixá feminino, esposa de Xangô, é sincretizada como Santa Bárbara. Dança geralmente com um alfange e um eruxim de rabo de cavalo.

Estas faixas (1 e 2) foram os únicos registros feitos por Espinguela em sua vida

3 – Ranchinho Desfeito (Donga, De Castro e Souza, David Nasser)
Uma antiga composição de Donga, letra de De Castro e Souza, ocupa a terceira faixa do nosso LP do primeiro álbum americano. Joel Nascimento canta com o Regional de Donga. Pixinguinha, então com 42 anos, “rouba” porém o fonograma com empolgante atuação na flauta.

4 – Caboclo do mato (de Getúlio marinho, com João da Bahiana, Jair Martins e Jararaca)
“Samba with vocal ensemble” está no selo do disco. Presentes nesta faixa o pandeiro de João e a flauta de Pixinguinha. A voz feminina – que repete “din, din, din, Aruama” – é provavelmente de Janir Martins.

5 – Seu Mané Luís (de Donga, com Zé da Zilda e Janir Martins)
Janir Martins dialoga com Donga neste “samba with vocal duet”. No acompanhamento, mais uma vez, o regional de Donga, com Pixinguinha à flauta.

6 – Bambo do bambu (de Donga, com Jararaca e Ratinho)
Jararaca e Ratinho cantam a embolada assinada por Donga. Nesse autêntico “destrava a lingua”, Ratinho, embola-se e tem a sua travada antes da hora…O violão sensacional que encerra a gravação é de Laurindo de Almeida.

7 – Sapo no saco (de Jararaca, com Jararaca e Ratinho)
Novamente Jararaca e Ratinho, agora na embolada Sapo no saco, de ambos, um clássico do gênero. Uma das raras composições deste repertório já gravadas anteriormente, Sapo no saco foi lançado em disco por Jararaca em abril de 1929.

8 – Que quere que quê (de João da Baiana, Donga e Pixinga, com João da Bahiana e Janir Martins)
Macumba carnavalesca de Donga, João da Bahiana e Pixinguinha. O pandeiro de João da Bahiana e a flauta de Pixinguinha, mais uma vez, roubam a cena

9 – Zé Barbino (de Pixinguinha e Jararaca)
A peça que abre o lado “b” do LP é um maracatu estilizado escrito a quatro mãos por Pixinguinha e Jararaca e gravado em dupla pelos próprios autores. Trata-se ainda de um dos raros fonogramas em que Pixinguinha atua como cantor.

10 – Tocando pra você (Luiz Americano)
Momento extraordinário nas sessões de gravação realizadas a bordo do navio Uruguai foi este em que Luís Americano, acompanhado de regional, executou ao clarinete o seu deslumbrante choro Tocando pra você, que traz João da Bahiana ao pandeiro

11 – Passarinho bateu asas (de Donga, com Zé da Zilda)
No navio, coube a Zé da Zilda a interpretação. Mais uma vez, destaca-se no acompanhamento a flauta de Pixinguinha.

12 – Pelo telefone (de Donga, Mauro de Almeida, com Zé da Zilda)
“Pelo Telefone” é um dos sambas mais emblemáticos (foi primeira música registrada como ‘samba’ no Brasil) da história da música popular brasileira . “Zamba with vocal chorus” diz o selo do disco. Só que este “zamba” não é um samba qualquer, mas justamente o primeiro a celebrizar-se como tal. Pixinguinha tem aqui nova atuação extraordinária.

13 – Quem me vê sorrir ( de Cartola e Carlos Cachaça, com Cartola e Coro da Mangueira)
Outro ponto culminante dos dois álbuns Columbia: Cartola acompanhado pelo “Mangueira Chorus” (é como se encontra no disco) canta seu samba Quem me vê sorrir, letra de Carlos Cachaça (Carlos Moreira de Castro). Carlos, aliás, era para ter ido também ao navio Uruguai, mas justamente na noite da gravação teve plantão na Central do Brasil, onde trabalhava. Este seria, possivelmente, o mais antigo registro gravado da voz de Cartola.

14 e 15 – Teiru e Nozani-ná (Música Folclorica, adaptada po HVL, com Quarteto do Coral Orfeão HVL)
Um quarteto de professores do Orfeão Villa-Lobos canta estas duas composições de Heitor Villa-Lobos: Teiru, canto fúnebre pela morte de um cacique foi recolhido por Roquete Pinto em 1912 entre os Parecis. É de 1926, sendo o segundo dos Tres Poemas Indigenas. Nazoani-ná (Ameríndio) é uma das Canções Típicas Brasileiras, de 1919. O coro do Orfeão está designado no disco por “Brazilian Indian Singers”…

16 – Cantiga de festa (de Donga e José Espinguela, com Zé Espinguela e Grupo Pai Alufá)
Zé Espinguela e Donga assinam mais esta corima, cantada pelo primeiro com o apoio do Grupo Pai Alufá.

17 -Canidé Ioune (Música Folclórica adaptada por HVL)
Canidé Ioune é o primeiro dos Tres Poemas Indígenas, de Villa-Lobos. Está baseado em um tema indígena recolhido pelo viajante Jean de Léry em 1553. Para interpretá-lo voltam os “Brazilian Indian Singers”, isto é, os professores do Orfeão.

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Stokowski e a Santissima Trindade do Samba

6 comments / Add your comment below

    1. Oi Mário, estava fazendo pesquisas para postar a série do Stoko e dei de cara com este álbum. Fui cavucar a história desta gravação e achei uma página original da música brasileira. Muito obrigado pelo comentário. Abração !

  1. Parabéns por,entre Wagner e Desprez,contar essa história envolvendo negros,macumbeiros e moradores dos morros cariocas que muita gente nem imagina já terem gravado sob direção de Stokowski.O Rio era maravilhoso naquela época,uma pena não terem levado a cabo a tal filmagem.Não ouvi nada ainda mas adorei a história.Isaac Carneiro Victal.

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