Beethoven: Piano Sonatas
Hammerklavier & Ao Luar
Murray Perahia
Eu já não me lembro qual das sonatas para piano de Beethoven ouvi primeiro. Certamente uma do triunvirato – Pathétique, Appassionata ou Ao Luar. Lembro-me de um LP da Supraphon com o pianista Jan Panenka. Mas posso estar errado, minha memória anda rebelde, lembra-se apenas daquilo que quer. Supraphon era, assim, a Naxos daqueles dias nos quais os LPs chegavam ao interior do Brasil em caixas de madeiras de formato cúbico, levadas por kombis que iam sacolejando por estradas poeirentas ou lamacentas, dependendo da sorte do vendedor.
A Hammerklavier veio bem depois e não foi fácil. Lembro-me agora bem dos CDs da Deutsche Grammophon com as últimas gravações do Emil Gilels, que eu ia comprando quando já morava aqui, na grande cidade. Estes CDs já morreram, oxidados. Ainda guardo os livretos, mas os falecidos foram devidamento substituidos pela caixota de nove CDs nos quais estão todas as sonatas que o Emil conseguiu gravar naquela ocasião. Não é um ciclo completo. Falta a última sonata, por exemplo (sigh). Mas entre elas uma imensa, enorme Hammerklavier, com um dos mais lindos e perfeitos Adagio sostenuto que já ouvi.
Mas não estamos aqui para falar do passado, vamos ao (quase) presente. Comprei este disco que estou postando assim que bati os olhos nele. Pois é, eu ainda vou a lojas (as que restaram) de CDs, com aquela expectativa de encontrar algo que acelere as batidas do coração e que crie aquela ansiedade de, ao chegar em casa, na primeira audição, confirmar o antecipado prazer. Estes momentos estão se tornando mais e mais raros, mas este disco me deu essas sensações no ano passado.
Ouço gravações do Murray Perahia há muito tempo. Ele me ensinou que Chopin é coisa demais de boa e dá-me constante aulas sobre os concertos para piano de Mozart. Mais recentemente ele andou pelas terras barrocas e eu fui junto, com muito prazer. Já havia ouvido algumas de suas gravações de sonatas para piano de Beethoven, mas este disco está demais. Vejam, na minha opinião, a Hammerklavier é assim, uma sonata mais cabeça, enquanto a Ao Luar, mais coração. E é aí onde mora o perigo! Muita cabeça ou muito coração pode não ser uma boa coisa. Creio que ele conseguiu um equilíbrio que me fizeram ouvir essas sonatas com o mesmo prazer de ouví-las pela primeira vez, de (re)descobrimento. Eu não conheço outro disco que junte as duas sonatas. Só estão juntas nas integrais, mas mesmo aí, em discos separados. Ele ousou e creio que fez muito bem.
Talvez não seja nada disso, talvez eu esteja apenas ficando nostálgico. Mesmo assim, vá em frente. Se você gosta de piano e de boa música, estará em ótimas mãos! Que o disco lhe agrade a mente e o coração!
Sonata para piano No. 29, em si bemol maior “Hammerklavier”, op. 106
- Allegro
- Scherzo. Assai vivace
- Adagio sostenuto
- Largo – Allegro risoluto
Sonata para piano No. 14 em dó sustenido menor, “Ao Luar”, op. 27, 2
- Adagio sostenuto
- Allegretto
- Presto agitato
Murray Perahia, piano
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
FLAC | 156 MB
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 127 MB
Belo texto, René! Cada enxadada, uma minhocada!
Avicenna
São seus olhos, amigo Avicenna!
Obrigado, da mesma forma!
René Denon
Que espaço maravilhoso. Não conheço muito da música clássica, mas aprecio. Gostei de ler os textos e até já baixei um Cd, – Delibes, Lakmé, a voz é maravilhosa! Penso que será o primeiro de muitos, assim espero. Muito obrigada!
Olá, Belinha!
Saber que você gostou é ótimo!
Assim como você, nós apreciamos música por demais!
Obrigado pelas suas palavras de incentivo.
Não deixe de visitar nosso blog.
Ah, pode fazer perguntas…
Abração!!
René Denon
Olá, René! Boa noite.
Muito obrigado por esse álbum, ele é fenomenal e não consigo deixar de escutá-lo. A transição do intenso e sólido quarto movimento de Hammerklavier para o familiar e emotivo primeiro movimento do Moonlight, foi sem igual.
Intensidade na música é algo que me cativa com uma facilidade descomunal.
Não conhecia o pianista, vou procurar outros trabalhos dele.
Um grande abraço!
Olá, Matheus!
Graças ao seu comentário, minha manhã começou com uma audição da Hammerklavier. Realmente, grande disco!
Veja que seu perspicaz comentário sobre o contraste criado na transição do último movimento da Hammerklavier para o suave primeiro movimento da ‘Ao Luar’ indica uma excelente possibilidade para a escolha do repertório do disco. É claro que Perahia estava interessado em gravar estas duas sonatas (ele já gravou outras de Beethoven, quando estava sob contrato com a CBS-Sony). Mas escolher começar com a Hammerklavier, que tem este início espetacular (iniciar uma peça é sempre muito importante e Beethoven sabia disto como ninguém), um gesto musical forte: Vivat, vivat Rudolph! e depois a transição para a outra sonata, que inicia com um gesto diferente: cativando o ouvinte, chamando-o a prestar atenção!
Sugestão para outro disco do Perahia que eu gosto bastante:
https://pqpbach.ars.blog.br/2020/01/13/g-f-handel-1685-1759-suites-para-teclado-d-scarlatti-1685-1757-sonatas-murray-perahia-piano/
Estas peças são do período barroco, escritas originalmente para cravo. Assim, você tem a chance de aumentar sua lista de compositores cujas obras pode explorar.
Abraços
do René