Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão, Op. 45 (Klemperer)

Confesso que tenho um duplo sentimento em relação ao Réquiem de Brahms: (1) primeiro de felicidade, por se tratar de uma das peças mais belas que existem. A profundidade da abordagem. A linguagem tocante. O clima de contrição. A viagem aos sentimentos mais atemporais e eternos. Impossível não pensar em outro mundo, em outra realidade; na finitude da vida. Nos momentos fugidios da existência. No ir e vir de cada manhã. No fato de estarmos aqui e, de repente, como num passe de mágica, como se fôssemos apagados por uma borracha, deixarmos a vida. Ou como numa das passagens da obra, extraída da carta do apóstolo Pedro, apontando a efemeridade da vida: “Porque toda carne é como a erva e toda a glória do homem é como as flores do campo. A erva seca, e a flor cai”. Segundo os historiadores, Brahms teria sido impulsionado a escrever o seu Réquiem após a morte da mãe, em 1865. O senso estético de uma espiritualidade profunda e densa em mais de uma hora de coros e vozes; massas corais, que duelam com seres angélicos, barítonos e sopranos exaltados. Uma sensação sufocante e terrífica, impingindo uma experiência dúbia de tormento e paz, numa reflexão dura e aziaga sobre a morte, deixam-me num estado de tensão. Mas talvez aí resida toda a sua energia, toda a sua beleza, toda a sua grandeza. Esta é, com certeza, uma das mais monumentais peças já compostas em todos os tempos. Essa gravação com Otto Klemperer, um dos grandes nomes da regência do século XX, estava comigo já há uns três anos. Ouço-a pela primeira vez e a qualidade é inegável. Não deixe de se contristar e meditar sobre a vida. A beleza tem esse poder. Não deixe de ouvir. Uma boa apreciação!

Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão, Op. 45 (Klemperer)

01. Selig Sind, Die Da Leid Tragen
02. Denn Alles Fleisch, Es Ist Wie Gras
03.  Herr, Lehre Doch Mich
04.  Wie Lieblich Sind Deine Wohnugen
05.  Ihr Habt Nun Traurigkeit
06.  Denn Wir Haben Hie Keine Bleibende Stat
07.  Selig Sind Die Toten

Dietrich Fischer-Dieskau, barítono
Elisabeth Schwarzkopf, soprano
Philharmonia Orchestra et Choeurs
Otto Klemperer, regente

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Brahms contemplando a imortalidade (argh!)
Brahms esperando por Fischer-Dieskau

Carlinus

7 comments / Add your comment below

  1. Carlinus e suas visões poéticas sobre as obras… Bom texto e análise (se bem que na verdade, você estava era escrevendo seu ponto de vista, mas também me soou um pouco como uma análise). E parabéns pela postagem.

  2. Sem querer fazer do PQP Bach um fórum de discussão teológica, nem de ciências (antropológicas) da religião, não consigo deixar de registrar minha impressão de que Frater Carlinus, mirando no Requiem de Brahms, acertou em cheio no núcleo do cristianismo como um todo: “uma experiência dúbia de tormento e paz” – no que eu talvez ainda mudasse a ordem: “uma experiência dúbia de paz e tormento”…

  3. VOLTA CARLINUS !!!! Que beleza de texto, de análise … volta, rapaz !!! Sei que tens teu blog, e corres como um louco pra dar conta das provações do dia a dia como professor, mas estes teus textos fazem falta por aqui !

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      Avicenna

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        Bisnaga

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