Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão (Rattle)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Com excertos retirados deste post.

(…) o notável, perfeito Um Réquiem Alemão, de Johannes Brahms, aquele mesmo que é chamado pelos tolos de O Réquiem Ateu, como se falar pouco em deus o tornasse ateu. (Ateu sou eu, Brahms não era, infelizmente). (…)

(…) Afinal, este Réquiem existe por um só motivo: a morte da mãe do compositor em fevereiro de 1865. O Réquiem de Brahms, escrito entre 1865 e 1868, tem várias curiosidades: é composto de sete movimentos, que juntos resultam em algo entre 65 a 75 minutos, tornando-o a mais longa composição de Brahms. Há mais: Um Réquiem Alemão é música sacra, mas não litúrgica e, ao contrário de uma tradição musical de séculos, não é cantado em latim e sim em língua alemã, de onde vem seu título Ein deutsches Requiem ou Um Réquiem Alemão. (…)

(…) Sabem vocês que a primeira referência ao Réquiem está em uma carta de 1865 que Brahms escreveu para Clara Schumann, viúva de Robert e sua provável amante? Escreveu que pretendia desenvolver uma peça a ser “uma espécie de Réquiem alemão”. Depois, Brahms teria dito ao diretor de música na Catedral de Bremen, que teria de bom grado chamado o trabalho de Um Réquiem Humano. Mais adiante, vocês verão que este sujeito de Bremen era um cagão (…)

(…) Embora as Missas de Réquiem na liturgia católica comecem com orações pelos mortos, o de Brahms centra-se na vida, começando com o texto “Bem-aventurados são aqueles que suportam a dor, porque serão consolados”. O tema do conforto aos que ficam repete-se em todos os movimentos seguintes, exceto o final (…)

(…) Em seu Réquiem, Brahms omitiu propositalmente qualquer dogma cristão. Até pelo fato da ideia de deus ser vista sempre como fonte de consolo, a simpatia pelo humano persiste por todo o tempo, o que não significa dizer que o Réquiem seja ateu, apesar de sua contenção religiosa, longe daquele hábito de rasgar-se musicalmente pelo criador. De qualquer forma, a enigmática escolha dos textos fica para os musicólogos decifrarem. Quando o diretor da catedral de Bremen expressou sua preocupação com isso, Brahms recusou-se a adicionar o movimento que lhe fora sugerido: “A morte redentora do Senhor, etc.” (João 3 : 16). E, por incrivel que pareça, em Bremen, o citado diretor obrou finalizar o Réquiem por uma ária do Messias de Handel, — ??? — “I know that my redeemer liveth”. Tudo para satisfazer o clero. Um total abuso. (…)

(…) Meus pensamentos giravam sobre como o Réquiem fora inicialmente detestado. Wagner mandou bala contra ele, mas temos que lhe dar o mérito da coerência e Wagner: ele erra sempre e sempre com farta documentação. Na verdade, estava apenas puto com o título “Alemão”. Nada mais “Alemão” do que ele, o que Brahmas estava pensando? A reavaliação do Réquiem veio através de Schoenberg e seu brilhante ensaio Brahms the progressive. Então, a história da percepção a Brahms descreveu um círculo completo: a partir da década de 1860, seu trabalho passou a ser visto como “moderno” e “difícil”. As depreciações do inimigo Wagner o tornaram “clássico” e “‘acadêmico” em 1880. E, em meados do século XX, o homem voltou a ser moderno e denso. Agora, é eterno. (…)

Johannes Brahms (1833-1897): Um Réquiem Alemão (Ein Deutsches Requiem)

1. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: I. Selig Sind, Die Da Leid Tragen (Ziemlich Langsam) 9:57
2. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: II. Denn Alles Fleisch Es Ist Wie Gras (Langsam, Marschmässig) 14:14
3. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: III. Herr, Lehre Doch Mich (Andante Moderato) 9:13
4. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: IV. Wie Lieblich Sind Deine Wohnungen (Mässig Bewegt) 4:54
5. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: V. Ihr Habt Nun Traurigkeit (Langsam) 7:34
6. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: VI. Denn Wir Haben Hie Keine Bleibende Statt (Andante) 10:43
7. Ein Deutsches Requiem (A German Requiem) Op. 45: VII. Selig Sind Die Toten (Feierlich) 10:30

Dorothea Röschmann, soprano
Thomas Quasthoff, barítono

Rundfunkchor Berlin
Simon Halsey
Berliner Philharmoniker
Sir Simon Rattle

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Simon Rattle em 2017: vamo cantá, minha gente!
Simon Rattle em 2017: canta, canta, minha gente!

PQP

14 comments / Add your comment below

  1. Interessante, porém penso que é um pouco “pesado” demais. Talvez seja a tentativa de fazer um requiem alemão (e não ficaria mais alemão, suponho, já que a visão da Alemanha é um tanto quanto precedida de pensamentos premeditados. Além disso ele parece passar pela parte “pesada” até a “leve”, o que faz de seu requiem alemão uma verdadeira jornada.
    Por favor perdoem a minha ignorância =)

    Rodrigo Andreoli

  2. No fim do ano passado fui a Viena, e aproveitei para visitar as maiores lojas de discos daquela cidade. Grammophon, EMI, Decca, RCA… enfim. Lojas repletas de melômanos. Curiosamente, os preços dos discos da EMI com Rattle e a BPO, com gravações bem recentes (com magnífica qualidade de áudio) estavam com preços bem acessíveis, embora bem menos procurados, enquanto as gravações de Abbado com a mesma orquestra eram mais escassas. Questionei e a resposta foi clara: Abbado tem o toque de Midas…
    Comparei as gravações dos dois grandes regentes (de Beethoven a Stravinsky), inclusive o Requiem. Abbado parece ser mais espirituoso, parecendo conhecer a partitura melhor do que ninguém. Fluidez e musicalidade – tudo que essa música precisa.
    Rattle me deixou indiferente, pois eu esperava mais!!

  3. Sempre achei um equívoco chamar o requiem de Brahms de “pesado”. É muito comum as pessoas se referirem a obra dessa forma.Na verdade, Brahms precisa de um excelente interprete que saiba dar a leveza e a transparência que a sua rica harmonia e contraponto exigem. Existem muitas gravaçoes ruins do requiem….

  4. Schlendrian,
    Concordo, mas continuo achando que o requiem quem seus pontos leves e pesados, apesar de essa ser uma ótima gravação. O jogo de emoções que os atos trazem é magnifico, realmente. Não sou um grande entendedor de Brahms, mas o que disse é verdade. É preciso uma interpretação singular.

  5. Simples: quem não quer ouvir música “pesada”, não ouça um Requiem. Parece-me um pouco demais exigir tanta leveza de um Requiem, ainda mais no contexto do romantismo alemão… Lembremos que o tema central de qualquer Requiem é a morte, tema que, na cultura ocidental, não costuma suscitar associações com leveza. Eis aí um tipo de música que não combina com o CDPlayer do carro ou datas festivas, merecendo ser ouvida em momentos especiais de solidão e circunspecção. E que bom que tenha algum “peso”… tudo hoje é tão leve que, como dizem, desmancha no ar. As pessoas fogem da densidade emocional como quem foge de um tsunami. Guarde o Requiem para o momento certo, amigo.

  6. Pois é. A observação do Rodrigo seria agressiva a mim se eu n~çao tivesse sido um jovem adolescente — acreditem — avesso à música sacra. Conhecendo minha biografia, engulo mal, mas engulo.

    Mesmo que não tenha mais a mínima compreensão do que ele quer dizer.

  7. Eu não tinha ainda ouvido o Réquiem de Brahms, acabo de ouvir e estou sem palavras. É tão intenso como o de Mozart, aquela coisa que é o resumo de toda uma vida. Impressionante, mais que impressionante.

  8. Moderno, hein? Algumas coisa que leio sobre Brahms que o definem como clássico e acadêmico é diferente do que encontro em suas peças. Tudo em Brahms que vi é interessante. As sua peças de câmara parecem muito com as boas músicas de hoje. Podereia se dizer que foram feitas nesses tempos. Eu tive a oportunidade de ouvir o Requiem por Abbado graças a esse blog.

    Só respondendo à pergunta do colega sbre a religião de Brahms:
    Ele era (entenda assim) de orientação luterana.

  9. Brahms foi apresentado ao público por um antigo entusiasta de Schumann
    que acreditava reconhecer no rapaz de 20 anos o futuro lider da música
    alemã. Na verdade Brahms tornou-se o líder da tradição de música absoluta
    contra a música programática de Wagner. Com essa plataforma conquistou
    o público e a crítica de Viena onde exerceu até o fim da vida a incontestada
    chefia da vida musical, sendo tratado como igual a Bach e Beethoven.
    Brahms passou por uma época de romantismo juvenil turbulento chegando
    a um estilo classicamente severo. Esse rigor não é do agrado de todos;
    não é acessivel a todos.
    Uma minúscula colaboração de minha parte!
    abraços

    1. Gostei muito do teu texto. Esta frase resume muita coisa: “Na verdade Brahms tornou-se o líder da tradição de música absoluta contra a música programática de Wagner”.

  10. Os ouvintes musicalmente menos exigentes cansam-se pelo absolutismo
    dessa música que exclui qualquer programa ou associações literárias. Tudo
    isso explica as resistências que o mundo musical dominado pela influência
    de Wagner e o mundo fora da alemanha opuseram à música do mestre.
    Essas resistências estão hoje inteiramente vencidas.
    A música de Brahms passou durante muito tempo, sobretudo na França,
    por enfadonha. Hoje domina as salas de concertos ao lado das obras de Beethoven!
    abraços.

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