José Joaquim de Souza Negrão (17?-1832): Cantata "O Último Cântico de Davi" (1817)

15ocpboJosé Joaquim de Souza Negrão
Orquestra e coro do VI CINVES (1989)

Os maestros Ernani Aguiar e Harry Crowl dirigiam-se ao Teatro Municipal de São João del Rey, MG, em 1989, para a apresentação da Orquestra e Coro do VI CINVES (os Cinves, como são conhecidos os Cursos Internacionais de Música Scala).

– Ouví o último ensaio, Ernani. Estão todos afiados, comentou Harry ao caminhar.
– Também gostei, Harry. Pena que não conseguimos patrocínio para gravar um disco e distribuir por esse Brasil afora. Uma obra inédita!
– Ernani, você ainda tem aquele gravador profissional?
– Ele está no porta-malas do meu carro, Harry.
– Vou pegá-lo e gravar essa apresentação!

Apresentamos a gravação realizada por Harry Crowl, no gravador do Ernani Aguiar, em 1989. Por mais tratada que tenha sido, esta gravação jamais atingirá os níveis de excelência de um CD profissional. Mas não deixa de ser um estupendo e inédito registro realizado por pessoas que se interessam pela música brasileira.

Conforme nos relata Harry Crowl, em 1988, o regente e compositor Ernani Aguiar resgatou nos arquivos da Biblioteca Nacional a Cantata “O Último Cântico de David”, datada de 1817, de autoria de José Joaquim de Souza Negrão. Este músico até então desconhecido, surge como o compositor das mais importantes obras de caráter profano cantadas em português, de todo o período colonial brasileiro. Outra obra do compositor foi localizada em 1992, também por Ernani Aguiar, na Biblioteca Nacional. Trata-se da cantata “A Estrella do Brazil”, dedicada “ao Sereníssimo Príncipe da Beira, para o dia 12 de outubro de 1816, sob o auspício do Ilmo. e Exmo Senhor Príncipe dos Arcos”. Esta cantata sobre texto anônimo apresenta uma estrutura dividida em recitativos e árias conforme o gosto operístico napolitano setecentista.

A cantata “O Último Cântico de David” teve como libretista o político e poeta mineiro José Elói Ottoni. Esta obra está dedicada “Ao Sereníssimo Príncipe Real do reino Unido de Portugal e do Algarves”. Ainda, no frontispício do manuscrito consta a observação, “Adaptada ao Gosto da Nação Portuguesa no dia 12 de Outubro de 1817”. As duas cantatas portanto, foram compostas para mesma celebração. A estrutura das duas obras é muito semelhante. Estas duas composições de José Joaquim de Souza Negrão apresentam características mais sóbrias que as das óperas bufas, ou seja, os solos vocais apresentam uma dificuldade técnica moderada. Os coros são homofônicos simples sem qualquer presença de polifonia.

A única referência existente sobre J.J. de Souza Negrão é uma carta enviada ao Conde de Palma, Governador e Capitão General da Bahia, por D.João VI, criando nesta capital uma cadeira pública de música. Esta carta atendia às solicitações do Conde dos Arcos, sucessor daquele: – “Ao Conde de Palma, Governador e Capitão General da Capitania da Bahia – Amigo. Eu EL Rei vos envio muito saudar, como aquelle anno. Sendo me presente por parte do Conde dos Arcos, vosso antecessor no governo dessa capitania, o estado de decadência, a que tem ahi chegado a arte da Música tão cultivada pelos povos civilizados, em todas as edades e tão necessária para o decoro e esplendor com que se devem celebrar as funções do Culto Divino: Hei por bem criar nessa cidade uma Cadeira de Música com o ordenado de 40.000 pago pelo rendimento do subsídio literário. E attendendo à intelligência e mais partes que concorrem na pessoa de José Joaquim e Souza Negrão, hei outrossim por bem fazer-lhe mercê de o nomear para professor da referida cadeira. Escripto no Palácio da Real Fazenda de Santa Cruz em 3 de março de 1818. Rei. – Para o Conde de Palma”.

O compositor ocupou a cadeira de música até o seu falecimento em 1832. [Amâncio dos Santos, Maria Luiza Queiróz – Origem e Evolução da Música em Portugal e sua influência no Brasil, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1943. Pag.243]

“Último Cântico de Davi” (1817) – Cantata para solistas, coro e orquestra
Música: José Joaquim de Souza Negrão (17?-1832)
Texto: José Elói Ottoni (1764-1851)
01. Cantata “O Último Cântico de Davi” : 1 – Recitativo: Eis de Davi o cântico da morte
02. Cantata “O Último Cântico de Davi” : 2 – Ária: Qual manhã serena e clara
03. Cantata “O Último Cântico de Davi” : 3 – Coro: Tal a glória do meu reino
04. Cantata “O Último Cântico de Davi” : 4 – Dueto: Da minha estirpe os vindoiros
05. Cantata “O Último Cântico de Davi” : 5 – Recitativo e Coro: Essa dos ímpios torente

Orquestra e coro do VI CINVES (1989)

Solistas:
Elenis Guimarães, soprano
Simone Santos, soprano
Dimas do Carmo, tenor

Maestro preparador do coro: Ciro Tabet
Maestro preparador dos solistas: Néri Contin
Regência: Ernani Aguiar

Obra restaurada por Ernani Aguiar, em 1988.

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MP3 320 kbps – 43,7 MB – 19,0 min
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Nota 1) Os fatos aqui narrados são verdadeiros. Os diálogos, bem … é como o Avicenna imagina que tenham ocorrido.

Nota 2) Fantástica contribuição do maestro, musicólogo e compositor Harry Crowl. Ainda bem que não tem preço, senão já estaria endividado até as orelhas !!!

Boa audição.

anunaki

 

 

 

 

 

 

 

Avicenna

7 comments / Add your comment below

  1. O Harry me comentou que essa gravação ficou com os níveis de agudos muito sobrecarregados, Adriano. Eu deveria tentar amenizar isso quando editei a gravação.

    Na próxima vez enviarei a ele a gravação editada, antes de postá-la.

    Um abraço,

    Avicenna

  2. O CINVES fez em 2011 22 anos de idade e sempre nos surpreende com histórias incriveis.
    pena que o poder público e privado de juiz de fora só tenha olhos para o festival da prómusica realizado em julho. o CINVES tras para essa cidade joias da musica internacional a 22 janeiros e nem assim é respeitado como deveria. para os que ainda nao conhecem o curso: http://www.scalajf.com.br/cinves_v2/index.php

  3. A gravação original está com agudos saturados. Não há muito que se possa fazer, a não ser com um programa como o “Pro-tools”. O problema pode ser um pouco atenuado com o uso do equalizador.

  4. Apesar de a gravação não estar tão boa, é notável que a música é de qualidade. E adorei ouvir um oratório em português! É uma pena que o uso do português não tenha sido tão recorrente…

    Bela postagem!

  5. mais uma preciosidade que se torna disponivel… muito obrigado. estive procurando o libreto pela biblioteca nacional (digitalizado) e nao o encontrei. sera que alguem aqui tem?

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