- Repost de 31 de Dezembro de 2015
Eu não sei se eu já deixei isso explícito, ou se vocês já perceberam, mas de todas as fases da música erudita, a música contemporânea é a que mais me fascina. E é aquela a qual vou me dedicar a polinizar neste blog, principalmente.
Claro – vocês como ouvintes devem saber – a música contemporânea pode ser dita como a mais difícil de ser ouvida. Mas, mesmo sendo difícil de ser ouvida, quando conseguimos ela é deliciosamente apaixonante, mais até do que o romantismo é capaz. Apaixonante não em um sentido romântico, mas num sentido envolvente e libertador. Por exemplo, quando eu só ouvia música popular, mesmo variando estilos (rock, reggae, pop, MPB, etc.) eu sentia uma limitação que não conseguia resolver. Quando descobri que música clássica não era tão difícil de apreciar mesmo com a duração enorme de algumas de suas obras ou pela complexidade a que eu não estava acostumado, fiquei tremendamente apaixonado. E ainda estou. Mas claro, assim como nem só do popular vive um homem, nem só de barroco, clássico e romântico se pode viver também. Assim fui conhecendo alguns compositores contemporâneos que num primeiro contato eu “vomitei”. Mas ao conhecer as obras certas e dando mais algumas chances eu aprendi a gostar daquele prato tão diferente ao meu paladar. Claro que ainda estou preso nas estruturas tradicionais; os compositores contemporâneos que mais gosto ainda usam melodia, harmonia e outras características de forma não tão radical como por exemplo, os serialistas integrais, que eu odeio. Mudanças radicais não costumam funcionar bem. Como bem disse Tancredi em Il Gattopardo: “as coisas devem mudar para que continuem as mesmas”.
É difícil definir o que é contemporâneo. Alguns dão o início lá em Stravinsky como primeiro compositor a se libertar inteiramente da sombra de Beethoven, colocando Arnold Schönberg e Claude Debussy como compositores de transição dessa sombra que cobre todo o século XIX. Enquanto outros só pensam em música contemporânea na música minimalista que surge nos anos 80 e outros movimentos que vêm depois do serialismo integral e das experiências pós-modernas dos anos 70 e 80. É difícil fazer essa definição, e não vou me arriscar aqui.
O Kronos Quartet, grupo formado há mais de vinte e cinco quarenta anos, são especialistas em música contemporânea. Claro que eles se embrenharam no repertório clássico também, mas o foco deles desde o início foi tocar a música produzida nos dias de hoje. E considero esse trabalho, que eles fazem tão bem, muito importante para a perpetuação e desenvolvimento da música como arte no mundo atual. Eu, como bom amante da música contemporânea que sou, não poderia deixar de postar essa coleção e honrar a esse grupo.
Neste álbum, o primeiro dessa coleção do aniversário de 25 anos completado em 1998 – (iihhh, já tem um tempinho ein tio?) – temos a melhor interpretação da Missa Syllabica de Arvo Pärt que já ouvi, juntamente com a pior de Psalom. E temos deliciosas obras recheadas de jams e ritmos dançantes do compositor estadunidense John Adams em John’s Book of Alleged Dances.
Semana que vem teremos Ken Benshoof (quem é esse cara?) e Astor Piazzolla no segundo volume da coleção.
Como hoje é véspera de ano novo, sugiro uma resolução para vocês: ouvir mais música erudita contemporânea em 2016.
25 Years of the Kronos Quartet [BOX SET 1/10]
John Adams (1947):
John’s Book of Alleged Dances:
01 Judah to Ocean
02 Toot Nipple
03 Dogjam
04 Pavane: She’s So Fine
05 Rag the Bone
06 Habanera
07 Stubble Crotchet
08 Hammer & Chisel
09 Alligator Escalator
10 Standchen: The Little Serenade
11 Judah to Ocean (Reprise)
Arvo Pärt (1935):
12 Fratres
13 Psalom
14 Summa
Missa Syllabica*:
15 Kyrie
16 Gloria
17 Credo
18 Sanctus
19 Agnus Dei
20 Ite, Missa Est
Kronos Quartet:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello
Ellen Hargis, soprano*
Suzanne Elder, alto*
Neal Rogers, tenor*
Paul Hillier, baritone*
Luke
Acredito que teu texto seja um espelho para todos nós, que se aventuram na música contemporânea. Uma descoberta de novas vibrações musicais.
Desejo neste 2016, muita saúde e paz para você, para todos os visitantes e componentes do Blog. Um forte abraço do Dirceu.
Muito obrigado Dirceu! Que os deuses lhe deem tudo isso e muito mais não só em 2016, mas por todo o tempo que você ainda estiver sobre a Terra.
Luke – Um forte abraço no teu coração. Dirceu.
Primeiro FELIZ ANO NOVO para toda a equipe do PQP!
Vocês ajudaram a fazer um 2015 melhor, continuem assim em 2016.
Esta postagem foi MARAVILHOSA, por favor LUKE vamos ouvir os demais CDs dos 25 anos do KRONOS.
Fico feliz que tenha gostado, Hélio, deus do sol! Ou então, o segundo elemento mais abundante no universo!
O próximo CD da coleção será postado quinta feira dia 7, vou postar um por semana.
Um feliz ano novo pra você também!
Espetacular interpretação da Missa Syllabica!
Pois é, já eu queria que houvesse mais material “radical”, por exemplo os experimentos de música Concreta, Eletrónica e Eletroacústica em geral. Fica a sugestão de ao menos uma série dedicada a tais estilos.
[ ]s
Que raridade! A maioria não gosta desses radicais. Eu também não gosto muito, mas também ouvi pouco. Verei o que eu posso fazer por você.
Pois, durante a minha faculdade tinha lá na Escola de Música o chamado Laboratório de Música e Tecnologia, que o pessoal fazia música eletroacústica e na época assisti a uma apresentação deles.
Acho na verdade que esses experimentos são válidos não necessariamente como arte mas sim como pesquisas cujos resultados podem eventualmente ser aproveitados em obras verdadeiramente artísticas. Sem contar, claro, os efeitos psicológicos inusitados e psicodélicos que podem causar, que se calhar podem servir na falta de, bem, entorpecentes legalizados… 😀
Já tinha baixado antes, essa série ist wunderbar!
Mas vim aqui só pra comentar algo necessaríssimo: vi a foto de Hank Dutt e por um momento achei que fosse o Putin!
Esse cara é onipresente…