Mais do violinista-espadachim negro que influenciou Mozart: Joseph Bologne, Chevalier de Saint-George (1745?-1799) – CDs AVENIRA 1 e 2 de 5

Publicado originalmente em 23.06.2010

Emil F. Smidak parece ter sido um sujeito inquieto e versátil: escreveu de teoria política a poesia e a biografias de músicos. Vivia na Suíça, mas ao que parece era tcheco – infelizmente não consegui dados biográficos diretos. Em algum momento apaixonou-se pela história do Chevalier de Saint-George, saiu pesquisando arquivos Europa afora, e escreveu uma das suas principais biografias. Em 1986 a publicou em francês e em inglês pela Avenira Foundation, sediada em Lucerna – também criação sua, ao que parece – e para ilustrar a biografia produziu nada menos que cinco CDs com artistas da cidade tcheca de Plzeň, ou Pilsen (adivinhões – foi lá que inventaram aquela variedade daquela coisa de beber, sim…).

Esses 5 CDs de 1996-97 contêm 12 dos 25 concertos para violino conhecidos, 6 “sinfonias concertantes” de dois movimentos, e uma “sinfonia” em três movimentos que corresponde à abertura do balé L’Amant Anonyme.

Mais recentemente (2006?) a Avenira utilizou parte desse material numa integral dos concertos, mas o material que começo a postar aqui é o dos anos 90, não o mais recente.

Devo avisar que a realização não tem a mesma energia incisiva das de Jean-Jacques Kantorow (do meu post anterior), nem das estupendas realizações do grupo canadense The Tafelmusik Baroque Orchestra, que se vêem e ouvem no documentário Le Mozart Noir (disponível em 5 partes no YouTube, em inglês sem legendas). Soam um pouco mais sinfônicas e convencionais – mas ainda assim convencem, impõem respeito, e são capazes de emocionar profundamente.

Acho importante mencionar logo a existência de um sujeito controverso: Alain Guédé. Gaba-se de ter sido o primeiro a dar visibilidade a Saint-George com sua biografia de 1999 (bicentenário da morte). No seu site apresenta uma discografia de 18 CDs sem sequer mencionar a existência dos da Avenira. Bem, deve ter suas razões: tem sido acusado de ter copiado extensamente da biografia de Smidak sem dar-lhe nenhum crédito. Em tudo, soa superficial e sensacionalista – mas tem a virtude de haver criado, finalmente, um catálogo das obras identificadas de Saint-George, qua agora são numeradas de G 1 a G 215 (adivinhem de onde vem o G?).

Você ficou pensando “puxa, eu gostaria tanto de ver esse catálogo”? Ora, Pai Ranulfus previu que você ia pensar assim e já tomou as providências: você acessa o catálogo em PDF AQUI!

Quero terminar contando que o CD 2 foi o que me chamou mais atenção, por diversas razões, mas acima de todas pela faixa 05, o Adágio do Concerto op. 4: me pareceu absolutamente espantoso, quase inconcebível que tenha sido composto em 1774 (Smidak) ou 75 (Guédé). Mandei sem identificação a um amigo com bastante noção das coisas, e ele, além de ficar encantado, me disse: “é um romântico; um romântico anacrônico, pode ser, mas certamente romântico; sem maiores análises, me lembrou Mendelssohn…”

Eu disse que meu amigo tem noção das coisas em música… e tem. Não falou bobagem nenhuma, pelo que se ouve. E, sabendo da história do compositor, eu ousei ainda um pouco mais na minha tentativa de análise. Mas não quero influenciar a audição de vocês: nada melhor que ouvir de ouvidos limpos, sem expectativa nenhuma, e só ler comentários depois – e por isso incluí essa tentativa num arquivo .DOC junto com o CD 2. Se tiverem vontade, dêem seu feedback aqui: comentem, aprovem, malhem… mas só quem tiver ouvido a peça antes de ler, combinado?

Joseph Bologne, Chevalier de Saint-Georges
Concertos para violino e orquestra e “sinfonias”

Orquestra Sinfônica da Rádio de Plzeň
Regência: František Preisler Jr. (1996-97)
Violino solo e cadências: Miroslav Vilímec

CD 1/5
01-03 Sinfonia op. 11 nº 2 em Ré, “L’Amant Anonyme” – G 074
04-06 Concerto para violino op. 3 nº 1 em Ré – G 027
07-09 Concerto para violino op. 1 nº 1 em Ré – G 010
10-12 Concerto para violino op. 2 nº 2 em Ré – G 026

CD 2/5
10-03 Concerto para violino op. 8 em Sol – G 050
04-06 Concerto para violino op. 4 em Ré – G 029
07-09 Concerto para violino op. 2 nº 1 em Sol – G 025
. . . . . BAIXE ESTES 2 CDs AQUI – download here

Ranulfus

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  1. Caro Ranulfus:

    Belas as suas postagens sobre Chevalier de Saint-Georges, e louvável a sua iniciativa de divulgar este compositor.

    Li seus comentários a respeito do mesmo com grande satisfação, o que imediatamente fez-me demonstrar esta através deste acréscimo, pois são oportunos e consistentes, instrução valiosa que educa os admiradores da música clássica aqui fartamente oferecida, e que confirma a excelência de toda a equipe do P.Q.P. Bach.

    Meus cumprimentos e votos para continuidade de tão belo trabalho.

  2. Caro Ranulfus:

    Sobre o Adágio do Concerto op.IV do Chevalier de Saint-George.

    Estou ouvindo pela 2ª vez o citado adágio, e eis a minha opinião a respeito: senti um profundo tom meditativo, o que confirma o “quê de música…” que você percebeu também. Além do citado, não encontrei romance, destarte, não consegui associá-lo a Mendelssohn (o que me força a ouvi-lo buscando tal comparação), percebi um admirável conhecimento do que se pode extrair do violino, mas nenhum, nenhum excesso sentimental ou força apaixonada, nenhuma extravagância, somente uma comedida e perfeita execução. Isto me traz ao espírito especulações a respeito da fama de violinistas judeus, numa tentativa de comparação, mas não tenho dados suficientes para concluí-la além do nome de Jascha Heifetz.

  3. Muito obrigado por tanta atenção e reconhecimento, Adriano! Só uma palavra sobre Mendelssohn: ele também um lado sacro e quase neoclássico, não só o lado romance! Um pouco disso pode ser percebido não só nas obras corais e/ou propriamente sacras, mas inclusive na Sinfonia da Reforma, que o PQP postou aqui não faz muito. Aliás, sempre me intrigou essa celebração da Reforma por um judeu, e realmente não sei a história por trás… mas como música acho que funcionou!

  4. Caro Ranulfus:

    Você deve estar falando daquela gravação “pirata” capturada da rádio estatal finlandesa, aliás, vou agora mesmo ouvi-la! Eu gostei muito dela, e aproveito para examinar este lado sacro de Mendelssohn.

    A propósito, você tinha comentado (perdido com a mudança de servidor), neste post, do erotismo em um dos movimentos do concerto para 2 violinos de Bach, você sabe que é mesmo? Eu imaginei aquela cena do Titanic, onde Rose posa nua para Jack desenhá-la sob este movimento, e acho que substituiria muito bem o solo de piano do James Horner.

  5. Magnífica postagem, maravilhosos CD, e excelente Compositor! gostei muito do estilo de composição de Saint-George, muito bom mesmo! E o Adágio do Concerto op.IV é simplesmente divino! Parabéns pela postagem mais uma vez!

  6. Queria agradecer a você por nos ter dado conhecimento desse grande compositor. Lembre-se, que o próprio Mendelssohn – aqui lembrado em outro contexto- foi quem nos ajudou a conhecer muito da obra de Bach, hoje prolífica em gravações. Infelizmente o mercado tem ditado muitos nomes, deixando outros no esquecimento. Existe uma coleção interessante somente com contemporâneos de mozart muito boa também. De forma que sou grato não só a você, mas a todos que continuam com esse trabalho. Felicidades.

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