Gilberto Mendes se foi deste mundo para o reino de Hades no última dia primeiro. Apesar de com certeza ser uma grande perda, não devemos ficar lamentando sua morte, mas sim, dentro do possível, comemorar sua vida. A morte sempre vem, e quando vem, devemos aprender a aceitá-la, e mais que isso, honrá-la.
Quero honrar sua vida e obra discutindo um pouco de duas obras muito divertidas e interessantes de sua carreira: Beba Coca Cola e Santos Football Music.
A primeira foi baseada no pequeno texto do poeta Décio Pgnatari:
O texto por si só já é interessante. Simples, fazendo uma utilização das artes visuais, lembra até de outros artistas que também fazem uso das artes visuais com poemas como Arnaldo Antunes. Na música Gilberto Mendes continua a brincadeira do poema e coloca até um arroto na música:
Em Santos Futebol Music, entram vários elementos, desde os aspectos técnicos da música pura até aspectos outros como a aleatoriedade. Aqui, aleatoriedade não só da execução de um instrumento, mas também da interação com o próprio público que assiste.
Não tem como não rir vendo isso. Rir não de zombaria, mas de satisfação, de alegria, de diversão. Segundo Cacá Machado, Gilberto Mendes se via bastante em Villa-Lobos, não pelo aspecto nacionalista da música de Villa, mas sim pelo caráter inovador e único. Talvez o maior feito de Gilberto Mendes tenha sido criar um caráter único com sua música que acabou abarcando também aspectos da cultura brasileira, como o futebol. Caráter esse que, chamado de Música Teatro, conseguiu trazer um aspecto mais interativo da música com o público.
Estive ouvindo o álbum que a Fundação OSESP disponibilizou em comemoração dos 90 anos da vida do compositor para download gratuito, o link está na imagem do álbum acima. “Alegres Trópicos”, parece ser uma clara referência a “Tristes Trópicos” de Claude Lévi-Strauss, antropólogo francês que fez muitas pesquisas aqui no Brasil e ajudou a fundar a Universidade de São Paulo. Se ouvimos e vemos as obras de Gilberto Mendes, acabamos por concordar com o nome de sua obra, nossos trópicos são alegres, e cheios de esperança. E isso também graças aos artistas como ele.
Fico imaginado o tipo de brincalhão que deveria ser Gilberto Mendes, com certeza seria um enorme prazer tomar umas cervejas com ele num bar na praia de Santos ou então assistir um jogo de Futebol entre Corinthians e Santos. (Ou por que não as duas coisas juntas?)
Que seja bem recebido nos Campos Elísios.
Luke
VALEUZAÇO, Cavaleiro Luke!
O bem humoradíssimo Gilberto certamente merece uma homenagem como esta! Parabéns!
Monge Ranulfus
Com votos de um ótimo 2016, e agradecendo tudo o que de bom o blog nos tem dado, quero avisar que a postagem da integral das sinfonia de Beethoven, com o Abbado, veio defeituosa, com a ausência de vários últimos movimentos das de número 3, 4,6 e 9. abraços
LA CENSURA NO EXISTE
La censura no existe, mi amor,
oh, oh, oh, oh, oh, oh.
La censura no existe, mi amor,
oh, oh, ah, ah.
La censura no existe, mi amor,
oh, oh.
La censura no existe mi amor.
La censura no existe, mi…
La censura no existe…
La censura no…
La censura…
La…
Juan Carlos Baglietto
Eu lembro a “Don Baglietto” na Argentina, cantou
uma canção -semelhante- muito bonita e muito triste também..!!
Saudações da Argentina.-
Muito bom!
Brilhante, Luke! Obrigado.
Maravilhoso!
Boa escolha de CD, Luke !
O mais interessante é que essa verve lúdica das obras do Gilberto nunca estava sozinha: sempre vinha acompanhada de reflexão e, porque não?, rigor composicional.
O Moteto em Ré menor (Beba Coca Cola) é resultado do envolvimento do Gilberto Mendes com os processos polifônicos da música renascentista: Machaut e Jannequin, por exemplo. Ele cantava no Madrigal Ars Viva, o que facilitava o acesso ao material desses compositores. Considerava o Jannequin um “artista pop” de seu tempo, e viu no poema do Pignatari uma ótima oportunidade de fazer a sua leitura particular da ars nova ! A obra tem, na minha visão, um caráter minimalista: apesenta repetições de blocos (cada um com 24 sílabas do poema) com apenas 4 notas, que variam sutilmente ao longo da partitura. Gostaria muito de saber se, à época, ele já conhecia o trabalho de La Monte Young. O Gilberto esteve sempre na ponta de lança das vanguardas musicais, isso numa época em que a internet era apenas ficção científica ! ! Das 4 notas, 3 formam o acorde de ré menor título da obra. Porém, a quarta nota é um mi bemol que, segundo o próprio Gilberto Mendes, foi acrescentada à obra para “atrapalhar” e, propositalmente, “provocar a fúria da crítica” (era o lado iconoclasta dele) !
Já a Santos Football Music é mais complexa e, para não ficar tergiversando, faço minhas as palavras do Almeida Prado, que considerava a obra como sendo a única “autenticamente brasileira sem ser folclórica” !
Vida longa ao Mestre !