Henri Casadesus (1879-1947) / Johann Christian Bach (1735-1782) – Concerto para Viola e Orquestra em Dó Menor [link atualizado 2017]


Aos poucos os nossos ouvintes internautas vão descobrindo um pouco mais sobre nós, da equipe do P.Q.P.Bach. Essa será minha primeira postagem de uma obra dedicada a um instrumento de cordas, a viola, e isso tem sua explicação: ao lado das peças para canto e coro, as escritas para cordas dividem um espaço igual em meu coração (e é aí que vem um dado sobre mim): sou violista de meia-pataca (pronto, já estou me preparando para as piadinhas…), fiz três anos de aulas do instrumento e ainda toco mal… Assim, junto aos sublimes  instrumentos que são as vozes humanas, outros tão belos quanto também dividem minha atenção: os da família do violino. Aliás, não sei porque chamam de “família do violino” se a viola é o instrumento mais antigo da prole e violino não quer dizer nada mais que “violinha” em italiano. Mas deixemos as brigas de família de lado e tratemos logo da obra escolhida para esta ensolarada e fria quinta-feira.

Para os violistas, o Concerto para Viola em Dó Menor de Johann Christian Bach é considerado um dos mais belos já escritos, mas ainda poucos sabem que ele é na verdade um grande (e belíssimo) engodo de Henri Casadesus, este respeitável senhor na imagem ao lado.
Casadesus era um exímio violista e aficionado em música antiga. Tornou-se importante intérprete de compositores barrocos e classicistas e pesquisador da música e dos instrumentos dos séculos XVII e XVIII. formou, com seu irmão, cunhada, esposa e um amigo a Societè des Instruments Anciens (1901-1939), que se dedicou por quase quarenta anos a divulgar a música antiga e a executá-la com instrumentos de época: viola d’amore (Henri Casadesus), quinton (Marius Casadesus), viola da gamba (Lucette Casadesus), baixo de viola (M. Devilliers) e cravo (Regine Palamí-Casadesus).

Ocorreu então que os membros da Societè, Henri e Marius, se enveredaram pela composição e, não se sabe se tímidos por não acharem suas obras muito boas, ou  querendo prestar homenagens a outros compositores ou simplesmente por acharem que composições suas não trariam repercussão, colocaram os nomes de outros autores já consagrados em suas obras, inventando histórias de que teriam descoberto peças inéditas dos mesmos. Com grande conhecimento das características compositivas dos que interpretavam, surgiram então obras com autorias forjadas, como a Suíte para Quarteto de Cordas e o Concerto em Ré para Pequena Orquestra, de C.P.E.Bach e os Concertos para Viola e Orquestra em Si Menor de Händel e em Dó Menor de J.C.Bach. Todas foram compostas, na verdade, por Henri Casadesus, que as publicava como sendo apenas seu editor.
No intuito de homenagear seus autores prediletos, Casadesus não percebia que sua obra era de grande qualidade e que merecia levar o nome verdadeiro do autor.
Essas peças foram executadas por anos a fio com as autorias forjadas que o musicista francês lhes deu. Mais recentemente optou-se por colocar a autoria de Henri Casadesus e acrescentar ao título da música que se trata de obra “no estilo” do autor que aparecia na edição original. Ainda assim, é muito comum até os dias atuais que se veja essas obras sendo executadas sob as autorias que lhes foram atribuídas por ele, é só fazer uma busca no youtube para ver.
Dificílimo de ser encontrado gravado, disponibilizo este concerto na versão de Peter Hatch, violista americano muito correto na sua execução, de interpretação muito limpa e clara (embora não utilize uma viola d’amore, como ocorria na formação original, da Societè de Instruments Anciens).
Lembro que isto não é um CD e nem me perguntem onde encontrei, se faz parte de algum outro álbum, porque eu não sei mesmo! É dessas coisas que encontramos sem querer pela internet, nem damos importância e, quando vamos ouvir, ficamos embasbacados.
Fique, então, com o belíssimo Concerto para Viola e Orquestra em Dó Menor, de Henri Casadesus, falsamente atribuído a Johann Christian Bach (semana que vem teremos o concerto que Henri atribuiu a Händel)
É maravilhoso. É IM-PER-DÍ-VEL!!!

Henri Casadesus (1879-1947)
Concerto para Viola em Dó Menor, no estilo de Johann Christian Bach

I. Allegro molto
I. Allegro molto espressivo
I. Allegro molto energico

Peter Hatch, viola

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (14Mb)

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Ouça! Deleite-se! … Mas antes, deixe um comentário.

Bisnaga

40 comments / Add your comment below

    1. Ora, não importa! rsrsrs Estou brincando, Charles. Talvez seja daqueles álbuns que a gente encontra por aí na internet, entende, nas rádios online… ah, o Bisnaga pode te explicar melhor.

    2. Charlles, não é um CD fechado. Provavelmente é parte de um álbum com mais peças, mas nunca o encontrei completo. Mas a peça é linda.

  1. Parabéns pela postagem! Gostei demais dessa peça. É raro peças para viola, não? Também não entendi bem por que não se trata de um CD… o importante é que foi um grande prazer ouvir estes três movimentos!

    1. Não tão raras assim. Conheço coisa de uns 20 concertos, mas nada que chegue aos pés da quantidade de concertos para violino ou violoncelo. Aos poucos postarei outras pérolas para viola aqui. Palavra de violista!

  2. Bom, Bisnaga, é imperdível mesmo! Eu mesmo não vou fazer piadinhas sobre violistas, isso é dispensável. A viola-de-arco é um instrumento de som maravilhoso, encantador. E suponho que esse concerto também seja. Agora, sobre a família de instrumentos ser chamada de “família dos violinos”, isso é meio redundante; acho que só deram esse nome porque o violino com o passar dos anos se destacou mais, sobrepondo-se à viola. E não vamos nos esquecer que o violino tomou o lugar da viola justamente por ter um som mais agudo, o que o torna a primeira frase da partitura. Ou estou enganado?…

    1. Ah, vá, Vanderson! Era pra dar aquele ar de “revoltinha de quem é deixado de lado”. O violino é, pelo seu timbre, naturalmente mais brilhante e por isso tem papel mais destacado em solos e primeiras-linhas melódicas das partituras, ao passo que o som da viola é mais opaco e mais morno, mais delicado, e são melodias mais específicas que conseguem exprimir essas características marcantes da viola. O violino tem mais espaço de atuação como solista, mesmo, embora seja um “filho” das primeiras violas, aquelas que os “bárbaros” (vikings, visigodos, etc.) já tocavam na época de Roma Antiga.

      1. Na verdade, sempre houve uma forte preferência por timbres agudos – a por timbres graves é exceção. Isso prova que mesmo os grandes compositores sofriam de um terrível mau gosto. 🙂

        Brincadeiras à parte, é só voltar lá atrás na ópera, desde o Orfeo. Acho que isso se explica porque timbres agudos são mais claramente audíveis. Tanto que raros foram os exploradores dos timbres graves – exemplos: Beethoven, que instava os construtores a fazer pianos com oitavas mais graves; Brahms, porque tinha ótimo gosto; e Mahler, que reservou a melhor parte da Canção da Terra para a voz grave, seja ela feminina ou masculina (Das Lied von der Erde é necessariamente cantada por tenor, mas a outra parte, como se diz na capa, é para barítono ou contralto).

        Mozart era um caso curioso – ele era fãzão de sopranos (argh!) e de… baixos e violas! Ao mesmo tempo, parecia não gostar de mezzos nem de tenores, e nem de explorar os timbres graves do fortepiano ou do cello. Vai entender.

        1. … “Brahms, que tinha ótimo gosto” e cujas belas sonatas para viola aparecerão neste blog num futuro ainda incerto pelas mãos deste postulante (mas ainda sem data certa, paciência).

          1. Ouvi uma piada de violista bem cruel. Dizia que os violinistas criavam calos no queixo e no ombro, e os violistas criam calos… na coxa! Não gostei nada, obviamente, mas ri um bocado.

          2. Duda, provavelmente era porque se tratava de uma viola da gamba. Esses violinistas incultos… tsc, tsc, tsc…

          3. Não, não. É porque os violinistas criam calos tocando, e os violistas criam calos de tanto esperar a hora de tocar, com a viola apoiada na coxa.

          4. kkkkkkk. Não explica, Duda. entendi. Agora estragou minha tirada-na-cara dos violinistas…

  3. Caro Bisnaga:

    Em paga: ouvi apenas um trecho da composição e achei-a muito delicada, tanto quanto as de Franck. Se Henri seguiu o critério deste, ou a mim parece assim, ele fez uma pequena jóia neste concerto.

    Até a próxima postagem.

    1. Sim, uma joia! Achou as palavras certas: uma joia que estamos descobrindo com vocês. Os concertos da próxima postagem são tão belos quanto o de hoje. Aguarde, Adriano!

  4. Muito bom!!! Sou estudante do bacharelado em música/viola na UFRGS e sempre tive dificuldade de achar peças para viola aqui. Acho muito importante esse “resgate” no site em relação a viola. Parabéns, e muito obrigado!!

  5. Me deleitei muito com essa gravação. Ora, Bisnaga, é claro que eu percebi o porque das suas palavras; só estava comentando. (Eu não sou tão bobo, ora bolas! rsrsrsrs) Mas não falo isso pra te embaraçar, não. Só achei melhor esclarecer isso. Do mais, muito obrigado pelo post.
    He will be Bach, você é um CDF nisso, hein! Muito interessante o que você disse. O caso de Beethoven eu não sabia, mesmo já tendo lido bastante sobre ele. De Mahler eu não entendo muito, mas já pude observar que é verdade. E sobre Mozart, eu diria a mesma coisa, mas mesmo assim não achava que ele aparentemente não gostava de mezzos e de tenores. Pra mim todos os timbres são ótimos quando tomam o lugar certo na música, por isso gosto de todos eles.

  6. Essa obra é mais que IM-PER-DÍ-VEL, ela é MA-RA-VI-LHO-SA.
    Na primeira vez que ouvi eu estava em pé no ônibus. No terceiro movimento, quando o tema do primeiro volta, eu quase tive que sentar no chão, pois senti as pernas fraquejarem. Rolaram até umas gotinhas de suor ocular (lembrando que homem não chora).
    Bisnaga, não sabia que você compartilhava do meu sofrimento. Violista só se lasca. Você vai mostrar a viola pra uma menina, e quando abre o case ela diz: “Que lindo! Você toca violino!”. Você: “É uma viola.” Ela: “Mas viola não se toca assim? [e faz o gesto de tocar viola caipira]” Você: “Garçon! A conta.” É triste. :,(
    Eu costumava dizer que Johann Christian era o filho de Bach que eu mais gostava, justamente por causa dessa obra, mas vou ter que rever minha posição quanto a isso. E eu já tinha decidido executar essa obra quando fosse fazer a prova prática do vestibular para bacharelado (2016, talvez 17 [tenha muito a me preparar]), mas talvez não possa, pois não faz parte do barroco ou do arcadismo. Enfim, ou estudar melhor a possibilidade.
    Mas voltando ao post, valeu mesmo, Bisnaga. Adoro essa obra.

    1. Estava esperando um comentário seu: “pô, o cara sempre comenta e não vai falar nada quando posto uma obra de viola!”
      Mas a sensação de um violista é exatamente como você descreveu. Terrível. Fora do Brasil não tem instrumento homônimo, é mais fácil. Violista brasileiro sofre mais que os outros. hehehe.
      Abraço

    2. Duda, não deixe de fazer esse concerto na prova, por quatro motivos: 1.exige técnica, 2. é lindo, 3. J.C.Bach está na transição do barroco para o classicismo, vale, 4. até hoje tem gente editando CD e colocando que a obra é do filho de Bach, não precisa contar a história do Casadesus… Vai fundo e vê se me passa.

      1. Eu reli o manual. Na verdade se exige um movimento rápido e outro lento de concerto ou sonata, sem especificação de época, então, tá valendo.
        E foi mal a demora pra comentar, Bisnaga. Realmente, quando vi o post, já fazia um tempinho e já tinha um monte de comentário.
        Essa obra é tão bonita, mas tão bonita, que mesmo que não fosse pra viola seria uma das minhas favoritas.

  7. Que engraçado ver o famoso Christian Bach (sim, não é do Christian Bach…) por aqui.
    Eu, na verdade, como violista amador peguei uma certa birra desta peça por achá-la um tanto melosa e romântica demais, além de ter uma afinação chatíssima para meus dedos destreinados. Não que eu desgostasse completamente, mas sempre acabava pensando, enquanto praticava, “Vê, quem mandou escolher a viola, agora tem que ficar praticando essa coisa romântica melosa e difícil enquanto os violinos e cellos têm seu repertório infinito e cheio de coisas legais”.
    Mas só tenho a agradecer que o ilustre Bisnaga esteja disposto a divulgar obras do instrumento mais… mais outonal e melancólico de todos. No fundo, eu sei que eu gosto desse concerto.
    E… como não vou perder nada fazendo um singelo pedido à grande SAC pequepiana… as obras de câmara para viola do inglês Bax são bastante interessantes! Aliás, outro dia achei pelos oceanos da internet um CD do grande Lawrence Power, com as sonatas para viola do Hindemith…

    1. snif, snif. Insensível (rs).
      Mas tem coisas maravilhosas de viola de todos os períodos, o problema é que são pouco gravadas…
      Tenho as Sonatas do Bax. Estão aqui na caixa para um dia serem postadas.

  8. Marius Casadesus también compuso el Concerto Adelaida para violín, diciendo que era de Mozart. Entró en el mismísimo catálogo de Koechel-Einstein (KV Anh 294a) y fue grabado por Yehudi Menuhin, dirigido por Pierre Monteux en 1934.

  9. Informação adicional: a obra do Casadesus desse post é parte de um CD da Naxos que reúne concertos para viola de Berlioz e Walton. Orquestra da RCA Victor conduzida por Frieder Weissmann com o violista William Primrose. Gravação de 1946 lançada em CD em 2005.

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