Os Cameristas (1976) – José Siqueira (1907-1985) e Radamés Gnattali (1906-1988) [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Hoje estou orgulhoso! José Siqueira, compositor brasuca simplesmente estupendo e esquecido da história, apagado deliberadamente pela perseguição que sofreu no regime militar, atinge hoje, aqui no P.Q.P.Bach, a marca de QUINZE postagens. Não é um número absurdo (os entes da Santíssima Trindade – Bach, Beethoven e Mozart – tem todos mais de cem posts), não deve ser nem o vigésimo mais postado aqui, mas já é o sexto brasileiro mais presente no blog. Ultrapassou André da Silva Gomes, Castro Lobo e Sigismund Neukomm e igualou-se, ante os estrangeiros, a Shoenberg. Eu, sinceramente, conhecia pouco dele até o começo deste ano e, tomando contato com mais obras, pude ver como o cara é bom. Tomei suas dores, publicando tudo o que dele dispusesse e dele encontrasse. Com o material que temos e com as contribuições preciosíssimas de Harry Crow, o P.Q.P.Bach cumpre o papel ao qual se propõe desde o início: o de divulgar a música, de polinizar a beleza pela blogosfera. Acredito que ajudamos a tirar um pouco da sombra que teima em obscurecer o nome desse grande brasileiro, José Siqueira, hoje, com um complexo, difícil e fodástico Divertimento para Oboé e Cordas.

Temos outro compositor não menos genial na postagem de hoje, Radamés Gnattali, que soube como poucos não só unir o erudito ao popular, mas alternar entre esses dois campos. Gnattali passeava de um lado a outro, de um gênero a outro da música, como se fosse necessário só apertar a tecla SAP. Coisa incrível! Além de sua música de concerto (seu concerto para harpa e cordas, por exemplo, é uma das coisas com mais enlevo que já ouvi), é vasta a sua produção de choros, sempre de altíssima qualidade. Não à toa, sua produção, sempre influenciada pelos ritmos do Brasil, também recebeu as cores dos sons do Nordeste, como é o caso do belo (e agudíssimo) Concerto para Violino.

Aproveitei para transcrever parte do encarte que fala com muita propriedade da qualidade desses dois compositores de hoje e do conjunto executante:

(…) Além de compositor de larga projeção não só no Brasil como no exterior, José Siqueira (1907) é sem dúvida um dos espíritos mais empreendedores de nosso cenário musical, quiçá o mais arrojado de todos. Homem de visão, amando acima de tudo o manancial sonoro de seu país, bem merece um preito de gratidão pelo muito que fez em prol do desenvolvimento cultural de nosso povo. Aos 33 anos, em 1940, criou a Orquestra Sinfônica Brasileira, hoje um conjunto de renome internacional. Em 1948 fundava a Sinfônica do Rio de Janeiro e, anos mais tarde, a Orquestra de Câmara do Brasil. Em 1960 consegue ver realizado o seu mais ambicionado sonho: a criação da Ordem dos Músicos do Brasil. Mestre de sua arte, dono de um “metier” invejável, sua obra é vastíssima, abrangendo todos os gêneros — da ópera à música de câmara, da canção à sinfonia. A produção do músico paraibano pode ser dividida em três períodos distintos: o pri­meiro universalista e que vai até 1943; o segundo, nacionalista no sentido genérico, indo de 1943 a 1950 e o terceiro, que poderíamos definir como “nordestino” pelo emprego regular do sistema por ele denominado de tri-modal. Essa teoria consiste no aproveitamento sistemático das três escalas encontradas no rico folclore nordestino. Siqueira é dentro da corrente nativista talvez o mais “intimamente nordestino” de nossos músicos.
Seu Divertimento Nº5 para cordas data de 1974 e contém três movimentos: Allegro, Larghetto e Allegro
Pianista nato de rara intuição, regente, orquestrador habilíssimo e compositor dos mais versáteis, Radamés Gnattali (1906) que este ano comemora seu 70º aniversário de nascimento continua em perene criatividade. O lugar de excepcional destaque que ele conseguiu no panorama da música brasileira de nossos dias, deve-se a vários fatores, entre esses, o de ter militado longos anos nas lides radiofônicas, onde alcançou notoriedade, quer como arranjador popular, quer como músico erudito. Após haver estudado plano em seu estado natal o Rio Grande do Sul, veio para o Rio em 1931, onde frequentou o Instituto Nacional de Música até 1938. Todavia, no domínio da composição, pode-se de sã consciência afirmar-se que foi um autodidata. A princípio deixou-se influenciar pelo “jazz”, mas pouco a pouco foi assumindo um nacionalismo consciente calcado menos nas constantes rítmico-melódicas populares do sul do país a exemplo de seu conterrâneo Luiz Cosme e mais voltado para a temática nordestina, fonte de sua inspiração, como também soou acontecer com Camargo Guarnieri e tantos outros. Como Guerra Peixe, o compositor gaúcho faz questão de estabelecer um paralelo entre os dois setores da sua produção — o popular e o erudito.
O Concerto para violino e cordas inserido no presente disco é o segundo que concebeu para o instrumento, e foi dedicado a Giancarlo Pareschi, que é o autor das cadenzas. Divide-se em três seções: Alegro — Canção e Chôro.
O conjunto “Os Cameristas” foi fundado em 1964 pelo M. Nelson de Macêdo, formado por uma seleção dos melhores instrumentistas de cordas do Rio de Janeiro. Fez sua estréia sob o patrocínio de O Globo no auditório daquele vespertino. Noel Devos (Fagote), Giancarlo Pareschi (Violino) e Nelson de Macêdo (Regente) são nomes que dispensam maiores apresentações, por serem de nossos mais conhecidos e apreciados intérpretes com uma larga folha de relevantes serviços prestados à música brasileira. Nelson de Macêdo, além de violista e regente, vem se firmando como um compositor de inegáveis merecimentos
Sérgio Nepomuceno (Extraído do encarte)

Semana que vem teremos mais um álbum d’Os Cameristas com obra de José Siqueira. Será a 16ª e última postagem dele. Mas acredito que no futuro consigamos mais material do paraibano arretado para postar aqui. É esperar pra ver…

Por fim, UM BAITA DISCÃO! Ouça e torne seu dia mais feliz!

Os Cameristas
Os Cameristas (1976)

José Siqueira (Conceição, PB, 1907 – Rio de Janeiro, RJ, 1985)
01. Divertimento nº5 – 1. Allegro
02. Divertimento nº5 – 2. Larghetto
03. Divertimento nº5 – 3. allegro ma non troppo
Radamés Gnattali (Porto Alegre, RS, 1906 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)
04. Concerto para violino nº2 – 1. Allegro moderato – marcato
05. Concerto para violino nº2 – 2. Canção
06. Concerto para violino nº2 – 3. Choro

Orquestra “Os Cameristas”
Noel Devos, oboé
Giancarlo Pareschi, violino
Nelson de Macêdo, regente
1976

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (128Mb)

…Ah, por favor, comente, escreva umas palavrinhas e me tire da solidão…

Partituras e outros que tais? Clique aqui


Não, não são Os Cameristas, mas a foto é tão legal…

Bisnaga

16 comments / Add your comment below

  1. Belíssima postagem, Bisnaga! Dentre os compositores brasileiros, é uma pena que vocês não possam postar mais Villa-Lobos. Mas, em compensação, temos o Carlos Gomes, o Siqueira, e tantos outros.

  2. Prezado Bisnaga,

    Muito, muito, muitíssimo obrigado pelo ESTUPENDO trabalho de garimpagem da obra do FABULOSO José Siqueira!

    Quanto a Santíssima Trindade, sem hesitar sequer um minuto, tiraria Mozart, e colocaria em seu lugar Joseph Haydn!

    Sugiro, também, a criação do Santo Quarteto: Bach, Haydn, Beethove e Schubert!

  3. Postaço.
    José Siqueiro o maior subestimado da geração pós-villa.nunca nem tinha ouvido falar dele fora daqui do blog, uma vergonha mesmo música boa desse jeito ficar esquecida.
    parabens pelo post.

  4. esqueci de falar do radamés.esse aí é muito genio mesmo num tem nem o que falar, como compositor,arrajador, e ainda excelente instrumentista.

    aqui uma obra prima do genio com outro genio do violão tocando. ouçam o concertino para violão e piano que vale muito a pena.
    https://rapidshare.com/#!download|923p7|399770767|UQT1982_RadamesGnattaliERaphaelRabello-TributoAGaroto.rar|68113|0|0

    Fonte:http://umquetenha.org/uqt/2010/06/19/radames-gnattali-raphael-rabello-tributo-a-garoto-1982-2/

  5. Pena é a péssima qualidade da gravação! Soa tudo anasalado e irritante! O intérprete do fagote pode ter seus méritos, mas seu vibrato é demasiado lento e exagerado. Pra mim, infelizmente assim não dá pra curtir nem um pouco!

  6. José Siqueira pode até ser sido um super compositor.

    Mas se foi ele o idealizador da famigerada Ordem dos Músicos do Brasil, entidade inútil, parasitária, que jamais foi capaz de fornecer qualquer espécie de amparo à classe… taí uma triste mácula em sua biografia. A ideia original pode ter sido bem intencionada (quero acreditar que sim), mas acabou se mostrando absolutamente ingênua e infeliz, descolada da realidade, um erro monumental. Quem é ou foi músico, sabe do que estou falando. Que pena.

  7. Vocês não teriam também o “Concerto para Quarteto de Cordas e Orquestra” do Radamés. Tive a oportunidade de ouvir uma única vez: na reabertura do Teatro Municipal de São Paulo. Até hoje não me esqueço, a obra é emblemática

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