175 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes
Joanna de Flandres foi a segunda ópera de Antônio Carlos Gomes. Trabalho de fôlego para o rapaz ainda moço, que contava com 27 anos na sua estreia. Depois do grande sucesso da primeira, Carlos Gomes resolveu manter a fórmula (em time que está ganhando não se mexe…): uma nova história que se passa em castelos e no tempo das Cruzadas. Se deu certo na primeira vez, haveria de dar certo novamente. E deu. Um novo e grande sucesso do aluno do Conservatório da Escola de Bellas Artes, que via sua fama aumentar cada vez mais.
Havia aqui e ali alguns deslizes, diziam ser o primeiro ato muito longo (ocupa metade de toda a ópera) e depois a história parecia correr muito rapidamente, havia algumas inconstâncias. Porém, Gomes já estava mais afiado com esse formato que ainda lhe era recente (sua primeira ópera estreara havia dois anos, somente), aprendia sempre e refinava sua composição.
Lauro Machado Coelho, conta-nos um pouco sobre a ópera:
Devido a adiamentos na produção, Joana de Flandres, prevista para estrear em 10 de setembro de 1863, só subiu à cena no dia 15. O libreto original, do jornalista Salvador de Mendonça, também se passa no tempo das Cruzadas e conta a história de Joana, apaixonada pelo libertino trovador Raul de Mauleon. Ela acusa de impostor o próprio pai, o conde Balduíno, que volta da Terra Santa após muitos anos de ausência, pois não quer lhe devolver o trono, no qual pretende instalar o amante. Theresina Bayetti, Giuseppe Mazzi e Acchile Rossi, regidos por Carlo Bossoni, criaram essa segunda ópera.
A marca verdiana ainda é forte: Conati chama a atenção para a analogia entre a cavatina “Foram-me os anos da infância” e a ária de Elvira no ato I do Ernani. Mas Luiz Heitor já vê nesta partitura acentos mais pessoais, identificando traços quase schubertianos nas modulações do “prodigioso melodismo” do jovem compositor. Uma certa flutuação básica, porém, que haveria de marcar toda a obra do compositor, foi percebida, na Joana de Flandres, pelo crítico do Jornal do Commercio que, em 17 de setembro, escrevia:
“Tem ele muita facilidade e espontaneidade na composição; essa mesma facilidade, contudo, o faz às vezes descer da altura em que poderia manter-se e cai, aqui e ali, no trivial”.
Carlos Gomes, ainda assim, atingiu enorme sucesso com sua segunda ópera e, se a primeira peça do gênero não foi suficiente para que ele conseguisse a almejada bolsa de estudos no exterior, foi Joanna de Flandres que provou ser ele um compositor de gabarito, acima do nível dos demais de sua terra e de seu tempo, e que lhe garantiu as bênçãos do Imperador para a concessão da bolsa. Gomes mudava-se para Milão no ano seguinte.
A carreira italiana de Carlos Gomes inicia-se em 1864, quando ele chega a Milão com uma bolsa de 1:800$000 que lhe fora concedida pelo governo brasileiro. Essa escolha era do agrado de D. Pedro II, que admirava seu talento. O imperador deu o seu placet ao nome do campineiro, indicado a Tomás Gomes dos Santos – diretor da Academia de Belas Artes, de que dependia o Conservatório – como o mais talentoso aluno daquela escola, merecedor de “fazer seus estudos em qualquer conservatório da Itália”. Para que se tenha uma idéia do que representava, na época, esse valor, basta lembrar que 800$000 era a renda anual que um cidadão precisava comprovar, se quisesse candidatar-se a senador do Império; e 400$000, caso almejasse a uma cadeira de deputado. Para que lhe fosse concedida bolsa tão liberal, contribuiu o sucesso de suas duas primeiras óperas.
O caminho de sucesso de Carlos Gomes estava se alinhando. Depois das operetas “Nella Luna” e “Se as minga”, já compostas em Milão, estrearia a ópera que o levaria ao estrelato: Il Guarany, mas essa fica para a semana que vem…
Infelizmente, Joanna de Flandres nunca foi gravada na íntegra ou, se há tal gravação, se perdeu em um número pequeno de cópias que não nos alcançou. Algumas partes dela, porém, foram executadas aqui e al, por orquestras e intérpretes variados. Logo, estes arquivos que disponibilizamos não são um CD, mas uma reunião do que já foi gravado dessa ópera, que, após sua esteia, só foi novamente executada em 2005, no Teatro Alpha, porém, sem a gravação do CD que se havia planejado na ocasião.
Do pouco desta peça que aqui temos para mostrar-vos, já se percebe uma grande qualidade na composição de Carlos Gomes, especialmente na abertura da ópera e nas melodiosas árias de Joanna e de Raul.
Sem mais delongas, ouçamos a segunda e última ópera em português de Nhô Tonico!
Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836-Belém, 1896)
Joanna de Flandres (1863) – trechos reunidos
Libreto: Salvador de Mendonça
AtoI – 01 Abertura (A)
AtoI – 02 Cena e Racconto na Conjuração (B)
AtoI – 03 Cena e Cavatina de Joanna (B)
AtoI – 04 Cena e Canto Final Primeiro (B)
AtoI – 05 Quinteto Final (B)
AtoII – 06 Ária de Raul-Foi meu Amor um sonho (B)
AtoIII – 07 Intermezzo (C)
Bônus-AtoI – Cavattina de Joanna (A)
Bonus-AtoII – Ária de Raul-Foi meu Amor um sonho (D)
A
Niza de Castro Tank, soprano
Orquestra Sinfônica de Campinas
Cláudio Cruz, regente
Campinas, 2004
B
Joanna de Flandres – Julianne Daud, soprano
Raul de Mauleón – Fernando Portari, tenor
Humberto de Courtray – Paulo Szot, barítono
Balduíno – Savio Sperandio, baixo
Margarida de Flandres – Marcia Guimarães, soprano
Burg – Sérgio Weintraub, tenor
(Orquestra organizada para esta apresentação)
Regência Fabio Oliveira
Teatro Alfa, São Paulo, 2005
C
Orquestra do Festival do Centenário de Carlos Gomes
Andi Pereira, regente
Theatro da Paz, Belém, 1996
D
Juan Thibault , tenor
Orquestra Nacional da Rádio do MEC
Alceo Bocchino, regente
Campinas, 14 de Setembro de 1978
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (43Mb – faixas, cartaz, info e resumo da ópera)
Ouça! Deleite-se!
caricatura de Carlos Gomes by Stegun
Bisnaga
Esplêndido! Mal posso esperar para ouvir! Muitíssimo obrigado ao Bisnaga e a qualquer outro também! =P
Puxa vida, Bisnaga! Você é um presente pro blog. Suas postagens de música brasileira são excelentes. Sempre bem escolhidas. Era justamente uma coisa que há certo tempo faltava – e por motivos de força maior, eu diria.
Agora, não entendo por que criticar Joana de Flandres só porque seu primeiro ato é comprido. E daí? A ópera inteira não continuaria com a mesma duração?…
Céus! assim eu choro de emoção.
É a primeira vez que essas óperas estão sendo postadas na net. Agora está disponível para todos! Valeu, Bisnaga, aposto que Gomes está dando 3 hurras de alegria no caixão. XD
A negligência escrota que vinham fazendo com ele está com os dias contados graças à ti! o/
Acabei de achar um grande material no You Tube. Pra quem quiser ver…
http://www.youtube.com/watch?v=oErGOG4iv8I
Rapaz… Eu participei da gravação da peça no teatro alfa com o Maestro Fabio de Oliveira… Gostaria tanto de ver o vídeo completo… Ou pelo menos saber de uma outra gravação completa… Tem um duo barítono soprano…”a lua pelo céu vagava”… coisa mais linda…
O link parece nao estar funcionando!
link novo!
Caro Bisnaga:
O link permite o download do arquivo:
“Carlos Gomes-Sonata em Ré-Cam. de Violões Octopus”.
Não corresponde à ópera Joanna de Flandres.
Obrigado.
Milos.
Devo ser disléxico…
Arrumei lá. Agora o link leva para o arquivo certo.