Para interpretar as sonatas de Beethoven é necessário ter mais que técnica. É fundamental, acima de tudo, que o intérprete seja cheio de virtuosismo e sensibilidade. E isso o nosso Nelson Freire esbanja com desassombro; tem de sobra. Esse é um CD especial. Revela a profusão de sentimentos e dores beethoveanas de forma doce, densamente suaves. Não há fúria. Apenas um convite a bons momentos de alegria e encanto. Agradáveis momentos de melancolia e solidão. Apenas o silêncio. Um grito aqui, outro lá. Apenas um contraponto: talvez tenha faltado ousadia ao Freire, mas a gravação é boa. Sentado, enquanto corrijo provas, ouço a delicadeza e isso me enche de presságios ininteligíveis. Estou vazio de vontades. Parafraseando Machado de Assis: “todo eu estou budista, caro leitor!” Um bom deleite!
Ludwig van Beethoven (1770-1827) – Piano Sonatas Op. 27, no.2, 53, 81a & 110
Piano Sonata No. 21 In C Major, Op. 53 _Waldstein
01. I. Allegro con brio
02. II. Introduzione. Adagio molto – attacca
03. III. Rondo. Allegretto moderato
Piano Sonata No.26 op.81a _Das Lebewohl
04. I. Adagio-Allegro
05. II. Abwesenheit-Andante espressivo
06. III. Das Wiedersehen-Vivacissimamente
Piano Sonata in A flat, No.31 Op.110
07. I. Moderato cantabile molto espressivo
08. II. Allegro molto
09. III. Adagio ma non troppo-Arioso dolente
10. IV. Fuga-allegro ma non troppo-L’istesso tempo di Arioso
Piano Sonata No.14 in C sharp minor Op. 27 No. 2 _Moonlight
11. I. Adagio sostenuto
12. II. Allegretto
13. III. Presto agitato
Nelson Freire, piano
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Carlinus
Esse CD é muito, muito, muito bão. Essa interpretação da Waldstein é uma de minhas favoritas; é impressionante a velocidade que ele atinge – e trata-se de uma sonata compatível com tamanha velocidade. Acho que o único outro pianista que conseguiu tocá-la tão rápido foi o Solomon.
Obrigadaço, Carlinus! Presente de primeira linha!
Algumas das sonatas que me são mais queridas (de muita gente, mas não à toa, né?)…
… com um dos grandes pianistas dos que eu chamaria “pianistas-verdade”, ou algo assim,
… capazes de evidenciar a música de um modo sempre novo e cativante sem deixar a absoluta fidelidade ao que ela é em sua simplicidade, sem precisar inventar moda, “transgredir”, esses papos que em 1% dos casos são ato artístico autêntico, em 99 são mesmo pra acobertar a deficiência de talento.
Nenhum chauvinismo: Nelson Freire é dos melhores do mundo e ponto!
Eu que agradeço pelo seu comentário (sempre oportuno), mestre Ranulfus.
Muito bacana este blog, gente! Aqui eu encontro o que sempre busquei, um espaço para recuperar minhas energias e continuar lutando pelo mundo, com muita música! Obrigado, Carlinus!
Carlinus, quando foi que Machado escreveu sobre budismo? Fiquei curioso…
É uma paráfrase, Martini!
Não acho que pra interpretar Beethoven seja fundamental virtuosismo. E não vou com a cara desse Freire, o cara parece tão problemático…
Ótima postagem, não tinha essa versão ainda.