Charles Ives (1874-1954) – Sinfonia No. 1, Sinfonia No. 4 e Central Park in the Dark

Ives tinha uma vida extraordinariamente ativa. Após sua formação profissional como organista e compositor, ele trabalhou durante 30 anos no setor dos seguros, escrevendo no seu tempo livre. Usou uma grande variedade de estilos – desde o Romantismo tonal até a experimentação radical, mesmo em peças escritas no mesmo período. Suas principais obras muitas vezes lhe custaram anos de trabalho, desde o primeiro esboço até a revisão final, e muitas delas não foram executadas durante décadas. Suas auto-publicações no início dos anos 1920 trouxeram um pequeno grupo de admiradores que trabalhou para promover a sua música. Ele logo deixaria de escrever novas obras, dedicando-se a revisões e preparações para execuções de obras já compostas. Quando morreu, Ives já era um compositor reconhecido e muitas de sua obras tinham sido publicadas. Sua reputação continuou a crescer postumamente, e por ocasião do seu centenário, em 1974, ele foi reconhecido mundialmente como o primeiro compositor a criar uma “música distintamente americana”. Desde então, sua música tem sido mais freqüentemente executada e registrada e a sua reputação cresceu, menos tanto por suas inovações mas sobretudo pelo mérito intrínseco da sua música. As circunstâncias únicas da carreira de Charles Ives criaram alguns mal-entendidos. Seu trabalho no setor dos seguros, combinado com a diversidade da sua produção e do pequeno número de performances durante os seus anos de compositor, conduziram Ives a uma imagem de amador. No entanto, ele tinha uns 14 anos de carreira como organista profissional e um meticuloso treinamento formal na composição. Dado que se desenvolveu como compositor longe dos olhos do público, as suas obras maduras pareceram radicais e desconectas do passado, quando publicadas. No entanto, quando a sua música se tornou conhecida, as suas raízes profundas no Romantismo do século XIX e o desenvolvimento gradual de uma expressão pessoal altamente moderna e idiomática tornaram-se evidentes. As primeiras obras de Ives apresentadas ao público foram: Orchestral Set nº.1: Three Places in New England, The Concord Sonata, os movimentos da Sinfonia nº 4 e A Symphony: New England Holidays. Eram altamente complexas, incorporavam diversos estilos musicais e faziam uso freqüente de “empréstimos musicais”. Estas características levaram à conclusão de que algumas de suas obras só poderiam ser entendidas através das explicações programáticas que ele ofereceu e não foram especificamente organizadas com princípios musicais. Ainda traçando a evolução das suas técnicas através de suas obras anteriores, estudiosos demonstraram o trabalho que há por trás até de partituras aparentemente caóticas e mostraram a estreita relação de seus processos com os dos seus predecessores e contemporâneos europeus. O resultado do caminho incomum de Ives é que a cronologia da sua música é difícil de estabelecer. Sua prática de compor e as revisões das obras ao longo dos anos muitas vezes torna impossível atribuir a um pedaço uma única data. Ele trabalhou em diversas composições com muitas linguagens diferentes ao mesmo tempo e isso fez a relação cronológica entre as obras ainda mais complexa. Há, muitas vezes, obras sem verificação das datas que Ives atribuiu a elas, que podem ser anos ou décadas antes da primeira publicação ou execução. Foi sugerido, também, que ele datou várias peças muito cedo e ocultou revisões significativas, a fim de reivindicar prioridade sobre os compositores europeus que utilizavam técnicas semelhantes (Solomon, C1987) ou a esconder de seus negócios quanto tempo ele estava gastando na música(Swafford, C1996). Recentes estudos, no entanto, estabeleceram datas firmes pelos tipos de papel usado por Ives e refinou-se a estimativa de datas pelas diversas caligrafias, permitindo mais manuscritos para serem colocados dentro de um breve espaço de anos (Sherwood, C1994 e E1995, com base Kirkpatrick ,A1960, e Baron, C1990). Estes métodos têm muitas vezes confirmado as datas de Ives, o que demonstra que ele, na verdade, desenvolveu inúmeras técnicas inovadoras antes de seus contemporâneos europeus, incluindo politonalidade, clusters, acordes baseados em 4ªs ou 5ªs, atonalidade e poliritmia. Quando há discrepância – no caso de várias obras longas, por exemplo – esta pode resultar de sua prática de datar as peças em sua concepção inicial, nas primeiras idéias elaboradas no teclado ou em esboços já perdidos. As datas que aqui estão, então, são baseadas em manuscritos existentes, completadas por documentos recentes e depoimentos de Ives.

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Extraído DAQUI

Charles Ives (1874-1954) – Symphony No. 1, Symphony No. 4 e Central Park in the Dark

Sinfonia No. 1
01. 1. Allegro (con moto)
02. 2. Adagio molto (sostenuto)
03. 3. Scherzo- Vivace
04. 4. Allegro molto

Sinfonia No. 4
05. 1. Prelude- Maestoso
06. 2. Comedy- Allegretto
07. 3. Fugue- Andante moderato con moto
08. 4. Very slowly (Largo maestoso)

Central Park in the Dark
09. Central Park in the Dark

Dallas Symphony Orchestra
Andrew Litton, regente

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Carlinus

5 comments / Add your comment below

  1. Sim, Ives é assombroso. Uma pena que ainda tão desconhecido. De fato, não é uma música fácil de ouvir. Mas acho que o que colaborou com fato de sua reputação não ser grande é contribuição dele mesmo. Raramente dava entrevistas, não gostava de tirar fotos e se via mais como um corretor de seguros (aliás, sua empresa tornou-se uma das mais prósperas dos EUA neste setor, e o deixo beeeem rico) do que como músico.
    Citarei aqui um trecho do excelente livro “Música da Modernidade” do J. Jota de Moraes (Ed. Brasiliense, 1980?):
    “Há quem diga que Charles Ives não foi um compositor, mas um autêntico inventor. Para esses, o estado quase sempre inacabado de suas partituras seria o atestado que comprovaria essa tendência a pensar apenas em ‘experimentar’ […]. Ele mesmo, falando de uma página da agora célebre ‘Concord Sonata’, disse que não sabia ao certo se iria terminá-la um dia.”
    E por que Ives é um compositor tão incrível? Ainda me utilizo de informações do livro. Vejam que fatos assombrosos:

    -POLITONALIDADE: Psalm 67 para coro (1898). Portanto, 13 anos antes de Petrouchka e 20 anos antes de Milhaud!
    -POLIRRITMIA: Incantations; Washington’s Birthday; Quarteto n.2. A complexidade dos tecidos rítmicos nos faz lembrar as experiências realizadas nos estúdios de música eletrônica das últimas décadas.
    -ATONALISMO: Central Park in the Dark (ca.1900). Portanto, 10 anos antes de Schoenberg!
    -MÚSICA ESPACIAL: From the Steeples and Mountain (1901); The Unanswered Question (ca.1908). Stockhausen faria isso 50 anos depois!
    -MÚSICA ALEATÓRIA: Halloween (1911). Também, só 50 anos depois encontraremos isto!
    -MICROTONALISMO: Like a Sick Eagle (1909). Alois Haba faria isto 20 anos depois!
    -SERIALISMO: Three Page Sonata (1905). Sim, Schoenberg chegou 20 anos atrasado!

    Assombroso mesmo, né? E ainda se dá a Ives o mérito de “antecessor da Pop-Art” (não me perguntem o porquê).
    E permanece a pergunta: por que este reconhecimento excessivamente tardio? Ainda insisto na conduta do próprio Ives. Escrever era seu hobby. Também fico imaginando… será que se houvesse larga divulgação dessas obras naquele tempo (lembrem, tudo isso antes de chegar 1912), nosso misterioso corretor de seguros não seria internado como louco? 😉

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