Não faz mal que eu e PQP esbarremos na mesma intenção: postar Bach. O grande diferencial é que ele é filho do homem; e, eu, um reles mortal apócrifo. Ele se muniu de uma japonesa com ares lascivos; e, eu, de uma alemã com os ares frescos da mocidade, Julia Fischer. Eu não tencionava postar este CD no dia de hoje. Tinha outros planos. Mas resolvi disponibilizar este registro, que já estava comigo há algum tempo. Julinha Fischer com suas habilidades de violinista jovem, conseguiu me cativar. Estes concertos para violino me deixaram com uma impressão que somente a arte é capaz de remir o mundo de suas feiúras. Ontem à noite eu vi mais uma vez ao filme Dias de Nietzsche em Turim, do brasileiro Júlio Bressane. O diretor conseguiu fazer um extraordinário trabalho sobre a estadia de Nietzsche naquela cidade, antes do colapso que o paralisaria até o ano de sua morte, 1900. O filósofo passeia pela cidade e encanta-se com o clima, com a arquitetura sóbria e despretenciosa, com a lascividade das esculturas clássicas, que em tudo o convida à contemplação. A certa altura ele diz: “Se não fosse a arte, a vida seria um erro”. Que frase fantástica! Somente a arte nos torna mais humanos. Afasta-nos da mediocridade e nos faz sonhar com um mundo cheio de razões reais. A arte de Bach é habitada por verdades delicadas. E isso me faz muito bem nesta noite de brisa suave aqui no Planalto Central. Não deixe ouvir este ótimo registro de Johann Sebastian Bach. Agora é só comparar o Bach de minha alemã (Julia Fischer) com o Bach da japonesa (Akiko Suwanai) de PQP. Boa apreciação!
Johann Sebastian Bach (1685-1750 ) – Concertos para violino, BWV 1043, 1041, 1042 e 1060
Concerto for 2 Violins, Strings, and Continuo in D minor, BWV 1043*
1. Vivace
2. Largo ma no tanto
3. Allegro
Violin Concerto No.1 in A minor, BWV 1041
4. Allegro moderato
5. Andante
6. Allegro assai
Violin Concerto No.2 in E, BWV 1042
7. Allegro
8. Adagio
9. Allegro assai
Concerto for Violin, Oboe, and Strings in D minor, BWV 1060**
10. Allegro
11. Adagio
12. Allegro
Academy of St Martin in the Fields
Julia Fischer, violino
Alexander Sitkovetsky, violino*
Andrey Rubtsov, oboé**
Carlinus
Julia Fischer – ia nela fácil!!!!
O tempo é um pouco além do que estou acostumado em outras execuções, mas ela consegue manter o caráter de peça “mais erótica da música ocidental”, segundo o Prof. Burkholder nos concertos, especialmente o primeiro.
Excelente, uma pena eu estar no trabalho. Queria ouvir AGORA!
Carlinus:
Já comentei em outro post sobre a Julia Fischer. Acho que ela é a melhor violinista dessa nova safra (Jansen, Hahn, Chang, etc.).
Virei fã dela (tanto da beleza, como do talento…hehe)
Você sabia que recentemente essa jovem (ela tem hoje apenas 27 anos, salvo engano) estreou também como pianista? E não foi tocando uma bobagem qualquer não. Ela estreou tocando o Concerto para Piano de Grieg. Procure no Youtube.
Acho que essa garota vai longe!!
Hmmm, gostei dos movimentos mais rápidos!
Pena (no meu ver) que justo no Andante do Concerto em La Menor tenham insistido na leitura lenta que havia se firmado no romantismo.
Na sua gravação de 1971, Eduard Melkus demonstrou que se vinha tocando esse andante precisamente com a METADE da velocidade que a escrita de Bach realmente sugere. A primeira audição pra mim foi um choque, mas depois me habituei e hoje é difícil engolir a versão hiperlenta.
Por isso foi ótimo descobrir que a gravação postada pelo PQP ontem, com a Akiko Suwanai, adota a posição de Melkus. Esta aqui está no geral muito, muito boa… mas esse detalhe não me convenceu.
E ao do Melkus, com a Capella Academica de Viena? Bom, tenho em vinil… Depois deste papo acho que é mais um que vai entrar para lista de digitalzações…
Movimentos mais rápidos… De cintura?
Só tem uma coisa Vanderson: eu não falei que existe uma leitura CORRETA do andamento, ou de qualquer outra coisa. Falei que existem DIFERENTES OPÇÕES de leitura. Uns acham estas preferíveis pelas razões a, b e c, outros acham aquelas pelas razões x, y e z.
Enfim, pense só na barbaridade de anos de estudo teórico e prático, mais de prática profissional, até que um regente ou outro músico profissional chegue a realizar essas gravações de alcance mundial… Pra ser honesto, não te parece um pouco pretensioso que qualquer um DE NÓS, que não passamos por isso, saiamos dizendo que a leitura está INCORRETA?
Nos comentários a um outro post você observou que os mais velhos não gostam de ser corrigidos… subentendendo-se que é porque eles acham que os corretos são eles, né? Você até está certo em relação a uma imensa faixa de não-questionadores de critérios, que são provavelmente a maioria – mas é preciso saber que sempre existiu uma turminha da pá virada, que você pode chamar de “libertária”, que questionou antes de mais nada que possam existir padrões fixos de “correção” e “correto” (particípio de “corrigir”). Eu tinha só 11 anos em 1968, mas BABEI DE GOSTO de ver a moçada sacudindo o “correto” que havia sufocado os nossos pais e ainda tentava nos sufocar. Investi todas as décadas seguintes em dar continuidade ao ideal de 1968, especialmente encorajando adolescentes e jovens a questionarem a existência de padrões fixos de “correto”. Entende que é um pouco incômodo encontrar jovens de hoje voltando a acreditar nessa ficção nociva que nos empenhamos tanto em derrubar, sem perceber que esse é o caminho seguro para virarem velhos ranzinzas e perpetuadores da ditadura da caretice no mundo?
Isto não é um conselho (isso seria caretíssimo!) mas é sim uma sugestão: se você quiser ser jovem de alma a qualquer tempo (aos 16 e aos 60), comece por desconfiar desse seu apego à palavra “correto”…
É verdade. Não há leituras incorretas, apenas diferentes. E muitas vezes há mais de uma que atinge em cheio nossa sensibilidade. Fazer o quê?