Heitor Villa-Lobos (1887-1959) – Rudepoema, por Roberto Szidon e Amaral Vieira

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio, pelos motivos expostos AQUI

 

Aqui vai uma contribuição do nosso visitante Marcos Oliveira Santos, que – após ouvir o Rudepoema na interpretação de Nelson Freire, postado semana retrasada – disse que a peça soava melhor nas mãos de Roberto Szidon e de Amaral Vieira e nos mandou os dois arquivos. Ainda deu de brinde uma gravação em que o Villa fala da peça.

Segue tudo em arquivo único zipado.

BAIXE AQUI

CVL

32 comments / Add your comment below

  1. Muito legal. Vou baixar imediatamente!

    E por falar em futebol… (alguém falou em futebol? rsrsrs)
    Ridícula a maneira como o Corinthians abriu as pernas para o Flamengo. O goleiro Felipe só faltou deixar o gol escancarado na penalidade, além de não pular com medo de acertar, sem querer, o canto, ainda saiu discretamente da direção da bola, pois com certeza poderia ter segurado a penalidade com uma das mãos. Escabroso!

    1. O Corinthians lutou bravamente, Strava, e o Felipe só não irá para a seleção brasileira se houver mutreta na CBF! Grande Felipe! Grande goleiro … o maior do seu tempo!

  2. Bom, tem gosto pra tudo neste mundo… Eu havia ficado felicíssimo de encontrar aqui o Rudepoema com Nelson Freire porque o considero *um músico de verdade*.

    Nos tempos em que eu comprava disco (vinil) a única gravação disponível no Brasil era a do Roberto Szidon. Nunca consegui ouvir inteiro. Talvez pela imensa indisposição que me ficou de haver visto Szidon ovacionado por uma casa cheia de ignorantes endinheirados por fazer duas horas de barulho incompreensível e música nenhuma. Por fazer careta e marretar o piano com cara de “bravura”. Sinceramente, para mim Szidon é um absoluto não-músico, sem nada a dizer no campo dessa arte, apenas guindado aonde chegou pela solidariedade étnica do meio empresarial. Um tipo de coisa que existe e me dá engulhos. Mas como ainda não o havia encontrado aqui no blog, imaginei que já se houvessem acamlado as ondas que ele causou, permitindo confirmar a solidez & permanência de artistas de verdade como Freire.

    Ou de uma Guiomar Novaes – a quem Freire reverencia – da qual volto a dizer que é uma lástima que não se tenha nenhuma gravação aqui no blog.

    Ou de representantes de gerações mais novas que, talvez ajudados pelas décadas de gravações acumuladas, vêm alcançando graus de excelência interpretativa impensáveis há alguns anos – como é o caso desta Sonia Rubinski que só vim conhecer aqui, no recente “Festival Villa-Lobos”, a qual coloca cada nota na hora e do modo mais belo imaginável, em interpretações absolutamente embasbacantes de tanta beleza tanta na filigrana quanto nos grandes arcos, no micro e no macro… Uma artista que se impõe por si, ABSOLUTAMENTE não depende da tal solidariedade corporativa de que falei…

    Bom, enfim, como eu disse, os gostos são diferentes. Sorte do Szidon que tem quem goste dele. Tenho também que aprender a respeitar que alguém goste. Ainda bem que o mundo é grande o suficiente para ter lugar para todos os gostos… sem que eles necessariamente alcancem os meus ouvidos!

  3. Em arte, como em praticamente tudo na vida, há que se levar em conta a questão do gosto pessoal. Acabo de baixar as gravações e fiquei decepcionado com a interpretação de Roberto Szidon. Não concordo inteiramente com as opiniões de Ranulfus Mónacus sobre o pianista gaúcho, mas parece que falta a esta versão do Rudepoema uma energia vital (e sobretudo, fantasia). Mas achei a versão de Amaral Vieira admirável, com planos sonoros muito bem definidos, impulsos rítmicos de enorme precisão e as diversas seções contrastantes encadeadas de modo muito convincente. Na interpretação de Vieira, o Rudepoema não soa como uma sucessão de breves trechos ligados entre si: o pianista conseguiu dar à obra uma unidade que vai da primeira nota até os brutais acordes finais. Obrigado por postar esses interessantíssimos documentos sonoros. Murilo.

  4. O Rudepoema é uma obra arrebatadora, de enorme dificuldade técnica e que permite abordagens interpretativas muito pessoais. É uma pena que Arthur Rubinstein não tenha gravado a obra que lhe foi dedicada, pois essa poderia ser considerada uma versão oficiosamente autorizada por Villa-Lobos. A composição é um retrato musical de Rubinstein, de acordo com a dedicatória do Mestre Villa incluída na partitura. Escutei recentemente a gravação feita pelo pianista canadense Marc-André Hamelin, um dos monstros sagrados do cenário contemporaneo, mas sinceramente, não gostei. Das gravações que conheço dessa obra genial, fico com Amaral Vieira, Sonia Rubinsky e Nelson Freire, nessa ordem. Mas é preciso mencionar também a grande pianista brasileira Anna Stella Schic, falecida recentemente na França.

  5. Concordo com o Murilo sobre a leitura do Amaral Vieira. Conheci a obra na gravação da Anna Stella Schic que nunca me agradou, depois tive um vinil do Moreira Lima que tá uma náusea [cheguei a detestar a obra por causa destas gravações] e enfim no advento do CD encontrei esta do Amaral Vieira que me pôs extasiado… uma leitura digna deste colosso – não só pude compreender como me apaixonei completamente pelo Rudepoema. Planos sonoros, precisão, som, intenções… seguindo a part até parece “fácil” realizá-la [e olha que o Amaral Vieira não figura no meu hall de favoritos]. Quanto ao Freire, permitam a opinião, acho uma leitura um tanto desatenta e precipitada… o que não ocorre na Prole do Bebê no. 1 e no seu repertório Romântico. Saudações!

  6. De vossos comentários, deduzo que Amaral Vieira é o único aceitado por todos. O cara além de ter fãs pra caramba como compositor, também é convincente como intérprete.

  7. Hamelin tocando Radamés? Pois deve ser um espanto… O Brazix Muamba está certíssimo: esse canadense é uma máquina tocando piano… a versão dele do Rudepoema é inteiramente mecânica, robotizada! É tocada somente com os dedos. Pobre Villa-Lobos! Compôs o que provavelmente é a mais importante obra da literatura pianística brasileira e sequer pode se defender dos atentados ao pudor cometidos por certos pianistas despreparados para esse tipo de desafio! Música inteligente requer intérpretes pensantes. Parece óbvio, mas não é fácil de achar. O Rudepoema que o diga…

  8. Hamelin tocando Radamés? Pois deve ser um espanto… O Brazix Muamba está certíssimo: esse canadense é uma máquina tocando piano… a versão do Hamelin do Rudepoema é inteiramente mecânica, robotizada! É tocada somente com os dedos. Pobre Villa-Lobos! Compôs o que provavelmente é a mais importante obra da literatura pianística brasileira e sequer pode se defender dos atentados ao pudor cometidos por certos pianistas despreparados para esse tipo de desafio! Música inteligente requer intérpretes pensantes. Parece óbvio, mas não é fácil de achar. O Rudepoema que o diga…

  9. Comparei as três gravações disponibilizadas no site [Nelson Freire, Roberto Szidon e Amaral Vieira] e cheguei à conclusão de que Amaral Vieira ganha de goleada na interpretação do Rudepoema. Acompanhei as audições com a partitura nas mãos. Pelo fato de Vieira ser também compositor, construiu a sua interpretação levando em conta a a arquitetura da obra. Há uma construção muito organizada no Rudepoema, gol de placa para Villa-Lobos! Freire e Szidon tocam a peça de modo rapsódico, como se não houvesse uma ossatura sustentando essa gigantesca estrutura. Gol de placa para Amaral Vieira! Será que esse pianista gravou outras obras do Villa? Agradeço se alguém souber e puder informar.

  10. Também fiz uma comparação das gravações do Nelson Freire, Roberto Szidon, Amaral Vieira e Débora Halasz, além de já ter assistido a Sônia Rubinsky tocá-lo ao vivo, aqui em Curitiba. Concordo que a interpretação do Amaral Vieira é a melhor. Ele enfatiza mais o “poema” que o “rude”. É de uma sensibilidade extraordinária. As versões da Sonia e da Débora também são muito boas. Acho que, do ponto de vista do som da gravação, da engenharia sonora, a da Débora Halasz, é a melhor. Porém, ela tende a ser excessivamente agressiva, às vezes. Não acho a versão do Szidon tão pavorosa. Tocar essa música não é para qualquer um! Porém, sou obrigado a concordar que ele não está à altura dos demais, sem falar naturalmente na questão do proteccionismo étnico, até por parte do Rubisntein, que é lamentável.
    Infelizmente, não tenho a partitura da obra, que venho procurando há anos. Será que algum dos colegas me faria a gentileza de disponibilizá-la? Pagaria pela cópia com prazer.
    Para mim, o Rudepoema é uma das maiores obras para piano do sec.XX, ao lado da Sonata no.2 (Concord, Mass.), do Charles Ives, da Sonata op.1, de Alban Berg, dos Prelúdios, de Debussy e do Catalogue des Oiseaux, de Messiaen.

  11. Totalmente de acordo com os comentários do grande compositor Harry Crowl, de cujas obras sou grande admirador. Mas será que Roberto Szidon foi mesmo favorecido por conta do protecionismo étnico? Está certo que no Rudepoema sua interpretação deixa muito a desejar, parece superficial (assim como a de Nelson Freire, diga-se de passagem). Mas acho boas as suas gravações das Sonatas de Scriabin. Mas é preciso enfatizar que Amaral Vieira é até agora o GRANDE intérprete do Rudepoema (e como apontou Harry Crowl, isso não é pouca coisa em se tratando de uma obra de tamanha dificuldade técnica e interpretativa). Bom domingo para todos os torcedores (e sofredores) do Brasileirão…

  12. Ouvi todas as versões disponibilizas aqui. Possuo também as interpretações da peça com Stella Chic e com a Débora Hálasz que pra mim é a melhor de todas até agora. Logo, logo estarei postando o álbum da Débora.

  13. Tenho todas as versões mencionadas pelo Marcelo Stravinsky, mas para mim a mais convincente de todas ainda é a do Amaral Vieira, que valoriza como observou Harry Crowl o lado poético da obra sem deixar de lado a rudeza presente na composição. Gosto também da versão de Débora Hálasz, mas acho sua leitura excessivamente brutal em certos trechos. O registro mencionado de Anna Stella Schic (como aliás também o de Arthur Moreira Lima) não está infelizmente no mesmo nível das versões que têm sido aqui discutidas, pelo menos essa é a minha impressão. Anna Stella foi uma pianista de envergadura, isto não se discute, mas ela não foi feliz na sua gravação do Rudepoema. Acontece. Nem mesmo o Nelson Freire venceu esta prova, em que pese todo o seu inegável prestígio e competência. Mas vamos prestar o nosso tributo a todos esses maravilhosos pianistas que se dispuseram a estudar e a gravar uma obra tão complexa, que é um dos pontos máximos do repertório pianístico de todos os tempos.

  14. Também fico o Amaral Vieira! Achei importante o endosso do CVL. O Rudepoema é mesmo uma obra fenomenal. Baixei a partitura seguindo as instruções de Brazix Muamba (obrigado!) e constatei que a peça é ainda muito mais difícil do que eu imaginava. Como Villa-Lobos foi minucioso e exigente em suas marcações! E ocorreu-me que nem mesmo Stravinsky escreveu uma peça para piano comparável ao Rudepoema, seja em importância, extensão, conteúdo e inovação. Das obras originais de S. há a Sonata, a Serenata e pequenas peças. A mais importante obra para piano do compositor russo é na realidade uma transcrição, Três Movimentos de Pétrouchka, que dedicou a Rubinstein (a quem Villa também dedicou o Rudepoema). A obra completa de Stravinsky para piano cabe em um único CD. Villa-Lobos escreveu dez vezes mais para piano do que Stravinsky (não estou criticando). É somente uma reflexão pessoal sobre a importância intrínseca do Rudepoema, obra visionária e aparentemente única em todo repertório.

  15. ótima a discussão! E acho que ela pode incluir ainda mais uma dimensão – que me vem à memória pela fala da Malu Chaves, que lamenta que o Rubinstein não tenha gravado a obra.

    Pois é, há anos comprei um vinil com Rubinstein, Jascha Heifetz e Gregor Piatigorski tocando os trios de Mendelsohn e de Ravel, gravado em 1950. Fui ouvir cheio de expectativa pelo que esses grandes nomes fariam dessas lindas obras… e que decepção: uma gritaria sem sutileza nenhuma! Uma gritaria que, se não chegou a destruir o totalmente o Mendelsohn por este ser romântico, efetivamente destruiu a obra de Ravel.

    E no entanto esses estavam entre os intérpretes mais cultuados da primeira metade do século…

    Isso me levantou a hipótese de que a massa acumulada de música gravada que temos hoje, inclusive com as melhorias técnicas da própria gravação, venham propiciando um refinamento cada vez maior das interpretações – algo análogo aos récordes que vão sendo levados cada vez mais longe nas competições esportivas.

    Outro caso que me reforçou essa hipótese foi a decepção com as gravações de Bach ao órgão por Albert Schweitzer – intérprete tão gabado nos livros.

    Alguém mais aqui aposta na hipótese de que os músicos podem estar ficando cada vez mais feras – e pelo menos em parte pela existência de gravação?

  16. Ranulfus Mónacus, é uma teoria bem interessante que você está propondo. Ainda preciso pensar um pouco mais a respeito para chegar a uma opinião mais consciente. Voltarei ao tema brevemente, é bem desafiador. Quanto ao Rudepoema, também prefiro a interpretação do Amaral Vieira, sem desgostar das demais. É a mais consistente e inspirada de todas, no meu entender. Por que será que a Cristian Ortiz, que gravou os Concertos de Villa-Lobos não fez ainda um registro do Rudepoema? Ou será que fez e não estou sabendo? Abraços.

  17. Alberto, não encontrei o Rudepoema na discografia da Cristina Ortiz, o que é uma pena. Além das gravações do Rudepoema já mencionadas, tenho ainda: Roberta Rust, Alfred Heller, Alma Petchersky, Sergio Gallo, Joanna Brzezinska e David Bean (elepê). Nem é preciso dizer que o Rudepoema é uma das minhas obras preferidas. Mas a gravação do Amaral Vieira continua insuperável. Só posso repetir o que escreveu o cvl: interpretação assombrosa!

  18. Acabo de escutar as duas gravações e li todos os comentários. Curiosamente, o Rudepoema se mostrou uma obra muito apropriada para efeitos comparativos. Também acho como o Ranulfus Mónacus que uma gravação do Rubinstein do Rudepoema seria provavelmente uma decepção, pois a visão interpretativa que se tinha dessa música naquela época era outra. Até mesmo o breve Polichinelo na versão gravada por Rubinstein não chega a ser uma revelação. Das gravações citadas pelo Geraldo, não conheço as de Sergio Gallo e David Bean. A versão de Débora Hálasz, muito elogiada com justiça por Marcelo Stravinsky, é bastante convincente – mas sou obrigado a concordar com Harry Crowl e Bruno Doria que é exageradamente agressiva. Mas estou de acordo com o Ranulfus que o Roberto Szidon foi sempre badalado além da medida. Além de todos os interessantes pontos discutidos neste espaço cultural democrático, uma pergunta fica sem resposta. Por que o Nelson Freire, um dos melhores pianistas do mundo, deixou tanto a a desejar na sua versão do Rudepoema? Tenho a impressão de que ele não compreendeu a obra. Não lhe faltam recursos técnicos (bem pelo contrário!) para enfrentar as inúmeras dificuldades dessa peça – mas tudo aponta para uma falta de compreensão. O grande pianista está bem mais a vontade no repertório clássico-romântico. Quanto ao Rudepoema, na minha avaliação , a única gravação que recomendo sem qualquer restrição é a do Amaral Vieira, pianista mais conhecido como um dos grandes intérpretes das obras de Liszt. Grato a todos.

  19. Deixei esta mensagem no link do Stabat Mater, mas como refere-se também ao Rudepoema, achei oportuno deixá-la também aqui. Baixei os dois arquivos (Tributo a Neruda e Stabat Mater) e ainda o Rudepoema – e como a frase está na moda, digo: Amaral Vieira é o cara. Versátil como compositor e intérprete, ocupa lugar único neste país onde somente os escândalos do governo parecem merecer espaço na mídia. Um pianista que consegue fazer uma gravação do Rudepoema superior ao Nelson Freire, mereceria já só todos os aplausos. Acrescente-se a isso uma produção de mais de 500 títulos como compositor, da qualidade deste Stabat Mater e desta Missa pro defunctis, pouco resta a acrescentar. O cara detona, como compositor e como intérprete. Mas faz quantos anos que não toca no Rio de Janeiro? A última vez que esteve por aqui foi quando tocou com a Petrobrás Pro Musica a Fantasia Wanderer de Schubert, sob a regência do grande Osvaldo Colarusso. Quantos anos atràs? Nem eu sei dizer, mas lembro-me que foi um concerto memorável. Está para existir outro país que maltrate os seus artistas como o Brasil. Mas o tempo fará justiça, ainda que postumamente. Vocês estão de parabéns por não esperar o artista morrer para homenageá-lo. Obrigado. Francisco Ribeiro, Rio de Janeiro

  20. Olá!

    Eu sou obrigado a concordar com todos aqui quanto à qualidade da interpretação de Rudepoema pelo Amaral Vieira. Pela primeira vez eu ouvi esta obra como sendo uma música só. Quer dizer, o Amaral Vieira estruturou-a como uma única peça, enquanto os outros tocaram-na como se fosse um conjunto de peças.

    Quanto às críticas feitas ao Szidon, concordo com muitas delas, mas a gravação dele das Cirandas e Cirandinhas do Villa-Lobos é sensacional (há quem discorde).

  21. Concordo com o Tiago. Nas mãos e sensibilidade de Amaral Vieira o Rudepoema torna-se uma obra coesa, una, ao passo que os demais intérpretes a tocam de modo muito fragmentado. Escutei recentemente a gravação de Marc-André Hamelin e odiei, simplesmente. O Rudepoema para ele foi um mero pretexto para exibir a sua privilegiada técnica pianística. No entanto, esta obra exige bem mais do que dedos ágeis e fortes… além de grande pianista, é preciso ser um grande ARTISTA para corresponder às enormes exigências dessa partitura fascinante. Feliz Ano Novo, amigos!

  22. O Rudepoema sempre foi e continua sendo uma obra enigmática para mim. É muito diferente de tudo o que Villa-Lobos escreveu para piano. Parece uma gigantesca Esfinge, que coloca intérpretes e ouvintes diante da ameaçadora pergunta “decifra-me ou devoro-te!” Confrontei no final de semana passada todas as gravações da minha coleção (são nove no total) e a única interpretação que me pareceu verdadeiramente convincente é a do pianista Amaral Vieira, pelos motivos que já foram enumerados nos comentários anteriores. Nesse registro há um extraordinário equilíbrio entre absoluta fidelidade às marcações da partitura e uma fantasia interpretativa fascinante. Também como o Leonardo Toledo, achei a gravação de Marc-André Hamelin decepcionante. O pianista canadense prestou um grande desserviço à obra-prima do nosso maior compositor. Já foi perguntado no comentário do Joel Silveira, mas ninguém ainda respondeu: Amaral Vieira gravou outras obras do Villa?

  23. Na verdade, tanto o Szidon quanto o Hamelin têm duas versões do Rudepoema, e pelo que notei o Amaral Viera também, já que a versão que eu tenho aqui tem um minuto a mais do que a que vocês estão oferecendo.

    No caso do Szidon, a gravação que vocês disponibilizaram é a pior, lançada num vinil da década de 60, junto com o Amazonas. A segunda, lançada pela Deustche, me agrada bem mais e é acompanhada por uma deliciosa gravação do Carnaval das Crianças (minha predileta, até o momento).

    No caso do Hamelin, não acho que ele seja apenas uma máquina, ainda que force a barra frequentemente. As duas versões são bastante diferentes (o que mostra a busca de uma interpretação), a segunda (a mais conhecida) é um pouco mais lenta (um minuto e dez segundos) e bem mais introspectiva. Ainda que reconheça essa tentativa de dar uma interpretação mais psicológica (pelo caráter introspectivo), acho a primeira versão bem mais interessante, melhor concatenada e fluida.

    De qualquer forma, nenhuma das gravações que conheço me satisfaz por completo. Como é, aliás, muito comum no Villa, parece que a turma perde o foco, quer procurar floresta tropical em tudo e esquece que ele disse que a obra é um retrato psicológico, num hábito bastante comum de achar que ele não sabia o que dizia…

  24. Uma obra como o Rudepoema nunca se esgotará interpretativamente, assim como jamais haverá uma gravação definitiva da Sonata opus 111 de Beethoven ou do ciclo Gaspard de la Nuit de Ravel. Sempre haverá algo mais a se acrescentar, pois a melhor e mais perfeita interpretação nunca conseguirá captar todas as nuances e intenções de uma obra-prima. Mas acho fora de propósito generalizar como o Wellington, quando afirma que “a turma perde o foco, quer procurar floresta tropical em tudo e esquece que ele (Villa) disse que a obra é um retrato psicológico”… Isso pode ser verdade para algumas das interpretações mencionadas, mas não se aplica em absoluto à gravação de Amaral Vieira, de um equilíbrio admnirável e tocada sem qualquer resquício de excentricidade de papagaio tropical. Alguém poderá superar esse registro, possivelmente, mas até agora, é a melhor gravação do Rudepoema que já escutei. Aproveito a oportunidade para dar as boas vindas (atrasadas) ao Carlinus.

  25. Respondendo a pergunta do Joel e da Luciana, sei que o Amaral Vieira gravou as duas séries da Prole do Bebê para um selo alemão no começo da década de 1990. Este cd está esgotado e fora de catálogo. Quero ver se consigo achar um exemplar de segunda mão no site alemão do e-bay. Há ainda uma gravação antiga das Bachianas Brasileiras n.4 que saiu em elepê pelo selo Scorpius. Não sei se o pianista gravou outras obras de Villa-Lobos além dessas mencionadas e do Rudepoema (do qual há duas diferentes gravações, como bem observou o Wellington). Espero que essas informações sejam úteis. Saudações musicais à equipe deste site e aos seus assíduos frequentadores.

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