Leif Ove Andsnes

Só estou escrevendo esta postagem para deixar os senhores com um pouco de inveja.

O motivo de tanta felicidade é ter tido a oportunidade de ter assistido na última quinta feira, dia 2 de outubro, à apresentação deste que é considerado atualmente como o maior pianista de sua geração, o norueguês que tem um sobrenome mais parecido com uma sopa de letrinhas, Leif Andsnes. Obviamente que a felicidade também diz respeito a possibilidade de assistir e ouvir um espetáculo de tal grandeza, afinal de contas, não é sempre que nós, simples mortais residentes numa cidade do interior do estado de Santa Catarina, temos acesso à tal possibilidade.  Infelizmente, muitas vezes cheguei a pensar que era muita areia para o nosso caminhãozinho, o povo de minha cidade acha caro pagar R$50,00 no ingresso, e isso demonstra uma certa falta de familiaridade com este tipo de evento.

A última vez que eu havia tido a possibilidade de assistir a um espetáculo deste porte foi há muito tempo atrás, quando ouvi um Rachmaninov absolutamente maravilhoso interpretado por Vladimir Viardo, pianista russo com o qual não tive mais contato desde então. Precisão, rigor, paixão, e um virtuosismo absurdo me proporcionaram duas horas de satisfação plena.

Leif Ove Andsnes é um gigante do teclado. Na apresentação de quinta feira, quem esteve presente no Teatro Carlos Gomes teve a oportunidade de ouvir um excepcional pianista, e que se joga de corpo e alma em suas interpretações .Seu  Schubert, através da Sonata D. 958, teve momentos de puro lirismo aliado a uma fúria contida. Seu Beethoven, através da Sonata ao Luar, também foi de um lirismo puro, porém o ímpeto de seu terceiro movimento, um Presto agitato, me fez ver enxergar na Sonata a alma perturbada de Beethoven, que estava começando a mostrar uma outra face, a do desespero, e Andsnes, em minha opinião, destacou esta perspectiva através de um ritmo quase lembrando uma cavalgada, como comentou um rapaz sentado ao meu lado. Parecia alguém desesperado correndo atrás de alguém inatingível.

Mas o melhor momento da apresentação foi um Mussorgsky simplesmente fantástico, um “Quadros de uma exposição” que nada deve a Ashkenazy (alguns podem lembrar de que não sou muito fã deste intérprete, mas para seu Mussorgsky tenho de tirar o chapéu), nem a Sviatoslav Richter (podem me apedrejar), para muitos, inclusive para o mano pqpbach, a interpretação definitiva desta obra. Andsnes se jogou de corpo e alma à obra, conseguindo capturar aquela alma russa que sempre busco nesta peça. Sombrio, lembrando em alguns momentos trilha sonora de filme de terror, temi em alguns momentos pelo bem estar do piano Steinway do teatro, pois o ímpeto do solista era tão grande que parecia que iria arrebentar suas teclas de um momento para outro.

Bem, talvez tenha me empolgado em minha descrição, mas para os que tiverem a oportunidade de assistir a este recital sugiro não perderem esta oportunidade. Vocês irão ver em ação um dos grandes pianistas da atualidade.

Ando meio relaxado com relação ao blog, e alguns comentários infelizes me deixaram aborrecido, e por isso deixo sempre a postagem seguinte para o próximo dia, e o tempo vai passando. Aliado a isso, a clássica e tradicional falta de tempo. Sei lá, posso postar amanhã, ou segunda, ou terça, ou na quarta… qualquer hora destas eu volto.

Um bom final de semana …

FDP Bach

5 comments / Add your comment below

  1. Tive a felicidade de adquirir um cd com os três concertos para piano de Bartók, sendo que o n° 2 é interpretado por Leif Ove Andsnes sob a regência mais que competente de Boulez com a Filarmônica de Berlim.
    Concordo com seu texto quando diz que Andsnes é um gigante do teclado e o maior nome de sua geração.
    Será que ele visitará algum teatro aqui por Curitiba?
    Ansiosamente espero que sim.

  2. FDP,
    você tem um excelente motivo para ficar empolgado. Não é sempre que músicos de renome internacional se apresentam no Brasil fora do Eixo Rio-São Paulo, mas sei que não é a primeira vez que músicos de nível se apresentam em BNU. Agora me conta se houve dificulade para conseguir o ingresso, pois em outro comentário você disse que foi a Bunge que trouxe um músico, mas só tinha ingresso para a direção a empresa e uma meia dúzia de pessoas que sabe-se lá se tem contato com este tipo de música. Esta semana até tinha que ir a BNU, pois o avô da minha esposa está internado com quadro clínico gravissimo. Ele tem 82 anos, pelo que sei sempre aproveitou muito a vida. Talvez o conheças é Ralf Kaestner, ele tem um escritório contábil na Ponta Aguda.
    Agora, quanto a comentários desagradáveis, é melhor desconsiderar. Não gosto de citações, mas a frase do Ibrahim Sued: “Os cães ladram e a caravana passa”. Sem ofensa ao Bluedog!
    Um grande abraço,
    Luciano

  3. Luciano, desculpe por só estar lhe respondendo hoje. Na verdade, o Teatro Carlos Gomes tinha mais da metade de suas poltronas livres, ou seja, sobrou ingressos… uma pena, pois aqueles que não foram perderam um grande espetáculo. Como falei na postagem, as pessoas acharam muito caro o ingresso de R$50,00, mas o engraçado é que não acham caro gastar R$100,00 numa tarde chuvosa no Shopping, entre ingressos para o cinema, a pipoca, e depois o café colonial no Cafehaus do Hotel Glória, sem esquecer do estacionamento.
    Se reclama da falta de opções culturais, mas quando elas ocorrem, se reclama do preço. E mesmo se fosse gratuito, duvido que tivessem ido mais pessoas.. o que falta à Blumenau é uma “cultura de espetáculo”, que ultrapasse esta cultura do chopp (lembrando que em alguns dias começa a oktoberfest.)
    Lembro também que Blumenau tem uma das melhores orquestras de câmera do país, tradicionalissima, mas que pouco se apresenta em sua própria cidade. É comum vermos notícias sobre sua temporada na Europa, mas não creio que se apresentem mais de meia dúzia de vezes ao ano na própria cidade que a acolhe.
    Com relação aos comentários, também os ignoro, porém eles tem a capacidade de nos deixar aborrecidos e magoados, principalmente.
    Áqueles insatisfeitos com aquilo que escrevemos, sugiro sempre irem para outros blogs, eles existem aos montes, com muito mais conteúdo do que o pqpbach. Lembrando sempre que nunca nos consideramos os donos da razão, nem temos subsídios para tanto, mas temos o direito de expressar nossos comentários da forma que nos dizer respeito. O blog é nosso e escrevemos o que queremos.Os insatisfeitos que se mudem. Quando digo que acho as sinfonias de Rachmaninoff obras menores se comparadas aos seus concertos, estou exprimindo meu ponto de vista, mas nem estou desmerecendo o compositor, só confesso que tinha certos temores com suas obras. Não acho que isso dê direito a um certo leitor de considerar meu comentário lamentável. Se vivemos numa democracia tenho o direito de falar o que quero, e aceito críticas, desde que não sejam ofensivas.

  4. Pois é temos um Leif Ove no Brasil e postei na comunidade do PQP, mas o post infelizmente evoluiu pouco para a grndiosidade do artista. O FDP poderia ter entrado por lá para esquentar o assunto.Há cerca de tres meses atrás tivemos uma boa reportagem com ele na Dipason ,acho.

  5. Cesario,
    Me perdoe pela omissão, mas para lhe ser sincero, entro pouquíssimo na comunidade do PQP do Orkut, por puro esquecimento. Agradeço a contribuição. Para ser sincero, já devem fazer mais de 2 duas semanas que não passo por lá, por isso até mesmo desconhecia esta postagem sobre Leif Ove. ALém disso, a falta de tempo não me permite certos prazeres, ainda mais que recém passamos por um período de provas, notas bimestrais, etc, na escola em que dou aula. E você sabe que a vida de professor não é fácil.
    Com relaçao ao Yamandu, também o considero um tanto quanto esnobe, mas não posso negar seu talento. Marco Pereira realmente é um excepcional violonista, além de outros tantos que temos no nosso país, como é o caso do precocemente falecido Rafael Rabello.

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