José Antonio Rezende de Almeida Prado (1943-2010): Sinfonia dos Orixás

José Antonio Rezende de Almeida Prado (1943-2010): Sinfonia dos Orixás

Dado o interesse que a Sinfonia dos Orixás na interpretação do Benito Juarez teve aqui, resolvi postar uma gravação não-comercial feita ao vivo na Sala São Paulo, em 2005. A interpretação do Cláudio Cruz é bem mais lenta, melodiosa e delicada e ressalta bem mais os aspectos aleatórios da partitura.

Sendo franco, prefiro bem mais a interpretação do Benito Juarez: a delicadeza do Cláudio Cruz me soa excessiva, e a aleatoriedade, muito didática. Além do mais, no chamado de Exu, no início da música, o músico parece gritar Essu. Mas, claro, a Osesp é uma orquestra muito melhor que a Sinfônica de Campinas.

De qualquer forma, esta é provavelmente a obra orquestral do Almeida Prado que mais me agrada. É quando ele já se afastava de um música extremamente áspera e pesada (às vezes muito interessante, como na Abertura Cidade de Campinas, em Exoflora e na Sinfonia Campinas), produzindo uma música muito lírica. Por outro lado, esse lirismo, costumeiramente aliado a uma preocupação com a acessibilidade para um público mais amplo, não me parece diluir a peça, ao contrário do penso que ocorre em várias outras, como a Sinfonia Apocalipse, as Cartas Celestes 8 “Oré-Jacytatá” e as Variações Sinfônicas (que, no entanto, são obras interessantes, principalmente as duas primeiras). A Sinfonia dos Orixás é como uma obra de transição, na qual a acessibilidade não era trava na busca intensidade, mas a intensidade também não se confundia com aspereza. Por isso, temos o melhor dos mundos.

Boa audição!

José Antonio Rezende de Almeida Prado (1943-2010): Sinfonia dos Orixás (1985)

01 Saudação a Exu
02 I Chamado aos Orixás – Ritual Inicial
03 II Manifestação dos Orixás
04 II.1 Obatalá, o Canto do Universo
05 II.2 Ifá, o Canto de Adoração
06 Interlúdio I: As Águas do Rio Níger
07 II.3 Oxalá I: o Canto da Luz
08 II.4 Xangô I: o Canto das Alturas e dos Abismos
09 II.5 Oxalá II: o Jogo dos Búzios
10 II.6 Oxum: o Canto dos Lagos e dos Rios
11 Interlúdio II: As Águas do Rio Níger
12 II.7 Ogun-Obá: a Dança da Espada de Fogo
13 II.8 Ibeji: Cantiga para Cosme e Damião
14 II.9 Omulu: o Canto da Noite e do Mistério
15 II.10 Oxalá III: o Canto do Amor e da Alegria
16 II.11 Oxóssi-Ossaim: o Canto das Matas
17 II.12 Iemanjá: o Canto dos Sete Mares
18 II.13 Iansã: o Canto da Paixão
19 II.14 Xangô II: o Canto das Tempestades
20 II.15 Oxumaré: o Canto do Arco-Íris
21 III Ritual Final

Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Cláudio Cruz, regente

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José Antônio Rezende de Almeida Prado (1943-2010): Rios

José Antônio Rezende de Almeida Prado (1943-2010): Rios

24xo2vrAqui está a minha obra favorita do Almeida Prado, Rios, para piano, escrita em 1976 e dedicada ao pianista que a grava aqui, Antonio Guedes Barbosa, nome pelo qual tenho um carinho enorme. Existe uma outra gravação da peça, com o Sérgio Monteiro, muito mais rápida e visivelmente virtuosística. Gostaria de postá-la também para comparações, mas notei anteontem que a perdi (encontrei a gravação no MBC. Quem quiser, pode baixar o cd de lá). De qualquer forma, ela me anima bem menos. A peça é muito inquieta, densa, mas não faz uso com frequência de recursos que indicam isso. Ao contrário, parece guardar uma adorável placidez. Abaixo segue o texto do vinil, escrito pelo próprio Almeida Prado (foi lançado em 1981, junto com a Bachianas 4 do Villa):

Ao Antonio Guedes Barbosa – obra encomendada pela Divisão de Difusão Cultural do Ministério das Relações exteriores- Itamaraty. Campinas, 1976.

Pequena nota:

Quando li o livro sobre os mitos dos índios do Xingu, dos irmãos Villas Boas, fiquei fascinado sobretudo pela magia telúrica contida no texto.

O mito de “Iamulumulu: a formação dos rios” me deu sobretudo inúmeras idéias e emoções que resolvi então transformar em música.

Assim nasceu a idéia da obra “Rios” – para piano, dedicada ao grande artista que é Antonio Guedes
Barbosa.

A obra se divide em três partes:

I. As águas de Canutsipém
II. Jakui Katu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaep, os espíritos que habitam o fundo das águas.
III. A descida das águas, e a formação dos Rios Ronuro, Maratsauá e Paranajuva.

Não procurei o caminho da música descritiva, nem da impressionista. Longe disso.

A magia telúrica desse texto me motivou emocionalmente a entrar no mundo do mistério e da encantação, e me deixar envolver impressionado e totalmente, realizando a minha expressão sonora, dentro do mundo mítico do Xingu.”

Almeida Prado (1943-2010)

Rios (1976), para piano
I. As águas de Canutsipém
II. Jakui Katu, Mearatsim, Ivat, Jakuiaep, os espíritos que habitam o fundo das águas.
III. A descida das águas, e a formação dos Rios Ronuro, Maratsauá e Paranajuva.

Antonio Guedes Barbosa, piano

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itadakimasu

José Antônio de Almeida Prado morre em São Paulo aos 67 anos

Acabo de ler a notícia da morte do Almeida Prado (AQUI). Acho que muito cedo: 67 anos. Não sou um grande conhecedor da sua obra, mas do que conheci sempre me agradou seu empenho em unir as técnicas de composição contemporâneas com uma postura poética, até lírica (no sentido poético da palavra, não no do canto).

Vi Almeida Prado ao vivo uma única vez: num concerto da Orquestra Sinfônica de Santos, sua cidade natal, em comemoração aos seus 60 anos. Foram tocados o seu Concerto para Violino, solado por sua própria filha – que privilégio mais lindo! – e além disso a Sétima de Beethoven, obra indicada por ele, a pedido da orquestra, como sua favorita de Beethoven. Não há como não me emocionar ao lembrar disso agora e… sim, sete anos depois disso foi pouco, muito pouco.

Mas agora começa a NOSSA parte: não deixar esquecer. Goste-se mais, goste-se menos, não importa: trata-se, sim, de um criador cultural brasileiro de primeira linha, e não acho que seria digno da nossa parte deixar de investir no conhecimento da sua obra por questões de gosto pessoal. Mas infelizmente as poucas coisas dele que tenho estão em vinil: alguém da nossa turma terá opções mais fáceis de postar?

 

Ranulfus