Este álbum foi um marco para mim. Já andava um pouco cansado do tom escuro, áspero, da música contemporânea, o que me levava a colocar todo tipo de compositor de vanguarda no mesmo balaio, e igualmente decepcionado com a sensação de que compositores que buscavam abandonar ou suavizar o experimentalismo com uma linguagem mais comunicativa acabavam fazendo concessões desnecessárias e diluindo a força da música, como se comunicabilidade só fosse possível com um passo para trás. Neste momento me deparei com este álbum de música romena, da qual já havia ouvido falar algo bem por cima, mas que conhecia mal (basicamente Enescu e Doina Rotaru, uma compositora que, aliás, pretendo postar aqui mais tarde). De repente me deparo com o apaixonante lirismo da Sinfonia nº3 de Ştefan Niculescu, um lirismo extremo — não aquele lirismo extremamente contido num Mi-Parti do Lutoslawski, por exemplo, mas um lirismo escancarado e desavergonhado — e nada convencional, que parecia reposicionar várias técnicas contemporâneas que associava a escuridão numa expressão totalmente outra. Era, como no caso Matisse, como se o preto deixasse de significar coisas sombrias para ser só mais uma cor. Buscando mais informações sobre Niculescu, descobri a variedade expressiva de suas obras e mesmo comentários como o de Ligeti, que dizia ser Niculescu um dos grandes mestres de nosso tempo. Pena que comentários assim não possam garantir divulgação!
Embora um pouco menos (dada a epifania causada pela sinfonia de Niculescu), os outros dois compositores presentes neste álbum, Myriam Marbé e Anatol Vieru, também me chamaram a atenção e me instigaram a correr atrás de mais música romena, pesquisa que acabou sendo de mais e mais descobertas.
Finalmente, note-se que as três obras foram dedicadas ao grande saxofonista romeno Daniel Kientzy, raro nome a tocar (bem) a família toda de saxofones e que aqui sola em todas as peças. Além dessas três, muitos outros compositores (sobretudo romenos) a ele dedicaram obras, com um resultado empolgante para o repertório de sax (que aos poucos espero postar aqui).
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Daniel Kientzy – The Romanian Saxophone: Obras de Niculescu, Marbé e Vieru
Ştefan Niculescu (1927-2008)
01 Concertante Symphony nº3 “Cantos”, para saxofone e orquestra
Daniel Kientzy, saxofone
Romanian Radio Symphony Orchestra
Iosif Conta, regente
Myriam Marbé (1931-1997)
02 Concerto for Daniel Kientzy and Saxophones
Daniel Kientzy, saxofone
Ploiesti Philharmonic Orchestra
Horia Andreescu, regente
Anatol Vieru (1926-1998)
03 Narration II, para saxofone e orquestra
Daniel Kientzy, saxofone
Timisoara Philharmonic Orchestra
Remus Georgescu
itadakimasu