Dmitri Shostakovich (1906-1975) – Integral das Sinfonias – A Sétima (CD 6 de 11)

A Sétima Sinfonia, “Leningrado”, talvez seja a obra mais famosa de Shostakovich. Ele dedicou-a “a nosso combate contra o fascismo, a nossa vitória sobre o inimigo em Leningrado, a minha cidade natal”. As circunstâncias em que foi escrita e estreada a fizeram famosíssima. Imaginem uma cidade cercada por alemães há 18 meses, uma orquestra improvisada vestida com suéteres e jaquetas de couro, todos magérimos pela fome, a rádio transmitindo o concerto, várias cidades soviéticas estreando a obra ao mesmo tempo, Arturo Toscanini – anti-fascista de cabo a rabo – pedindo a partitura nos Estados Unidos (ela foi levada de avião até Teerã, de carro ao Cairo, de avião à Londres, de onde um outro avião da RAF levou a música ao maestro), Shostakovich na capa da Time. Ou seja, a Sétima é importante. Nos EUA, em poucos meses, foi interpretada por Kussevítki, Stokovski, Rodzinski, Mitropoulos, Ormandy, Monteaux, etc. Um espanto.

Numa das maiores homenagens recebidas por uma obra musical, Anna Akhmátova escreveu o seguinte poema ao ser posta à salvo das bombas alemãs pelas autoridades soviéticas:

Todos vocês teriam gostado de me admirar quando,
no ventre do peixe voador,
escapei da perseguição do mal e,
sobre as florestas cheias de inimigos,
voei como se possuída pelo demônio,
como aquela outra que,
no meio da noite,
voou para Brocken.
E atrás de mim,
brilhando com seu segredo,
vinha a que chama a si mesma de Sétima,
correndo para um festim sem precedentes.
Assumindo a forma de um caderno cheio de notas,
ela estava voltando para o éter onde nascera.

Pois é. Mas falemos a sério: não é a maior sinfonia de Shosta. Fica atrás da oitava, décima, décima-primeira, décima-terceira, décima-quarta e décima-quinta. Mas que é famosésima, é.

Há grandes momentos nela: o primeiro é a preparação para receber o inimigo, baseada no Bolero de Ravel, é espantosa. Nota-se perfeitamente o significado do tema principal e do acompanhamento das cordas, cada vez mais ameaçador. O segundo é o espetacular finale, sempre ouvido pelo público em pé, e onde reaparece o tema inicial da sinfonia, demonstrando a tranqüilidade ansiada pelo povo russo após o sofrimento da guerra. Tem que conhecer. É cultura.

Informações em parte colhidas no livro sobre Shostakovich de Lauro Machado Coelho.

CD 6

SYMPHONY No.7 in C Major, Op.60 “Leningrad”

1. Allegretto
2. Moderato (poco allegretto)
3. Adagio
4. Allegro non troppo

Recorded: July 3, 1975
Moscow Philharmonic Orchestra
Kirill Kondrashin, Conductor
Total time 71:10

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8 comments / Add your comment below

  1. A similaridade melodica entre o tema do 1º mov. dessa sinfonia, e um dos temas do “concerto para orquestra” de Bartók, é proposital ou acidental?

  2. Pobre Anna Akhmatova ….ter de escolher entre Hitler e Stalin, ainda bem que existia Is . Berlin dentre outros….eheheh…

  3. Levaram-te de madrugada,
    segui-te como se fosses a enterrar,
    as crianças choravam no quarto sombrio,
    a lamparina tremia diante do ícone.
    O frio do ícone em teus lábios.
    A morte suava em tua fronte… Esquecer, não!
    Uivarei em torno das torres do Kremlin
    como as esposas dos Strelsis.

    Há dezassete meses que eu grito
    chamando-te para casa.
    Lancei-me aos pés do carrasco.
    És meu filho e meu terror.
    Tudo é confuso para sempre,
    e já não sei distinguir
    as bestas dos animais,
    e quanto esperar pela execução.
    E só as flores na poeira,
    o retinir dos turíbulos,
    vias de nada a ninguém.
    Uma estrela monstruosa
    fita-me firme nos olhos,
    sinal de destruição.

  4. Stalin afinal de contas não era tão diferente de Hitler, estas poesias falam obviamente do filho ”recrutado” pelo regime stlinista.

  5. Na verdade, príncipe, não poupo.

    Stálin era um ditador cruel e assassino. Ficou claro?

    Só que a Sétima é sobre a resistência, o post é sobre a Sétima e o poema de Akhmátova faz referência à sinfonia. Ciclo fechado.

    Não vou discutir política no PQP e minha admiração por Shosta e Akhmátova já diz muito sobre minha opinião a respeito de Stálin que, aliás, interessa? Não, né?

    E sei muito bem o que significa o trecho do poema de A.A. citado:

    como aquela outra que,
    no meio da noite,
    voou para Brocken.

    Será que preciso passar um memorando a todos com minhas posições políticas num blog sobre música? Não, né?

    :-))

    Abraço.

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