Hoje, 14.03.2014, estreia em São Paulo a segunda montagem brasileira desta chamada ‘rock opera’ – passados 45 anos de sua composição, 43 da estreia mundial, 42 da primeira montagem brasileira, e 40 da gravação apresentada aqui, regida por André Previn, como trilha de filme dirigido por Norman Jewison.
Achei um bom momento para revalidar o link desta postagem feita originalmente em 21.04.2011 – acrescentando um vídeo sobre a atual montagem brasileira (cujo protagonista – segredo aqui entre nós! – é parente de um membro da nossa equipe). SEGUE O TEXTO ORIGINAL DA POSTAGEM:
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Eu devia ter 17 anos e viajei a São Paulo especialmente para ouver a São Mateus no Teatro São Pedro (tudo em família…)
Ainda não tinha o menor preparo para avaliar a regência do Eleazar de Carvalho – só lembro que achei atroz a pronúncia do alemão do evangelista estadunidense que ele havia trazido. E que na volta do intervalo meu vizinho de cadeira, um senhor português pelo menos 40 anos mais velho, puxou papo e, me tratando de “o senhor”, acabou perguntando se eu já havia visto Jesus Christ Superstar, que havia entrado há pouco nos cinemas, quatro anos depois de estrear no palcos de Londres rotulada como ópera em rock.
Devo ter feito uma espécie de cara de nojo, pois meu vizinho se apressou em dizer que também tinha ido ver com muita resistência, mas havia sido conquistado e saído do cinema encantado. O resultado foi que, de volta a Curitiba, fui quase que envergonhadamente ao Cine Condor – e saí também eu debaixo de uma espécie de sortilégio que me levou ao cinema mais quatro vezes em duas semanas.
Achei tão bom assim? Não, o ponto não era “ser bom” – o que também não quer dizer que achei ruim! Acho que primeiro de tudo foi uma experiência estética – musical e cênica – diferente de tudo o que eu já tinha ouvisto. Segundo, era uma maneira totalmente diferente – uma maneira minha contemporânea – de se relacionar com o material mítico cristão, de que quase cada minuto da minha formação havia sido impregnada.
É evidente que hoje percebo que o material temático é bastante limitado para 1 h 36 min de música – o que pode ser visto tanto como insuficiência quanto como virtude -, e que ao lado de trechos onde a linguagem blues-rock soa forte e autêntica há alguns de um “popismo” quase constrangedor… Seja como for, confesso que, no mínimo pelo papel que desempenhou em minha própria descoberta do mundo, não consigo deixar de ter estima pela obra.
E aqui me apresso a esclarecer que não empreguei o adjetivo “contemporâneo”, no título da postagem, como sinônimo de “experimental” com referência à linguagem musical – sentido em que Paixão segundo São Lucas de Penderecki, do ano anterior, seria muito mais legitimamente “uma Paixão contemporânea”.
No entanto Penderecki coloca em uma nova linguagem musical apenas palavras e sentimentos ortodoxamente católicos, que poderiam ter sido sentidos de modo idêntico mil anos antes, enquanto que o libreto de Tim Rice tenta se aproximar do material mítico cristão de uma forma questionadora, embora não sem uma tentativa de compreensão compassiva – ou seja: de uma forma tensa, complexa, de certa forma comparável à que Saramago apresentará depois no seu Evangelho segundo Jesus Cristo – e é nisso que eu vejo sua contemporaneidade – no meu ver ainda não esgotada neste 42.º ano da obra.
Pra terminar quero contar por quê não escolhi a gravação da versão de palco original de Londres, feita em 1970, e sim esta regida por André Previn, que é a trilha do filme de Norman Jewison lançado em 1974: foi sobretudo pra não abrir mão do timbre e da força interpretativa inesquecíveis com que Carl Anderson abre a obra, em seu papel de Judas –
… o que na época gerou polêmicas de todos os lados: conservadores atacavam a obra como demoníaca por apresentar um Judas tão atraente e razoável, militantes a taxavam de racista por atribuir o papel de Judas a um negro (mesmo não sendo o único no elenco). E confesso a vocês que o fato de incomodar pra todos os lados tende a ser visto por mim como uma virtude artística em si.
Mas agora é com vocês, aí vai!
Andrew Lloyd Webber (1948): JESUS CHRIST SUPERSTAR (1969)
Versão regida por André Previn em 1973-74
para a versão filmada por Norman Jewison
(mais informações no arquivo)
DISC 1:
01. Overture
02. Heaven On Their Minds
03. What’s The Buzz
04. Strange Thing Mystifying
05. Then We Are Decided
06. Everything’s Alright
07. This Jesus Must Die
08. Hosanna
09. Simon Zealotes
10. Poor Jerusalem
11. Pilate’s Dream
12. The Temple
13. I Don’t Know How To Love Him
14. Damned For All Time / Blood Money
DISC 2:
01. The Last Supper
02. Gethsemane (I Only Wanted To Say)
03. The Arrest
04. Peter’s Denial
05. Pilate And Christ
06. King Herod’s Song
07. Could We Start Again, Please?
08. Judas’ Death
09. Trial Before Pilate
10. Superstar
11. The Crucifixion
12. John Nineteen: Forty-One
. . . . . . . BAIXE AQUI – download here
Link alternativo: BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE
ENQUANTO BAIXA, ASSISTA O MAKING-OF DA ATUAL MONTAGEM BRASILEIRA. Contém observações sobre a música que me surpreenderam!
Ranulfus
Publicado originalmente em 21.04.2011