Não, amigos, não pensem num desses projetos de “clássicos popularizados”: o que temos aqui é a exploração de como uma tradição instrumental contrapontística soa quando lida através de outra tradição instrumental contrapontística (sim!) de origem predominantemente europeia (sem, ao dizê-lo, considerar inferiores os seus traços musicais exoeuropeus!). E como essas duas tradições podem, sim, conversar lindamente!
O principal responsável por esta aventura é Henrique Cazes, mestre do cavaquinho que, entre outras coisas, atuou sob a orientação de Radamés Gnattali na Camerata Carioca. Para verem a seriedade, passo a palavra ao próprio Henrique, com a retradução de um texto que já não está disponível no seu próprio site, mais foi preservado na página internacional http://www.bach-cantatas.com/Bio/Brasil-Camerata.htm (original + resenha de Tárik de Souza [2000] incluídos no arquivo).
O choro, música instrumental típica do Rio de Janeiro, é uma forma popular com algumas características incomuns. Apareceu cerca de 150 anos atrás e continuou evoluindo e atraindo novos músicos a cada nova geração, escapando todo o tempo da rígida formalização tão comum aos estilos dessa época.
O choro se desenvolveu a partir da adaptação de danças europeias como a polca e o schottisch, à medida em que iam sendo transformadas com os acentos sentimentais típicos de Portugal e com os espirituosos ritmos da África. Ainda assim, o Choro reteve em suas melodias algumas características de suas origens barrocas.
O parentesco entre esses estilos tem interessado músicos e musicólogos há muito tempo, mas o primeiro a olhar para essas conexões em profundidade foi Heitor Villa-Lobos, o qual compôs a série Bachianas Brasileiras, que estreitou os laços entre o choro e o barroco. Mais tarde, o compositor e pianista Radamés Gnattali estabeleceria uma trilha paralela entre Vivaldi e o compositor de choro brasileiro Pixinguinha.
Tentativas de ampliar a formação dos grupos do Choro começaram na década de 1970, quando músicos populares com pouco treinamento formal começaram a experimentar. As sonoridades se encaixaram tão bem nos estilos do Choro que isso desencadeou uma evolução rápida e continuada, que seguiu se refinando cada vez mais. Desses esforços que provieram grupos como a Camerata Carioca, a Orquestra de Cordas [parágrafo aparentemente truncado]
Em Bach in Brazil, a riqueza polifônica e os timbres de instrumentos como o bandolim e a viola caipira (servindo aqui como um tipo de cravo, só que com os acordes dedilhados), ajudam a estreitar ainda mais essa relação musical através tanta distância temporal e geográfica. O espírito resultante, a ressonância, é como se o sol quente do Rio de Janeiro começasse a brilhar nos céus sóbrios de Leipzig.
O octeto que forma a Camerata Brasil faz uso de violões (tanto de seis quanto sete cordas), do cavaquinho (similar ao ukelele havaiano) e da viola caipira (a viola braguesa, em Portugal) que são comuns a todas as antigas colônias portuguesas em todo o mundo. No Brasil, a forte presença da imigração italiana acrescentou os dois bandolins, enquanto a percussão, traço tão comum na música brasileira, incorpora elementos dos povos africanos e árabes do Brasil – tudo isso ancorado com um contrabaixo. Artistas convidados tocam piano, violino, clarinete e sax soprano.
Camerata Brasil : BACH IN BRAZIL
Diretor musical: Henrique Cazes
FAIXAS
01 Allegro – Concerto Italiano em Fa Maior BWV 971
Johann Sebastian Bach, arranged by Leandro Braga – 4:40
02 Remexendo
Radamés Gnattali, arranged by Henrique Cazes – 2:54
03 Invenção a duas vozes n°13
Johann Sebastian Bach, arranged byMarcílio Lopes – 2:06
04 Vivace – Concerto em Re Menor para 2 Violinos e Orquestra, BWV 1041
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 3:23
05 Chorando Baixinho
Abel Ferreira, arranged by Henrique Cazes – 4:15
06 Prelúdio – Suite em Do Menor para cravo, BWV 997
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 3:06
07 Vou Vivendo
Pixinguinha, arranged by Radamés Gnattali – 2:49
08 Variações Sobre O Samba Do Urubú
Radamés Gnattali, arranged by Henrique Cazes – 2:36
09 Ária – Bachianas Brasileiras N°5
Heitor Villa-Lobos, arranged by Henrique Cazes – 5:55
10 Allegro – Concerto De Brandenburgo n°6, BWV 1051
Johann Sebastian Bach, arranged by Henrique Cazes – 4:14
11 Um A Zero
Pixinguinha, arranged by Leandro Braga – 3:11
12 Ele E Eu / Badinerie da Suite n° 2 para flauta e cordas, BWV 1067
Pixinguinha / Johann Sebastian Bach, arr. by Henrique Cazes – 3:00
13 Giga – Partita n°4 em Re Maior para teclado
Johann Sebastian Bach, arranged by Marcílio Lopes – 4:41
14 Invenção a duas vozes n°8
Johann Sebastian Bach, arranged by Leandro Braga – 2:12
Label: EMI Records Ltd. – 7243 5 56967 2 4
Format: CD, Album
Country: Europe
Released: 2000
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Ranulfus